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Quatro

“Ela sabe exatamente o que fazer com homens como você.”
Spice Girls | Naked

06 de outubro de 1997,
segunda-feira.

          Desde pequena eu possuo uma lista. Nela, meus principais sonhos estão escritos com uma letra toda torta, contornadas com canetinha cor-de-rosa. Eu grudei no espelho do meu quarto há alguns anos atrás, para que todo dia que eu olhasse o pequeno bilhete, tivesse a certeza de que cada obstáculo enfrentado no dia de hoje, moldará o meu futuro no amanhã.

Entrar na New Blizzard University é o meu primeiro sonho. Logo em seguida, a viagem para Paris. Tem mais algumas baboseiras que eu escrevi, como: arranjar um príncipe encantado em um cavalo branco, mas relevem. Eu tinha apenas sete anos quando fiz a lista e amava os contos de fadas da Disney. Ainda amo, mas perdeu um pouco do encanto com o passar do tempo.

Neste exato momento, estou passando esta lista totalmente a limpo. Minha letra cursiva é bem mais legível agora, e eu retirei alguns sonhos estranhos como: conhecer todos os personagens de O Rei Leão.

Realmente, minha cabeça dez anos atrás era muito fantasiosa e há três anos – quando O Rei Leão foi lançado – era igualmente maluca.

— Você quer conhecer o Mufasa? — Sarah bisbilhota a lista antiga, chamando a atenção de Christopher e Anne que estavam imersos em seu mundo particular do amor. — Mufasa morreu. Você assistiu O Rei Leão direito?

— Morreu pra você, só se for — Christopher protesta. — Ele estará sempre vivo no meu coração.

— Nunca irei superar a morte dele, sinceramente — Anne se pronuncia, afastando seus cabelos pretos dos ombros. — Vocês sabiam que a Nala e o Simba podem ser primos ou até mesmo irmãos?

— O quê?! — Nosso espanto sai em uníssono.

— Tipo… incesto? — Christopher indaga, sem esconder a cara de quem acabou de ter a vida completamente arruinada.

— Exatamente! As leoas geralmente ficam restritas a apenas um ou dois leões de sua alcatéia — a morena responde, girando seu canudinho dentro do copo. — Existe uma teoria que diz que a Nala é filha do Scar, por conta da cor dos olhos. Sendo assim, Simba é o primo dela.

Abrimos a boca em um perfeito 'O', emitindo um ruído impactado.

— Puta que pariu — Sarah coloca a mão na testa, desviando o olhar para seu suco de melão. — Você estragou minha infância, sabe disso, né?

— Achei que vocês soubessem — Anne dá de ombros, sorrindo. — Fico feliz por ter estragado.

A morena lança uma piscadela para minha melhor amiga, depositando um beijo casto na bochecha de Christopher. Ainda estou com a expressão atônita no rosto, digerindo todas as informações que acabo de escutar.

— Era uma das minhas animações favoritas da Disney — suspiro.

— É só uma teoria. Não é nada confirmado.

Dou de ombros, começando a recolher meus materiais. Tomo o último gole do meu suco, vendo o horário no grande relógio pregado na parede do refeitório. O sinal vai tocar daqui cinco minutos e minha próxima aula é com o professor Charles. O que isso significa? Que nenhum aluno pode se atrasar em suas maravilhosas aulas de artes.

Sarah recolhe sua bandeja vazia e nos despedimos de Christopher e Anne com um beijo estalado na bochecha. Infelizmente, a namorada do nosso melhor amigo faz a linha PP – psicopata-possessiva – que fica com ciúmes de gestos tão simples quanto esses. Não fazemos isso para provocá-la, mas queremos mostrar que ela não tem com o que se preocupar, já que o vejo como um irmão e Sarah… bem, ela nunca vai admitir nada para ele.

— Se eu vestisse o uniforme das animadoras de torcida, você acha que o Christopher prestaria atenção em mim?

Sarah pergunta quando já estamos no corredor, andando com passos rápidos até a sala de artes.

