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Sete

“Eu nunca vou dançar novamente,
da maneira que eu dancei com você.”
George Michael | Careless Whisper

31 de outubro de 1997,
sexta-feira.

          A impressão que eu tenho e metade da população mundial também deve ter, é que quanto mais tempo queremos passar com uma pessoa, mais rápido os segundos deslizam por entre os dedos como pequenos grãos de areia.

As três últimas semanas de outubro passaram em um piscar de olhos e, quando me dei conta, já estávamos no último dia do mês. Alguns estudantes estavam ansiosos para a apresentação, já outros, resolveram bolar alguma coisa de última hora. Charles notou a agitação dos alunos e pela primeira vez desde que pisei na High Five Snakes, ele estendeu o trabalho até a primeira semana de novembro. Sem nenhum atraso sequer.

Se você quer saber como a minha relação e a de Scott fluiu nesses últimos dias, sinto em lhe informar que continua a mesma coisa; comentários sarcásticos, alguns tombos, desavenças, lanches após os ensaios e algumas perguntas básicas para descobrir mais sobre o outro. Não que seja algo surpreendente, mas a cor favorita do loiro é preto, sua comida predileta é hambúrguer de bacon com cheddar e seu gênero musical preferido é o rock. Viu? Nada que eu já não soubesse. Tentei me aproximar, descobrir alguma coisa sobre o seu passado ou até mesmo quais são seus planos para o futuro. Porém, o loiro é fechado a sete chaves e não parece estar disposto em me dar a cópia. Então, eu não permiti que Scott Summer se aproximasse mais do que o necessário de mim também. Nada mais justo.

Entretanto, os meus finais de tarde que antes consistiam em enfiar a cara nos livros ou me encher de pipoca assistindo filmes variados, ganharam um pouco de humor com a presença do loiro aqui em casa. Nem preciso citar a parte em que minha mãe adorou a ideia de termos nos tornado "amigos", né?

Amigos.

Essa palavra tão pequena vem martelando minha cabeça há alguns dias. Por mais que eu não tenha intimidade com Scott – no mesmo nível que tenho com Sarah e Christopher –, somente a presença dele faz o meu dia ganhar um novo tom de cor.

E isso é bizarro.

Para alguém que tinha medo de sair da sua zona de conforto e não falava com ninguém fora de seu círculo de convivência, eu entrei no território do inimigo sem pestanejar.

E isso é incrível.

Enquanto eu tento não pensar e surtar diante de tantos pensamentos, Anne Hero joga uma caixa de papelão sobre a mesa, assustando Sarah e eu que estamos imersas no mundo da lua. Uma etiqueta branca está na lateral da caixa, com um enorme "teias de aranha" escrito.

— Alguém morreu? — A morena questiona, curvando as sobrancelhas para cima.

— Minha disposição — Sarah responde, entediada.

Anne faz parte do grêmio estudantil, o que significa que é responsável por todas as festas que a HFS dá. Aliás, são as melhores de todas as escolas que tem aqui em Snowdalle. A morena sabe organizar tudo perfeitamente e cada mínimo detalhe é pensado com carinho. Christopher está do outro lado do salão, enchendo balões pretos junto com Davi, que ficou responsável pelas bexigas laranjas. Todo mundo por aqui tem alguma função. Sarah e eu arrumamos todas as mesas, enfeitando-as com toalhas laranjas e forrando as cadeiras de plástico com um tecido preto.

E pode acreditar; eu não estaria aqui se a professora de química não tivesse nos subornado, dizendo que daria notas extras para quem ajudasse.

Alguns alunos do primeiro e segundo ano estão suspendendo fantasmas de papel crepom no teto, assim como bruxas, abóboras fantasmagóricas e vassouras de isopor. Os estudantes do último ano estão arrumando as grandes caixas de som, verificando se está tudo okay. O mesmo fazem com a iluminação. Pelo visto, está quase tudo pronto... só falta essas malditas teias de aranha.

