Capítulo 2
Em consideração aos pedidos ansiosos e à minha própria ansiedade, aí está o segundo capítulo e a delícia do Viking infernal. Espero que gostem, e se gostarem...Comentem, indiquem, votem!rsrsrsr
Beijocas
Quando entrei no restaurante, nem mais lembrava o fatídico acontecimento. Lá estavam todos, inclusive Marjorie, sentados em uma mesa redonda e com as feições bem expressivas.
Mamãe já havia me visto e agora me fitava com ambas sobrancelhas erguidas e um sorriso forçado no rosto. Podia apostar que ela havia chegado bem mais cedo do que o combinado e já estava farta de esperar.
Marjorie enrolava uma mecha do cabelo loiro - quase platinado - e rabiscava em um caderno. Assim que me avistou largou o lápis e ajeitou-se na cadeira. Seria a primeira a me dizer impropérios. Apenas o papai me olhava com genuína satisfação. Ah, papai...
- Até que enfim, hein, Bella Fraise?!
Não disse? Essa é a minha irmãzinha.
- Tive problemas no trânsito, Marjorie Fraise - ironizei.
Contornei a mesa e beijei a mamãe, quase conseguindo escapar, mas ela me segurou pelo braço, enquanto beijava a minha bochecha.
- Poderia ter ligado, Bella. Estamos aqui há quase uma hora - sussurrou.
- Desculpe, mamãe. Você está certa - sussurrei de volta. Era melhor não provocar.
Abracei papai e beijei-lhe a testa.
- E aí, Bela Ane?
Me chamar de Bela Ane era uma "piada interna" entre eu e meu pai e, da qual, apenas ele achava graça. Mesmo assim eu ria, para ser gentil. E, embora meu nome não tivesse nada a ver com a junção de outros nomes, mas sim com o nome do vinho que meus pais conheceram quando viajaram em lua-de-mel pelo interior da França, eu aceitava aquele tratamento como algo muito carinhoso, algo só nosso.
- Oi, paizinho. Vocês estão bem? Já pediram algo? - Fui sentando e ajeitando o guardanapo no colo.
- Já quer almoçar, Bella? Não acha que é muito cedo?
Ocupei o único lugar vago na mesa, entre o papai e a Marjorie, o que me dava uma distância suficiente para acertá-la, caso me torrasse a paciência.
- Quem falou em comida aqui foi você, Margie. Tem feito muito jejum? Parece só pensar nisso...
Antes que a pequena pudesse responder, mamãe interveio, mandando a gente parar de discutir.
- Por favor, poderia me servir uma água de côco? - gentilmente, pedi ao garçom ao meu lado.
Um breve silêncio se fez na mesa e eu apreciei aquela paz. Infelizmente, durou pouco.
- Bella, você precisa ir experimentar o vestido de dama de honra. Você escolheu o modelo e foi a única que ainda não...
Droga!
- Eu sei, Margie. Prometo que irei amanhã. Você sabe que eu estava viajando e cheguei há apenas dois dias.
- Tudo bem, Bella, a Margie entende. - Minha mãe sempre fazia a parte conciliadora, enquanto papai alisava a minha mão sob a mesa. - Se quiser, irei com você, amor - disse mamãe, usando o seu tom doce, capaz de convencer um judeu a comemorar o Natal. Não... Ela não me deixaria ir só. Precisava verificar se eu não iria mandar subir a bainha ou descer o decote.
- Certo, mãe. Te pego no final da manhã, tudo bem?
- Hum... Pode ser à tarde? Tenho que fechar a coluna de hoje para amanhã...
- Pode sim, mãe. Podemos almoçar juntas, o que acha?
- Excelente, Bella! - E esticou o braço sobre a mesa, pedindo a minha mão.
Eu apertei a sua mão e me senti bem com o olhar e sorriso que me deu de volta. Minha mãe é como um furacão que sai dominando tudo, tomando o controle e deixando tudo do seu jeito. Mas também é um poço de amor e doçura. Um pouco atrapalhada em suas infinitas e controversas maneiras de demonstrar seus sentimentos, mas bastante zelosa com sua família.
Sem dúvidas, Ana Maria Fraise era a "dominatrix" da relação. Jornalista aclamada, colunista de economia e escritora, era o holofote, enquanto meu pai, Dr. Paulo Henrique Fraise, um neurologista e professor universitário, era a sua feliz e conformada sombra. Papai era a brisa calma, o porto seguro de todas nós. A sabedoria discreta, a inteligência humilde que sabe dar a vez para o outro brilhar, para a sua amada brilhar.
- Bella, preciso te dizer que, definitivamente, flores de laranjeiras não caem bem na catedral. - Minha irmã conferia a sua listinha de tarefas pré-nupciais e pontuava suas observações com a voz costumeiramente esganiçada. O fundo do lápis batendo na caderneta, sob o olhar avaliador da nossa mãe.