— Acho que quando se está apaixonado, pode aparecer uma Marilyn Monroe ou um Leonardo Dicaprio na sua frente que, do mesmo jeito, você só vai ter olhos para a pessoa que ama — respondo. — E você sabe que o Chris é completamente apaixonado pela Anne.

Sarah solta um suspiro derrotado, os ombros caindo ao lado do corpo na medida em que seus olhos adquirem um brilho de chateação.

— Tá cada vez mais difícil, sabe? Não. Você não sabe — pisca repetidas vezes, controlando suas próprias emoções. — É uma merda saber que a pessoa que você ama está amando outra pessoa. E o pior, é que me sinto uma vaca egoísta por não estar feliz pelo relacionamento deles e, tipo... fala sério! Eles são perfeitos; o nerd gostoso e a líder de torcida maravilhosa. Quais as minhas chances? Zero.

— Amiga, você...

— Olha para ela e olha para mim — Sarah me interrompe, apontando o dedo indicador para si mesma. — Eu me sinto um grão de areia perto do deserto de beleza que a Anne é.

— Não se diminua, Sarah — cesso, encarando-a seriamente. — Vocês duas são lindas e você precisa parar de se comparar. Beleza não é o único motivo pelo qual Christopher está apaixonado por ela, então não adianta colocar a aparência no meio disso. Você merece alguém que lhe faça feliz. Se essa pessoa não é o Chris, a única coisa que você deve fazer é superar e seguir em frente, por favor — enfatizo o pedido.

Por um momento, penso que minha melhor amiga vai chorar, ou pior; me xingar. Mas ao contrário disso, ela sorri e engancha o braço ao meu, me dando um abraço de lado desajeitado.

— Você tem razão — admite. — Acho que preciso sair com outras pessoas. Estou me privando de várias coisas desde o primeiro ano, pensando que da noite para o dia vou conseguir contar a ele todos os meus sentimentos e ser correspondida.

— Você precisa conhecer novas pessoas e se aventurar em algumas bocas — comento, abrindo a porta da sala de aula. — Começa sentando perto de algum gatinho daqui.

— Você não vai se importar?

— Claro que não — sorrio, avistando minha classe no fundo da sala. — Eu vou estar no lugar de sempre.

Sarah sorri, sentando perto dos jogadores estrelas da High Five Snakes. Sentada na última classe, noto que Felipe Blenson está se enturmando com os caras do Loud Snakes – time de hóquei da nossa escola.

A porta da sala se abre, revelando nosso professor responsável por noventa por cento das calcinhas úmidas aqui dentro da escola. Charles beira os trinta e cinco anos e, por mais que imaginar alguma coisa com ele se torne algo muito estranho, é inegável não se sentir atraída por seu charme e seu sotaque francês único. O mais velho traja um terno preto, a gravata listrada perfeitamente alinhada em seu pescoço. Charles possui uma expressão séria enquanto se escora na mesa, cruzando os braços fortes em frente ao corpo.

O silêncio é instantâneo.

— Bom dia, alunos — inicia, sem esperar por uma resposta. — A HFS está com um projeto esse mês, que se chama: "Ame as imperfeições do outro". Basicamente, eu fiquei responsável por esse projeto, C'est Dommage, e ele consiste em conhecer as qualidades e os defeitos um do outro.

Murmúrios descontentes ecoam pela sala, seguido de um revirar de olhos da minha parte. Charles levanta o dedo indicador, calando a sala outra vez.

— Eu quis complementar este projeto, é claro.

É claro.

— Então, não irei facilitar as coisas para vocês. Quero um trabalho excelente, impecável...

A porta da sala se abre, interrompendo a fala do professor. Charles cruza os braços outra vez, encarando o aluno que acabara de entrar.

Scott.

— Deve ser o novato? — Charles deduz, arqueando as sobrancelhas grossas. — Está atrasado.

