JEON JUNGKOOK

Uma vez Yoongi me disse que escrever minhas ideias de músicas num papel ajudaria na hora de criar, mas a quantidade de folhas amassadas e jogadas pelo chão do quarto de hotel me dizia o contrário.

Aquela música em específico, uma que não tinha nem nome ainda, estava começando a fazer minha cabeça latejar de frustração. Eu lia, relia e relia mais uma vez do começo ao fim o que já tinha escrito e sempre que uma ideia nova surgia, eu ficava preso na próxima linha.

Eu tinha tanta coisa pra falar, tanto na minha mente que acabava se tornando difícil colocar tudo aquilo no papel. Antes escrever parecia tão fácil, principalmente quando via meus hyungs o fazerem, mas a realidade é totalmente diferente aqui e agora.

Coloco o caderno de lado, jogando minhas costas na cama macia e fecho os olhos. A primeira coisa que me vem na cabeça é Danbi. Será que ela seria boa em escrever letras de música?

— Nah, ela deve tá dormindo — falo comigo mesmo quando o pensamento de ligar pra ela e pedir sua ajuda surge.

Procuro com a mão o caderno de novo, o trazendo pra frente do meu rosto e passo os olhos pela letra pelo que parece ser a milésima vez naquela noite.

̶E̶v̶e̶r̶y̶t̶i̶m̶e̶ ̶I̶ ̶s̶e̶e̶

When I see you ̶s̶m̶i̶l̶i̶n̶g̶ smile in the screen
You're good at everything
̶s̶o̶ ̶p̶e̶r̶f̶e̶c̶t̶
You're ̶s̶o̶ just perfect
Feels like ̶I̶'̶l̶l̶ I've never been you

Do you even see ̶t̶h̶i̶s̶?̶ me?
Do you know who I am?
D̶o̶ ̶y̶o̶u̶ ̶k̶n̶o̶w̶ ̶h̶o̶w̶ ̶I̶ ̶l̶o̶o̶k̶ ̶n̶o̶w̶?̶
Or how do I look now?
Y̶o̶u̶'̶l̶l̶ ̶n̶e̶v̶e̶r̶ ̶l̶i̶k̶e̶ ̶m̶e̶ ̶l̶i̶k̶e̶ ̶t̶h̶a̶t̶
You don't like me like that

Come and tell me so much, beautiful heart
???

T̶h̶e̶ ̶n̶u̶m̶b̶e̶r̶s̶ ̶a̶r̶e̶ ̶s̶o̶ ̶b̶i̶g̶
All the numbers too big
W̶h̶e̶n̶ ̶w̶i̶l̶l̶ ̶I̶ ̶g̶e̶t̶ ̶o̶u̶t̶ ̶o̶f̶
Can't get out of your game
I want to paint it like you

̶A̶m̶ ̶I̶ ̶y̶o̶u̶r̶ ̶d̶e̶c̶a̶l̶c̶o̶m̶a̶n̶i̶a̶?
I want to be your decalcomania
I want you

Meus sentimentos parecem ser tão claros dentro de mim, porque era tão difícil colocá-los pra fora assim?

Releio a letra novamente ao tempo que tento administrar as palavras que vem na minha cabeça e acabo as anotando rapidamente no canto da folha amarelada, mas nenhuma parece ser boa o suficiente pra ser colocada ali, nenhuma parece se encaixar no contexto do que sinto e isso me frusta de uma maneira absurda.

Quando penso que deveria rasgar a folha e começar do zero novamente, sinto meu celular vibrando na mesinha ao lado da cama e meu coração pula algumas batidas quando vejo o nome da minha namorada no ecrã.

[danbi]: tá ocupado?

[jungkook]: to no quarto
[jungkook]: não é de madrugada aí?

[danbi]: sim
[danbi]: tive um sonho ruim e perdi o sono
[danbi]: posso te ligar?

Foi eu quem acabou ligando pra ela alguns poucos segundos depois de ler a mensagem. Danbi não demorou mais que dois toques pra atender.

— O que você tá fazendo? — perguntou, a voz parecia mais baixa que o normal.

— Eu tava tentando escrever algo. Sobre o que foi o seu sonho?

— Você tava compondo uma música? — consigo pegar uma pitada de animação na sua voz. — Ah, era só um sonho estranho, não foi nada demais. Quero saber da sua música! Ela já ta pronta?

— Ainda não, na verdade... Eu to com muita dificuldade nela.

— Hmm, você quer ajuda? Eu não sou compositora nem nada, mas eu sei uma pancada de sinônimos — dou uma risada. Danbi parecia ter lido os meus pensamentos de antes.

— É sobre mim, eu acho. Sobre os meus dois lados? Ahh, é tão difícil explicar.

— Lê pra mim.