- Na catedral? Marjorie, você mudou novamente o local? Não seria na capela do mirante?
Eu não podia crer nisso! Marjorie mudava de opinião como mudava de roupa! Havia me incumbido - dentre outras milhares de incumbências - de escolher as flores da decoração da igreja. Mas, com a sua inconstância, seria difícil chegar ao final daquela via crucis sem estressar.
- Ah, me perdoe! Você viajou e eu... Bem, achei que você soubesse. É isso... Mudei - disse, cinicamente. - Será na catedral e à noite. Sendo assim... - Margie estreitou seus olhinhos verdes encantadores e sorriu, exatamente como fazia quando era criança e queria algo de mim. Tem coisas que jamais mudam na nossa vida.
- Ok, Margie. Me dê um ou dois dias e irei trocar as suas flores.
Pelo canto do olho percebi minha mãe sorrir discretamente. A sua ansiedade, quanto à minha reação, era quase tangível.
- E as fotografias?! - Ela olhou para mamãe e depois para o papai, e eu sabia que o que ela queria era o apoio deles.
- Ah não, Margie... Pare com isso. - Tentei, mais uma vez, justificar. - É o seu casamento, o casamento da minha irmã! Você não pode me forçar...
- Bella, por favor! Você é a melhor das melhores! - Ah! Ela sabia puxar meu saco! - Lembra-se das fotos que você fez da Bianca e do Bruno? Ficaram perfeitas!
Olhei para o papai suplicando sua ajuda, mas foi dona Ana Maria quem me socorreu.
- Margie, Bella conhece gente muito boa no ramo. Tenho certeza de que irá escalar um fotógrafo tão bom quanto.
- Mas, mãe...
Se fosse realmente por valorizar o meu trabalho, eu faria as benditas fotos. No entanto, o que Margie pretendia era me manter ocupada. Bellanne ocupada significava mais atenção para ela e menor possibilidade de escândalo, imagino.
Ao menos mamãe parecia reconhecer meu talento. Ou seria apenas uma tentativa de apaziguar? De fato, dona Ana Maria havia ficado orgulhosa quando, há alguns anos, a minha foto saiu em mais de uma dúzia de jornais, dei entrevista à um programa de TV e recebi meu oitavo prêmio. Duvido que ela tenha visto algum dos meus livros por completo.
- Marjorie - a voz do papai soou firme - Bellanne já é sua madrinha, sua dama de honra, quase a sua cerimonialista... Deixe-a, ao menos, curtir a festa, ok?
Olhei para os meus pais cheia de gratidão. A questão não estava apenas em curtir ou não a festa. Fotografar casamentos era algo que eu tinha deixado para trás. Não me envergonho, óbvio, e nem sinto raiva desse tempo. Ao contrário. Era muito feliz eternizando momentos tão mágicos. Mas eu alcancei um patamar de realização profissional tão almejado, que me sinto tolhida, tendo que voltar a fotografar algo cheio de expectativas. As pessoas esperam um formato pré-estabelecido de imagens de seus casamentos e não há absolutamente nada em mim que queira obedecer a padrões.
- Olha... Quero te fazer uma proposta: Eu fotografo vocês dois em outro ambiente, antes da festa. Faço fotos do casal, mas alguns dias antes e não na festa. O que acha?
Vi os três se entreolharem e os sorrisos nascerem aos poucos. Podia escutar as engrenagens de Marjorie trabalhando freneticamente.
- Perfeito, Bella! Perfeito! - mamãe determinou.
Marjorie levantou e me abraçou, mas eu conhecia aquela loirinha há exatos 24 anos e sabia que ela não havia desistido. Não ainda.
Após a reunião familiar, mal deu tempo de comer um sanduíche de ricota no bistrô e parti para o estúdio.
Tratava-se de um lugar simples: Um grande armazém que comprei mais pela vista do que pela construção em si. Gastei uma fortuna na reforma, abrindo claraboias no alto das imensas paredes para depois enchê-las de persianas - para que fossem fechadas, quando necessário.
Dividi o galpão em três ambientes menores e um salão um pouco maior. Os três menores eram: um sanitário, uma copa bem pequena e básica, e uma sala de relaxamento, que também era uma espécie de escritório.
O salão era propriamente o estúdio, com luzes, backgrounds e elementos cenográficos, mas a "cereja do bolo" era a vista. Instalei uma janela de cima à baixo na parede principal, de onde posso ver o lago e o pôr-do-sol, enquanto tomo um café. Era inspirador.
Quando fiz a última sequência de fotos do casal Dannemann, os pobrezinhos estavam exaustos. Mariana, minha assistente, cuidou para que eles tivessem o máximo de conforto, mas na idade em que se encontram, qualquer esforço já é desgastante.
