Três
“Sempre que você me derrubar, eu não vou ficar no chão. Vou levantar e nunca dizer nunca.”
Justin Bieber | Never Say Never
04 de outubro de 1997,
sábado.
O assoalho de madeira treme sob meus pés, conforme os adolescentes presentes aqui pulam no ritmo da música Bad Boys do Inner Circle. A casa dos pais de Davi está um verdadeiro caos. Nessas horas, sinto pena de seus vizinhos que, infelizmente, estão tendo a noite de sábado arruinada pela música estrondosa que sai das caixas de som.
Os móveis foram todos empurrados contra as paredes, dando mais espaço para o pessoal se mexer na sala. Há pessoas bebendo, rindo, se beijando e até chorando por onde quer que olhe. Christopher está na frente, abrindo espaço para que Sarah, Anne e eu consiga chegar até a cozinha e pegar alguma bebida.
Essa parte da casa parece ainda mais bagunçada; tem tantos copos vermelhos espalhados pelo local, que só consigo imaginar o trabalhão que Davi terá ao amanhecer para limpar tudo isso antes de seus pais chegarem. Geralmente, suas festas são ótimas e dão o que falar, mas o capitão do time de hóquei é péssimo no quesito organização.
— Temos cerveja, energético, vodka e um ótimo Bourbon.
Davi está atrás do balcão, servindo aleatoriamente os copos de plástico com as bebidas dentro dos barris. Me aproximo dele, torcendo o nariz pelo cheiro forte de álcool.
— Mas para você, eu tenho um Moët Chandon Rosé Imperial — o loiro sorri para mim, exibindo suas covinhas nas bochechas sardentas.
— Valeu, Herrera — sorrio, pegando um dos copos vermelhos. — Mas vou começar com o energético.
Pisco em sua direção, bebendo um gole da minha bebida borbulhante. Não jogo sua oferta totalmente no lixo, já que prefiro muito mais uma boa champanhe do que vodka ou whisky. Mas pretendo ficar sóbria pelo menos até a metade da festa.
— Essa festa é definitivamente melhor do que a da empresa dos seus pais — Sarah comenta, bebendo sua cerveja.
— É claro — concordo, caminhando calmamente ao seu lado até a sala. — Ninguém usa terno e força sorrisos amigáveis por aqui.
Dou de ombros, parando no canto do cômodo. Observando as pessoas daqui, noto que não conheço a maioria. Reconheço apenas algumas animadoras de torcida, alguns caras do time de hóquei e outros do futebol americano. Me pergunto se Davi conhece realmente todas essas pessoas, ou se são apenas conhecidos de amigos próximos a ele.
Conforme o tempo passa, fico cansada de revirar os olhos para todos os caras que me analisam dos pés à cabeça, com um interesse descarado estampado em todos os seus sorrisinhos maliciosos. Minha roupa nem é sexy, como a da maioria das garotas aqui. Estou vestindo uma calça jeans escura, com um cinto grosso de couro na cintura. A t-shirt que visto é preta e a frase "Call Me Angel" estampa o tecido com letras brancas e dois anjos no meio.
Sarah traja um vestido florido nas cores rosa e branco, com uma jaqueta jeans sobre os ombros. Está linda e delicada, como sempre.
— Fiquei sabendo que a Emma vai se candidatar para a equipe de animadoras — Sarah comenta, olhando para um ponto fixo.
Sigo seu olhar, vendo Emma se acomodar em um dos sofás disponíveis na sala. Logo em seguida, Felipe e Helena se juntam ao lado da loira. É instantâneo lembrar de Scott. Não o vejo pela escola desde aquele ocorrido na empresa dos meus pais, dois dias atrás.
E falando no diabo, aparece o próprio em pessoa.
— Aposto que vai conseguir — respondo minha melhor amiga. — A garota parece uma boneca Barbie.
