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Doze

“Eu sabia desde a primeira vez que eu ficaria por um longo tempo, porque eu gosto mais de mim quando estou com você.”

Lauv | I Like Me Better

16 de novembro de 1997,
domingo.

          Estou sentada na ilha da cozinha na casa dos Summers. Assisto Scott se mover de um lado para o outro em frente aos armários brancos, abrindo a porta de um e pegando uma forma redonda de pizza. Ele coloca a massa congelada ali dentro, levando-a até o forno pré-aquecido. Em seguida, se dirige até a geladeira e pega duas latinhas de refrigerante de uva. Quando o loiro se vira em minha direção, sorri.

Scott ganhou a corrida ontem.

Nós ganhamos ela ontem e a sensação de adrenalina fora arrebatadora. Senti medo no início, pois a todo instante imaginava um cenário onde Scott erraria uma curva e o carro perderia completamente o controle. Felizmente, o loiro é excelente na direção e deixou os outros participantes comendo poeira. Quando cruzamos a linha de chegada, soltei o grito que estava preso em minha garganta. Foi uma das melhores sensações que já senti na vida, e quando saímos do carro alguns instantes depois, uma galera correu em direção a Scott com garrafas de champanhe e latas de cerveja nas mãos.

Apesar de ter me dito que tomou banho, ainda sinto um leve cheiro de álcool vindo dele.

Estico meu braço até alcançar o pequeno rádio sobre a bancada, trocando as estações até reconhecer a melodia de Every Breath You Take do The Police. Aumento um pouco o som, voltando meu olhar para o cara esguio em minha frente.

— Queria muito saber o que se passa nessa sua cabeça quando me encara desse jeito — Scott se senta na banqueta ao meu lado, cruzando os braços sobre a pedra branca de granito.

— Desse jeito como? — Sufoco uma risada, pressionando meus lábios.

— Você une as sobrancelhas desse jeito — demonstra em seu próprio rosto, o que aumenta minha vontade de rir. — E reprime os lábios assim.

— Imagino dez maneiras diferentes de te matar — respondo seriamente, vendo-o arregalar os olhos azuis. Acabo soltando uma risada gutural, balançando meus pés que ficam suspensos no ar. — Só fico pensando que até mês passado, a gente mal conseguia olhar na cara um do outro sem dizer coisas estúpidas. Agora veja só… estamos almoçando juntos em um domingo — acabo sorrindo pela constatação, desviando meu olhar para as mangas compridas de meu moletom.

— Não é nada demais — dá de ombros, abrindo o lacre da lata. Assim que o faz, estende o refrigerante em minha direção. Sorrio em agradecimento, dando um longo gole. — Eu pretendia não fazer amizades quando chegasse aqui, mas acho que já sabia desde o momento em que te vi que isso não ia rolar.

— Falando desse jeito, até parece que você muda de cidade todo ano — suponho, vendo-o umedecer os lábios. Seu maxilar se torna tenso e eu automaticamente fico preocupada. — Você não pretende se mudar daqui um ano, né?

— Não — nega, balançando a cabeça e bebendo seu refrigerante. — Snowdalle é uma cidade calma e um pouco solitária. Gosto disso.

— Você prefere isso? A solidão?

Scott fica em silêncio. Parece viajar em pensamentos e não responde quando abano minha mão em frente ao seu rosto.

— Sim. Eu gosto da solidão — finalmente me responde.

— Ninguém gosta de ficar sozinho, Scott — vinco a testa, observando o loiro se virar totalmente em minha direção. — As pessoas gostam de estar acompanhadas.

— Quando essas companhias são leais, divertidas e sinceras. Se as pessoas não têm isso para me oferecer, prefiro ficar sozinho.

Desvio meu olhar momentaneamente, brincando com a lata gelada entre os dedos.

— Posso fazer uma pergunta?

— Já fez. Sua cota de questionamentos atingiu o limite. Tente novamente mais tarde — reviro os olhos e Scott solta uma lufada de ar. — Pergunta.

— O que aconteceu com a sua mãe?

Scott Summer se empertiga sobre a banqueta, os nós de seus dedos se tornam brancos conforme aperta a latinha do refrigerante com demasiada força. Meus olhos pairam ali, observando o alumínio, aos poucos, se amassar. Não sei dizer ao certo qual sentimento lhe causei ao fazer esta pergunta, mas posso afirmar que não desencadeou uma reação muito positiva.

