Quatro
A palavra saudade pode não existir em outras línguas, mas o sentimento sim.
E era exatamente o que eu estava sentindo no momento, saudades da minha melhor amiga: Piper Hart.
Apesar de só terem sido duas semanas sem vê-la, para mim pareceu uma eternidade.
Piper é a irmã mais nova do Henry. Nunca pensei que nós poderíamos ser tão amigas como agora somos, mas conversando com ela percebi o quão incrível aquela garota é e não imagino a minha vida sem ela. Posso lembrar das vezes em que eu estava triste e ela trazia um pote de sorvete e praticamente obrigava-me a ficar melhor.
- Charlotte para planeta Terra, você está me escutando?– Disse, franzindo as sobrancelhas.
- Sim. A casa de lago da Sophia é incrível, vocês aprontaram poucas e boas, foram dias incríveis... Era isso que você estava dizendo, não?– Pergunto, enquanto tento lembrar se deixei algo passar.
- Foi incrível mesmo, o que você achou do meu novo visual?– Indaga, balançando os cabelos.
Observo o movimento das madeixas agora castanhas e tento pensar num elogio que faça justiça a beleza da garota. Linda é o mínimo, sua nova cor de cabelo conseguiu ressaltar ainda mais seus olhos azuis.
- Você está maravilhosa, mana. De verdade.
- Obrigada.- Sorri.- Da próxima vez te levo comigo.
Antes de responder escuto a porta da sala ser aberta e me viro a tempo de ver Henry, Ray e Jasper entrando.
- Não acredito que você chegou hoje, podia ter avisado, teria aproveitado melhor o meu último dia de paz.– O irmão mais velho de minha amiga resmungou.
- Cala a boca, mané.– Piper levanta o dedo do meio na direção dele, que mostra a língua como resposta.
Santa maturidade...
Henry e Piper são o tipo de irmãos que fingem não se importar um com o outro, mas no pior momento estão lá um para o outro. Apesar de às vezes não ter paciência para as briguinhas frequentes admiro quando eles são carinhosos. Os dois são como creme de abacate e pão, separados são gostosos e juntos são uma explosão de sabores, bem, no caso deles explosão de emoções.
- Oi pra vocês.– Jasper diz, sentando ao meu lado.
Ray bate as mãos e esfrega uma na outra, com um sorriso ansioso no rosto.
Lá vem...
- Então, ponto importante do dia: Cadê a mãe de vocês?
Argh, estava demorando...
- Ela está trabalhando, Ray.– Piper diz dando de ombros.
- E que horas ela vai chegar?– O moreno pergunta, acomodando-se ao lado do Henry.
- Ah, eu sei sim. Ela vai chegar no fim da tarde, junto com o nosso pai, sabe? Aquele que é o marido dela.– Henry debocha, dando ênfase na palavra marido.
- Você é cruel, cara.
- Então, Charlotte, vai à festa da Samantha?– Jasper pergunta, mudando o assunto.
Samantha é conhecida por dar as melhores festas da escola, o único defeito é a data escolhida, sempre em dia de semana. Sua justificativa é que os pais só viajam a trabalho nos dias úteis do mês.
Como sempre, me pergunto se vale mesmo a pena ir.
- Hum, acho que vou.- Decido, porque bebidas de graça parecem interessantes demais para serem desperdiçadas por um mero detalhe como a data da festa.
- Eu quero ir.– Piper fala, encarando a tela do seu telefone.
- De jeito nenhum, você é nova demais para ir a festa.– Determina Henry, em seu melhor tom autoritário.
- Eu não estava pedindo permissão, tanto eu quanto você sabemos que irei de qualquer jeito.
- Piper, eu sou seu irmão mais velho e você tem que me respeitar.
Piper soltou um suspiro cansado, revirando os olhos e ignorando a fala do loiro.
- Que horas começa a festa?- Indagou, erguendo uma sobrancelha com um misto de tédio e insolência.
Henry intercalou seus olhos entre nós , chocado demais para conseguir formular qualquer frase concreta, então passou as mãos pelos cabelos, espumando de raiva .
Nós apenas o encaramos, esperando por um sermão. No entanto, tudo o que recebemos foi um som parecido com um rugido, passadas pesadas em direção ao seu quarto e um bater de porta alto.
- Então vamos todos a festa!- Comemoro.
*******
Apesar de hoje ser quinta-feira, as pessoas não estão pegando leve nas bebidas. Já consigo até mesmo visualizar metade dos alunos fazendo cosplay de zumbi, aparecendo com olheiras profundas e bocejando cinco vezes por minuto.