Acompanho o percurso de Scott com os olhos, vendo que o loiro cumprimenta algumas pessoas que estão perto da mesa de beer pong. Ele sorri abertamente, bagunçando um pouco os cabelos claros. Noto que algo está diferente nele; não traja a jaqueta de couro, mas uma regata preta. A iluminação aqui dentro quase não existe, apenas alguns flashes e luzes coloridas me permitem vê-lo com os braços totalmente expostos. Viro meu rosto assim que seus olhos vasculham o local, pairando sobre mim.
— O que rola entre vocês dois? — A loira indaga.
— Como assim?
— Eu sinto a tensão no ar, amiga. É bizarro — Sarah observa, me encarando. — Tem algo que você não me contou?
— Eu o vi em um dos escritórios, na festa da empresa. Achei que eu estava delirando por conta do álcool, mas era ele mesmo.
— E...?
— E eu só confirmei o que já sabia.
— E o que era?
— Que ele é só mais um cara irritante e babaca — dou de ombros, me virando para ir até a cozinha. Porém, um corpo musculoso me impede de continuar o trajeto.
Davi.
— Vamos dançar? — Pergunta, um sorriso extremamente branco e inocente manchando seus lábios finos.
Quer saber quantas vezes Davi Herrera já me convidou para dançar em suas festas?
Muitas.
Sabe quantas eu recusei?
Várias.
Não me levem a mal, o loiro dança super bem e tem um charme quase irresistível. Porém, seu maior defeito é ser muito insistente. Davi é um cara bonito; tem olhos verdes, sardas pontilhadas pelo nariz e bochechas, cabelos macios e um papo legal. Além, de claro, ser capitão do time de hóquei.
Resumo: sonho para todas, menos para mim.
E sabe qual é a pior parte? Eu aturo isso há dez anos! Isso mesmo, Sarah trouxe de brinde seu primo apaixonado para a minha vida. Eu até o pegaria, já que pelos rumores que circulam na High Five Snakes, ele faz um oral maravilhoso e mete bem pra caramba. Mas durante todos esses anos, eu o vejo mais como um primo chato.
Então, eu mais ele é igual a zero.
Suspiro, pegando sua mão estendida para mim. Pior do que ouvir Sarah me apoiar com o seu primo capitão, é ouvir Sarah especular algo entre mim e o novato com fama de bad boy.
O que é uma dança perto de uma conversa exaustiva dessas, huh?
— Vamos — sorrio, caminhando ao lado de Davi para o meio da sala.
As pessoas abrem espaço, se amontoando nos cantos do cômodo. O loiro estala os dedos para o cara que controla as caixas de som. Logo, a música agitada que toca é substituída por uma melodia romântica demais para mim. Suas mãos repousam em minha cintura, assim como as minhas se posicionam em seus ombros.
— Quero lhe fazer um convite — começamos a nos mover no ritmo da música, indo de um lado para o outro.
— Qual? — Pergunto, sendo girada por uma de suas mãos.
— Você quer acompanhar esse humilde rapaz na festa de Halloween? — Solto uma gargalhada baixa, unindo as sobrancelhas.
— Estamos no início de outubro, Davi — falo o óbvio. — E você não tem nada de humilde.
— Sabe quantas garotas eu recusei para fazer este convite a você?
— Não. Quantas?
— Metade dessa festa — faço cara de surpresa, levando minha mão esquerda ao peito.
— Então é melhor você pedir desculpas a elas e fazer o convite para outra pessoa.
Davi sorri, balançando a cabeça negativamente.
— O que eu preciso fazer para sair com você?
— A gente já saiu várias vezes — ele me gira novamente.
— Sem a Sarah e o Christopher estarem presentes.
— Por quê? Podemos fazer as mesmas coisas com eles presentes.
— Está propondo uma orgia?
— Estou propondo que você pare de insistir em algo que não vai acontecer — pisco, girando Davi dessa vez.
— Então... o que anda fazendo? Além de partir o coração de um pobre garoto apaixonado?
Essa música não acaba nunca?
— Coisas básicas — balanço os ombros. — Estudando, trabalhando e fazendo aulas de direção. Ah! Partindo o pobre coração do cara mais popular da escola também. Sabe, nada de mais.