Scott retira a touca cinza que cobre seus fios bagunçados. Pelas gotículas de água presentes em suas roupas, creio que esteja chuviscando lá fora. Ele abre um sorriso inocente para Charles, que mantém a expressão rígida de sempre. O loiro fica bem com a camiseta social da nossa escola, embora tenha colocado a jaqueta de couro por cima. Seu uniforme está incompleto, já que também substituiu a calça social por uma jeans escura. Apesar da gravata verde musgo estar completamente desalinhada em seu pescoço, isso só o deixa mais misterioso e atraente.

— Me desculpe, professor — pede, exalando sarcasmo. — Tenho que me apresentar para todo mundo, ou felizmente essa escola não exige essas palhaçadas?

— Vá se sentar — Charles dispensa, impaciente.

Com isso, Scott caminha até o fundo da sala.

Ah, merda!

Ele não pode estar vindo até aqui...

Scott se senta em minha frente, jogando sua mochila preta na mesa. Seu perfume invade os meus sentidos e eu o amaldiçoo por ter um cheiro tão bom. É uma mistura única de menta e colônia masculina. Torço o nariz apenas pelo aroma inconfundível de tabaco. Seu rosto se vira para mim de supetão, me deixando estática. Suas íris azuladas estão claras hoje, fitando meu rosto com cuidado antes de sorrir e falar:

— Desculpa.

Oi?

— Desculpa pela minha grosseria na festa — continua, diante do meu silêncio. — E por estar te enlouquecendo com o meu perfume.

Bufo, revirando os olhos. É claro que Scott Summer não consegue controlar seu ego por cinco míseros segundos.

— Como eu ia dizendo... — Charles volta a se pronunciar, fazendo com que o loiro vire para a frente. — Quero um trabalho completo. Irei sortear duplas, isso mesmo. Para ficar mais interessante, vocês não irão fazer com os amigos de vocês.

Sarah vira o pescoço em minha direção, praticamente implorando por socorro. Eu devolvo o olhar, tentando transmitir um "vai ficar tudo bem". Charles enfia a mão grande dentro de uma caixa de biscoitos, retirando mais e mais papéis de lá. Quando Sarah é anunciada, torço para que meu nome seja o próximo, mas infelizmente – ou felizmente –, Felipe Blenson é a sua dupla.

— ...Anastásia Walker e Scott Summer.

Ah, não!

Puta. Que. Pariu.

Não consigo nem descrever o tamanho do meu ódio por Charles nesse momento, ou pelo universo que insiste em conspirar contra mim.

— O trabalho é o seguinte: a dupla vai escolher uma música, escrever sobre o gênero da canção e fazer uma apresentação usando-a como base. Podem dançar, cantar ou tocar. A escolha é totalmente de vocês. Junto com essa apresentação, eu quero que me entreguem uma ficha sobre a dupla de vocês. O que aprenderam com ela, quais seus defeitos, qualidades, se vocês se tornaram amigos ou continuam apenas colegas.

O sinal toca.

— Vocês têm exatamente um mês para entregar esse trabalho. Por hoje é só.

Os alunos começam a se levantar, ansiando para sair dessa sala com este professor filho da mãe. Começo a caminhar em direção a Charles, esbarrando em alguns estudantes no percurso.

— Eu quero trocar de dupla.

— Lamento, Walker. Isso não será possível.

Mordo o lábio inferior com força, pedindo paciência aos céus para não surtar e mandá-lo ver se a grama da vizinha faz bem ao seu estômago.

— Não acho que isso seja uma boa idéia — a voz grossa que soa ao meu lado é de Scott. Uno as sobrancelhas. Sério? Nenhuma piadinha do tipo "Olha só, somos uma dupla!"?

— Ah, é? E por quê? — Questiona Charles.

— Não nos damos muito bem — responde Scott, apático.

— Perfeito! Vocês têm muito o que aprender, então. Este é justamente o intuito desse trabalho. Vejo vocês na nossa próxima aula, até.

Charles nos dá as costas, saindo da sala já vazia. Fecho os olhos momentaneamente, tentando reunir todo o meu autocontrole. Assim que abro as pálpebras, Scott está me encarando com um sorriso petulante nos lábios.

