Onze
“Eu estive andando por aí, mas eu sempre volto para você. Com chuva ou sol, você ficou ao meu lado, garota. Você é a minha melhor amiga.”
Queen | You're My Best Friend
15 de novembro de 1997,
sábado.
O caminho que percorro é familiar e me leva diretamente para trinta e três dias atrás. Naquela tarde, estava chovendo e a raiva borbulhava em meu sangue como um vulcão entrando em erupção. Estou parada em frente à porta da casa de Scott, comparando as sensações que estou sentindo agora, com as que eu senti no mês passado.
É assustador como nossos sentimentos mudam em um piscar de olhos. Me lembro que naquele dia, acertei um soco em seu estômago porque estava muito brava com ele. Tive vontade de dar outro murro em seu nariz, mas o poupei da dor. Porém, também recordo de me sentir confusa no final da tarde, quando Scott me disse que não se divertia daquela forma fazia algum tempo. Agora, não tenho dúvidas sobre mais nada que envolva o loiro. Scott me deu uma semana para pensar sobre o assunto, mas estamos no quarto dia e sinto que não preciso esperar nenhum minuto a mais.
Respiro fundo, prestes a tocar a campainha. Entretanto, assim como naquela tarde, a porta se abre antes que o barulho irritante ressoe por toda a casa. Porém, quem atende não é uma garota peituda, e sim, Felipe Blenson. Arqueio as sobrancelhas, surpresa.
— O que você tá fazendo aqui? — A pergunta desliza pelos meus lábios antes que eu possa impedi-la.
— Conheço Scott há dois anos, você chegou na vida dele tem menos de dois meses — acusa, arqueando as sobrancelhas também. — A pergunta é; o que você tá fazendo aqui?
Pigarreio, me sentindo um pouco desconfortável. Só não lhe xingo, pois o loiro está realmente certo. Posso ser próxima de Scott, mas não tanto quanto ele, Helena e Emma. Por falar em Helena, a morena surge ao lado de Felipe na porta. Ela me encara, tão surpresa quanto o garoto à sua direita. Talvez tenha sido uma péssima ideia ter vindo até aqui hoje.
— Ana?
— Oi! — Sorrio, recebendo um abraço desajeitado da garota que veste uma jaqueta grossa de couro, calça jeans e coturnos pesados.
— O que você tá fazendo aqui? — Agora, definitivamente, estou me sentindo incomodada.
É como se esse fosse o último lugar no mundo que as pessoas me imaginariam pisando.
— Eu...
— Que porra é essa? Reunião na minha porta? Estamos atrasad... — a voz de Scott morre no mesmo instante em que seus olhos recaem sobre mim.
Ele une as sobrancelhas, piscando algumas vezes como se eu fosse algum tipo de miragem. Porra! Qual o problema dessa gente? O loiro continua me encarando, os lábios entreabertos como se estivesse prestes a falar algo. Quando finalmente constata que não sou uma ilusão de sua mente, pergunta com a voz rouca e apática de costume:
— O que você tá fazendo aqui? — Controlo a vontade de revirar os olhos e respiro fundo.
— Vim falar com você — respondo, guardando as mãos nos bolsos traseiros da minha calça jeans.
Helena e Felipe encaram Scott, que continua com os olhos azuis fixos em mim. Pelo que posso notar, eles estavam prestes a sair. Não ficarei irritada caso ele prefira ir com os amigos do que me escutar, mas eu realmente queria ter alguns minutos de sua atenção. O loiro suspira, encarando os amigos.
— Vocês podem ir na frente? Tenho coisas para resolver.
— Beleza — Felipe bufa. — Vê se não demora.
— Vou demorar o tempo que for preciso — Scott rebate, analisando o amigo descer os degraus de concreto como uma criancinha emburrada.
— Se ele for babaca com você, a gaveta das facas é a do meio — Helena passa por mim, fingindo sussurrar a frase no meu ouvido.