— Ela não é ninguém importante — praticamente cospe as palavras, como se tivessem colocado algo ácido em sua língua. Isso automaticamente me deixa curiosa. — Por favor, nunca mais me pergunte algo relacionado a ela.

Scott se levanta da banqueta, passando as mãos nos cabelos para dissipar a tensão que o envolve. Bebo o último gole da bebida borbulhante, passando a manga do meu moletom sobre os lábios. Observo o loiro segurar a gola de sua camiseta preta de mangas compridas e a retirar pelo topo da cabeça. Uno as sobrancelhas, confusa.

— Eu estou na minha casa e morrendo de calor — explica, deixando a peça de roupa sobre o encosto da cadeira.

— Então você deveria diminuir a temperatura do aquecedor e colocar essa camiseta de volta — aponto. Realmente está bastante quente aqui dentro.

— E impedir você de ver essa obra de arte? — O loiro abre os braços, me permitindo ter uma visão melhor de seu tronco. Percebo que está tentando mudar de assunto, então resolvo entrar na onda com ele por enquanto.

Scott Summer não é sarado como Davi e os caras do hóquei, mas também não é magro como Felipe. Tento lutar contra a vontade de analisar seu corpo, mas infelizmente é uma batalha perdida. Meus olhos descem pelo seu peito levemente saliente, seguindo o percurso até seus gominhos em formação na barriga. Ele possui uma entrada em V que começa na lateral de sua cintura e some após o cós da calça cinza de moletom. Seus braços não são tão fortes como os de alguém que vai na academia constantemente, mas tem relevos salientes nos bíceps. As tatuagens em seu braço esquerdo não passam de duas, mas são suficientes e o deixam bonito.

Em meus pensamentos, aprovo seu corpo silenciosamente. Nem muito magro, nem muito malhado. Relutante, volto meu olhar até seu rosto e controlo a vontade de revirar os olhos quando vejo um sorrisinho convencido se projetar em seus lábios avermelhados.

— Regra número um... — levanto o indicador, vendo seus ombros caírem para frente.

— Ah, lá vem — bufa, mas sei que não está de fato irritado.

— Se a gente quiser que isso funcione, você precisa estar vestido com todas as suas peças de roupa... — enumero com os dedos, observando-o caminhar até o forno para conferir a pizza. — O tempo todo.

— Então quer dizer que se eu não estiver vestido, não vai dar certo? Por quê? Você não vai resistir e vai me atacar como um animal feroz? — Pergunta, se virando de costas para mim. Noto quando ele abafa uma risadinha no final.

Scott também tem uma bunda redondinha, coxas grossas – até mesmo mais grossas que as minhas –, costas e ombros largos. Umedeço os lábios, voltando meu olhar para sua nuca.

Há-há! Muito engraçadinho — forço uma risada, revirando os olhos. — Eu não vou andar sem roupa na sua frente, então exijo o mesmo.

— É uma pena.

Scott se vira em minha direção, apoiando as mãos na pia de mármore atrás de si. Ele possui um bico nos lábios, enquanto me analisa dos pés à cabeça. Estendo minha mão até a fruteira inox abarrotada de frutas, pegando um limão pequeno e mirando em sua barriga. Porém, Scott consegue pegá-lo no ar antes de atingir em cheio seu estômago.

— Certo. O que mais? — Sorri, jogando o limão de volta para mim. O coloco junto com as outras frutas e foco minha atenção nele outra vez.

— Regra número dois: evite comentários sarcásticos, ignorantes e todo esse egocentrismo sufocante — levanto o segundo dedo, me ajeitando sobre a banqueta.

— Você quer o quê? Que eu suma?

— Você consegue sobreviver sem ser arrogante — pisco em sua direção, levantando o terceiro dedo. — Confiança. Quero ter em você e quero que tenha em mim.

— Confiança é algo que se conquista, ruivinha — aponta, se afastando de costas em direção ao corredor. — Só o tempo dirá se podemos confiar um no outro. Então, vamos colocar na regra número três: parceria. Podemos fazer trabalhos juntos, comer juntos e essas baboseiras de amigos.

Ele some pelo corredor, então aumento o tom de voz para perguntar:

— Podemos pintar as unhas juntos? — Em menos de um segundo, sua cabeça está dentro da cozinha outra vez. Acabo rindo.