— Ah, meninas! Qual é? É nosso último ano no ensino médio, é a última festa de Halloween antes de irmos para a faculdade! — Anne se senta em nossa frente, segurando nossas mãos para passar algum tipo de motivação. — Sei que tá todo mundo ansioso com o trabalho do Charles, mas pensem pelo lado positivo; na faculdade teremos um milhão desses para apresentar e serão muito mais difíceis que...

— Tá bom! Tá bom — Sarah se desvencilha da mão de Anne, se levantando em um salto. — Seu texto motivacional trouxe um pouco de animação pra mim nesta manhã, obrigada.

Controlo uma risadinha, pois consigo visualizar o sarcasmo escorrendo pelo canto dos lábios da minha melhor amiga. Anne também percebe e revira os olhos, abrindo a caixa. Me coloco de pé, suspirando.

— Vocês espalham essas teias em volta das mesas e das cadeiras, vou colocá-las nas portas duplas e nas janelas.

Alguns minutos depois, Sarah e eu estamos enrolando as teias falsas nas últimas cadeiras do salão. A loira parece apreensiva, mordendo o lábio inferior com tanta força que me impressiono de não estar sangrando.

— Ei, por que você está nervosa? — Coloco a mão sobre seu ombro, mantendo a voz baixa e cautelosa.

— Sabe o Felipe Blenson? — Sussurra, como se partilhasse um segredo. Concordo com a cabeça. — Nós ficamos.

— Em que mundo vivemos onde minha melhor amiga não me conta um milagre desses? — Levo a mão ao peito, fingindo estar decepcionada. A loira ri, me empurrando de leve com o ombro.

— Você estava ocupada demais nas últimas semanas, assim como eu — responde, desenrolando as teias. — Ia te contar hoje ou amanhã.

— Você não parece muito contente… — observo.

— Tem como ficar contente quando você beija um garoto e a única coisa que vem na sua mente é o seu melhor amigo? — Seus grandes olhos azuis me fitam, abalados.

— Isso aconteceu, né? — Meus ombros caem, pois realmente sinto muito por tudo que Sarah passa em relação aos seus sentimentos reprimidos.

— Infelizmente, sim — solta uma lufada de ar, derrotada. — Felipe é um cara legal, tem um papo divertido e ultimamente tem sido um ótimo amigo. Quando rolou, estávamos conversando sobre a melodia da música e... aconteceu. Porém, eu só consegui imaginar ele — aponta discretamente para Chris, que está montando um arco de balões na entrada do salão com a ajuda de Davi. — Céus! Eu nunca desejei tanto sumir do mapa quanto agora. Felipe fez o convite para me levar a festa de Halloween hoje, e eu aceitei.

— Ei, amiga — seguro seu rosto, fazendo-a me encarar. — Não é sua culpa. A gente não manda no coração.

— Eu sei. Isso é o pior. Detesto a ideia de não controlar o que eu sinto... porra, é assustador e angustiante.

Minha melhor amiga me abraça, um claro sinal de que não quer ouvir e nem falar mais sobre isso. Conheço Sarah tempo suficiente para entender cada um de seus sinais, e quando a loira me abraça apertado como agora, a única coisa de que precisa é o silêncio e um carinho em seus cabelos. E é exatamente isso que faço.

Mais tarde, estamos dando os toques finais para a festa de hoje. Não tenho a intenção de vir, já que Christopher sempre vem nas festas com Anne e minha melhor amiga já tem um par, mas devo admitir que o salão ficou perfeitamente bem decorado. Nós recolhemos nossas mochilas e saímos do salão, apagando todas as luzes e caminhando calmamente pelo corredor. Alguns alunos ficaram responsáveis por decorar o restante da escola, dentre eles Felipe, Helena, Emma e Scott. Consigo visualizar de onde estou, o loiro passar as costas das mãos na testa suada. Ele ficou responsável por posicionar vários esqueletos por todos os corredores. Não deixo de reparar em como está bonito assim, totalmente distraído e com os cabelos bagunçados. A regata preta está grudada em seu tronco, me permitindo ver suas duas tatuagens no braço esquerdo. Porra. Eu poderia odiar ele no início, mas não sou idiota de negar que Scott Summer é um filho da mãe incrivelmente bonito.