Acabo sorrindo, mas Scott revira os olhos e some para dentro da casa outra vez. Observo Helena entrar em um Audi preto, se acomodando atrás do volante. Aceno em sua direção, vendo o automóvel sumir pela rua deserta. Inspiro todo o ar que consigo antes de entrar na casa de Scott, fechando a porta atrás de mim. Caminho pelo hall de entrada até chegar na sala, onde o loiro serve uma pequena dose de whisky em um copo largo e grande. Analiso ele engolir o líquido âmbar de uma só vez, se jogando no sofá.
— Desculpa vir sem avisar, eu não sabia...
— Sem rodeios e vai direto ao ponto — me interrompe, pressionando levemente o indicador e polegar sobre as pálpebras.
Okay... talvez não tenha sido exatamente essa recepção que eu havia imaginado.
— Então...? — Insiste, finalmente me encarando.
— O que aconteceu com o Scott bonzinho lá das arquibancadas? — Questiono, me sentindo irritada pela maneira indiferente que está me tratando agora.
— Você assassinou o Scott bonzinho que estava querendo se libertar há quatro dias atrás, no momento em que disse que não sabia se queria continuar fazendo isso — aponta para nós dois. — Dar certo. Aliás, te dar sete dias para pensar sobre o assunto foi um erro estúpido. Se você não queria mais manter contato com um mentiroso, eu deveria ter respeitado o seu espaço e não ter insistido.
Scott está magoado.
Eu sinto a chateação em cada palavra que cospe para fora dos lábios.
— Eu vim aqui para resolver as coisas, Scott. Não para brigar outra vez.
— Você tá vendo alguém brigar aqui, por acaso? — O loiro apoia o cotovelo no braço do sofá, descansando a cabeça na palma da mão. Onde Helena disse que é a gaveta das facas mesmo? — Se você não vai falar nada, eu tenho coisas pra fazer — comenta após alguns segundos torturosos de silêncio.
Saí de casa com um texto ensaiado na cabeça, mas as palavras parecem ter simplesmente se perdido no caminho.
— Eu sinto sua falta — solto de uma vez, prendendo a respiração em seguida. Sinto meu coração pulsar nas têmporas.
Noto que um lampejo de surpresa aparece em seus olhos azuis, mas o loiro é bom em disfarçar e manter a expressão trivial, como se não se importasse.
Mas eu sei que ele se importa.
— Não é o que pareceu nos últimos dias.
— No mesmo dia em que você disse aquelas coisas, Sarah e eu discutimos com o Christopher — começo a caminhar de um lado para o outro na sala, entrelaçando meus dedos. — Talvez seja por isso que eu estava um pouco alterada demais naquela manhã, mas não vou usar essa desculpa. Eu realmente fiquei chateada por você ter mentido, sendo que você poderia ter chegado em mim e dito; vamos tentar ser amigos, ruivinha — tento imitar sua voz e noto a batalha que Scott enfrenta para não sorrir. — Enfim, a briga foi feia e Chris foi um babaca com a Sarah. Nesses últimos quatro dias a gente têm tentando seguir em frente sem o nosso melhor amigo, principalmente a Sarah. Mal tive tempo para pensar sobre o que discutimos nas arquibancadas.
A expressão de Scott se suaviza aos poucos, sua cabeça tombando no encosto do sofá como se estivesse aliviado.
— O que o amigo de vocês fez? — Pergunta, parecendo verdadeiramente interessado.
Caminho em sua direção e me atiro ao seu lado sobre o assento fofinho, mantendo uma distância segura. Pairo a cabeça no encosto, assim como ele e solto um suspiro chateado.
— Christopher está em um relacionamento tóxico, mas acha que Sarah e eu estamos tentando estragar o namoro dele com a líder das animadoras de torcida — conto, mexendo em meus próprios dedos.
— Sério? Que babaca — murmura a última palavra. — Mas não posso julgar, acho que entendo. Está na defensiva, deve achar que a garota é a própria vida dele.
