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20 • Conhecer

Dois dias se passaram desde então, onde a interação entre o casal foi melhorando minimamente. No momento, ambos estavam lado a lado na casa de Midoriya, no quarto onde Eijirou estava hospedado.

- Bakugou... - o loiro ouviu a voz do ruivo ecoar pelo quarto, atraindo a atenção de seus olhos, que passaram a fitar as orbes carmesim - Lembra que me disse que seus pais morreram?

Katsuki suspirou.

- Sim... - respondeu meio sem jeito - Não era mentira, eu realmente pensei que eles... - engoliu em seco, imaginando que isso pudesse de fato ter acontecido - Enfim, quem defende um "traidor" tem uma punição severa...

- Ah, entendo... - afirmou, tristonho por ter trago um sentimento amargo ao loiro. Quase abriu a boca para se desculpar, mas lembrou que só iria irrita-lo mais ainda.

- Descobri que os pouparam.

Kirishima ficou em silêncio, não tinha ideia do que dizer, contudo, estava contente pela notícia.

- Isso é ótimo. - sorriu.

- É... - Não sabia exatamente o que dizer. Seus pais importavam muitíssimo para si, e quando os viu ficou imensamente feliz, mesmo não demonstrando muito. Foi após todo esse problema com Eijirou ter sido "resolvido" que tiveram tempo de conversar.

- Os meus morreram em batalha... - comentou baixinho - Eu não os conheci.

As palavras de consolo travaram na boca de Bakugou, fazendo-o apenas levar suas digitais à cabeleira ruiva e afagar carinhosamente como forma de demonstrar seus pêsames.
Felizmente, Kirishima entendeu a ação, aproveitando daquele contato sob sua cabeleira e deixando um sorrisinho um pouco mais animado escapar.

***

Foram até o bar qual Midoriya trabalhava, encontrando Kaminari e Sero novamente. Eijirou, apesar de não conhecê-los muito bem, achava que eram boas pessoas, sempre mantendo o ambiente animado e confortável durante a conversa.

- Não tem que vender suas merdas? - Katsuki indagou ao outro loiro, que deu um sorriso esperto e respondeu.

- Estou de folga hoje, trabalhei a semana toda.

- Não deve ter feito porra nenhuma - bufou.

- Olha quem fala - Kaminari disse com certa audácia.

Bakugou estalou a língua irritado. O pior era que não poderia negar, ele de fato não fez quase nada naqueles dias, seus machucados ainda doíam, o que impedia ele de realizar muitos trabalhos manuais. Suas tardes se resumiram a ficar deitado na cama com o ruivo, conversando sobre qualquer coisa em busca de conhecer melhor um ao outro ou ficar no bar que Midoriya trabalhava ouvindo os idiotas conversarem.

- E vocês andam bem mais juntos ultimamente... - Sero insinuou.

- Sero, nem fale isso do Bakugou, é muito errado cara... - Denki o repreendeu.

Midoriya, que ouvia a conversa atrás do balcão fechou um pouco a cara, mas já previa esse tipo de reação. Kirishima sentiu um pequeno aperto em seu peito, já pensou tanto no quão esse tipo de coisa é errado, conseguindo aceitar um pouco mais após conhecer Bakugou, mas ouvir alguém que julgara divertido e gentil falar aquilo lhe deixou inquieto.

- Errado? - Bakugou perguntou-o, já bem irritadiço com o julgamento alheio.

- Ué, Bakugou - não entendeu a dúvida do outro - Você veio de uma vila que tá escrito nas regras que ter outro homem como amante é errado. Como não sabe disso?

A expressão de Bakugou só fechou mais ainda. Agora que foi mencionado aquela merda de lugar havia ficado possesso.

- Mas idai cacete? Por que caralhos é errado? Quero motivos.

- Os deuses te punem ou algo assim...

- Não ligo pra essa merda - rosnou, pegando a mãos de Eijirou e beijando suavemente, deixando os dois espantados e sorrindo convencido - Que me punam.