Uma onda de insegurança súbita surge em mim. Será que a letra tava muito ruim? Muito brega? Muito ridícula? Só o pensamento de Danbi achar ela ruim me faz questionar se eu realmente deveria mostrar isso a ela.

— Você pode ler ela tipo um poema ou então pode cantar ela pra mim — ela completa e meus olhos caem direto no violão encostado na parede do outro lado do quarto. — Jungkook?

— E se você não gostar? 

Ela fica em silêncio alguns segundos.

— Bom, você nunca vai saber se não me mostrar — suspiro, sentindo um frio na barriga quando me levanto e caminho em direção ao violão. — Você não precisa fazer isso se não se sentir confortável, tá tudo bem.

— Não, eu quero te mostrar. Eu só to meio inseguro porque não to conseguindo escrever o resto dela.

— Talvez tirar sua cabeça dela por uns dias te ajude a criar algo novo.

Assinto, mesmo sabendo que ela não pode ver e pego o vilão, voltando a me sentar na cama em seguida.

— Se você não gostar, você promete ser honesta e falar pra mim?

— Claro que sim.

— Ok — engulo em seco, colocando o celular na cama e ativando o viva voz.

Eu não era um expert em violão, mas eu também não era ruim. A melodia da música começa com acordes simples e eu sinto minha voz quebrar um pouco quando começo a cantar.

Aquilo era tão estranho. Eu sou acostumado a cantar pra milhares de pessoas, dançar e conversar com estádios lotados de fãs, mas meu coração tava completamente disparado enquanto eu cantava pra minha namorada através de uma ligação. Quão bobo aquilo poderia ser?

Queria saber qual a expressão de Danbi, se ela estava séria ou sorridente, se seus olhos brilhavam de animação ou caíam pela melodia melancólica, se ela sentia o mesmo nervosismo que eu naquele momento e se seu coração estava acelerado como o meu.

Se a gente tivesse juntos agora, ela me daria um abraço, um beijo, faria alguma piadinha se tivesse gostado, bateria palmas e fingiria ser minha maior fã?

A música acaba rápido e o quarto fica em silêncio por alguns segundos antes de eu ouvir Danbi fungar do outro lado da linha.

— Você tá chorando?

A resposta veio com um soluço alto seguido de barulho de choro, esse que durou uns dois minutos até que ela começasse a rir e chorar ao mesmo tempo. Danbi tentava falar alguma coisa que sempre ficava embolada entre as lágrimas e eu nunca entendia nada, só conseguia rir da situação.

— E-eu não pensei que ia ser assim! — exclamou, a voz ainda embargada por causa do choro. — Que porra, Jungkook, olha o que você fez, meu travesseiro tá todo molhado.

Eu gargalhei, me jogando pra trás no colchão.

— Mas eu não fiz nada!

— Fez sim — ouvi a fungar mais algumas vezes antes de limpar a garganta. — Tá, to melhor agora.

— Tem certeza? Achei que você ia ter um treco.

— E a culpa seria sua. Como você ia viver com isso? — ri de novo, sentindo uma vontade imensa de abraça-la. — A música é tão linda, Jungkook. — Danbi começa e eu abro um sorriso automático. — Você é tão talentoso e a melodia é tão linda também. A letra é triste, mas eu achei tão... você. Acho que por que é tão pessoal, né? Eu gosto de músicas que são muito pessoais, eu acho elas são mais fáceis de se conectar, você entende. Só... sinto que mesmo que eu não viva o que você vive, eu consigo entender o que você quis dizer e o que você sente.

— É por isso que você chorou?

— Também. Eu to naquela semana e aí você canta uma música assim pra mim, com violão e tudo e... eu só queria poder te dar um abraço tão, tão forte. Foi isso que eu senti.

Danbi é tão preciosa e genuína. Suas palavras pareciam nunca falhar em me fazer sentir melhor, de alguma forma, ela tinha esse jeitinho dela de sempre me falar as coisas certas e acalmar meu coração.

— Obrigado, meu amor, de verdade.

— Eu gostei, de verdade mesmo, Jungkook. Eu tenho certeza que todo mundo vai amar ela assim que ouvirem.

— Primeiro eu tenho que terminar ela — dou uma risada fraca. — Mas vou fazer o que você disse e esquecer dela por uns dias.

— Você vai conseguir e vai ficar linda. Eu não vejo a hora de poder ouvir todas as suas músicas.

— Isso quer dizer que você virou minha fã de verdade?

— Aí... — solta um suspiro dramático — Infelizmente agora eu sou sua maior fã, essa é a verdade.

— Muito bom ouvir isso, vou fazer questão de tratar muito bem essa fã semana que vem — Danbi da uma risadinha gostosa e eu ouço o mexer do cobertor. 