Agradeci ao simpático casal e os acompanhei até o carro. Havia tanto amor naqueles dois que até deu uma pontinha de inveja. Não tenho a menor perspectiva de encontrar alguém com quem queira fazer bodas de prata e, antes que a imagem de Alex surgisse à minha mente, voltei rapidamente ao estúdio e corri para a minha última e mais penosa missão: assinar o contrato com a Drakkar.
Eu sabia que não seria nada fácil encontrar uma vaga naquela avenida. Tratava-se de um dos grandes centros empresariais da cidade e até os estacionamentos privados ficavam lotados. Além do mais, não tinha a menor pretensão de estacionar à léguas do prédio e sair estragando os saltos do meu lindo scarpin nas calçadas esburacadas.
Depois de quase 20 minutos rodando o quarteirão, finalmente, consegui encaixar o Kia em um espaço surreal.
O prédio era imponente e, precisava admitir, de muito bom gosto. A entrada se parecia muito com a de um prédio residencial, com guarita e um belíssimo jardim suspenso.
Lucien ficou de me encontrar na entrada do prédio e, como de praxe, cumpriu sua palavra.
- Estamos no horário cravado, Bell. Você está bem?
Ele me conhecia tão bem quanto poucos, sabia que eu estava nervosa e que, se desse bobeira, fugiria na primeira oportunidade. Mentira. Eu jamais faria isso com o Lucien. Ele teve um trabalho danado para arrumar aquele contrato. Eu seria muito irresponsável e cruel se desistisse de tudo agora.
Iria, sim, assinar aquele papel e fazer um trabalho fantástico. E depois, iríamos juntos, gastar parte da pequena fortuna em tequilas à beira do mar de Ibiza.
- Estou nervosa, Lu. Mas tudo bem. Vai ficar tudo bem. E aí, estou toda certinha? - Dei um giro em meu eixo para que ele conferisse e opinasse.
- Certinha você nunca foi, né Bell? Mas está com tudo no lugar. - Ele sorriu e acariciou meu braço. - Linda, sexy e petulante, como sempre.
Estreitei os olhos, mas não protestei. Estava mais preocupada com o que estava por vir. Segurei em seu braço e entramos juntos no prédio do escritório da Drakkar.
- Vamos, Lu, antes que eu desista - brinquei.
O saguão era de uma beleza ímpar. Para resumir, havia muito vidro, alguns espelhos e jardins suspensos por todos os lados.
Chegamos à recepção e nos apresentamos. Uma jovem simpática, de nome Juliane, nos acompanhou até o elevador e, de lá, subimos para o décimo segundo andar - a cobertura.
Eu e Lucien não trocamos palavra alguma durante todo o percurso, ao contrário de Juliane, que nos contou sobre as obras das lojas que seriam inauguradas, simultaneamente, em duas grandes capitais. Falou também sobre o enorme sucesso da Dakkar na França e do quanto ela estava feliz em fazer parte da empresa.
Eu e Lucien nos olhamos e não era preciso falar nada para saber que ambos estávamos entediados com o puxa-saquismo da garota. No entanto, fingimos interesse e sorrimos simpaticamente.
As portas do elevador abriram e, de repente, estávamos em um ambiente espetacularmente bem decorado. Tratava-se de um espaço aberto - um hall - em tons nude e com detalhes na cor vinho. Víamos diversas salas suntuosas e com paredes de vidro fumê. A privacidade ali era bem parcial.
Havia também um lounge no centro do andar e, logo depois deste, duas mesas enormes - uma de frente para outra - ocupadas por duas elegantes jovens.
O segurança nos saudou e logo uma das jovens elegantes veio nos receber, cumprimentando primeiro Juliane, que nos apresentou.
- Ana Paula, essa é...
- Sei quem ela é. - Os olhos da moça brilhavam de admiração e até eu fiquei surpresa, quando ela tomou minhas mãos entre as suas. - Que prazer enorme em conhecê-la! Eu, simplesmente, amo o seu trabalho!
Aquele tipo de carinho sempre derretia meu coração e sorri com sincera gratidão.
- Obrigada. Fico muito feliz por você gostar.
Logo atrás de Ana Paula surgiu a segunda jovem: uma mulher alta, esbelta e de cabelos muito negros, presos em uma trança lateral. Ela estendeu a mão para mim, encarando-me muito diretamente.
- Boa tarde, senhorita Bellanne Fraise. Seja bem vinda à Drakkar. - De uma formalidade gélida, esta não era tão simpática quanto Ana Paula. - Me chamo Flávia e sou a secretária do senhor Erik Lars. - E olhou furtivamente para a colega. - Ana Paula é a secretária do senhor Thomaz Orlosson.
Apertei a sua mão com suavidade, mas tratei de soltá-la assim que a senti afrouxar seu aperto. Parecia não querer muito contato físico.
- O prazer é todo meu, Flávia. - E contive a imensa vontade de corrigir a pronúncia do meu sobrenome.