— Nem pensar! — Meu sorriso murcha instantaneamente. — Sou seu amigo, não sua boneca.

— Tudo bem, ainda tenho a Sarah pra fazer isso — suspiro, brincando com os cordões do meu blusão verde-água. — Estava pensando se quarta-feira a gente podia almoçar no Made's Burger.

— Quarta?

— É.

— Hum, não sei, não — faz uma careta, cruzando os braços e apoiando o ombro na parede.

— Por quê?

— Meu sono é super desregulado por conta do meu trabalho no Red Snakes. Geralmente aproveito a tarde para descansar — admite, parecendo verdadeiramente cansado.

— Tudo bem — dou de ombros. — Eu ia convidar a Sarah também.

— Você não tá querendo substituir o lugar do Christopher me colocando no meio, né? — Inquire, agora parecendo apreensivo. Noto pela maneira como seus ombros se tornam rijos. — Não sirvo pra essas coisas.

— Não, não, não! — Nego veementemente. — Não tem como colocar ninguém no lugar do Christopher. O conheço há muito tempo, tenho ele como um irmão praticamente.

— Mas a sua amiga pode me colocar nessa posição — aponta, arqueando as sobrancelhas. — E vai ser uma decepção para ela descobrir que não tenho nada haver com o amigo de vocês.

— Só não quero ficar dividida entre ninguém. Poderíamos ser um quarteto. Assim que Christopher voltar a falar com a gente, tenho certeza que vocês vão se dar muito bem.

— Eu não quero mais amizades, Anastásia. Coloque isso na sua cabeça — aponta o indicador para seu couro cabeludo, arregalando os olhos azuis em minha direção. — Isso tudo aqui, nós — gesticula com as mãos para nós dois, prosseguindo: — Nem era para estar acontecendo. Caso eu me decepcione com essa amizade, pelo menos terei que lidar com você. Então, pare de me forçar a interagir com outras pessoas.

— Não estou te forçando a nada, Scott — minha voz soa esganiçada diante de sua última frase. — Só não quero ter que decidir entre sentar com você ou com a Sarah na hora do almoço. Estou te fazendo um convite! Você não precisa ficar sozinho nas arquibancadas quando tem a gente.

— Agradeço o convite, mas não faço reuniões em grupo — Scott se desencosta da parede, sumindo pelo corredor extenso outra vez. Quando escuto a porta do banheiro ser fechada, solto um suspiro derrotado.

Convencê-lo a fazer alguma coisa é mais complicado do que eu imaginava.

19 de novembro de 1997,
quarta-feira.

É o terceiro dia que Scott almoça comigo e com Sarah na cantina. Na segunda, ele revirou os olhos e disse que não iria forçar a barra para fazer amizade com a minha melhor amiga. Porém, fora necessário apenas alguns minutos para que os dois descobrissem várias coisas em comum. Admito que me senti um pouco deslocada com a velocidade que os assuntos surgiam entre os dois; eles não calaram a boca um segundo sequer. Mas fiquei extremamente feliz ao ver Scott saindo de sua bolha de conforto – não só por mim, mas por ele também.

Ambos iniciaram um questionário simples – bem parecido com o que Scott e eu fizemos no mês passado – e perguntaram coisas essências para um conhecimento superficial, como: esporte preferido, comida predileta, cor favorita, banda preferida e etc. Quando Sarah citou que seu seriado favorito era Um Maluco no Pedaço, tive certeza de que havia acabado de perder minha melhor amiga para o loiro – pois esse é o seriado favorito de Scott Summer também. Agora, por exemplo, ele está sentado em minha frente mordiscando um sanduíche de peito de peru, enquanto aguarda Sarah terminar de se servir para continuarem fazendo perguntas aleatórias.

Minha melhor amiga caminha animada em nossa direção, equilibrando a bandeja verde musgo com ambas as mãos. Meus olhos são atraídos até seu pulso direito, onde uma pequena sacola cor-de-creme balança de um lado para o outro, seguindo o ritmo de seus movimentos. Pelo sorriso crescente e o brilho divertido que transpassa seus olhos azuis, sei muito bem do que se trata.

— Feliz aniversário!