Meus pensamentos estão tão distantes, que nem noto quando alguém esbarra em mim e derruba uma lata pela metade de tinta laranja em minha calça jeans. Sinto meu coração doer. Era minha melhor calça!

— Ah, desculpa, docinho — a voz fina me chama a atenção, me fazendo encarar a responsável por manchar minha peça de roupa. Emma Rei. — Não vi você aí — a loira está com os cabelos ondulados soltos, vestindo o uniforme verde das animadoras de torcida.

Citei que ela conseguiu uma vaga na equipe? Pois é.

Tento deixar de lado a raiva por ter que jogar minha calça favorita fora e me concentro em lhe dar o meu melhor sorriso, cruzando os braços.

— Desculpa, estava distraída — Sarah arqueia  as sobrancelhas um pouco afastada de nós, cruzando os braços também.

— Deixa eu adivinhar... — a loira parece pensativa, apontando suas enormes unhas pintadas de verde para algo atrás de si. — Com Scott Summer? — Não respondo e a loira finalmente ri. Eu sei muito bem o que está acontecendo aqui. — Posso te dar um conselho? Ele não é bom pra você — conta, jogando seus fios loiros para trás. — Não estou dizendo isso só porque já tivemos um caso. Você é de um mundo completamente diferente do nosso, ele partiria seu coração em menos de um segundo.

— Tá tudo bem aqui? — Scott surge ao nosso lado, alternando o olhar entre mim e a loira.

— Considere isso um aviso de uma amiga — ela vira as costas e some pelo corredor, me deixando estática no mesmo lugar.

— Tá tudo ótimo! — Sorrio para Scott, apontando minha calça jeans. — Calça laranja é a nova tendência desse outono.

— O que ela queria com você? — Foi a vez de Sarah questionar, se aproximando.

— Dizer para eu ter cuidado com você — solto uma curta risada, dando algumas batidinhas no peito de Scott. — Diga para a sua namoradinha que não estou interessada.

Ele prende o lábio inferior entre os dentes, controlando um sorriso provocativo. Aos poucos, balança a cabeça, assentindo.

— Te busco na One Enterprise Fashion às cinco. É a última parte do nosso trabalho — suspira, andando para o lado oposto. — Ainda bem.

Ignoro o vazio que de repente se faz presente dentro de mim e engulo a bola quente de saliva que desce raspando a minha garganta.

— Ainda bem.

Às cinco em ponto, o carro de Scott está estacionado em frente a OEF. Felizmente, os últimos dias tem feito apenas um frio ameno, sem chuvas em excesso. Atravesso a rua, abrindo a porta do passageiro e me acomodando no assento confortável. O loiro fixa os olhos azuis em mim, arqueando as sobrancelhas e jogando a fumaça de seu cigarro para cima.

— O quê?

— Dormiu comigo? — Pergunta, seriamente.

— Como?

Oi pra você também — sorri, revirando os olhos e tragando o cigarro.

— Oh! Me desculpe — abro a porta do carro, saindo da Shelby e a trancando. Depois, abro-a novamente, colocando meu melhor sorriso no rosto e encarando a expressão confusa de Scott. — Oi, como você está?

— Você é maluca? — Questiona, balançando a cabeça e colocando o cinto de segurança.

— Não mais do que a sua namorada — desvio o olhar para a saia de couro preta da empresa. — Eu amava aquela calça.

— Emma não é a minha namorada — Scott traga pela última vez o cigarro, antes de jogá-lo pela janela e fechar o vidro. Abomino sua atitude mentalmente.

— Então por que ela me deu aquele aviso?

— Ela é complicada... — comenta, começando a dirigir. — Temos uma relação aberta, Emma não namora e muito menos eu. Quando estamos com vontade, a gente se encontra e deu. Se você não sabe o motivo desse aviso, saiba que eu também não entendi.