A moça sorriu, forçando simpatia e, depois de cumprimentar Lucien, começou a caminhar vagarosamente em direção ao fundo daquele hall. Todos a acompanharam.
- A sala para a reunião já está pronta e peço que, por gentileza, aguardem. - E abriu a suntuosa porta de madeira, revelando uma sala ampla com a "parede externa"- porque aquilo não era uma janela... Não daquele tamanho - completamente em vidro fumê e uma mesa de doze lugares no centro. - Os senhores logo virão recebê-los.
Sorri para Lucien e entrei, admirando o marcante bom gosto naquela decoração simples e absolutamente refinada. Lucien também estava admirado, pude ver pelo tamanho dos seus olhos ao vislumbrar a vista.
- Os senhores desejam algo? Posso servir-lhes água, chá, refrigerante? - Ana Paula esforçava-se para demonstrar que receptividade era próprio da Drakkar.
- Não - Lucien e eu respondemos juntos. - Obrigada - acrescentei sem olhar para o meu amigo.
E logo estávamos a sós: eu e Lucien.
- Menina! Olha só essa tela! - Lucien estava embasbacado com a tela de pintura à óleo que tomava parte da parede oposta ao janelão.
A pintura mostrava um homem velho, de cabelos longos e grisalhos, coberto apenas por um tecido lilás na altura dos quadris e suas pernas pareciam raízes. Era uma pintura impressionante!
Um segundo depois, Lucien já havia se distraído e agora deslumbrava-se novamente com a vista magnífica de todo o bairro. Já eu, estava hipnotizada pela tela à óleo. As sombras, as luzes... Estava certa de que não era um Caravaggio - tanto porque conhecia todas as suas obras, quanto pela assinatura no canto da tela, que não lhe pertencia - mas, a forma espetacular como a sombra e a luz foram utilizadas... Era como se o próprio Caravaggio houvesse voltado à vida para pintá-la.
Eu estava tão absorta naquela contemplação, que somente quando senti a presença ao meu lado, me dei conta de que não estávamos mais sozinhos. Acabava de entrar um grupo de pessoas: Flávia, Ana Paula e dois homens, e me concentrei apenas no rapaz que estava logo à frente do grupo. Ele me olhava de maneira verdadeiramente satisfeita.
- Senhorita Bellanne... - disse Flávia, parecendo bem mais agradável do que antes. - Este é o senhor Thomaz Orlosson...
Era o homem que me olhava quase com adoração. Era alto, jovem, bonito e de cabelos escuros. Estendeu-me a mão, exibindo um sorriso quase infantil.
- Bellanne! Que prazer em tê-la aqui!
Era um dos donos da gigantesca Drakkar. Estranhei o seu português tão perfeito, quase sem sotaque. Ele não é dinamarquês?
- O prazer é meu, senhor Orlosson. - O seu aperto de mão era vigoroso, porém macio.
- Por favor, me chame apenas de Thomaz. Sou um entusiasta da sua arte. Tenho absolutamente todos os seus livros!
Uau! Eu havia lançado sete livros de fotografia, incluindo um em parceria com Sebastião Salgado e outro com Fabs Grassi. Alguém que tivesse os sete livros podia, sim, se considerar um fã fervoroso. Fiquei orgulhosa e até um pouco vaidosa, mas sorri com genuína simpatia, meneando a cabeça em agradecimento.
Thomaz segurou gentilmente em meu antebraço e virou o corpo, dando passagem para o outro acompanhante, que eu nem mesmo tinha reparado ainda.
- E este é Erik Lars... - Eu coloquei os olhos sobre aquele homem e simplesmente senti todo o sangue desaparecer das minhas veias! - Somos sócios há mais de dez anos!
O homem alto, jovem, de cabelo loiro escuro e sorriso insolente era, sem dúvida alguma, o mesmo canalha que ficou sorrindo, cinicamente, enquanto me observava goz... Enquanto eu testava o aparelho do inferno que Letícia havia me dado. Era ele! Não o caminhoneiro... o outro! O debochado, o cínico, o idiota! Era ele! E ainda trazia aquele sorriso irritante no rosto! Ainda trazia aquele maldito sorriso!
Tentei respirar fundo e retomar meu equilíbrio, mas simplesmente não consegui. Fiquei sem chão e sem saber o que fazer. Então, me dei conta de que ele mantinha o braço estendido, aguardando o meu cumprimento. Quase que automaticamente, toquei em sua mão. Era quente. Seu toque era quente.
- Muito prazer - balbuciei sem conseguir encará-lo. Tudo o que via era o seu sorriso cínico. Não um sorriso largo, apenas uma insinuação de sorriso. Algo encoberto, sonso e dissimulado.
Ele soltou a minha mão e enfiou a dele nos bolsos da calça. A minha, pendeu feito uma bigorna.