— Olha só, somos uma dupla!

— Vai pro inferno.

Lhe dou as costas, saindo da sala também.

— Anastásia, você deixou o carro desligar... de novo.

O sermão educado vem de Francis White, meu instrutor da autoescola. Sei que lá no fundo, sua vontade é de me jogar para fora desse carro e me reprovar. Porém, é um cara muito legal e educado para fazer tal coisa e, além disso, ele me conhece desde que eu ainda era um espermatozóide no saco do meu pai. Sem contar que Francis tem uma queda gigantesca pela minha mãe.

Pois é. Meu instrutor é apaixonadinho por Marina Green e eles se conhecem desde o ensino médio. Pelas histórias que mamãe já me contou, Francis era melhor amigo do papai e ambos eram caidinhos por ela. Enquanto Robert Walker gastava seu precioso tempo dentro de campos de futebol, Francis White dava toda sua atenção para a biblioteca e jogos de xadrez. Marina Green como líder de torcida, não perdeu tempo e se envolveu com o jogador de futebol americano. Ela me contou que Francis ficou muito chateado, pois meu pai sabia que ele gostava de minha mãe, e em pouco tempo eles já estavam desfilando pelos corredores da High Five Snakes.

Munido de um amargor pela traição do melhor amigo, Francis preferiu se afastar. Porém, em todas as vezes que mamãe e papai brigavam ainda jovens, o mais velho ao meu lado servia de consolo – segundo minha mãe, meu pai não sabe de nenhuma dessas vezes. Contudo, o universo conspirou novamente contra Francis e alguns dias depois, mamãe já estava com papai novamente. Se ainda restava algum fio de esperança dentro dele, morreu no instante em que Marina anunciou sua gravidez de mim.

A partir daí, Francis rompeu qualquer vínculo que ainda existia entre os três. Ele se matriculou na Universidade de Middlesex, em Londres e sumiu por um ano. Quando eu tinha seis meses e meio, mamãe contou que ele ressurgiu das cinzas e se aproximou novamente. Somente Marina o aceitou outra vez como amigo, meu pai sempre fora contra sua reaproximação. Desde então, meu instrutor e minha mãe mantém uma amizade forte. Há dois anos – quando meus pais se separaram –, a amizade dos dois se tornou ainda mais intensa.

Embora minha mãe negue, tenho noventa por cento de certeza que ambos já relembraram os velhos tempos nesses dois anos. Muito mais do que meus dedos são capazes de contar.

— Você está bem? Isso nunca acontece com você — ele soa preocupado, me fitando com cuidado.

— Problemas com um garoto — solto de uma vez, afundando ainda mais no banco do motorista.

— Oh! — Sorri. — Vocês estão namorando?

Arregalo os olhos, encarando-o rapidamente.

— O quê?! Oh, não! Meu Deus, não. De jeito nenhum! Longe de mim.

Francis ri, passando a mão por sua barba escura e rala. Ele pega a garrafinha de água na porta do carro, abrindo-a e tomando um longo gole. Se vira novamente para mim, pensativo.

— Deixa eu adivinhar… você odeia ele?

— Ódio é pouco.

— E ele vive no seu pé.

— É, quase isso — dou de ombros.

— E, por algum motivo, vocês se falaram hoje.

— Temos um trabalho em dupla para fazer nos próximos trinta dias!

— E essa é a razão pela qual você deixou o carro apagar três vezes?

Suspiro.

— É.

— Como o garoto é?

— Irritante, muito irritante. É arrogante e egocêntrico, sabe? — Reviro os olhos. — O pior, é que ele é filho do novo sócio dos meus pais.

— Sério?! — Francis arqueia as sobrancelhas, abrindo a boca em total surpresa.

Ahãm.

— O que mais?