A loira deposita a bandeja sobre a mesa rapidamente, fazendo com que seu suco de melão respingue um pouco em seu uniforme. Observo de soslaio quando Scott Summer une as sobrancelhas, parando de mastigar seu sanduíche e me encarando seriamente. Sarah praticamente me esmaga em um abraço desajeitado, dando pequenos surtinhos e desejando tudo o que me deseja em todos os anos: saúde, paz, amor, dinheiro, inteligência, felicidade e alguém que me ame intensamente.

Dou leves batidinhas em suas costas, sentindo meus pulmões implorarem por oxigênio. Quando ela enfim me solta e se senta ao meu lado, inspiro o ar fresco e meu organismo agradece. Sarah retira a sacola de seu pulso, a entregando para mim.

— Como assim você está de aniversário? — Scott arqueia as sobrancelhas, largando seu sanduíche sobre a bandeja. Ele esfrega uma mão na outra, se livrando dos farelos de pão. — E não me contou?

— É só um número — dou de ombros, desviando meu olhar.

Nunca fui fã de aniversários. Por algum motivo, acho a data triste e melancólica. Minha família não é grande, meus pais são filhos únicos e portanto, não tenho tios e nem primos. Minha única avó viva, é por parte de mãe e mora lá em Paris. Meus aniversários sempre foram um pouco solitários, com um bolo simples sobre a mesa redonda, um chapéuzinho em formato de cone da Minnie na cabeça – que eu usava em todos os meus aniversários – e meus pais cantando Parabéns pra Você em um tom baixo e calmo.

Sarah e Christopher sempre vinham me visitar no final da tarde e traziam uma cesta de palha abarrotada de doces. Nós comíamos assistindo alguns desenhos animados e fazendo planos de irmos para a faculdade juntos no futuro. Com o passar do tempo, começamos a sair para comer no Made's Burger ou cantar no Karaokê. Ainda assim, nunca achei a data tão especial e significativa para mim.

— Era por isso que você queria almoçar no Made's Burger hoje? Porra, Anastásia — Scott revira os olhos, parecendo indignado. — Deveria ter me dito. Ainda dá tempo de pular o muro e pegar algum dinheiro lá em casa.

Solto uma risada frouxa, negando com a cabeça.

— Meus pais decidiram de última hora que querem almoçar comigo em um restaurante perto da OEF — revelo, abrindo a pequena sacola que Sarah me deu. Ela está em silêncio, aguardando ansiosamente que eu desembrulhe de uma vez o presente. — Não precisa se incomodar.

Scott finalmente dá de ombros, também grudando seu olhar curioso na pequena caixinha que retiro da embalagem. Desamarro a fita de seda cor-de-rosa com cuidado, tirando a tampa preta e vendo duas pulseiras de ouro com pingentes em formato de quebra-cabeças. Em uma das partes, está escrito "Best" e na outra, "Friends". Meu sorriso cresce de orelha à orelha.

— Você gostou? — Sarah questiona, mordendo o canto do polegar. — Se não gostou eu posso...

— Eu amei! — Finalmente a encaro, colocando a caixinha sobre a mesa e puxando minha amiga para um abraço apertado. Inalo o cheiro adocicado de rosas que emana de seus cabelos sedosos e macios, fechando os olhos momentaneamente. — É simplesmente perfeito! Muito obrigada.

— Vamos colocar!

Scott revira os olhos, como se não aguentasse toda a nossa demonstração de afeto e volta a comer o pedaço de seu sanduíche. Fico com a peça do quebra-cabeça escrito "Best", enquanto Sarah fica com a que está escrito "Friends". Sorrimos satisfeitas ao encarar nossos pulsos, agora, enfeitados por essa linda e delicada pulseira.

— Tenho uma pergunta — Sarah puxa a bandeja até que esteja em sua frente, pegando uma folha de alface e colocando na boca. Seus olhos recaem em Scott, que está enrugando o nariz por conta da alimentação saudável da loira.

— Fala.

— Você é tipo… o bad boy da High Five Snakes, mas não é babaca. Você é realmente tão calmo assim ou sabe fingir muito bem?

Acabo rindo, cruzando meus braços sobre a mesa. Até eu estou curiosa por sua resposta.

— Você anda lendo muitos livros de romance — sorri, dando um gole em seu suco. — Não sou como os caras dessas histórias clichês.

— Isso tudo é uma fachada, então? — Indago.

— Como assim?

— Essa pose de bad boy conquistador de corações — aponto. — É só para esconder esse seu lado?