Chegamos todos juntos, mas assim que olho em volta percebo que os garotos já sumiram de vista.
- Vamos dançar, Char?– Piper pergunta, mas não me dá tempo para responder, apenas me puxa em direção à pista de dança improvisada.
Não me considero uma boa dançarina, mas sei me virar sem passar vergonha. Principalmente quando toca algo que eu amo, como a música de agora: Boss Bitch.
Percebo que Piper tenta gritar algo para mim e me inclino para escutar, porque a melodia não deixa ninguém ouvir nada em volume normal.
-Vamos beber algo?!- Repetiu a pergunta.
Assenti com a cabeça e ela me puxa pela mão até a cozinha .
- Eu vou beber cerveja e você?– Diz ela, pegando duas latas.
Sei que disse que viria por conta das bebidas, mas com os garotos sumidos pela festa tenho certeza que terei que ser a sóbria do grupo.
- Só água.– Digo, ignorando quando ela estende a lata de cerveja para que eu pegue.
- Qual é, Charlotte! Festa não é festa sem álcool nas veias!– Reclama.
- Não quero ir pra escola amanhã com ressaca.
- Tá bom, você que sabe.– Dá de ombros.
- Eu vou lá para fora, respirar um pouco de ar puro.
Piper assente.
- Te vejo depois?
- Claro.
Sigo até a varanda desviando de pessoas e seus copos vermelhos. Já do lado de fora, inspiro profundamente, relaxando o corpo, aliviada por não sentir mais o suor e o álcool impregnando o ar.
- Você estava linda dançando. – Escuto a voz rouca de Henry sussurrar em meu ouvido.
- Obrigada, sei muito bem mexer o quadril.
O loiro ri anasalado, e eu aproveito a oportunidade para o analisar. Sua calça de jeans surrado e seu Vans preto o fazem parecer um bad-boy, mas sua camisa xadrez o dá um contraste de cara inteligente. Seus cabelos desgrenhados fazem parecer que ele acabou de transar , mas pensando bem ele podia estar transando antes de vir falar comigo.
- Fiquei surpreso quando o Ray revelou que sabia do nosso beijo.
Encaro ele sem saber o que dizer. Já imaginava que o Henry ia falar comigo sobre isso, só não entendo o porquê dele ter escolhido hoje, talvez seja o clima descontraído entre nós.
- Não vi motivos para não esconder.- Digo, observando as pessoas que estão se engolindo no jardim um pouco distante de nós. Nunca entendi pessoas que tem o fetiche de transar ao ar livre com plateia, definitivamente isso não é para mim, ficaria desconfortável se alguém observasse a minha transa.
- Eu achei que tivesse dito que não tinha significado nada.– Disse em voz baixa, sem olhar para mim .
- Não significou, por isso eu contei.– Digo com certa indiferença.
- Você bebeu?– Pergunta, colocando um ponto final no "assunto".
- Não. Alguém tem que ficar sóbria para garantir que vocês vão voltar seguros para casa.
Na última vez em que todos nós bebemos acordamos com a dona da residência mandando irmos embora. Entretanto, a pior parte foi quando cada um chegou em sua casa e levou um sermão horrível, com direito a castigo de um mês e tudo. Desde então, um de nós tem que ficar sóbrio para levar o restante para casa.
- Por isso nós te amamos, Char.– Ele deixa um beijo estalado na minha bochecha e sinto um calor subir pelo meu corpo.
Por um momento de loucura, desejo que ele tivesse beijado minha boca. Henry enrola uma mecha do meu cabelo em seu dedo e começa a brincar com o cachinho.
- Eu amo o seu cabelo, além de ser cacheado, te deixa bem sexy.
- Obrigada.- Sorrio com orgulho.- Também amo meu cabelo, apesar de ouvir várias vezes que eu devia alisar.
E lá estava outro padrão da sociedade que eu detestava.
Quando criança, eu ouvia coisas absurdas sobre o meu cabelo. Meus próprios parentes pediam para que eu alisasse e por várias vezes cogitei positivamente a ideia, deixando que aquelas ideias alienadas e ridículas entrassem na minha cabeça. Porém, por sorte, percebi que o problema não era meu cabelo e sim aquelas pessoas que não aceitavam o fato de que uma mulher pode ser linda sem seguir os padrões de beleza que a sociedade impõe. Fiquei insegura com o meu cabelo por bastante tempo, mas hoje sei o meu valor e sempre que eu vejo alguém que precise ver o seu, fico feliz em ajudar.