Torço os lábios, ponderando se conto mais alguma coisa ou se já falei demais nos últimos minutos. Francis é um coroa bonito, devo admitir. Seus fios são de um loiro escuro, a barba rala é do mesmo tom. Ele possui o maxilar marcado, lábios cheios e olhos castanhos. Mas, o principal de tudo; é um ótimo ouvinte. Arrisco em dizer que ele é mais presente do que meu próprio pai. Porém, minha confiança nele foi totalmente abalada quando lhe contei sobre o quão esgotada mentalmente eu estava alguns meses atrás.

Não. Eu não tenho pensamentos negativos ou algo parecido, mas os acontecimentos do dia-a-dia acabam nos causando um desgaste psicológico muito grande, muitas vezes, sem nem nos darmos conta disso. Então, quando minha mãe apareceu no dia seguinte recitando frases motivacionais para mim, imediatamente juntei as peças do quebra-cabeça. Sei que Francis se preocupa comigo e realmente admiro muito isso nele. Porém, poxa vida, huh?

Tudo que menos preciso agora, é que minha mãe fique sabendo do meu ódio genuíno por Scott Summer e tente enfiar uma amizade entre nós dois goela abaixo.

— Só isso mesmo — sorrio, constatando que já falei o suficiente. — Estou concentrada agora.

— Tem certeza?

— Sim — não. — Podemos continuar.

E eu deixo o carro apagar... mais uma vez.

07 de outubro de 1997,
terça-feira.

Eu nunca fui fã de esportes. Geralmente, pratico apenas para não bombar em educação física. Às vezes, assisto alguns jogos na televisão porque meu pai insiste muito. Acho que se eu fosse um garoto, com certeza estaria correndo atrás de uma bola ou de um disco no gelo, apenas por influência de Robert. Porém, gosto de assistir os treinos de futebol americano aqui da escola. Os jogadores do Loud Balls são bons – embora eu não entenda quase nada do que está rolando no campo –, mas pelas comemorações e assovios, creio que as jogadas são executadas perfeitamente.

As arquibancadas estão quase vazias, ocupadas apenas por mim e mais um casal que com certeza matou aula para se pegar embaixo das escadas. Eu até iria para as arquibancadas do Loud Snakes, lá no rinque de gelo, mas não quero lidar com Davi e sua insistência sufocante. Se eu me concentrar bem, consigo até ouvir:

E aí, vai ir comigo na festa de Halloween?”.

Reviro os olhos só de imaginar.

Volto minha atenção para o caderno em minhas pernas. A brisa fresca que sopra das árvores de algodão balança as folhas, um claro lembrete de que essa idéia é péssima. Eu já fiz diversos trabalhos em grupo – na maioria das vezes, com pessoas que eu mal sabia o nome – e a solução mais fácil que encontrávamos, era cada um fazer na sua casa e depois juntar tudo no final. Sei que isso nunca dá certo, mas uma dupla com Scott Summer também não irá resultar em algo excelente – com certeza iremos nos matar antes da apresentação. Então, pra que lidar com sua arrogância, se no final as coisas vão acabar iguais; uma verdadeira catástrofe?

Decidi fazer um rascunho, citando seus defeitos e qualidades. Com sorte, talvez o loiro concorde com isso. Por enquanto, a lista de defeitos já tem cinco tópicos, enquanto a de qualidades, não tem nenhum.

Vamos lá, Anastásia. Deve ter algo de bom no coração daquele garoto arrogante.

Minha atenção é desviada para o campo novamente, onde o professor de educação física assopra seu apito. Ele sempre faz isso dez minutos antes de bater, então sei que faltam poucos minutos para o fim das aulas. Talvez eu tenha que inventar alguma qualidade...

— Eu te procurei pela escola inteira!

Dou um pulinho pelo susto, encarando o cara parado ao meu lado. Scott parece cansado, uma camada de suor brilhando em sua testa. Ele retira a mochila, se sentando ao meu lado e colocando-a entre suas pernas no degrau de baixo. O loiro suspira, apoiando os cotovelos nos joelhos.

— Escuta, eu sei que você me odeia...

— Ainda bem que sabe — interrompo.