— Então quer dizer que eu conquisto corações?

— Analisando melhor, você tem cara de quem quebra corações — finjo uma rápida análise.

— Bom, não deixa de ser verdade.

Uuuh! Está bem, senhor diferentão — a loira sorri, levantando as mãos em rendição. — Preciso ir mais cedo. Minha aula é com o Charles e Felipe pediu que eu o ajudasse com a pintura de um girassol.

— Vocês dois, huh? — Balanço minhas sobrancelhas, sugestivas.

— Não enche — ri, me dando um beijo estalado na bochecha e se afastando depressa.

Enquanto ela cruza as portas vermelhas da cantina, meus olhos recaem na mesa de Christopher. Ele está com Anne e alguns caras do time de futebol americano. Mordo minhas bochechas internamente, fisgando o último palito de batata-frita e o levando até a boca.

— Acha que ele não vai vir te desejar feliz aniversário? — Scott indaga, empurrando a bandeja para o lado e cruzando os braços sobre a mesa.

— Ele nem olhou pra cá — suspiro, apoiando minha bochecha na mão aberta. — E tivemos a primeira aula juntos. Se não desejou mais cedo, duvido que faça isso agora.

— Como você tá em relação a isso? — O loiro estala os dedos em frente ao rosto. Ele faz muito isso quando está ansioso para alguma coisa. — A Sarah me parece bem.

— Estou chateada, mas não posso fazer mais nada. A Sarah com certeza está muito mais decepcionada com Christopher do que eu, mas ela é assim mesmo. Quando não aguentar guardar os sentimentos dentro de si mesma, vai desabafar comigo.

Nós duas não contamos para Scott sobre a paixão secreta que ela sente por Christopher. Contudo, sei que o loiro é observador e assimila reações com perguntas, respostas e conversas – até porque não é muito difícil ler as feições de Sarah sempre que o nome de nosso melhor amigo é citado. Então, tenho absoluta certeza de que Scott sabe sobre essa paixonite, mas prefere ficar calado e não se intrometer.

Ele anui e abre a boca para falar algo, mas a pessoa que se senta ao meu lado o faz se calar. Viro meu rosto em direção à Davi Herrera, ele possui um sorriso gentil nos lábios e um pouco de gel no cabelo. Sorrio, sabendo que também veio aqui para me parabenizar.

— Feliz aniversário — diz, abrindo a mochila azul e vasculhando algo dentro dela. — Estava pensando se a gente podia sair essa noite.

Acabo soltando uma risada nasal e observo de esguelha quando Scott me encara, como se estivesse esperando uma resposta da minha parte. Davi retira uma caixinha branca do Snowdalle Coffee & Tea e a desliza em minha direção, o cheiro me causa uma irritação constante no nariz e sinto minhas amígdalas bloquearem a passagem de oxigênio para os meus pulmões.

— Tá de brincadeira, né? — A voz de Scott soa mais fria e gutural que o normal. Ele empurra a caixa para Davi novamente, que o encara confuso. — Anastásia tem alergia a pêssego — explica, apontando para a etiqueta laranja que contém o nome da fruta. — Quer levar uma garota para sair e nem ao menos sabe quais são os gostos dela? — Solta uma risada descrente, umedecendo os lábios. — Traz de chocolate da próxima vez.

Davi desvia o olhar de Scott para mim, depois para o loiro novamente. Ele se remexe sobre o banco embutido na mesa, guardando a caixa dos muffins dentro da mochila outra vez. Agradeço mentalmente, permitindo que o ar circule livremente em minhas vias respiratórias.

— Quem é você? — O capitão do time de hóquei questiona, parecendo curioso e um pouco desafiador.

— Entrei nessa escola tem quase dois meses. Não me confirme a fama de que os caras do hóquei tem o cérebro congelado, pois fazemos três aulas juntos e a minha classe é atrás da sua — o loiro pega um palito de dente na bandeja, retirando do plástico e o colocando entre os dentes. Scott faz isso quando quer fumar, porém, não pode pois o lugar é proibido ou fechado. — Mas caso você tenha problemas com perda de memória, me chamo Scott Summer.

Meus olhos observam as feições de ambos atentamente; Scott mantém um semblante neutro, mas seu sorriso sarcástico está presente. Já Davi, está com o maxilar travado, encarando a mão que o loiro acabara de estender em sua direção.