Assinto levemente, concordando.
— Sarah e eu apontamos todos os fatos, mas ele não quer enxergar — sinto um nó na garganta se formar. — É horrível não poder fazer mais nada para ajudá-lo.
— Eu espero que vocês duas reconheçam que já fizeram o suficiente — noto quando Scott vira o pescoço em minha direção, mas não faço o mesmo. Continuo fitando o lustre branco de sua sala. — Agora é por conta dele. Vocês não podem arrancá-lo do namoro a força.
— A gente sabe — inspiro mais uma vez, umedecendo os lábios. — Aliás, senti mais saudade das caronas que você me dava do que de você — mudo de assunto para não chorar com lembranças indesejadas, soltando uma risada e sentindo seus dedos me empurrarem de leve pelo ombro.
— Você é malvada — comenta, rindo também. Viro meu pescoço em sua direção, a tempo de ver seus dentes alinhados expostos. Senti saudades de seus sorrisos sinceros.
— Aprendi com você — provoco, levando meus dedos em forma de pinça até um fio de cabelo preso na manga de seu sobretudo preto; ao julgar pela cor, é meu. Retiro da peça de roupa, notando que não usa a jaqueta de couro hoje, por milagre. — Se passou apenas quatro dias, mas parece uma eternidade. Descobri que sou viciada em uma droga que somente você pode me proporcionar.
As palavras saltam da minha boca e meu dedo indicador continua fazendo movimentos circulares, mesmo sobre o tecido grosso de sua peça de roupa. Imediatamente me arrependo da última frase. Scott leva os dedos gelados até meu pulso, cessando os toques e fazendo com que meus olhos se fixem nos seus.
— Também senti a sua falta — admite baixinho, como se fosse um segredo.
— Então... agora somos amigos? — Pergunto, esperançosa.
Alguns segundos se passam e meu coração começa a se agitar com a possibilidade de voltar à estaca zero. Aprendi a gostar das imperfeições de Scott e tudo que o compõe. Há inúmeras coisas que eu ainda não sei sobre ele, assim como tem muitas coisas sobre mim que ele não sabe. Porém, pela primeira vez depois de muito tempo, estou animada e ansiosa para abrir o livro da minha vida e deixar que alguém leia todas as páginas. E no caso de Scott, preencha algumas linhas com a sua presença em minha vida também.
— Sim, Anastásia. Nós somos amigos agora — o canto direito de seu lábio se repuxa. É um meio sorriso aliviado, como se finalmente as coisas entre nós estivessem nos eixos.
Me levanto do sofá em um impulso, me colocando de pé e estendendo minha mão em sua direção. Scott a encara, confuso, mas acaba cedendo e a segurando para se levantar.
— Amigos — seguro sua mão firmemente, sentindo aos poucos seus dedos gelados corresponderem ao aperto na mesma intensidade.
Porém, Scott ignora o aperto de mão e puxa meu pulso até que minha cabeça fique colada em seu peito. Sinto quando seus braços se enroscam em meu pescoço, me aninhando em seu corpo esguio. Hesitante, acabo entrelaçando meus braços em sua cintura e ficamos abraçados por alguns segundos sem dizer nada, apenas sentindo o calor e o conforto do outro.
O abraço de Scott é bom, quentinho e reconfortante. Poderia ficar presa nesse momento por muitas horas, se pudesse. O loiro emana um cheiro de colônia masculina e sabonete de baunilha, um aroma gostoso e familiar – já que bem lá no fundo, o odor do cigarro se faz presente em seu sobretudo preto.
— Amigos — aos poucos, ele se afasta e puxa levemente uma mecha do meu cabelo solto, sorrindo.
Estou prestes a dar um tapa em sua mão, quando seu celular começa a tocar sobre o sofá. O loiro se estica, pegando o aparelho e o atendendo.
— Fala — Scott une as sobrancelhas, fazendo uma careta e afastando o celular da orelha.