— É recíproco — revida, sorrindo de canto. — Mas eu já reprovei ano passado, não quero perder outro ano por conta de uma garota mimada, tá legal?

Desvio o olhar, mordendo fortemente o meu lábio inferior para não mandá-lo ir pro inferno outra vez. Ele veio aqui pra isso? Para me chamar de mimada? Talvez a lista de qualidades deva realmente ficar vazia.

— E que culpa eu tenho? — Arqueio as sobrancelhas, desafiando. — Se você é burro, o problema não é meu.

— Pra sua informação, ruivinha...

— Anastásia.

Saúde — revira os olhos. — Eu reprovei por infrequência. Minhas notas estavam na média.

— E...?

— E quero fazer esse trabalho. Preciso, na verdade. Então, eu estava pensando… — Scott desvia o olhar do meu rosto e o paira sobre meu caderno.

Suas sobrancelhas grossas se unem, formando um vinco em sua testa. Ele estende o braço comprido para pegá-lo, encostando os dedos gelados por descuido em minha coxa desnuda. O toque mínimo me causa arrepios desconhecidos e eu me condeno por ter colocado a saia do uniforme esta manhã. Uma boa parte de mim, torce para que Scott não tenha reparado nos meus pelos ouriçados. Já a outra, está dando gargalhadas internas pela sua feição lendo as coisas descritas em meu caderno.

— É sério isso? — Questiona, apontando para a folha. — Babaca, arrogante, egocêntrico, fumante e misterioso?

— São os seus defeitos — dou de ombros. — Estou tentando achar alguma qualidade em você, mas não encontro nenhuma.

— Desde quando ser misterioso é um defeito?

Torço os lábios, pensativa.

— Eu não consigo entender qual é a sua, odeio não desvendar de cara as pessoas — respondo, sincera.

— Aí que está o legal — retruca. — Entender as pessoas logo de cara é chato. Quando você se aproxima e desvenda aos poucos os mistérios de alguém, fica tudo mais interessante.

O silêncio recai sobre nós, o peso de suas palavras pairando no ar. Seus olhos me fitam intensamente e, pela primeira vez depois de muito tempo, sinto vontade de realmente desvendar os mistérios de outra pessoa.

Pigarreio, me sentindo desconfortável.

— Hãn, bom... obrigada! Você tem uma qualidade agora — pego meu caderno de suas mãos, passando a borracha no misterioso e escrevendo essa palavra em suas qualidades. Okay. Quatro defeitos e uma qualidade. Estamos progredindo.

Começo a recolher meus materiais, sentindo o olhar de Scott queimar a minha pele. Toda vez que suas íris enigmáticas me observam, eu me sinto julgada. Talvez, seja porque ele realmente me julgue. Não deixo de notar o meu desconforto com a ideia de que alguém tenha uma impressão totalmente errada de mim. Geralmente, eu não ligo para os pensamentos das pessoas em relação a nerd da escola, que não tem tanto peito quanto as líderes de torcida e, que na maioria das vezes, troca uma festa agitada para enfiar a cara em livros didáticos. Mas agora, eu realmente me sinto um pouco afetada com todas as conclusões de Scott sobre mim.

— Eu não acredito que você vai dar uma de egoísta e fazer esse trabalho por conta própria — o loiro se levanta, colocando a mochila nos ombros. Parece indignado.

— Eu sou mimada, superficial, antipática e agora egoísta — solto uma risada incrédula. — O que mais eu sou para você, Summer?

— Eu não sei — dá de ombros. — Mas quero muito descobrir — pisco lentamente, ajeitando as alças da minha mochila. — Se você não quer que eu cite somente os seus defeitos, pare de birra e vamos terminar esse trabalho o quanto antes. Não precisamos ser amigos, até porque não temos aparentemente nada em comum, mas vamos fazer essa apresentação direito. Já vi que Charles é bem exigente.

Suspiro.

Scott tem razão.

Argh! Esse babaca tem toda a razão.

— Okay — concordo, cruzando os braços. — Começamos semana que vem.