— Não está óbvio? — Curvo a sobrancelha esquerda para cima, gesticulando com as mãos. — Ela gosta de você — Scott me encara, apertando os cílios em minha direção e fazendo uma careta de reprovação. Em seguida, volta a atenção para a estrada, dirigindo apenas com uma mão. — É assim que você reage quando descobre que alguém gosta de você?

— Você espera que eu faça o quê? Vomite arco-íris e arrote corações cintilantes? — Pergunta, irônico. — Sinto muito em te decepcionar, ruiva.

— Você é um sem coração, Summer — me ajeito sobre o banco, encarando o meu lado da janela.

— A melhor maneira de não quebrar o coração, é fingir que não se tem um — sussurra, mas lhe escuto. Penso em responder, mas escolho o silêncio. O restante do caminho permanecemos calados.

Quando entro na casa da família Summer, um cheiro delicioso de massa de donuts invade minhas narinas. Scott tranca a porta atrás de nós, tirando os coturnos pretos e calçando chinelos cinza.

— Você está preparando rosquinhas? — Pergunto.

— Que eu saiba, não — suas narinas se expandem, detectando o cheiro doce também. — Acho que minha madrasta chegou cedo hoje.

O loiro começa a caminhar em direção à cozinha e eu o sigo. Diversas vezes tive vontade de perguntar o que acontecera com sua mãe, se já é falecida ou se Scott nem chegou a conhecê-la. Entretanto, ele não parece nem um pouco a vontade para falar sobre sua vida pessoal comigo, então preferi deixar quieto.

Quando pisamos na cozinha, uma mulher de cabelos cacheados está mexendo em duas panelas ao mesmo tempo. Ela cantarola uma música baixinha – que creio ser de rock – e remexe os quadris de um lado para o outro. Sorrio diante da cena, admirando os donuts dentro do forno.

— O que aconteceu? — Scott pergunta, cruzando os braços sobre a bancada de granito.

Cynthia – se não me engano, esse é o seu nome – para repentinamente, sorrindo ao ver o enteado. Ela limpa as mãos em seu avental branco com pequenas cerejas vermelhas e se aproxima de nós.

— A modelo que eu ia fotografar não foi ao ensaio hoje e não tinha mais nada para fazer lá no escritório — dá de ombros. — Resolvi vir para casa e preparar alguns donuts, sei que você adora — a mulher faz menção de tocar a pontinha do nariz de Scott, mas ele se afasta, murmurando algo em compreensão. — Seu pai também chegou cedo.

Os olhos em tom avelã de Cynthia pairam sobre mim e um sorriso radiante esboça seus lábios cheios. Desde a primeira vez que pisei na casa de Scott, nunca encontrei sua madrasta ou seu pai presentes. Acho que é uma surpresa para nós duas, afinal.

— Você é Anastásia Walker, a filha dos donos da OEF? Sou a Cynthia, caso não lembre — se aproxima e segura minhas mãos, animada. — Eu amei a cor do seu cabelo.

— Isso mesmo, sou sim — sorrio. — E eu amei o seu cabelo, é perfeito — ela sorri ainda mais, cutucando seu ombro com o meu e se aproximando para sussurrar:

— Passo o segredo pra você qualquer dia desses — pisca em minha direção e eu faço o mesmo, observando quando Scott revira os olhos, se desencostando da bancada.

— Temos um trabalho para fazer, qualquer coisa estaremos lá em cima — ele começa a caminhar em direção às escadas, subindo os degraus calmamente. Seu pai surge no topo, ajeitando os óculos no rosto. — Oi, pai.

— Trouxe visitas? — Kennedy estreita os olhos, abrindo um sorriso ao perceber que sou eu. — Anastásia Walker! Que bom ter você aqui.

— É um prazer vê-lo novamente, senhor — aperto sua mão, recebendo duas batidinhas no ombro.

— Como estão seus pais? A última reunião que tivemos foi semana passada. Já estou com saudades — sorrio, um pouco sem graça.

— Estão bem. Se não me engano, liguei para o seu escritório ontem e marquei uma reunião para semana que vem.

— Perfeito!