— Enfim... — Davi o ignora, voltando os olhos verdes em minha direção. — Você vai estar livre essa noite?

— Provavelmente não. Minha mãe com certeza vai querer fazer algum programa mãe e filha — sorrio, tentando amenizar a situação tensa em que nós três estranhamente entramos.

— Certo — Davi entende, ajeitando a mochila azul nos ombros e se colocando de pé. — Eu realmente não sabia que você era alérgica a pêssego, me desculpe.

— Tudo bem, de verdade. Não teria como você saber. A intenção foi boa, isso que importa — dispenso seu pedido de desculpas, sendo sincera. O capitão me dá um beijo estalado na bochecha e sinto meu rosto corar na região.

— Feliz aniversário outra vez, Ana. E foi um prazer conhecer você — aponta para Scott, que nos observa com atenção. O loiro maneia com a cabeça, dando um "tchauzinho" com a mão.

— Não posso dizer o mesmo — comenta, assim que Davi some da cantina.

Scott Summer se levanta, pegando a mochila preta atirada no chão. Também me coloco de pé, ajeitando as alças amarelas em meus ombros e alinhando a gravata verde musgo em meu pescoço.

— Não precisava ter tratado ele daquela forma.

— O cara quer chamar você pra sair e não sabe nem quais são os seus gostos? Motivo de piada — ri, enquanto atravessamos as portas duplas. — Você podia ter morrido.

Solto uma gargalhada, colocando a mão sobre a barriga.

— Tá bom, senhor entendo tudo de mulheres — empurro levemente seu ombro com o meu, enquanto caminhamos pelo corredor. — Quais são as suas dicas?

— Deixar na cara o que quer já é um bom começo — dá de ombros. — Esse é um dos motivos do por quê não busco nada além do sexo. Evito esses constrangimentos.

— Deixar na cara? O que quer dizer com isso?

— Que ele só quer te levar pra cama porque você é gostosa e legal? — Dou um soco em seu braço, fechando a cara. — O que foi? Sinceridade sempre.

— Não sei se as intenções dele são essas...

— Bem, ele tem fama.

— É. Você também.

— Tenho certeza de que ele seria um babaca com você.

— Desde quando você virou meu consultor de sexo? — Solto uma risada nasal, cruzando os braços em frente ao peito. Paramos no cruzamento entre os corredores que nos levam até o laboratório e o campo de futebol. Scott tem educação física agora.

— Desde que virei seu amigo? É meu dever garantir que nenhum idiota quebre seu coração de pedra — pisca em minha direção, bagunçando meus cabelos. Estapeio sua mão, bufando.

— Agradeço, mas dispenso a sua ajuda. Eu sei me cuidar sozinha — respondo, arrumando meus fios alaranjados que estão totalmente lisos essa manhã.

— Em nenhum momento eu disse que você não sabe se cuidar — revira os olhos, guardando as mãos nos bolsos da calça jeans escura. — Preciso ir. A gente se vê.

Observo Scott se afastar, cruzando as portas duplas que o levam até o campo sem olhar para trás. Solto um suspiro chateado, rumando para a aula de química com o pensamento de que, em nenhum momento, ele me desejou feliz aniversário.

Paris?!

Minha boca está alguns milímetros entreaberta, enquanto meus olhos estão arregalados em direção aos meus pais. Eles estão sentados lado a lado, com um sorriso de rasgar o rosto ao contemplar minha reação diante do meu presente de dezoito anos.

— Você gostou? — Minha mãe questiona, sem retirar o sorriso largo dos lábios.

— Tá brincando? Eu vou poder visitar a vovó — tento controlar a euforia, mordendo meu lábio inferior. — Já me imagino na Torre Eifell, bebendo chá de camomila e com um jornal matinal nas mãos — gesticulo como se estivesse folheando as páginas, arrancando uma risada de meu pai.

— Esse presente também é da sua avó — ele reforça o que já havia me dito, dando garfadas em seu camarão com molho. Até deixei meu prato de lado por conta da animação. — Então, lembre-se de agradecê-la.

— Claro! — Encolho-me na gola do sobretudo preto, puxando minha refeição até estar em minha frente outra vez. — Vocês são incríveis, de verdade.

— A gente sabe — minha mãe joga uma madeixa de seu cabelo ruivo para trás dos ombros, convencida. Dou um leve tapinha em sua mão. — E seus amigos? Marcaram alguma coisa hoje?