Scott nega com o dedo indicador, abrindo outro de seus sorrisos petulantes.

— Tem que ser hoje.

— Eu trabalho, não posso.

— Eu também, mas pedi uma folga ao meu chefe. Você pode fazer o mesmo, ou entrar um pouquinho atrasada.

! Meus chefes não são tão bonzinhos quanto o seu.

— Tenho certeza que se você falar para os seus pais que é por conta de um trabalho escolar comigo, eles vão deixar.

— Como pode ter tanta certeza? — Uno as sobrancelhas.

Scott retira um Motorola StarTAC de seu bolso traseiro, estendendo o aparelho para mim. Relutante, pego de suas mãos e observo as mensagens presentes no pequeno visor.

O número é da minha mãe.

[Scott Summer]:
Olá, desculpe o incômodo. Anastásia e eu acabamos nos tornando amigos depois da recepção maravilhosa em sua empresa naquela noite. Decidimos fazer um trabalho de artes juntos, então eu vim aqui encarecidamente pedir que a senhora dê uma folga a ela hoje, ou que lhe deixe entrar um pouco mais tarde. É o único dia em que eu tenho folga também.”.

[Marina Green]:
“Oi, querido! Fico feliz que vocês tenham simpatizado. Pode avisá-la que darei a folga sim, mas ela terá que trabalhar algumas horas a mais para recompensar. Abraços!”.

Encaro o loiro em minha frente, tentando recolher meu queixo que está literalmente caído no chão. Entrego o celular a ele, chocando o aparelho com força contra seu peito. Scott nem se mexe.

— Como você ousa? — Arregalo os olhos, sentindo a raiva dominar o meu corpo.

— Relaxa, ruivinha. Poupei seus esforços — me lança uma piscadinha. — Agora vamos, eu estou morrendo de vontade de passar um tempo com você e saber sobre as suas qualidades — Scott começa a descer as arquibancadas e eu o sigo, a contragosto. Ele para no último degrau, se virando para mim. — Você tem alguma? — O loiro ri, e eu lhe dou um soco no braço.

— Odeio você.

Talvez, eu o mate antes mesmo de sair dessa escola.

— Por que não pega qualquer um e vamos embora?

Reviro os olhos, enquanto observo Scott passar as orbes por milhares de discos. Estou sentada em um banco minúsculo, tão entediada quanto o moço atrás do balcão, que folheia o jornal de hoje com uma lerdeza fenômenal. A Musical Records é a maior loja e locadora de vinis de Snowdalle. Tudo aqui dentro tem cheiro de coisas velhas e desinfetante. As paredes são brancas e há algumas manchas de umidade no teto, deixando o local ainda mais antigo do que já é. Uma música clássica toca baixinho ao fundo, me deixando sonolenta.

— Não quero correr o risco de pegar algum vinil da Cyndi Lauper — responde, torcendo os lábios.

— Você está na parte do rock — arqueio as sobrancelhas. — Cyndi Lauper canta pop.

— Enfim, me conte alguma coisa interessante sobre você — ele para de analisar os discos, virando-se para mim e cruzando os braços. Pisco algumas vezes, tentando pensar em algo. — Vamos lá, sua vida não pode ser mais chata do que a do cara ali atrás do balcão — aponta com o polegar, se sentando no chão ao meu lado. Por sorte, a loja está vazia. Se não, estaríamos bloqueando a passagem das pessoas.

— Tenho alergia a pêssego — conto a primeira coisa que me vem à cabeça.

— Isso não é interessante — semicerra os olhos. Dou de ombros.

— É, sim. Pelo amor de Deus, quem mais nesse mundo tem alergia a pêssego? A fruta parece tão inofensiva, mas quando eu tinha sete anos e comi um pedaço pela primeira vez, tive que ser internada no hospital. Meu rosto ficou desse tamanho — demonstro com as mãos em volta da minha cara. — E tive muita dificuldade para respirar. Eu quase morri.

— Beleza, então você é uma sobrevivente — ri, descansando as costas na prateleira atrás de si. — O que você espera do futuro?