- É... eu vi. - E rapidamente completou. - Mas o prazer é meu também. Ao menos agora, não é? - E tornou a sorrir, descaradamente. - Imagino que tenham pego congestionamento. Olhando aqui de cima, parece um caos!
Eu não pude acreditar no tamanho da minha falta de sorte! De todos os homens deste imenso mundo, justamente aquele biltre havia de ser o meu contratante. E ainda tinha a petulância de fazer piadinhas infames com a minha surpresa!
Meu rosto queimou e senti a garganta fechar. Lá no fundo, beeem no fundo, eu tinha a esperança de que ele não houvesse me reconhecido. Mas aquele sorriso insolente não era em vão. Ele não só me reconheceu, como estava escarnecendo. E eu, continuava ali, sem chão, feito uma idiota, completamente surpresa.
Quase em estado de catalepsia, observei Lucien ser apresentado ao tal Erik e, juntos, nos encaminhamos à mesa, com exceção de Ana Paula, que saiu da sala.
Thomaz e Lucien já se conheciam bem e vinham tratando do contrato, pessoalmente, há cerca de quinze dias. E, por isso, pareciam relativamente íntimos. Mas o Erik mantinha-se distante. Apenas com aquele ar prepotente, mas distante.
Após alguns segundos de conversa frívola, encabeçada por Thomaz e Lucien, eu ainda estava perdida, olhando para Thomaz, mas sem escutar uma única palavra. Então, ele chamou o meu nome e eu despertei.
- Então, Bellanne, gostaríamos de saber se você tem alguma dúvida, alguma pergunta a nos fazer... - Thomaz parecia ansioso. Lucien já havia me dito que o tal Orlosson estava mais do que entusiasmado com a minha contratação.
Eu juro que tentei me concentrar, focar no assunto, mas sentia o olhar do tal Erik sobre mim e isso me irritava, me distraía. Ele estava ali, sentado bem na minha frente, reclinado, empurrando a cadeira para trás, displicentemente, olhando diretamente para mim e me deixando absurdamente desconcertada, me fazendo lembrar cada momento difícil vivido no dia.
- É... Eu estudei o contrato e me inteirei sobre a proposta de moda conceitual de vocês. Achei bem interessante. - Eu lutava para não olhar para Erik e manter as minhas palavras coerentes. Sentia o olhar fulminante de Lucien sobre mim, me chamando para, provavelmente, me fuzilar por eu estar tão dispersa. Não me atrevi a olhá-lo. - Lucien também me explicou todas as condições e o desejo de vocês por um material completo.
- Sim, sim! Desculpe, Bellanne, interrompê-la, mas é isso mesmo. - Thomaz tomou a palavra. - Será toda a campanha outono/inverno que é, justamente, a nossa entrada no mercado nacional. Queremos você trabalhando diretamente com o pessoal de comunicação e propaganda.
Sem que pudesse controlar, meus olhos foram parar nos olhos azuis de Erik e ali se prenderam por cinco segundos. Ele aprumou-se na cadeira e passou a mão pela boca e pela barba curta. Percebi que havia um ar de riso por baixo disso, que ele provavelmente tentava conter.
O que estaria pensando de mim? Será que pensava na cena do carro? Será que estava me julgando, me achando vulgar e pouco digna de sua empresa? Dane-se!
Em dado momento, Erik abaixou os olhos, mas ainda sustentando a sombra de um sorriso sarcástico.
Thomaz continuava falando e antes de voltar a dar atenção a ele, olhei para Lucien. Ele parecia desesperado para saber o que estava acontecendo. Eu simplesmente o ignorei e me voltei ao Thomaz - o único que interessava ali.
- ...Isso envolve catálogo, site, material promocional... Absolutamente tudo, Bellanne. Queremos entrar no Brasil pelo seu olhar!
Havia perdido metade no discurso de Thomaz, mas consegui acompanhá-lo de alguma forma. Me mexi, ajeitando-me na cadeira. Sentia espinhos por toda a parte e gosto de fel na boca. Isto, devia-se ao fato de estar sendo obrigada a fazer algo que já nem lembrava quando tinha feito pela última vez: ficar calada ante um sujeito petulante - Erik Lars.
- Thomaz, eu gostaria de agradecer a deferência e explicar que, a minha negativa à sua primeira proposta não se deve a qualquer fator pessoal ou mesmo com relação à empresa. Sendo conhecedor de meu trabalho, você deve saber que não costumo trabalhar com moda.
Thomaz sorriu um pouco constrangido.
- Sim, sim. E até aproveito para agradecer mais uma vez. - Ele olhava de mim para Erik e vice-versa. - Agradecemos você ter aceitado esse trabalho.
Sorri, tentando ser simpática e buscando afastar de vez aquele mal estar que sentia.
- Eu ainda não aceitei - falei quase cantarolando, a fim de descontrair. - Antes, precisamos acertar os termos.
A expressão de Thomaz caiu visivelmente.