Davi gargalha, tombando a cabeça um pouco para trás.
— Temos aula de química terça-feira, que tal sentarmos juntos?
Sorrio. Ele não vai desistir nunca?
— Sarah tem a mesma aula, no mesmo horário.
— Okay, eu desisto por hoje — sorri, me lançando uma piscadela. — O champanhe tá na geladeira, se quiser.
— Obrigada! — Dou dois tapinhas em seu ombro, me afastando assim que a melodia acaba.
Ufa!
— Verdade ou Desafio?
Metade da festa está sentada em rodinha no chão da sala. A outra metade, está apenas assistindo ou pegando alguém pelos corredores da casa. Uma garrafa vazia de whisky gira no assoalho de madeira, parando aleatoriamente nos jogadores ali presentes. Neste exato momento, a garrafa parou no novato – Felipe Blenson –, e em mim.
— Desafio — arrisco, pois já estava cansada de responder perguntas como: "Qual é a cor da sua lingerie?" ou "Qual seu estilo musical favorito?".
Felipe comprime os lábios, encarando os jogadores da rodinha. Seus olhos param em alguém específico, e meu corpo imediatamente entra em alerta. Scott Summer está do outro lado do círculo, fitando a garrafa parada com certo tédio. Emma está ao seu lado, segurando sua mão e apoiando a cabeça em seu ombro.
Eles formam um casal bonito, penso.
— Quero que você beije o Scott, da forma mais quente que conseguir — revela o desafio, me deixando completamente vermelha.
Eu deveria ter tomado mais champanhe. Talvez assim, não ligasse tanto para os olhares em cima de mim neste exato momento se estivesse bêbada.
— Não vou ficar com ela — a voz de Scott é baixa, mas quando chega aos meus ouvidos, soa mais alta do que a própria música pop que está tocando. Lhe encaro no mesmo instante em que suas íris azuladas fitam meus olhos castanhos, com uma intensidade quase palpável no ar. — Não fique chateada. Eu até ficaria, mas o que você tem de bonita, tem de antipática. Não curto garotas superficiais.
Estou sem palavras. Minha boca abre e fecha diversas vezes. Porém, nada sai. Eu só queria dizer o quanto lhe odeio e o quão babaca ele é, mas sinto que estaria me rebaixando ao seu nível. Portanto, me viro para o lado direito e puxo a gola da camiseta polo de um garoto – que creio ser do segundo ano – e o beijo.
De início, seria apenas um selinho, mas permiti que a língua quente do rapaz invadisse a minha boca. O cara segura meus cabelos, trazendo meu rosto ainda mais para perto de si. Fazia um bom tempo que eu não beijava ninguém, mas fico feliz por não ter batido os dentes ou colocado saliva demais.
O garoto tem pegada; segura firme meus fios alaranjados, enquanto sua língua explora cada vez mais a minha. Contudo, acredito que exista beijos melhores espalhados pelo mundo. Ao terminar, o moreno deposita um selinho em meus lábios e sorri meio desorientado. Não estou muito diferente dele; meus olhos estão arregalados, mas me esforço para lhe dar um sorriso gentil.
Me levanto, puxando Sarah que está ao meu lado esquerdo. A loira parece chocada, seus lábios rosados formam um perfeito 'O'. Ela engancha seu braço ao meu e, antes de sair da sala, encaro Scott e sorrio ao revidar:
— Eu nunca ficaria com você.
Escuto alguns murmúrios enquanto dou as costas para a rodinha, arrastando Sarah comigo para fora da casa barulhenta. Ao pisar na varanda, me sinto tonta – não pelo álcool, mas pela adrenalina. Minha melhor amiga se vira para mim, pronunciando seriamente as seguintes palavras ao ter minha atenção:
— Nunca diga nunca, Anastásia Walker.
Eu ficaria megaaa feliz em saber o que vocês estão achando da história, portanto, não deixe de votar e deixar seu comentário!
Bom fim-de-semana a todos, nos vemos na quarta-feira, à meia-noite! ❤️
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