— Suas perguntas são difíceis — retorço os lábios. — Espero ser rica.

— Achei que você queria o que todos querem.

— O quê?

— Amor, aventura… — dá de ombros, fazendo uma pausa e fixando os olhos curiosos em mim. — Um pouquinho de adrenalina.

Balanço meus ombros também, cruzando os braços.

— Sua vez. Algo interessante sobre você.

— Não tem nada interessante sobre mim — diz, simplesmente.

— Não vale, sabia? — Bufo, mordendo internamente minhas bochechas. — Você tem outras dessas espalhadas pelo corpo? — Aponto para a cruz invertida abaixo de seu olho.

— Algumas.

— Como são?

— Tenho duas flechas atravessadas e uma caveira no braço esquerdo. Um dragão na panturrilha direita e dois símbolos chineses na base dos pulsos — ele levanta as mangas da jaqueta de couro, mostrando as tatuagens pequenas.

— Tem algum significado?

— A do pulso esquerdo diz esperança e a da direita diz foda-se — arqueio as sobrancelhas, segurando uma risada. — Alguma sugestão de música?

— Por mim, tanto faz.

— Quer saber? Nós precisamos fazer isso juntos do início ao fim — Scott se levanta do chão, estendendo a mão para mim.

— O que foi?

— Me dá a sua mão.

— Ah, não — solto uma risada contida. — Minha meta de noivo é o Leonardo Dicaprio. Você não é ele.

O loiro revira os olhos, soltando um suspiro impaciente. Sorrio ainda mais, vendo que consigo irritá-lo na mesma medida. Por fim, seguro a sua mão.

— Então...? — Scott puxa o meu pulso com delicadeza, me levando até a sessão de discos pop. — Achei que iríamos fazer com o gênero rock.

— Você gosta de rock?

— Só escuto se for Elvis Presley...

— Foi o que pensei — ele solta minha mão, e a pele que até então estava quente pelo seu toque, volta a esfriar. — Vamos fechar os olhos, colocar nossas mãos juntas e selecionar aleatóriamente algum disco pop daqui.

— Você escuta pop?

— Um pouco — dá de ombros, ajeitando a jaqueta de couro em seu corpo. — Tudo bem por você?

— Tanto faz. Vamos acabar logo com isso.

Fecho meus olhos, estendendo minha mão. Não demoro muito para sentir a palma quente e áspera de Scott se posicionar sobre a minha. Sorrio pela cosquinha que seus calos fazem sobre minha pele sensível, causando arrepios indesejados pelo meu corpo.

É a segunda vez.

Só hoje.

Nossas mãos se movem juntas, tocando nossos indicadores em um dos discos de vinil. Abrimos os olhos, vendo qual seria o cantor responsável pela música do nosso trabalho.

George Michael — Scott pronuncia, parecendo animado.

Careless Whisper — completo, pegando o disco e vendo o nome da música na capa. — Já escutei essa música, é boa.

— Boa? — O loiro parece indignado. — Essa música é excelente.

— Ainda prefiro alguma da Cyndi Lauper — provoco.

— Já vi que teremos dois trabalhos para fazer.

Uno as sobrancelhas, confusa.

— Primeiro: o da escola. Segundo: te apresentar o que é música boa de verdade.

Suas íris me fitam com cuidado, como se estivesse gravando cada mísero detalhe do meu rosto. Sinto meus pulmões reclamarem pela falta de oxigênio, e só então percebo que estava prendendo o ar.

Fico em silêncio por um instante. Eu odeio esse cara. Tento lembrar a mim mesma. Porém, alguma voz no fundo da minha consciência sussurra baixinho que, talvez, haja realmente algo de bom nele por trás dessa fachada de bad boy. Contudo, por mais que um lado meu queira muito descobrir qual é a desse cara na minha frente, a parte que prevalece é a que sente vontade de atirá-lo da Misty Mountain.

Com um sorriso sínico, respondo:

— Eu particularmente prefiro a morte, Summer.

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