- Claro, Bellanne, claro. E... Quais seriam esses termos?
Que droga! Por que diabos não conseguia simplesmente ignorar aquele homem? Mesmo sem querer, acabava olhando em sua direção. Agora, ele estava mais ereto na cadeira e perdera o sorriso, mostrando-se mais interessado no teor da reunião, do que nas suas possíveis e inconvenientes lembranças desta manhã.
Então, Ana Paula retornou à sala acompanhada por duas copeiras, que passaram a servir cafés, águas e biscoitos finos em uma compoteira elegante. O clima na sala estava tenso e até elas pareciam sentir o ar rarefeito.
Eu precisava de apoio, então, coloquei os cotovelos na mesa e entrelacei os dedos, como uma maneira inconsciente de criar minha "base". O movimento comprimiu os seios, salientando o decote de forma sexy, mas sutil. Foi algo impensado.
- Thomaz, serei bem honesta com você. Não gosto de trabalhar com moda e o que me atraiu foi justamente o conceito diferenciado, com o qual vocês trabalham a moda. - Meneei a cabeça, dando ênfase à palavra "moda".
- Por que não gosta de moda, Bellanse? - Enfim, a voz de Erik soou na sala. E nela havia menos sotaque ainda do que na de Thomaz. Talvez algo bem longe, pronunciado no final das palavras, algo que me lembrou o francês e não de outro idioma. Mas... Ele também não era dinamarquês? Estranho...
- Bellanne! O meu nome é Bellanne, senhor Ericsson.
Ele sorriu, divertido e acrescentou em tom gentil.
- Perdão, não tornarei a errar. E pode me chamar de Erik. É como todos costumam me tratar.
Que cínico! Tenho certeza que errou meu nome de propósito!
Pelo canto do olho, vi Lucien ajeitar-se na cadeira. Conhecendo-o bem, devia estar em cólicas, doido para torcer o meu pescoço. Sim! Ele também estava sentindo o climão.
Então, algo inesperado aconteceu. Thomaz escreveu alguma coisa no papel e mostrou ao Erik, sussurrando uma pequena frase em outro idioma. Certamente, seu idioma natal.
Lucien aproveitou o ensejo e também sussurrou, rapidamente, quase ao meu ouvido.
- O que está fazendo?! Sabia que já reservei o hotel em Ibiza? Não estrague isso, Bell...
Ignorei Lucien e vi Erik franzir o cenho e balançar a cabeça, discretamente, em negativa, nada satisfeito com o que escutara de Thomaz.
- Respondendo à sua dúvida... - Fingi estar tentando me lembrar do seu nome - Erik, eu já trabalhei com moda e não gosto como tudo soa falso neste meio. Não admito retoques exagerados em meu trabalho e nem modelos fingindo estarem confortáveis em roupas amarradas com fita crepe porque, na realidade, não lhe caem bem. Por isso, sugiro dispensarmos as modelos e trabalharmos com mulheres de aparência mais comum, como atrizes, para sermos profissionais.
Erik ergueu as sobrancelhas e sorriu, insolente.
- Você não gosta que as modelos finjam, mas quer contratar atrizes que finjam serem modelos? É isso?
Ops! Que espertinho!
- Não, Erik. As atrizes não irão se passar por modelos. A ideia é que as atrizes interpretem mulheres comuns, como suas consumidoras. Trabalhadoras, donas de casa, mães... Mulheres com rostos e corpos de mulheres brasileiras e que não têm tempo de passar o dia no cabeleireiro. As suas consumidoras precisam saber que as roupas da Drakkar não são apenas para as deusas fashionistas. Precisam compreender que os seus produtos, Erik, são para a médica, a professora, a recepcionista, a estudante, a fotógrafa... Esta é a minha proposta. Espero que aprovem.
De repente, o clima encheu-se de uma gentileza frágil. Usei um tom suave, mas as faíscas estavam ali, pairando sobre a mesa de tampo de vidro e aço escovado.
- Tudo bem! - a voz tensa de Thomaz rompeu o breve silêncio. - Tuuudo bem, Bellanne. Concordamos com você. - Enquanto concordava com meus termos, Thomaz olhou para o sócio e eles se fitaram por alguns segundos. - Está tudo bem, meu amigo, como combinamos, ok?
Erik suspirou e forçou um pseudo sorriso.
- O Tom está certo. Combinamos que toda esta parte seria de sua responsabilidade e que eu iria apenas apoiá-lo. E eu o apoio em qualquer decisão.
Era evidente a disputa de poder, de controle entre eles. O tal Erik não me queria metida em seus negócios, mas Thomaz parecia fazer questão do meu trabalho. Para o bem ou para o mal, a vontade de Thomaz prevaleceu. Ponto para mim!