Pai, estamos ocupados — Scott pigarreia, encarando Kennedy e terminando de subir os degraus.

— Oh, claro! Desculpe — ri, se afastando e caminhando até a esposa.

— Não foi nada.

— Levo donuts para vocês depois — Cynthia acena, voltando para o fogão.

Subo as escadas depressa, me deparando com um enorme corredor extenso, cheio de portas em ambos os lados. Uma única está aberta e a melodia de Careless Whisper soa baixinha lá dentro. Essa é a primeira vez que piso no quarto de Scott, pois sempre ensaiávamos na sala de estar. Devo ressaltar: o quarto do loiro é perfeitamente arrumado. Eu esperava encontrar roupas atiradas pelo chão, restos de comida sobre os móveis e pacotes de camisinhas espalhadas pela cama. Porém, me arrisco em dizer que é até mais organizado que o meu. Suas paredes são de um cinza escuro – quase pretas. Os lençóis são brancos, assim como o tapete felpudo sob meus pés. Scott está de costas para mim, reiniciando a música. Combinamos de ensaiar mais uma vez, mesmo que todos os passos estejam gravados em nossa memória como o alfabeto.

— Me daria essa honra? — Indaga, estendendo a mão em minha direção. Largo minha mochila no chão, retirando a jaqueta jeans que visto para me proteger do frio. Coloco-a sobre a cama, segurando a mão de Scott e sorrindo ao sussurrar:

— Com o maior prazer.

E depois disso, ensaiamos três vezes até entrarmos em um acordo de que tudo estava perfeitamente okay. Nos primeiros ensaios, estávamos completamente travados e tímidos, de certa forma. A música realmente exige sensualidade e química. Adquirimos isso com o passar dos dias, tocando sem medo no corpo um do outro, sem desgrudar o olhar uma vez sequer. A sensualidade estava perfeita; nossos corpos se moviam em sincronia, devo dizer que é até excitante. O modo como seus dedos deslizam sobre minha pele, a maneira com que seu rosto fica a pouquíssimos centímetros do meu. Tudo isso desencadeia um calor infernal dentro de mim e posso garantir que Scott também sente o mesmo – já notei o modo como sua nuca se arrepia toda vez que faço algum movimento provocativo demais.

— Você vai na festa de Halloween? — Ele pergunta, se sentando na cadeira giratória. Me atiro em sua cama, fitando o teto branco. Estou exausta.

— Iria se a Sarah não tivesse acompanhada — lhe observo enquanto dá um gole em sua garrafa de água. Ele me estende, mas recuso. — Com o seu amiguinho, aliás.

— Felipe? Não somos amigos — dá de ombros. — Ele é mais próximo da Emma.

— Achei que todos vocês fossem amigos.

Amigos é uma palavra muito forte, prefiro o termo conhecidos — sorri, pegando um caderno e lápis sobre a escrivaninha.

— Me conta como vocês se conheceram — puxo um travesseiro, virando de barriga para baixo.

— A Emma já conhecia o Felipe há anos. Nós três nos conhecemos em um bar lá em Londres no ano retrasado. Depois de um tempo, nossos pais começaram a trabalhar juntos. Ano passado conhecemos a Helena, mas os pais dela não conhecem os nossos.

— Por que vieram para Snowdalle?

— A Helena tem o sonho de estudar na New Blizzard University. Meu pai e os pais da Emma e do Felipe queriam expandir os negócios, então viram uma boa oportunidade — sacode os ombros.

— Você ainda tem a capacidade de não considerá-los como amigos? Vocês se mudaram todos juntos para acompanhar o sonho da amiga de vocês!

— Acho que tem mais interesse dos nossos pais no meio dessa mudança do que qualquer outra coisa — murmura, mais para si mesmo do que para mim.

— Como assim? — Sento sobre o colchão, colocando o travesseiro em meu colo. Admito que fiquei curiosa.

— Temos uma lista de qualidades e defeitos para preencher, huh? — Scott se senta ao meu lado, me alcançando a minha mochila e dando o assunto por encerrado. Retiro meu caderno dalí e uma caneta, encarando o loiro em minha frente. Acho que chegou a parte final desse sacrifício todo e não sei dizer se estou feliz ou triste.

