25 • Não tenha pressa
Tudo que aconteceu depois ficou como um borrão na mente de Katsuki.
Lembrava da dor, tanto interna, quanto externa que sentia enquanto as lágrimas grossas saíam por seus olhos de forma descontrolada. Havia perdido aquele que jurou proteger, a única pessoa que amou e foi retribuído. Se sentia um inútil por ter deixado aquilo acontecer.
Midoriya e os outros dois chegaram no lugar, podendo ver o desastre que havia acontecido e correram na direção do loiro ferido, que acabou caindo pela perda de sangue contínua.
Ninguém estava entendendo o que acontecia, porém, agiram rapidamente para ajudar Bakugou.
***
Foi levado para a casa de Midoriya, pois os pais do loiro certamente morreriam de preocupação ao saberem que seu filho fora gravemente ferido. Buscaram novamente pela curandeira chamada Momo, além de outros para tratarem as feridas graves que o Katsuki possuía, tornando aquela uma longa, cansativa e confusa manhã, pois ninguém ali tinha ideia de como tudo aconteceu e o único que estava presente no momento não quis abrir a boca sobre nada, alegando que apenas diria alguma coisa depois que Bakugou acordasse.
Quanto ao Kirishima, também questionaram sobre ele, pois não o encontraram em lugar algum e teoricamente os únicos que saberiam sobre ele seriam Midoriya e Bakugou, mas o esverdeado tinha saído para trabalhar antes de tudo acontecer e o loiro foi encontrado naquele estado, então seu paradeiro era desconhecido pelo grupo.
Passou-se um dia e Bakugou acordou desnorteado, com a respiração descompassada e seu coração estava disparado. Olhou ao redor, reconhecendo novamente o quarto de Midoriya. Porra, estava ali novamente? Buscou se lembrar do que aconteceu antes, entrando em desespero novamente quando veio a memória de Kirishima sendo levado para longe.
Deveria ir atrás dele, não poderia simplesmente deixá-lo ser levado assim.
Com este pensamento, tentou se levantar da cama, sentindo a fisgada de dor nos locais onde fora atingido pelas flechas, soltando grunhidos e praguejando alto o suficiente para o grupo no cômodo ao lado ouvir, correndo para seu quarto.
- Kacchan? Não faça esforço, vai se machucar ainda mais! - Izuku avisou, entrando no quarto e se aproximando de Bakugou, o contendo para que não tentasse levantar da cama.
- É cara, você tá bem mal! - Kaminari complementou, preocupado com o outro loiro.
- Vão se foder cacete, eu tenho que matar aquele desgraçado! - Protestou, tentando desvencilhar-se do esverdeado o segurando.
- Quem? - Sero questionou confuso.
- O merda do Shigaraki, porra!
- Ele sumiu. - Todoroki explicou. - E você não consegue nem se levantar, Bakugou, não fique tentando fazer o impossível.
- Tsc. - Estalou a língua, irritadiço pelo sermão que recebia, logo mordendo o lábio para conter seu ódio.
- Se ao menos o Kirishima estivesse aqui poderíamos acalma-lo... - Denki comentou, tentando soar divertido para diminuir a tensão no ambiente, sendo encarado por um Bakugou possesso de raiva, que cerrou os punhos para não quebrar a cara do comerciante idiota.
- Levaram ele. - Disse, sua voz tão baixa e tão destruída com aquele fato.
- Como assim? - A preocupação voltou ao trio.
- Os dragões levaram ele. - Shoto intrometeu-se, pois sabia que Katsuki não queria falar sobre aquilo.
- Dragões?! - Denki ficou alarmado - Então ele vai...
- Ou talvez já... - Sero iria completar.
- Calem a porra da boca. - O loiro disse, irritado com as especulações dos dois idiotas - Dragões não comem humanos.
Com esta afirmação, todos ficaram em silêncio. Shoto sentiu um alívio em não ser julgado pelo loiro, ao passo que também se preocupou com a reação da dupla diante desta fala cheia de convicção. Eles provavelmente não acreditariam que dragões não tem a tendência em machucar seres humanos, o que é bem plausível visto que são bestas enormes e assustadoras, mas é errado julgar apenas com base em suas aparências.
- Bakugou, você ficou louco?
- Não. - rosnou - Não precisam acreditar também, que se foda - tentou levantar de novo, mas seu corpo inteiro doía.
- Ele está certo, dragões não comem pessoas. - Todoroki concordou, para a surpresa de Bakugou.
- Até você Todoroki? - Sero questionou, não entendendo o que se passava pela mente dos dois jovens para pensarem aquilo - Se não comem, eles matam, não viram o tanto de corpos que tinha ali?
- Isso foi eu. - Katsuki admitiu, fazendo os outros abrirem a boca assustados.
- Mas tinha gente queimada por ácido...
- Nem todos são bons. - O bicolor acrescentou - Mas os humanos provavelmente fizeram coisas horríveis para ela e chegou nesse ponto.
- Ela? - Ambos Hanta e Denki questionaram em uníssono, como ele sequer poderia saber aquela informação?
Ao ouvir a explicação de Todoroki, uma breve memória passou pela mente de Bakugou, especificamente sobre a dragoa que falou com o meio ruivo, o ódio ele evidente enquanto alegava que ele era um traidor. Se ele era um traidor, isto queria dizer que...
