29 • Conhecimento
2 semanas depois
Passaram-se longas e árduas semanas, onde Eijirou, aos poucos, conheceu mais daquele lugar. Tomou consciência do funcionamento da aldeia, que na realidade, era baseado nos modelos humanos, com a exceção de que dragões não travam guerras entre si, entrando no consenso de viver às escondidas para não terem que cometer assassinatos desnecessários contra a raça humana. Também possuíam diversas aldeias espalhadas pelas mais altas montanhas, onde nenhum humano seria capaz de chegar sem auxílio de um dragão, - o que deixava os líderes atentos a possíveis traidores - tendo uma organização simplória e prática, sem competições exageradamente acirradas para não haver conflitos.
Haviam dragões especializados em carregamentos; aqueles com grande porte e força sempre se responsabilizavam por locomover cargas pesadas de uma aldeia à outra. Os que se especializavam na arte da caça; aqueles com um porte do menor ao médio, mais silenciosos e ágeis para realizar caças eficazes e sem chamar atenção de possíveis humanos que estivessem rondando a área. Outros eram responsáveis pelos campos de cultivo; em sua maioria, híbridos, por terem mais facilidade no manuseio de enxadas e outros objetos utilizados no campo, podendo alternar mais facilmente entre a forma humanoide e draconiana para exercerem todos tipos de trabalho.
Por fim, existem os dragões com uma posição hierárquica mais elevada, sendo estes os líderes de cada aldeia, possuindo um conhecimento mais elevado que os demais, responsáveis por monitorar o funcionamento da aldeia e coordena-la corretamente. Suas ordens possuíam um extremo poder e nenhum dragão ousaria passar por cima delas.
Eijirou também fora capaz de descobrir as diferenças entre híbridos e dragões. Shinsou é quem foi responsável por ensiná-lo; híbridos, apesar de serem capazes de se transformar em dragões por completo, possuíam apenas um coração - os tornando inferiores - enquanto dragões de sangue puro possuíam de três a cinco corações, dependendo de seu porte.
Falando em Shinsou, já é de conhecimento geral que o arroxeado é filho de Aizawa Shota, líder da aldeia, então consequentemente ele tem certa relevância naquele lugar. Todavia, Hitoshi demonstrou-se alguém agradável, apesar da aura maligna que o rodeava e sua habilidade estranha de controlar a mente de seres mais frágeis mentalmente que si. Kirishima passou bastante tempo conversando com o jovem adulto. No início, os diálogos eram um tanto monótonos, entretanto, Eijirou foi entendendo que o rapaz tinha dificuldades para sustentar conversas e começou a puxá-las com mais frequência, sempre tentando soar agradável e não ser invasivo, fazendo-os terem um pouco mais de intimidade com o tempo.
Jirou também era divertida, uma dragoa com uma estranha ligação à sons musicais, sendo capaz de produzi-los e repassá-los. Ela não deixou de tentar fazer com que o ruivo se sentisse confortável durante sua estadia ali, sempre evitando ao máximo exibir sua opinião de maneira nua e crua quando se tratava do loiro humano, qual Kirishima sempre comentava, ressaltando sentir sua falta ao extremo.
***
- Quantas vezes vou ter que te dizer? Sua saída é proibida. - Shota respondeu àquela pergunta pela sétima vez naquele dia - Este humano está te enganando, é um assassino que irá apenas te atrair para uma armadilha e te matar.
- Não sei se estamos falando do mesmo Bakugou, pois o cara que eu conheço se odiaria caso matasse um dragão! - Eijirou gritou, rosnando em ameaça para o mais velho. Odiava profundamente quando o moreno se referia assim ao seu amado. - Eu já estou curado, posso me virar, Aizawa.
- Olhe como você fala comigo, garoto. - direcionou um olhar severo ao ruivo, fazendo-o fechar ainda mais o semblante por não poder revidar adequadamente - Não importa o quão forte você seja, nenhum humano terá piedade de você caso o encontrar. - disse ríspido - E pare de vir aqui pedir por permissão. Não vai tê-la.
E logo, o moreno fechou a porta da casa novamente, deixando um Kirishima quase possesso de raiva. O ruivo bufa, frustrado pela negativa. Já estava ali há duas semanas e havia se recuperado bem, tinha condições de sair e retornar aos braços de seu amado, mais Aizawa simplesmente não parecia compreender. Gostava daquela aldeia, todos foram muito receptivos e gentis com si, entretanto, ele tinha para quem voltar e esperava do fundo de seu coração que esse alguém estivesse bem.
- Talvez seja melhor só esperar...? - Kyoka sugere, recebendo um rosnado em resposta - Tudo bem, talvez não. Entendi. - suspira desistente.
- Imagine se vocês dois estivessem separados e alguém estivesse contribuindo para isso, seria horrível, não? - diz ríspido ao casal, não contendo a mágoa por vê-los sempre em defesa de Aizawa. Se arrependeu logo sem seguida, ao analisar sua frase e vendo que soou ofensiva - Sinto muito...
- Tudo bem. - Shinsou disse, um tanto impassível, apesar de que lhe tocou lá no fundo. - Vou tentar falar com ele outra hora, talvez ele deixe.
Os orbes rubis brilham com a ideia. Hitoshi era filho de Aizawa, afinal. Poderia ser mais fácil convencê-lo tendo intimidade com o mesmo.
- Por favor. - implorou, se agarrando àquele fio de esperança que lhe foi dado e fitando as írises arroxeadas com intensidade, como se estivesse tentando convencê-lo com o olhar.
Shinsou acenou positivo, garantindo que ao menos tentaria.
Jirou logo sugeriu que retornassem à casa de Tokoyami, que era onde Kirishima estava passando suas noites. Já haviam realizado as tarefas diárias e não seria um problema descansar um pouco ou conversar.
