ALEX

Estava me deixando levar pelo beijo até reconhecer o perfume que a mulher usava. Não era Amália. 

Então, empurrei Kate e limpei meus lábios com a costa da minha mão. Ela, por sua vez, me olhou assustada, mas eu não fiz nada, apenas saí para não cometer nenhum crime em nome do álcool. 

— Alex?

— Você não tem medo do perigo, garota?!

— Como vai dirigir se nem se aguenta em pé, Alex? Deixe que eu te levo. — Olhei-a. 

— Não se aproxime de mim, Kate. 

— É tão difícil assim me amar? — Fez a mesma pergunta novamente, com a voz falha. 

— Já te disse que não, não é. Apenas não busque esse amor em mim. — Ela riu sem humor e se virou para ir embora, pisando com força no chão. 

Por minha vez, respirei fundo e entrei no carro. Após, chequei o horário e vi que já eram 9 horas da noite. Estava tarde e, embora não quisesse voltar para casa e olhar para a cara do meu pai, eu precisava.

[...]

Assim que cheguei em casa, passei na cozinha, mas como estava tarde, Amália não estava lá. Certamente, estava na biblioteca estudando, mas quando abri a porta, estava vazia. Então, fui para meu quarto e, após um banho, deitei-me sobre a cama. 

Como seria se Ana estivesse viva? Ainda seríamos amigos? Teríamos crescido juntos? Ela certamente já teria se formado em Arquitetura, que era um dos seus milhares de sonhos. Talvez, estivesse namorando ou até mesmo casada e construindo sua família, que também era um desejo que carregava consigo.

Mas ela não conseguiu. 

Sem perceber, as lágrimas voltaram a rolar até o travesseiro, e foi assim, até o sono chegar. 

No dia seguinte, acordei bem cedo, tomei um banho e vesti meu terno. No entanto, quando fui pegar meu relógio, percebi que havia algo debaixo do abajur. Então, removi o objeto do lugar e tirei de lá um envelope. Após, o abri e retirei o papel de dentro, começando a ler:

‘Não faço ideia de como se escreve uma carta de demissão. Deveria apenas escrever "Eu me demito!"? Acho que seria uma forma muito ingrata. 

Enfim, Senhor Backer, sei que deveria fazer isso pessoalmente, mas acredito que eu não conseguiria. Por isso, acho que escrever é a forma mais fácil. Não se pergunte os motivos, apenas aceite meu pedido de demissão. Espero que não se importe caso eu fique por um tempo no orfanato. 

Obrigada, desculpa e adeus, Senhor Backer.’ 

— Amália… — Sussurrei, sentindo meu peito doer, o que fez eu levar minha mão até o local. 

Mais um sentimento de perda, eu não podia perdê-la também. Estou em um mundo onde não é possível viver sem Amália. Se não posso tê-la para mim, preciso ao menos vê-la para que o seu sorriso possa iluminar os meus dias. Sei que é egoísta da minha parte, mas o que posso fazer? 

Chegando na garagem, encontrei Noah dormindo dentro do carro da casa. Então, fui até o veículo e bati no vidro, fazendo-o despertar atordoado. 

— Ah, Senhor, desculpe. Eu só trouxe a senhorita Amália e acabei dormindo em seguida. Isso não voltará a acontecer. 

— Trouxe Amália? De onde? — Ele arregalou os olhos e coçou a nuca. 

— Bem, a menina ficou preocupada com o Senhor e me pediu que eu o seguisse. 

— Ela foi junto? 

— Sim, foi ela quem foi atrás do Senhor na boate. Ela se certificou de que estava bem e, então, voltamos.

Então, Amália viu e deve achar que menti. 

— Droga! 

Devido a isso, entrei no carro, colocando Noah para fora, e parti até o orfanato, onde sabia que ela estaria lá.