- Posso prosseguir? Tudo bem para você, Thomaz? - Procurei usar um tom ainda mais gentil, até mesmo sedutor, e vi quando Erik ergueu apenas uma sobrancelha, talvez percebendo a minha evidente mudança de humor.
Thomaz apenas meneou a cabeça, incentivando-me a continuar.
- As locações serão escolhidas por mim, mas com a aprovação dos senhores, claro. Precisarei de todo o material: croquis, inspirações... e algumas reuniões com o pessoal da publicidade. Precisarei de um prazo para conceber a ideia e, então, voltamos a discutir. Vocês estando de acordo, inicio os trabalhos.
- Quanto tempo? - a voz séria de Erik soou novamente, chamando a atenção. Ora, ora... enfim, o seu sorriso petulante havia desaparecido. - Quanto tempo leva isso tudo?
- Se não houver interrupções ou entraves... Duas semanas, no máximo.
Antes que Erik protestasse - e ele estava pronto para isso - Thomaz interveio.
- Está ótimo, Bellanne! Está ótimo!
Ofereci ao Thomaz o meu melhor sorriso: a minha arma de golpe mortal. Ele estava comigo e realmente disposto a fazer as minhas vontades. Azar do Erik, que ficou ali, parado, me olhando com olhos estreitos, pernas cruzadas, tornozelo apoiado no joelho e a cabeça inclinada, me observando. Parecia me analisar.
As coisas começaram a acontecer à nossa volta, mas parecíamos estar em uma bolha, isolados. Percebi Thomaz e Lucien levantarem e deixarem a sala, falando algo sobre setor jurídico. Enfim, o contrato seria assinado.
Embora eu estivesse presa no olhar predador, mordaz e absolutamente azul de Erik, notei que Ana Paula e as copeiras também deixavam a sala, e apenas Erik, Flávia e eu permanecíamos ali.
Erick tornou a debruçar-se sobre a mesa, apoiou os cotovelos sobre esta e me encarou mais de perto. Eu não esperava por isso, mas aceitei o desafio e adotei a mesma posição, fitando-o bem no fundo dos olhos, desafiando-o e sem recuar um milímetro. Se ele estava pensando que poderia me intimidar, estava redondamente enganado. O susto já havia passado e eu estava pronta para o combate.
- Flávia - sua voz era grave, cortante, e seus olhos permaneciam diretos nos meus - por favor, poderia ir até a minha sala e pegar meu celular? Eu o esqueci.
Seu olhar parecia me dividir ao meio, e não... não era uma encarada sedutora, um flerte. Era puro desafio. E esta constatação me fez empertigar a coluna e engolir seco. Se fosse um flerte, eu saberia dominar melhor a situação. Se fosse um flerte, ele já estaria perdido. Contudo, a força daquele homem tanto me fazia tremer, quanto me impelia a enfrentá-lo.
- Pois não, senhor Erik.
A moça nos deixou sozinhos e eu não perdi tempo.
- O que pensa que está fazendo? - a minha voz saiu suave, mas firme. Erik fez uma cara de quem não estava compreendendo, descaradamente fingida. - Você sabe sobre o que estou falando.
- Do que mesmo está falando, moça? Do congestionamento na cidade? É entediante, não?
E lá estava novamente aquele sorriso sem ser exatamente um sorriso, se é que me entende.
Estreitei os olhos e travei as mandíbulas. A raiva voltava a me manipular.
- Ok. Acabou a sua diversão. - E afastei o corpo da mesa, me recostando na cadeira. - É isso mesmo. Eu estava no congestionamento, completamente entediada - e revirei os olhos, momentaneamente - estressada e dei, sim, uma gozada fantástica! - Fiz questão de pronunciar a última palavra saboreando cada letra. - Sou adulta, independente e ninguém tem nada com isso. Muito menos você.
Erik riu e, tenho que admitir: como esse demônio ficava ainda mais bonito, quando sorria.
- Bellanne, Bellanne... Não estou julgando você. E, olha... eu achei uma cena incrível! Na verdade, inesquecível! - E voltou a sorrir, apenas com os lábios. - Mas fiquei curioso...
- Não é da sua conta! - respondi secamente, tentando falar baixinho, mas o sussurro saiu um pouco mais alto do que eu desejava. - Esqueça o que viu e vamos tratar APENAS do nosso contrato. E pare já com os risinhos petulantes. São cínicos demais.
- Eu paro! - E ergueu as mãos, se rendendo. - Mas com uma condição. - Sem que eu percebesse, acabei erguendo uma sobrancelha, evidenciando a minha surpresa. Contudo, mantive a pose. - Adoraria saber o que te motivou àquele orgasmo cinematográfico, bem no meio da avenida mais movimentada da cidade. - Ele estreitou os olhos e me provocou com a voz sedutora e perigosa. - O que foi, Bellanne?
Que filho da mãe! Então, ele quer me constranger? Quer me humilhar? Ah... Ele não me conhece! Sustentei o olhar. Não queria perder nem um segundo da sua reação.