Caminharam até a casa do dragão com aparência de corvo conversando. No percurso, Kirishima vez ou outra reclamava de Aizawa, seus pensamentos estavam voltados para a liberdade que tanto almejava. Talvez devesse tentar fugir? O pessoal ali era legal, mas não era seu lugar, por mais cômodo que fosse. Seu cérebro já começou a trabalhar formas de escapar daquele lugar sem chamar atenção.
Quando entraram na casa, avistaram Ashido Mina, aquela garota rosada que possuía um ódio tremendo por humanos, chegando a matá-los sem piedade.
- Olá Kiri! - disse, se aproximando do ruivo que havia acabado de passar pela entrada, envolvendo-o em um abraço - Tudo bem?
- Ah, sim... - respondeu meio vago. Sabia que se dissesse sobre Bakugou, a jovem de fios róseos ficaria preocupada, e também diria coisas como Aizawa. - Só estou pensando demais...
- Está pensando naquele humano? - questionou, contraindo o semblante em preocupação. Ela poderia ser extremamente cruel com seres humanos, no entanto mudava completamente sua personalidade quando se tratava de dragões. - Por favor Kiri, entenda que ele não nutria nenhum sentimento positivo por você. - explicou com convicção. Em sua mente, humanos eram todos iguais, incapazes de ter empatia por outros seres.
Eijirou ficou em silêncio, não era a primeira vez que ouvia isso e também não seria a última. No começo ainda tentava contestar, mas a opinião de Mina nunca mudava. Começou a andar até seu quarto para descansar depois de ouvir os sermões e Ashido, mas algo o impediu. De repente, sentiu seu corpo esquentar de forma descomunal, uma vulnerabilidade o tomou e sua respiração começou a vacilar.
- Ei, tudo bem? - vendo o estado repentino do ruivo, Jirou se aproximou e tocou em seu ombro, vendo-o virar assustado com a face toda vermelha.
- Isso... - Hitoshi reconheceu aquela expressão, sabia o que significava, mas não poderia acreditar naquilo. Seria complicado de lidar...
- Ele entrou no cio? - Ashido foi quem revelou a informação que todos especulavam. - Meu Deus... - se aproximou.
- Droga, o que é isso? - Kirishima questionou, confuso com todo aquele calor repentino.
- Dragões entram no cio em determinada idade e época... você nunca entrou antes? - Hitoshi explicou e questionou, recebendo um menear negativo em resposta. - Isso complica as coisas.
- Mas o que significa? Por que eu me sinto quente do nada? Como eu faço isso parar?
- Você tem que acasalar. - Kyoka explicou, meio receosa do que aquilo implicava - Você vai ter que encontrar alguém para te saciar, caso contrário, vai sofrer durante todo esse período.
- Droga. - praguejou - Quanto tempo dura isso?
- Um mês.
***
Katsuki acordou assustado, se sentando na cama em busca de regular sua respiração. Havia tido outro pesadelo envolvendo Eijirou e All Might.
Eles vinham com mais frequência depois que o ruivo fora levado, e só pioravam com o passar do tempo. A saudade enorme que sentia, o medo de tê-lo perdido para sempre eram fortemente presentes. Nos pesadelos, uma voz que imaginava ser sua própria consciência lhe condenava por ter falhado tanto, por ter sido tão fraco... estava cansado daquela merda.
Respirou fundo, se levantando da cama e se locomovendo até a sala, precisava de mais espaço, senão iria surtar naquele quarto pequeno. Se sentou no estofado, se sentindo derrotado por tudo que não foi capaz de impedir. Mesmo estando quase completamente curado, ele fora proibido de partir em busca de Kirishima por ser perigoso, além de não ter ideia alguma sobre o paradeiro do dragão, o que dificultava sua busca. Seus amigos o convenceram de ficar, pois haviam vários grupos de busca enviados por Endevoar e eles tinham mais probabilidade de encontrá-lo. Mesmo sendo convencido, Bakugou se sentia um completo inútil por não ser ele a procurá-lo incessantemente.
Era angustiante não poder fazer nada.
Não tardou até que as lágrimas grossas começassem a escorrer por seus olhos. Não queria chorar, odiava chorar, mas a dor e saudade, o pensamento de que talvez nunca mais fosse ver seu amado tornava as coisas difíceis. Doía muito.
- Katsuki? - ouviu a voz de sua mãe. Imediatamente seus olhos se arregalaram e ele tratou de engolir o choro, passando o antebraço pelo rosto para secar suas lágrimas. Não poderia deixar que ninguém visse aquele seu lado frágil.
- Vai dormir, velha. - rosnou para a mulher loira, que ignorou seus protestos e sentou-se ao seu lado, com um lampião em suas mãos.
- Olha como fala comigo, moleque - devolveu o rosnado, deixando o objeto apoiado no sofá e cruzando os braços e tomando um ar mais sério - Estava chorando?
- Não.
- Sente falta dele, não é? - ignorou a resposta forçada do outro, olhando em seus orbes.
Demorou para Bakugou responder, mas logo, enfim, admitiu.
- Sinto. - levou suas mãos aos fios louros, puxando-os com força para não deixar que mais lágrimas fossem derramadas - Sinto pra caralho.
A mais velha suspirou, puxando o filho para abraçá-la. Bakugou resistiria, mas sabia que aquele ato materno era necessário, sabia que traria calmaria à sua alma por um curto período de tempo. Não chorou, nem desabafou. Apenas deixou que sua progenitora lhe abraçasse. Sabia que reprimir seus sentimentos faria um mal absurdo, mas ainda assim, optou por os reprimir de qualquer forma. Lidaria com isso quando encontrasse Eijirou.
[...]
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