Não consigo entender o que a pessoa do outro lado fala, mas sei que grita como se estivesse puto de raiva. A única coisa que consigo ouvir é um grande "filho da puta" ressoar pelo aparelho. Controlo uma risada, vendo-o murmurar palavras monossilábicas e desligar o celular.
— Era o Felipe — revira os olhos, pegando as chaves do carro dentro do bolso da calça jeans preta. — A gente vai em uma corrida hoje, ele convidou sua amiga, a Sarah. Se você quiser ir...
— Claro — sorrio, animada. — Que tipo de corrida?
— De carro. Clandestina — praticamente sussurra a última palavra, já se afastando em direção à porta principal.
— Como assim? Vamos só assistir, certo?
— Você, Helena e Sarah sim — responde, girando a maçaneta. — Felipe e eu vamos participar.
Uno as sobrancelhas, andando ao lado do loiro até seu carro vermelho e extremamente brilhoso. Ele destranca as portas e nos ajeitamos no banco confortável. Coloco o cinto, o encarando.
— Você nunca me disse que fazia parte dessas coisas erradas — acuso.
— As coisas ficam mais interessantes assim — pisca em minha direção, ligando o rádio baixinho. You're My Best Friend do Queen ressoa dentro do veículo. — Aposto que tem muitas coisas erradas sobre você que eu ainda não sei.
— A minha vida é um tédio, pode acreditar — sorrio, fechando os olhos momentaneamente para aproveitar a melodia que ecoa pelo carro. Abro um pouco a minha janela, permitindo que o vento gelado sopre os fios do meu cabelo para trás enquanto Scott dirige.
— Qual foi a aventura mais louca e arriscada que já fez? Não vale dizer que foi fazer uma prova sem estudar — empurro levemente seu ombro, o fazendo rir.
— Nenhuma, é sério. Acho que estou vivendo minha vida de um jeito errado — contorço os lábios para o lado, pensativa.
— Com certeza você está — concorda, se concentrando na estrada. — Posso te proporcionar algumas aventuras.
— Não preciso fazer nada fora da lei para que minha vida seja interessante, Scott — torço o nariz, aumentando um pouco o volume da música quando troca para How Deep Is Your Love do Bee Gees.
— O meu errado não envolve nada tão perigoso, pode acreditar. Você tá segura comigo — seus olhos azuis recaem sobre mim momentaneamente, como se quisesse me passar segurança. — Não uso nenhum tipo de droga, a não ser o cigarro. Já tive problemas com bebida, mas eu sei me controlar hoje em dia.
Encaro a lateral de seu rosto, me perguntando o que acontecera com ele no passado para que se afundasse na bebida e começasse a fumar. Decido deixar essas questões para outro dia.
Um passo de cada vez.
— Cause we're living in a world of fools, breaking us down when they all should let us be. We belong to you and me — Scott cantarola baixinho a música, batucando os dedos longos no volante.
Sei que já conheço sua voz melodiosa cantando, mas ouvi-lo outra vez é como se me transportasse diretamente para aquela noite no Red Snakes; é mágico e surpreendente.
Porque nós vivemos num mundo de insensatos, nos passando para trás quando deveriam nos deixar ser. Nós pertencemos a você e eu.
— I believe in you. You know the door to my very soul, you're the light in my deepest darkest hour. You're my saviour when I fall — acabo lhe acompanhando, o pegando de surpresa. Scott sorri, me encarando e cantando o restante da música em uníssono comigo.
— And you may not think that I care for you, when you know down inside that I really do. And it's me you need to show.
Eu acredito em você. Você conhece a porta para minha alma, você é a luz em minhas horas mais escuras e profundas. Você é minha salvação quando eu caio.
E você pode pensar que eu não me importo com você, quando sabe bem lá no fundo que eu realmente me importo. E é a mim que precisa mostrar.
— Sabe, Scott — chamo sua atenção quando paramos no sinal vermelho. Ele vira o rosto em minha direção, recostando a nuca no encosto do banco. — Acho que quero ter todas as minhas aventuras arriscadas com você.