— Certo — começo, pigarreando. — Eu não aprendi nada com você — admito, lhe arrancando uma risadinha. — Talvez tenha aprendido algo como ser sarcástica e irônica.

— Já é um bom ponto — ele aponta o lápis em minha direção, pensativo. — Vi algumas qualidades em você.

— Ah, é? Quais? — Arqueio as sobrancelhas, surpresa.

— Você é estudiosa — o loiro anota as qualidades soltas no caderno, concentrado. — Trabalha bem, pelo que pude ver. É esforçada, pois em todas as vezes que caiu, não ficou no chão se lamentando e levantou para recomeçar. Isso diz muito sobre você — conforme ele vai anotando, sinto meu coração dar um salto sem a minha permissão. Tento acalmá-lo, mas o calor gostosinho que o preenche não quer sair dalí tão cedo. — Você é detalhista — continua. — E todas as vezes que errei alguma coisa, foi paciente comigo e me ensinou umas cinco vezes até eu pegar o jeito.

— Você tá falando isso sinceramente ou é só pra lista de defeitos não ser a maior? — Indago, curiosa.

— Estou sendo sincero, ruiva. Não sou mentiroso — pisca em minha direção, sorrindo de lado e voltando os olhos para a folha. — E você beija bem.

Engasgo com a saliva na última frase, tossindo algumas vezes antes de lhe fitar outra vez. Diferente do que eu imaginava, Scott não está sorrindo, muito pelo contrário; está sério. Umedeço os lábios, piscando algumas vezes.

— Como assim?

— Vi você beijando aquele cara na festa do Davi. Pelo o que eu observei, parece que você beija bem.

Lembrar desse dia me deixa desconfortável. Foi uma atitude completamente infantil, mas mesmo assim, ainda questiono:

— Você acha?

— Queria experimentar pra ter certeza.

Uma onda eletrizante atravessa meu corpo, parando no meio das minhas pernas e fazendo a região queimar como o inferno. Me contraio sobre o colchão, pois não esperava que meu corpo reagisse dessa maneira a uma provação do loiro em minha frente. Meu coração martela sem freio dentro do peito, como se eu estivesse prestes a saltar de paraquedas da Misty Mountain. E posso garantir; não gosto nada dessa sensação.

Scott poderia estar brincando, como sempre faz e, neste exato momento, cair na gargalhada. Porém, a intensidade de suas íris azuis dizem totalmente o oposto. Ele está sério, esquadrinhando meu rosto e demorando as orbes em meus lábios que, aliás, estão trêmulos agora.

O loiro me intimida quando crava a tempestade de seus olhos dessa maneira em mim.

Sem saber direito como reagir, desvio o olhar e solto uma risada debochada.

— Crianças? Trouxe donuts — agradeço mentalmente quando Cynthia dá duas batidas na porta.

A tensão no quarto parece se dissipar aos poucos, me permitindo respirar outra vez. Observo enquanto Scott caminha despojadamente até à porta, abrindo-a e pegando um prato cheio de rosquinhas coloridas. Ele murmura algo para Cynthia, mas estou ocupada demais tentando normalizar a minha respiração e pensar em algo broxante para o fogo no meio das minhas pernas desaparecer.

— Quer ir na festa de Halloween? Posso ser seu par — Scott sorri, mordendo uma rosquinha de chocolate e me estendendo o prato. — Não sou a companhia mais apropriada... mas devemos encerrar esse trabalho com chave de ouro.

Ele pisca em minha direção, me lançando um sorriso ladino como se nada tivesse acontecido. Eu poderia estar completamente alarmada agora, querendo fugir o mais rápido possível dessa casa e desejando que meu caminho nunca mais se cruzasse com o de Scott. Porém, inspiro o ar calmamente, lhe lançando um sorriso animado.

Afinal, não aconteceu absolutamente nada.

— Claro, somos uma dupla imbatível — pisco em sua direção, mordendo uma rosquinha de cereja.