— Eu não vejo a hora de ir pra Busan logo, to com tanta saudades.

— Tá pertinho, a gente aguenta. Aliás, você já falou com seu pai? 

— Já, eu disse que tava namorando alguém e ele quer que a gente saía juntos pra vocês se conhecerem. 

— Ele quer sair?— indaguei, confuso. — Você disse quem eu sou?

— Não exatamente... Eu só falei que era um pouquinho difícil sair com você em público, mas não se preocupa, no dia eu invento algo e a gente fica em casa.

— Que merda, ele já vai me achar um babaca — Danbi ri fraco. 

— Claro que não, relaxa, ele vai entender — ouço-a bocejar assim que termina a frase e então me lembro que lá devia ser quase sete da manhã.

— Seu sono voltou?

— Acho que sim, mas eu não queria desligar — será que ela estava com os olhos fechados de sono enquanto falava comigo? 

— Eu espero você dormir.

— Vai cantar uma canção de ninar pra mim também? — ela brinca e eu dou risada, mas no fundo se ela quisesse até isso eu faria.

— Quem sabe eu concedo esse seu desejo.

E acabou acontecendo. A ligação ficou em silêncio em certo ponto e eu cantei baixinho uma música com qual eu estava viciado ultimamente e às vezes eu ouvia Danbi murmurar pra eu não parar de cantar.

A gente deve ter ficado ali por alguns longos minutos e, enquanto eu cantava algumas músicas aleatórias que me vinham em mente, comecei a ouvir a respiração de Danbi.

Uma coisa tão normal deveria fazer meu coração se apertar assim?

Ela tava literalmente apenas respirando. Ela só estava dormindo e mesmo assim meu corpo insistia em corresponder àquilo.

Era em momentos como esse, quando eu me pegava pensando nela ou lembrando de algum detalhe seu, que eu entendia o que estava acontecendo comigo. Eu gosto tanto dessa garota e eu sinto isso fisicamente, tanto no coração disparado, quanto no frio na ponta da barriga. E eu já senti essas coisas tantas vezes, por tantos motivos diferentes, mas o fato de agora isso acontecer por causa da Danbi, tornava tão mais especial pra mim.

Foi aí que me toquei. Eu tinha tantas coisas pra dizer sobre ela, tantos detalhes, tantos momentos e palavras de carinho e afeto. Danbi tem sido a nova experiência mais interessante da minha vida, trazendo pra mim toda essa euforia de gostar de alguém, essa vontade de ficar junto, de abraçar e beijar, de olhar e sorrir ao mesmo tempo. Eu devo saber o que fazer com isso, né?

Eu pego o caderno de novo, procurando por uma folha limpa. São tantas palavras, muitos sinônimos e milhares de adjetivos pra descrever ela e nós. É como descer numa montanha russa rápida demais, é barulhento e cheio de adrenalina, assim como todas as coisas dentro da minha cabeça agora, mas eu sei que é de uma maneira boa, pois é sobre Danbi.

Algo novo surge ali, alguns parágrafos sobrevoando a folha, palavras soltas no cabeçalho sem rumo ainda certo, alguns corações desenhados no canto superior. Por que aquele momento parecia tão gostoso pra mim? Acho que talvez seja porque as minhas coisas favoritas do mundo todo estão aqui comigo.

Ouvir minha garota dormindo enquanto eu escrevo sobre o quanto estava apaixonado por ela e todos os detalhes que a completavam parecia ser uma ótima maneira de terminar o meu dia.

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oie!

capítulo curtinho, com muito diálogo pq eles ainda tão separados, mas tá tão melosinho que nossa. 

eu enfiei decalcomania no capítulo pq (não é novidade) tem muito a ver com alguns temas que envolvem o jungkook na fanfic, né? e a danbi chorando foi eu descrevendo o que eu mesma senti quando li a letra pela primeira vez. eu não entendo e nunca vou entender o jungkook, mas por ser uma pessoa tão importante pra mim, ter acesso a algo tão pessoal dele como essa letra, me fez sentir uma vontade imensa de abraçar ele e dizer que ele merece tudo de melhor e que ele não tem que duvidar de si mesmo nunca. 

queria muito ter a oportunidade de dizer isso pra ele, mas como não vai rolar, vou deixar registrado meus sentimentos na fanfic sdnsjn

esse foi um dos capítulos que mais gostei de escrever, eu adoro escrever no ponto de vista dele, imaginar o que ele sente e o que ele pensa e como poderia ser esse processo criativo das músicas dele. na fanfic, no caso, eu quis incluir ele escrevendo sobre amor, que é uma coisa que o meu jungkook tá conhecendo pela primeira vez. 

e talvez quem sabe mais pra frente eu mostre a musica que imaginei pra ser essa que ele escreveu.

espero que tenham gostado <3

até mais!