“Eu achei que já havia me machucado antes, mas ninguém nunca me deixou tão ferido. Suas palavras fizeram um corte mais fundo do que uma faca. Agora, preciso que alguém me sopre a vida novamente.”
Shawn Mendes | Stitches

23 de maio de 1998,
sábado.

    O ar gélido de Snowdalle castiga meus pulmões.

A dor é lancinante e corrói meu coração como ácido. Sinto dificuldades para respirar, tudo por conta do soluço entalado em minha garganta. Quanto mais as lágrimas deslizam em minhas bochechas, mais fraca e vulnerável me sinto.

Me enganei ao pensar que ter o coração partido pela segunda vez doeria menos; o corte é ainda mais profundo e intenso. Retiro meus sapatos de salto, chutando-os para longe. Não consigo me manter de pé, meu corpo está frio e trêmulo. Algo morreu dentro de mim no dia de hoje.

Luzes em tons de azul e vermelho clareiam a fachada da escola. Meu estômago se revira conforme meus olhos captam as duas viaturas da polícia. Me abaixo perto de um carro no estacionamento, colocando para fora todo o café da tarde. Espero que, de alguma forma, a angústia presente dentro de mim saia também. Escuto passos pesados se aproximarem e, em seguida, alguém segurar meu cabelo para me auxiliar.

— Você precisa ir para casa, Ana — Francis adverte, a voz calma e serena como sempre. Porém, neste momento, eu gostaria que ele gritasse comigo; esfregasse na minha cara o quão idiota eu sou por acreditar cegamente em uma pessoa capaz de destruir meu coração em menos de um segundo. — Seu pescoço está sangrando!

Passo o dorso da minha mão na boca, sem me importar em borrar o batom vermelho. O cheiro de vômito me dá ainda mais ânsia, mas não há mais nada em meu estômago para colocar para fora. Meus dedos deslizam na pele sensível do meu pescoço, a ardência se fazendo presente na região por conta do toque. Nem havia me dado conta do filete de sangue manchando meu vestido; a dor interna é capaz de sobressair a externa.

Relutante, permito que Francis me ajude a levantar. Refreio o soluço que insiste em escapar, abrindo minha bolsa de mão com certa urgência. Pego a carta lilás, amassando-a e rasgando-a em inúmeros pedacinhos. Se tudo escrito aqui dentro não passa de mais uma mentira, então nunca irei querer lê-la.

— Você não precisa ser forte o tempo todo, tá tudo bem gritar para o mundo o quanto isso te afeta — Francis se abaixa um pouco, apenas para me encarar nos olhos. Agora, ele é apenas um borrão devido as lágrimas genorosas que empoçam minhas orbes.

Meu corpo cede e eu finalmente deixo a dor tomar posse de mim. O céu parece zombar da minha cara e grossas gotas de chuva começam a ensopar meus fios ruivos e meu vestido. Francis ampara minhas costas, guiando-me até meu carro. Ele sabe que não estou em condições para dirigir, então pega a chave da minha bolsa e assume o lugar do motorista. Me acomodo no banco do passageiro, sem me importar em preencher o automóvel com meu choro descontrolado. De repente, as portas duplas da High Five Snakes se abrem; Scott sai de lá, um filete de sangue escorrendo de seu nariz. Seus olhos procuram por algo no estacionamento, mas o policial segura seu pescoço e o coloca dentro de uma das viaturas.

Minha mente me castiga e lembro-me do dia em que nos conhecemos; das risadas, dos momentos, das brigas idiotas e de todas as frases que pareciam ser sinceras. A verdade, é que não importa qual jogo Scott Summer jogasse ou qual mentira manipulasse, ele sempre venceria.

Agora, tudo está um caos; meus sentimentos estão misturados em uma bela tempestade capaz de destruir minha vida em um piscar de olhos. É uma sensação angustiante, pois não posso fazer nada quanto a isso, a não ser sentir a profusão de sensações ruir meu coração de uma só vez.

Se eu soubesse que aquela manhã mudaria a minha vida para sempre, jamais teria colocado meus pés para fora de casa.

INÍCIO OFICIAL DAS POSTAGENS:
16 de Setembro.

Espero que tenham gostado e vejo todo mundo aqui de novo no primeiro capítulo!

Com carinho,
❥ grasielebooks.