— Éramos, ruivinha — me lembra. — Nosso trabalho acabou.

Cruzo as portas duplas do salão com Scott ao meu lado. O ambiente está completamente lotado por uma multidão de adolescentes fantasiados. Tem bruxas, vampiros, zumbis, fantasmas e uma infinidade de outras coisas. Minha fantasia é do ano passado – Alice no País das Maravilhas –, mas esse ano resolvi fazer alguns ajustes. Scott concordou em me levar até em casa para pegar essa bendita roupa, rasgar algumas partes do vestido azul com branco e jogar corante vermelho. Ele até me auxiliou com os cortes falsos em minha pele. O loiro, por outro lado, não está assustador – está terrivelmente sexy. Scott Summer veste um terno preto, a gravata borboleta perfeitamente alinhada em seu pescoço. O único detalhe que lhe deixa no clima do Halloween, é a dentadura falsa de vampiro.

— Será que tem álcool por aqui? — Ele aproxima os lábios da minha orelha, gritando por conta da música alta. Sua voz soa engraçada pelo objeto de plástico em seus dentes.

— Ninguém aqui é maior de idade — berro de volta. — Talvez tenha ponche sem álcool — o loiro revira os olhos, colocando as mãos na cintura.

— Vou procurar alguma cerveja lá fora, você vem comigo? — Hesito, mas acabo concordando no final.

Sigo o cara esguio em minha frente, desviando dos alunos animados até chegar no corredor escuro novamente. Do lado de fora do salão, a música pop é abafada e baixa, me permitindo escutar o barulho dos nossos sapatos entrando em atrito com o porcelanato cinza.

— Então… — pigarreio, acelerando os passos para alcançar Scott. — Qual é o seu lance com amizades?

— Como assim qual é o meu lance? — Indaga, me observando e retira a dentadura falsa de vampiro.

— Você sempre diz que não tem amigos, mas sim conhecidos. Por que sempre diz isso?

Suspira, olhando para frente e passando as mãos nos cabelos que até então estavam alinhados.

— Lembra quando você me disse aquela vez, que acreditar no amor depois de tudo que você passou parecia ser algo estúpido? — Concordo, me recordando da primeira vez que fui em sua casa. — O mesmo serve pra mim.

— Você teve alguma decepção amorosa ou em amizades para pensar assim? — Empurramos a porta de vidro, passando por ela e descendo os degraus de concreto.

— Que tal se a gente esquecer essa conversa? — O loiro pisca em minha direção, tentando esconder o desconforto ao tocar no assunto. Concordo, a contragosto.

Passamos pelo jardim da escola, cruzando os portões de ferro da High Five Snakes e observando as crianças que circulam pelas ruas pedindo doces de porta em porta. Scott atravessa a faixa, pulando a cerca branca de uma casa completamente enfeitada com abóboras horrorosas. Arregalo os olhos, analisando se ninguém está vendo.

— O que está fazendo? — Pergunto em tom repreensivo.

Scott bate à porta, guardando as mãos nos bolsos da calça jeans preta. Alguns segundos se passam, até que a madeira é aberta. Não consigo ouvir o que o loiro conversa com a pessoa dentro da casa, mas ele retira a carteira do bolso e entrega alguns dólares para a pessoa. Em poucos segundos, caminha até mim com quatro latas de cerveja e um saco de pirulitos.

— Quem era? — Pergunto, pegando o saco de doces e a lata de cerveja que ele me estende.

— Sério que você mora aqui em Snowdalle e não sabe que essa casa vende bebidas alcoólicas para menores? — Sussurra, abrindo o lacre da latinha antes de levar ela até os lábios.

— Como assim? — Abro a boca, encarando a casa novamente. Scott atravessa a rua, me deixando para trás. — Isso é errado, sabia? — Lhe alcanço, abrindo a minha lata e dando um longo gole no líquido borbulhante. Faço uma careta, não sou fã de cerveja.

— Claro que é errado, e nós dois somos pecadores — Ele sorri, levando a latinha até a minha, propondo um brinde. — Tim Tim.