O loiro me lança um sorriso simples, erguendo o mindinho em minha direção. Encaro seu dedo e sorrio, juntando o meu ao dele.
— Prometo que vou te proporcionar as melhores lembranças.
Concordo com a cabeça. Sei que ele vai cumprir sua promessa.
Black Racing Haze. Esse é o nome do autódromo abandonado que fica no meio da floresta na cidade vizinha; Darenwood.
De Snowdalle até aqui, fora uma hora de viagem. O que resultou em muitas músicas cantadas dentro da Shelby e, consequentemente, o cansaço na voz. Scott parou em uma lanchonete, comprou duas garrafinhas de água para nós e alguns muffins de chocolate para mim. Não quis dizer nada, mas achei fofo de sua parte que tenha reparado que amo esses bolinhos.
O caminho até o autódromo é sinistro. Não tenho outra palavra para descrever. Enquanto Scott dirige pela trilha esburacada de areia, só consigo pensar em uma cena horripilante de filme de terror, onde o carro quebraria no meio dessa floresta e algum maníaco psicopata apareceria por entre as árvores do lugar. Porém, conforme nos aproximamos do barulho ensurdecedor de motores, a trilha se ilumina com luzes em tons de roxo, vermelho e azul – consequência das lâmpadas coloridas enroscadas nos troncos das árvores. A música eletrônica que toca no autódromo é alta e contagiante. Entramos pelo lado onde somente as pessoas que participarão da corrida são autorizadas. Scott entrega um pequeno cartão preto para o segurança de terno e este autoriza a nossa passagem, abrindo um portão grande de ferro. A quantidade de caras e carros aqui é enorme; chuto mais de trinta. O loiro estaciona a Shelby no guiche reservado para ele, número 07.
— Puta que pariu — alguém bate no teto do carro, esbravejando. Noto que é Felipe. — Vocês demoraram!
Saímos da Shelby, fechando a porta. O odor aqui é de gasolina, cigarro e colônia masculina. Torço o nariz pelo cheiro forte e dou uma boa analisada no local, achando Sarah sentada sobre o capo do Audi de Helena. Sorrio em direção a elas, mesmo que ambas não tenham notado a minha presença ainda.
— A corrida nem começou, então para de reclamar, cara — Scott revira os olhos, fazendo o mesmo que Sarah e se sentando sobre o capo da Shelby.
— Tem muita gente apostando dinheiro em você essa noite, otário — resmunga Blenson, colocando as mãos na cintura. — Você vai acabar estragando tudo.
Nós três nos entreolhamos e posso jurar que um ponto de interrogação se forma sobre a minha cabeça e a de Scott. Um vinco se forma entre minhas sobrancelhas e espero que Felipe diga mais alguma coisa, mas ele simplesmente cruza os braços e fecha a boca.
— Vou deixar vocês discutirem e vou lá com as meninas — sorrio para os dois, mas sou correspondida apenas por Scott, que concorda com a cabeça.
Eu fiz alguma coisa para o Felipe?
— Ana! — Sarah exclama assim que me vê, descendo do carro e me abraçando. Ela parece muito melhor do que quatro dias atrás. Fico feliz por ela. — Felipe não disse que você viria, mas a Helena falou que você estava na casa do Scott. Aliás, essa garota é muito legal — aponta para a morena que sorri timidamente.
— Confesso que não tô entendendo o motivo de estarmos em outra cidade, dentro de um autódromo prestes a assistir uma corrida clandestina. Que parte eu perdi? — Pergunto e as duas riem.
— Acredite em mim, estou tão confusa quanto você — Helena levanta as mãos em rendição.
— Bom, depois da apresentação Felipe e eu não nos falamos com muita frequência. No máximo trocávamos algumas palavras pelos corredores e só. Hoje ele me ligou, perguntando se eu queria assistir ele competir. Como eu não tinha nada de importante para fazer, aceitei — explica, dando de ombros. — Pensei em te ligar, mas sabia que você provavelmente estaria falando com Scott. Aliás, se resolveram?