- Você é linda assim, do jeito que você é. Mas, se um dia você quiser alisar, que seja por você mesma. Espero que saiba que vai continuar linda de todo modo -
Dou um sorriso fraco para ele, falar sobre o meu cabelo é um assunto delicado.
- Hey, olha para mim, não gosto de te ver triste.– Sua voz sai calma e sinto um arrepio correndo pelas minhas costas.– Vai, fecha os olhos -
Lanço o o olhar mais confuso de que sou capaz.
- Apenas confie em mim.
E assim fecho os olhos.
Pergunto a mim mesma o que Henry vai aprontar.
Talvez ele me deixe sozinha, fazendo papel de idiota.
Ou talvez ele me jogue por cima dos ombros e me leve pra longe dali.
Ou...
Espere.
Henry acabou de lamber meu rosto?!?
- Que porra é essa?!– Exclamo, mas apesar de ter sido nojento, não consigo parar de rir.
- Ué, você estava triste.- Dá de ombros, como se aquilo fosse uma explicação plausível.-Quando estou triste meu cachorro lambe meu rosto e eu me sinto melhor.– Henry enfia as mãos nos bolsos.
- Você é inacreditável!– Digo, limpando a minha bochecha.
- Faço tudo para te fazer rir, Charlotte.
- Obrigada, Henry. Você é incrível.– Falo, mordendo o lábio.
- É, sou mesmo, não é?-Reviro os olhos, arrependendo-me por inflar o ego dele.
- Não se ache, você continua sendo um babaca.– Volto atrás no elogio, mas ele me puxa para perto e me abraça, deixando um beijo no topo da minha cabeça.
Droga, eu queria tanto que esse beijo fosse em outro lugar.
- Atrapalho?– Solto-me de Henry para encarar a dona da voz que interrompeu meus pensamentos.
- Não, não atrapalhou nada.– Henry se pronuncia.
- Vocês são namorados?
- Não, somos só amigos.– Apresso-me em dizer.
A jovem abraça seus braços e diz:
- Posso falar com o loirinho?
Loirinho? Sério?
Observo os cabelos longos e castanhos dela, sua bota preta combinando com o short de cós alto, seu sorriso denunciando suas reais intenções -que ultrapassam em muito uma simples conversa- e isso me incomoda. Não sei ao certo o porquê, mas sinto meu estômago afundar em desaprovação.
- Vou deixar vocês a sós.– Digo e saio sem esperar uma resposta.
Não gostei da forma que Henry lhe lançou aquele sorriso malicioso. Tenho certeza que ela não estuda na escola, se estudasse saberia o nome dele.
Ou será que ela fez isso para parecer mais misteriosa?
Droga, por que diabos estou pensando neles dois e me irritando assim o o idiota do Henry?
Estou em uma festa, devia estar me divertindo.
Observo o local tentando encontrar a Piper, mas meu foco desvia para um garoto loiro, encostado sozinho bebericando algum tipo de bebida.
- Hey.– Cumprimento, aproximando-me dele. Seus olhos azuis piscina são intensos
- Hey.– Responde, também encarando meus olhos.- Música legal, não?
- Só não tanto quanto a sua voz.- Elogio, sorrindo de canto.- Posso perguntar o que um garoto tão bonito está fazendo sozinho ao invés de estar se divertindo?
Ele solta um riso anasalado e morde seu lábio inferior.
- Só estou observando um pouco, e você?
- Estava fazendo o mesmo, até que um certo loiro bonito roubou toda minha atenção, sabe?- Pergunto aproximando-me mais dele.
Subitamente, Henry aparece na minha mente e eu percebo que ele é o loiro que roubou minha atenção.
Droga.
- Uma certa garota acabou de fazer o mesmo comigo.- Respondeu, segurando minha cintura levemente.
Seu toque não era como o de Henry, mas talvez fosse disso que eu precisava para tirar o Hart da minha cabeça...
E então beijei o garoto dos olhos azuis.
E ele me beijou de volta, firmando o aperto em minha cintura e puxando-me mais para ele e enfiando sua outra mão em meus cabelos.
- Vamos lá para cima.– Soprou ofegante.
Soltei uma risada rouca e o puxei, procurando um quarto vazio.
Hoje eu faria o beijo do Henry sair da minha mente de uma vez.
Eu queria agradecer as minhas amigas Alli_br e StefanyCalazans por ter revisado esse capítulo para mim 💓
Dedico esse capítulo as minhas amigas gi-linsky e Goneg1rl .
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