- Explica essa porra de traidor, meio a meio de merda. - Disse, olhando profundamente nos orbes bicolores, fazendo com que o meio ruivo suspirasse, entendendo que o loiro não deixaria aquela informação passar batida.
- Eu vou explicar, mas peço que não sejam escandalosos.
***
Dito e feito.
Primeiramente, Shoto tratou de explicar ao Midoriya, Kaminari e Sero parte do que ocorreu na floresta do momento em que salvou Katsuki até agora, dizendo que ouviu grunhidos de dor feitos por um dragão, indo ao encontro de onde o casal estava e chegando em um momento crucial, explicando o motivo dos dragões terem levado Eijirou, o que significa que acabou revelando o fato dele ser um dragão.
Segundamente, explicou sobre sua família possuir sangue de dragão nas veias, um em especifico que possuía dois elementos misturados, - fogo e gelo - tornando todos familiares incrivelmente poderosos, tendo de exemplo o rei Enji Todoroki, também chamado de Endevoar. Contudo, nem todos podiam assumir a forma bestial, não sendo dragões completos ou sequer híbridos. A maioria, na realidade, era assim. Apenas humanos com um sangue extraordinário.
E foi por este motivo que Enji teve filhos até um deles ser capaz de transformar-se em um dragão. Foi Todoroki Shoto quem teve essa sorte... ou azar.
Vieram treinos intensivos por dias e noites, a criança foi privada de ter qualquer contato com alguém do exterior, vivendo de estudo e treino, como se fosse uma máquina - uma de matar. Este seria o filho perfeito do poderoso Endevoar. Assim que Todoroki estivesse "pronto" e por isso, quer dizer totalmente treinado e obediente, o rei anunciaria o fato de possuir uma arma poderosa e que quem o desafiasse sofreria graves consequências.
Mas seu plano nunca se concretizou.
Neste tempo de rebeldia, aos 18 anos de idade, onde estava começando a perceber o egoísmo tremendo de seu pai, que não possuía compaixão alguma por seus filhos, além de tratar sua esposa como merda, Todoroki se irritou. Precisava tomar um ar, fugir um pouco, diminuir o estresse, portanto, saiu escondido durante uma noite para vagar pela floresta e deixar que o ambiente silencioso o acalmasse.
Foi quando ouviu gritos e rapidamente assumiu sua forma draconiana, correndo em direção a eles e vendo um esverdeado com a perna presa em uma armadilha de urso, grunhindo de dor e choramingando por ter sido tão descuidado. Todoroki se aproximou, deixando o garoto sardento apavorado, mas seu pavor foi substituído por confusão quando o dragão enorme virou um rapaz com madeixas bicolores e olhos heterocromáticos que se vestia muito bem e possuía uma expressão impassível, porém, seus orbes transmitiam a preocupação que sentia.
Assim, o meio ruivo ajudou o garoto, que posteriormente soube chamar-se Izuku Midoriya e após descobrirem que eram da mesma vila, começaram a se encontrar mais vezes e...
- Beleza, foda-se sua historinha romântica com o Deku - Katsuki rosnou, já irritado com o quão óbvio os dois estúpidos eram, apesar de não ser muito diferente com Eijirou. - Você é a porra de um dragão e nunca me disse? - bufou, sentindo-se excluído, embora não fosse admitir.
- Bakugou, você odiava dragões.
Katsuki engoliu em seco, lembrando de sua situação há meses atrás, treinando para o tão esperado dia.
- Tanto faz.
- Ainda não acredito que o Kirishima e você são dragões... - Hanta falou, ainda descrente de tal informação. Descobriu que dois de seus amigos eram dragões no mesmo dia, era quase surreal.
- Eu também não consigo acreditar... - Denki concordou, ainda espantado com toda informação. - Mas você é você, os dragões selvagens devem ser diferentes...
- Não são. - Bakugou afirmou - Eles são pacíficos, All Might me disse...
- All Might? - A pergunta veio de Todoroki, que sentiu a sensação de já ter ouvido tal nome antes.
- O dragão que aquele filho da puta matou... - disse entredentes, se contendo para não mexer o braço e esmurrar o travesseiro - E ainda tentou matar o Eijirou.
Um silêncio instaurou-se no ambiente.
- Vamos trazer o Kirishima de volta, Bakugou.
- Como cacete?
- Vamos procurar.
- Então vamos agora, porra! - Ordenou, tentando se levantar e sentindo a dor recorrente, forçando o pé no chão, mas soltando um chiado de dor, fazendo com que o esverdeado, que se manteve calado até agora, o repreendesse e empurrasse-o de volta na cama. - Me larga Deku, eu tenho que achar ele!
- Bakugou, preste atenção. - O bicolor se aproximou, olhando nos orbes escarletes do loiro para que ele entendesse que falava sério - São dragões, não vão machuca-lo, então ele provavelmente está seguro.
- Provavelmente? E se ele estiver precisando de ajuda agora cacete? E se ele pensar que eu abandonei ele? - Seus olhos ardiam e as lágrimas ameaçavam cair, mas não deixaria que acontecesse. - E se-
- Ele está melhor com dragões do que conosco. - E isso fez Bakugou ficar calado.
Iria dizer mais algo, tentar argumentar, dizer que era necessário procurá-lo o quanto antes, mas aquilo era um fato. Por mais doloroso que fosse, Eijirou estava bem melhor longe dali e não podia discordar.
- Não tenha pressa, nós vamos encontrá-lo. - Shoto disse com convicção.
[...]
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