Os olhares de ambas estão sobre mim, curiosos. Nunca falei por muito tempo com Helena; apenas aquela vez na biblioteca, no dia da apresentação, quando lhe apresentei a escola e nas vezes em que nos encontrávamos em alguma aula ou nos corredores. Não sei muito sobre ela, mas aparenta ser uma pessoa legal e de confiança. Portanto, me sinto confortável ao seu lado.
Na quinta-feira, dois dias depois da briga que Sarah e eu tivemos com Christopher, a loira me chamou para dormir em sua casa e pintamos as unhas enquanto assistíamos Titanic – após muita insistência da parte dela. No processo, acabei contando a ela sobre a conversa de Scott comigo nas arquibancadas. Minha melhor amiga achou mega fofo da parte dele, embora eu ainda estivesse espumando de raiva por ele ter mentido. Porém, a loira transformou minha raiva em compreensão, no momento em que me colocou na situação dele. Não sei o que levou Scott a agir de tal maneira se tratando sobre amizades, mas cheguei a conclusão de que talvez tenha sido algo parecido com o que passei.
"Todo mundo tem suas formas de se proteger, Ana. Ao invés de lhe julgar, se coloque no lugar dele. Você não sabe o que Scott passou para agir de tal forma, então repense a conversa de vocês e veja se sentir essa raiva toda por ele vai resolver alguma coisa". Com essas palavras, o ódio simplesmente se dissipou.
— Nós somos amigos agora — dou de ombros como se não fosse nada demais, mas eu sei que isso significa muito pra mim.
— Amigos? — Helena indaga, as sobrancelhas quase no couro cabeludo. — Ele falou isso com todas as letras? A-mi-gos?
Acabo rindo.
— É.
— Scott deve ter visto algo muito especial em você, uau — a morena assovia, surpresa. — Não o vejo ser tão próximo de alguém desde que foi traído pelo melhor amigo.
— Como assim? — Questiono, dando um passo à frente.
— Scott é fechado, mas vai acabar contando para você. Não me sinto no direito de fazer isso — responde seriamente, mas sei que não é nada pessoal. Ela não espalha por aí os segredos dos amigos, admiro isso.
— A corrida vai começar — Felipe se aproxima, puxando Sarah e lhe dando um beijo na bochecha. É estranho, mas acabo desviando o olhar para Scott que está entre mim e Helena. — Vocês seguem por aquela porta. Ela vai levar vocês até as arquibancadas e entreguem esse cartão para o segurança, ele vai providenciar lugares na área vip para vocês.
As meninas concordam e Sarah pega o cartão das mãos de Felipe e lhe dá um beijo na boca, sussurrando um boa sorte. Em seguida, Helena soca levemente o braço de Scott e deseja o mesmo, passando por Felipe e lhe dando um abraço rápido. As duas estão se afastando, chamando por mim. Não sei ao certo o que falar ou fazer, já que uma parte minha está preocupada.
— Você vai ficar bem? Sabe... não é perigoso?
— Eu como perigo no café da manhã, ruivinha — brinca com o meu cabelo, me lançando um meio sorriso.
— Tudo bem. Boa sorte, então — enrosco meus braços em sua cintura, o soltando logo em seguida. Porém, Scott segura meu pulso quando já estou rumando em direção à porta por onde as garotas acabaram de sair. — O que foi?
— Participa comigo.
— O quê? — Solto uma risada frouxa, apertando os cílios em sua direção.
— Você disse que queria ter suas aventuras arriscadas comigo — explica. — Essa vai ser uma delas. Eu prometi.
Ansiosa que fala, né?
KKKKKKKK o bom é que eu e você saímos ganhando, então tudo belezinha.
Esse vídeo aí em cima é uma edição que fiz dos dois, espero que gostem porque eu simplesmente amei!!!
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