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A chegada no castelo

A viagem foi um tanto longa e exaustiva, contudo o jardim do castelo de Belmonte, assim como a beleza vista pelo caminho eram como rosas nascidas sem espinhos. Celeste foi muito bem tratada e cortejada por todos. Foi recebida com um banho morninho com pétalas de flores silvestres na água. Foi penteada e perfumada com essência de jasmim e maquiada com pó de arroz e carmim. Sua felicidade não tinha fim. Tudo estava acontecendo como uma história feliz, do jeito que ela sempre sonhou e quis. Seus olhos mal conseguiram esconder sua emoção diante de toda aquela bem-aventurança e recepção. A sofisticação e o requinte estavam a sua mercê. Alguns hóspedes até a cumprimentavam falando francês, e ela fingia que entendia, acenando com a cabeça, dando um sorriso e dizendo bom dia:

̶ Bonjour.

Nada poderia chamar mais atenção do que seu vestido. Um tecido feito de renda italiana todo perolado de um verde-água claro e com um decote estilo cigano, valorizando seu colo e seus ombros. Brincos e um colar de esmeraldas refletiam a irreverência de seu sorriso e de seu olhar radiante, que não deixavam de reparar no enorme lustre no centro do salão. O príncipe Felipe de Evans Green a convidara para dançar ao som de uma harpa e de um piano, a cada almoço, e a cada jantar. Ele foi seu par no festival dos vinhedos. Enquanto dançavam, seus olhares se cruzavam sem nenhum segredo. E foi dançando que o casal da realeza foi se conhecendo e se apaixonando. A cada dança, se concretizara aquela esperança de manter-se para sempre como uma princesa. Com o passar do tempo, ela conseguira adquirir sutileza e leveza, entre outros dotes que já trouxera consigo.

Naquele mesmo dia, em seu primeiro banquete real, ela fora apresentada aos seus pais, vossas majestades, rei Giordano V e rainha Eleonora II. Talvez esse primeiro encontro lhe tivesse dado uma sensação de estranheza, mas suas vossas majestades, não tiveram nenhuma dúvida de quem era realmente aquela princesa:

̶ Leonor, por que não exigiu que nos avisássemos de sua ausência? – indagou a rainha.

̶ Perdoe-me vossa majestade, mas nosso encontro se deu muito cedo pela manhã, e a princesa Leonor estava com seus trajes um tanto sujos! – retrucou Margaret.

̶ Sujos? – duvidou a rainha.

̶ Sim, Leonor caiu no rio e a convidamos para vir até nosso palácio para recompor-se de vossa aventura matinal. – disse o príncipe Felipe.

̶ Caiu no rio? Mas Leonor não sabe nadar, como fez? – frisou a rainha.

̶ Felipe a salvou. Estávamos por fazer um piquenique nas margens do rio quando de súbito, ouvimos um pedido de socorro. – argumentou o jovem príncipe Ricardo.

̶ Desde esse momento eu me apaixonei por vossa filha, e quisera eu que a trouxéssemos de antemão, mas fiquei deslumbrado por tanta doçura e encantamento. Creio eu que a nossa conversa possa ter se prolongado além do chá das cinco.

̶ Foi isso mesmo que aconteceu, Leonor? – indagou o rei.

̶ Sim, vossa majestade.

̶ Então, brindemos ao amor que se iniciou nas águas de um rio! Quando será o casamento?

Leonor por um momento pensou em engasgar-se e sair correndo em busca de um copo d'água, mas a taça já estava sob seu alcance.

̶ Não seria um tanto apressado considerar essa união nesse momento? Afinal foi simplesmente um afogamento...? – exitou a rainha.

̶ Ele está apaixonado por ela, ou não ouviste vossa declaração? Conheço sua linhagem, é um bom nobre, por mim, marcaremos o matrimônio para a próxima estação das flores. – confirmou o rei.

̶ Na Primavera, estou de acordo! – reforçou Margaret com certo entusiasmo.

̶ Até a ocasião posso ensinar-lhe a arte da esgrima. – brincou Ricardo.

̶ Por mim, vossas majestades, eu me casaria amanhã, reforço meu amor e encantamento. (Novamente, beija-lhe a mão).

̶ Leonor, está na vossa vontade em casar-se com a vossa alteza príncipe Felipe e tornar-se sua princesa para sempre? – emocionou-se sua mãe.

̶ Sim, eu aceito.

Talvez ela ainda não estivesse tão apaixonada e sim mais deslumbrada com a vida na corte. Como explicaria tudo isso para sua tia? Mas como não aproveitar-se de tamanha semelhança? E onde estaria a verdadeira princesa Leonor Di Fiore? Será que por ironia do destino, ela teria se afogado no rio? Celeste sabia nadar e muito bem, pois desde sua tenra idade se apaixonara pelo mar entre outras cachoeiras e afluentes. E o tal duende amarelo? Será que realmente, ele existira? Ela recordava-se de que ele havia mencionado alguma frase sobre a Primavera e um grande amor. Tudo isso a levou para aquele tão esperado sim!

Entre muitas estações, Celeste foi se inteirando sobre a vida na corte. Tinha aulas de piano e de costura. Aprendeu a falar francês e a manter a compostura em ocasiões de muita classe e requinte. Imitava os gestos dos nobres a sua volta. Seu olhar estava atendo a cada regra de etiqueta. Passou a ler mais livros e conheceu novas histórias, um dia seus descendentes guardariam em sua memória a tragédia de Romeu & Julieta, de William Shakespeare. Seus vestidos eram feitos sob medida, encomendados de Paris. Ela tinha a vida que sempre sonhou e quis. Usava as mais puras fragrâncias e se vestia com muita elegância. Tomava chá e comia tortas de variados sabores. Passeava pelos arredores do castelo, visitava muitos jardins e cavalgava pelos campos floridos. Fez alguns amigos, entre súditos e alguns empregados, que zelavam por sua amizade. Apesar de mostrar-se radiante com toda aquela mordomia que lhe era oferecida, não era mesquinha, não tinha o rei na barriga. Deixou-se envolver pela vaidade, mas ainda havia simplicidade em seu coração. À noite, ouvia o som do violão de serenatas apaixonadas. Ela estava vivendo um verdadeiro conto de fadas. Enquanto as folhas do Outono caíam junto a algumas gotas de chuva, ela tomava café na cama, com torradas e geleia de uva. No frio gelado do inverno, ela lia poesias em frente à lareira. E quando ficava entediada, ela conversava com as camareiras. Frequentou muitos bailes e festas, e fazia piqueniques nos bosques e nas florestas. Habitualmente, era cortejada pelo príncipe Felipe. Ele lhe mandara presentes e a convidara para jantares à luz de velas. Enfeitava seu quarto com flores que pareciam pinturas em aquarelas. Entre danças e cortejos, ela realizava o seu desejo de tornar-se uma legítima princesa.

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