Kirishima ficou sem palavras enquanto sua face quase queimava de vergonha. Poxa, não havia se acostumado com aquele tipo de ato afetuoso ainda e realiza-lo na frente de outras pessoas lhe deixava meio desconfortável ao passo que também apreciava. Também tinha medo de que alguém tentasse machuca-los por esse tipo de coisa, afinal, foi praticamente isso que aconteceu meses atrás quando... Balançou a cabeça para se livrar das lembranças e conseguiu enxergar o pequeno rubor na face do loiro, que estava igualmente embaraçado com sua própria ação, mas mantinha a pose orgulhosa para esfregar na cara daqueles dois que estava pouco se fodendo para o que os tão temidos deuses pensavam sobre seu relacionamento com o ruivo.

- Bakugou, você mudou... - Kaminari murmurou, ainda meio chocado com a audácia do outro em desafiar os deuses, mas ele próprio não realmente condenava aquilo. Era apenas bem estranho aos seus olhos.

- Não façam isso aqui - Hanta os alertou parecendo bem preocupado e olhando ao redor - Se algum desses caras ver isso podem querer arrumar confusão - Não ligava nenhum pouco para o tal pecado que Katsuki cometia, apenas se preocupava com a reação negativa de outros guerreiros ali.

- Tem razão, sentimos muito... - após se recuperar do choque, o ruivo se desculpou imaginando que aquele gesto tivesse incomodado os rapazes à sua frente. Sua mente acabara de aceitar que aquilo poderia não ser exatamente algo pecaminoso, se esforçando para não tomar isso como verdade novamente e acreditar que poderia ter uma vida amorosa com Bakugou.

Katsuki ia repreende-lo, ficando bem irritado com a hesitação do dragão e um pouco magoado com o fato dele estar se desculpando por sua demonstração de afeto, mas alguém tratou de falar antes.

- Não precisa se desculpar cara - foi o comerciante que se pronunciou - É estranho, mas não acho que é algo tão errado assim...

O ruivo arregalou os olhos surpreso com a aceitação, não esperava aquilo ainda mais da pessoa que disse que aquilo era errado a poucos minutos atrás.

- Por que caralhos disse que era errado então? - Foi Katsuki a questionar a mudança de postura.

- É que você veio daquele lugar sabe? Imaginei que a insinuação de Sero te deixaria putasso. - explicou com um sorriso sem graça - Foi mal.

Bakugou ainda ficou de cara fechada por mais um tempo, Kirishima aceitou as desculpas gentilmente, Sero quebrou o clima tenso com algum assunto aleatório e Izuku que prosseguia ouvindo tudo ficou um pouco mais aliviado com a aceitação da dupla.

***

A noite caiu e o casal estava voltando para a casa de Midoriya mais cedo, queriam conversar um pouco, se conhecerem um pouco mais e falarem seriamente sobre o que aconteceu mais cedo.

- Eu sou motivo de vergonha para você? - Bakugou foi direto. Aquilo já estava lhe deixando inquieto há um tempo.

O ruivo arregalou os olhos, se apressando em negar.

- Não, não é!

- Você fica incomodado quando faço algo assim na frente de outras pessoas.

- Não é exatamente vergonha... - murmurou - É medo. Não quero que alguém tente te machucar por minha culpa...

- Se algum filho da puta vier encher o saco por causa dessa merda, a culpa é dele, porra - bufou, não gostava de ver o ruivo se culpando.

Kirishima suspirou desistente.

- Não vai deixar que eu leve a culpa mesmo se eu insistir, certo? - questionou, deixando um pequeno sorriso desanimado escapar por seus lábios. O loiro, mesmo não aparentado, era bem atencioso e não deixava que Eijirou fizesse aquilo com si mesmo.

- Que bom que sabe. - afirmou convencido.

Seria mais uma noite tranquila.
Por enquanto.

[...]

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