Reviro os olhos, sorrindo.

Depois de bebermos as duas latas de cerveja, voltamos para a festa mais animados – bom, pelo menos eu estava me sentindo mais disposta. Coloco um pirulito vermelho na boca, oferecendo o saco de doces para Scott, mas ele recusa.

— Preciso ir ao banheiro — avisa próximo a mim. Balanço o corpo no ritmo da música agitada, levantando o polegar em um "joinha". Scott ri, sacudindo a cabeça e sumindo pela multidão.

Enquanto isso, observo os estudantes em busca dos meus amigos. Acabo avistando Christopher e Anne na mesa dos doces, dividindo um brigadeiro com a boca. Meu melhor amigo veste uma roupa de prisioneiro listrada de preto e branco. Já Anne, está fantasiada de policial. Faço uma careta. Tem como ser mais clichê que eles? Na mesa das bebidas, Sarah sorri diante de alguma coisa que Felipe sussurra em seu ouvido. Minha melhor amiga está fantasiada com uma espécie de roupa de fada-zumbi. Felipe traja uma calça jeans rasgada, não usa camiseta – somente alguns tecidos que imitam papel higiênico. Meus pés me guiam até eles, mas sou interrompida no percurso quando uma mão forte segura meu cotovelo delicadamente. Ao me virar, me deparo com Davi em uma fantasia de coelhinho sexy. A tiara de orelhas peludas quase me fazem rir, mas quando meus olhos descem até seu abdômen ensanguentado definido e exposto, quase perco o fôlego. Sua jardineira é branca, mas está manchada de vermelho por toda a parte.

— Achei que você não ia vir — grita.

— Ah, é — sorrio. — Mudança de planos — chamado Scott Summer.

— Já que estamos aqui, me concede uma dança? — Davi estende a mão para mim, sorrindo de lado. — Alice não é Alice sem o coelhinho atrasado.

Ele pisca, o que me ocasiona uma risada. Penso em recusar, mas a feição de menino pidão me faz ceder. Seguro sua mão no mesmo instante em que a música de jazz é substituída por Careless Whisper. Meus olhos instantaneamente desviam para o salão em busca de Scott, porém, não o encontro. Deito a cabeça no peito desnudo de Davi, posicionando meus braços em seus ombros. Ele enlaça minha cintura, se movendo de um lado para o outro calmamente. Entretanto, não sinto conexão e muito menos química entre nós dois. É estranho, sinto como se estivesse faltando algo aqui. Até porque tem.

Volto a olhar para o salão no instante em que Davi me gira. Acabo achando Scott perto do arco de balões. Ele está com os braços cruzados, encostado na parede enquanto me observa atentamente e murmura algo para a garota vestida de anjinho ao seu lado. Não é preciso de muito esforço para reconhecer Emma. Quando o loiro finalmente percebe que estou lhe encarando, desvia o olhar e despeja toda a sua atenção na loira. Mais algumas palavras trocadas, ele me olha pela última vez e cruza as portas do salão com Emma em seu encalço.

Acho que sinto inveja dela. Da conexão que ambos têm, da amizade e, principalmente, do conhecimento que aparentam ter um do outro. Engulo em seco, tentando ignorar o desapontamento que cresce dentro de mim por não ter sido interessante o suficiente para conquistar a amizade do loiro. Fecho os olhos, ainda com a cabeça colada no peito de Davi. Deixo a melodia nos guiar, embora a sensação horrível de vazio esteja presente entre nós dois.

Acho que meu ódio por Scott Summer voltou à tona, mas desta vez, é por fazer com que a droga dessa música só faça sentido se for dançada com ele.

O capítulo que será lançado quarta-feira é um dos meus preferidos de Beautiful Storm e é a partir dele que a amizade dos dois vai ganhando forma e se tornando ainda mais intensa. Esse dois... eu que lute 💅🏻

Não esqueça da estrelinha e do comentário, isso é muito importante para que a história alcance mais pessoas aqui no Wattpad!
❤️

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