- Quer mesmo saber? - ele apertou os lábios em um pseudo-sorriso e aquiesceu.
Não pensei muito no que estava fazendo. Enfiei a mão na bolsa e joguei a pequena caixinha, atirando-a sobre a mesa. Me empertiguei para manter ao máximo a minha dignidade e o desafiei, erguendo uma sobrancelha e adotando o mesmo sorriso cínico que ele me oferecera até então.
A caixa ainda tinha o post-it grudado, com o recado de Letícia.
- Está higienizado e você pode usar. Não é propriamente anal mas, com esse tamanho, vai dar para alcançar a próstata.
Falei como quem dá instruções a alguém sobre como chegar a um lugar, e quase gritei de satisfação, ao vê-lo completamente sem ação, com os olhos grudados na caixinha. Tive vontade de gargalhar e dizer: "Toma, distraído!". Contudo, travei, quando o vi esticar a mão e apanhar a caixinha sobre a mesa. O que ele está fazendo?!
Erik girou a embalagem em suas mãos e ateve-se ao post-it, lendo-o. Lembrei que nele estava escrito: "Experimenta, amiga, e depois dê a sua nota". Sentia leves espasmos, um misto de nervoso e raiva.
Ele passou novamente a mão pela boca, já não conseguindo conter o sorriso, tão descarado quanto belo. Então, ergueu os olhos e voltou a me encarar.
- E então, de zero a dez, quanto o amiguinho aqui merece? - se referindo ao vibrador, que parecia um nada, nas mãos grandes de Erik.
Antes que eu, sequer, pudesse esboçar uma reação, Thomaz e Lucien voltaram à sala. Eu não conseguia tirar os olhos de Erik, completamente estarrecida com o descaramento daquele homem. De longe, Erik Lars era o cara mais patife que eu já havia conhecido.
Segundos depois, como se estivesse saindo de um transe, olhei para os papéis que Thomaz havia acabado de depositar sobre a mesa e então, ergui os olhos para o sócio de Erik.
- Se importa se eu levar o contrato para casa? Para estudá-lo um pouco mais? - Eu só queria sair dali, antes que perdesse o controle e cometesse uma insanidade.
- É... - Lucien interveio e parecia estar alisando uma fera perigosa. - Bell, eu já examinei o contrato, minuciosamente. Está tudo certinho, viu? - ele estava quase chorando, me suplicando para assinar.
Eu apenas o olhei de soslaio. Sentia-me meio torpe. Apanhei a caneta e assinei as duas vias, rápida e automaticamente, confiando plenamente em meu amigo e agente.
Quando ergui os olhos, Thomaz parecia radiante.
- Não vejo a hora de vê-la trabalhando conosco. - E ponderou, rapidamente. - Há algum problema em vê-la trabalhar, de vez em quando? É curiosidade de fã. - E sorriu sem graça.
Franzi o cenho e esbocei um leve sorriso.
- Não há problema algum. Você é bem-vindo.
Assim, como cavalheiros, todos os homens se levantaram e, enfim, voltei a encarar Erik.
- Passar bem, senhor Lars. - E me virei para sair da sala, mas antes que pudesse alcançar a porta, voltei-me para o "viking dos infernos", que permanecia de pé, me olhando com uma expressão indecifrável. Me dei conta de que o que mais me irritava nele, era a sua capacidade de me surpreender, de me pegar desprevenida e me deixar sem resposta.
- Ah! Respondendo a sua pergunta, Lars... Ele mereceu um 7. - E franzi o rosto, buscando passar a ideia de piedade. - Mas o senhor não deve saber o que é isso, não é? Uma nota alta demais. Compreendo... - E usei toda a minha graciosidade, tentando transmitir certa empatia. - Passar bem.
Quando saí no hall, ainda escutava Lucien se despedir, mas logo o senti no meu calcanhar. Cruzei com Flávia no caminho e notei que não trazia nada nas mãos.
Não havia ido buscar o celular? Típico!
Enquanto esperávamos o elevador, um jovem muito bonito se aproximou de Lucien. Eles conversaram animadamente, mas não escutei uma só palavra. Olhei para trás e vi Erik, parado na porta da sala de reuniões, mãos enfiadas nos bolsos da calça e o olhar fixo em mim. Thomaz lhe falava algo, mas ele nem mesmo lhe dava atenção. Então, o elevador chegou e eu não voltei a olhar naquela direção. Tudo o que eu queria era uma boa dose de tequila e esquecer que não consegui colocar Erik Lars em seu lugar. Ainda.
Esse olhar do Erik me maaaaaata!!! Eis que a panela encontrou a tampa! Esses dois são nitroglicerina pura!!! Cola na Bellanne que vem muito mais por aí!
Não esqueçam de votar na estrelinha e deixar um recadinho pra mainha aqui. Xero!
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