— Não… mas talvez eu faça alguma coisa com Sarah e Scott no sábado.

— O que aconteceu com o Christopher? Você nunca mais falou sobre ele.

— Brigamos. E acho que não é uma briga que se resolve em alguns dias — umedeço os lábios, suspirando ao responder minha mãe. — Até porque não envolve só eu. Sarah também está chateada com ele.

— Espero que vocês se resolvam logo. Afinal, chamei os pais dele e os de Sarah para almoçar lá em casa no dia de Ação de Graças — conta, animada. Meus olhos recaem em papai, que engole em seco e enrijece sobre a cadeira.

— Você ainda não contou?

— Estava esperando uma oportunidade — responde, empurrando seu prato para longe. — Anastásia vai almoçar comigo no feriado — engole em seco outra vez, sem olhar para a sua ex-esposa. — E vai conhecer Adele, minha noiva.

Aos poucos, desvio minha atenção para mamãe. Ela está com os pulsos encostados na quina da mesa, os olhos castanhos arregalados em direção ao meu pai. Sei que minha mãe sofreu nos primeiros meses de separação, pois estava acostumada a ter alguém para dizer "eu te amo" que não fosse eu. Porém, também sei que não sente mais nada por Robert, a não ser um carinho especial por tudo que eles passaram, superaram, conquistaram e ensinaram ao outro por longos dezesseis anos de casados. Entretanto, acredito que receber uma notícia dessas tão… repentinamente, tenha mexido um pouco com ela.

— Adele… — contorce os lábios, tentando se recordar. — A fotógrafa que contratamos no meio do ano? — Questiona. Não parece brava e nem decepcionada, apenas curiosa. Meu pai balança a cabeça, confirmando. — Pelo menos não foi nenhuma amiga minha — dá de ombros, pegando a taça de vinho e dando um longo gole.

— Eu não sou você — Robert rebate e eu instantaneamente me empertigo sobre a cadeira. Talvez a situação fique um pouco tensa.

— Está se referindo ao Francis? — Minha mãe limpa o canto dos lábios com o guardanapo, cruzando as mãos sob o queixo. — Não que seja do seu interesse, mas não temos nada.

Mentira.

— Pouco me importa se tivessem, mas ele sempre ficou na nossa volta como um maldito urubu.

Felizmente, meu celular começa a tocar dentro da mochila. O som é alto e chamativo, portanto, prende a atenção dos meus pais e até de algumas pessoas em nossa volta. Retiro o aparelho do bolso externo, atendendo sem nem me dar ao trabalho de olhar o visor – contanto que meus pais parem de remexer no passado, falo até com a mulher que sempre me liga por engano procurando por um tal de Elton.

Você tá disponível essa tarde? — É a voz de Scott do outro lado da linha. Noto o sarcasmo presente nela e acabo sorrindo.

— Depende. O que você quer?

Queria levar você em um lugar — uno as sobrancelhas e meus pais me observam com curiosidade.

— Agora?

Sim.

— Estou almoçando com meus pais… — minha mãe começa a gesticular um "não" com os lábios e as mãos, me dispensando. Acabo rindo. — O almoço acabou, na verdade.

Passo na OEF daqui quinze minutos — e desliga.

Encaro o visor pequeno por alguns segundos, tentando assimilar o que acabara de acontecer. Guardo o aparelho novamente dentro da mochila, me levantando.

— Tá tudo bem? — Mamãe questiona, arqueando uma de suas sobrancelhas.

— Ainda posso aproveitar meu aniversário?

— Claro — meu pai responde, sorrindo. — Comemoração de última hora?

— Scott — dou de ombros, ajeitando meu sobretudo quentinho e a calça jeans clara. — Vai me levar em algum lugar.

— Vocês dois... — minha mãe me encara, sugestiva.

— Não! — Franzo o cenho, ajeitando meu fios ruivos. — Somos amigos. Apenas isso.

— Se você diz — papai levanta as mãos em rendição, se colocando de pé e me puxando para um abraço. — Feliz aniversário e se cuide.

— Nós amamos você — mamãe também se levanta, me abraçando junto com Robert. Deixo meu rosto soterrado entre eles, sentindo falta desse tipo de carinho.

— Também amo vocês.

Scott não se importou em dirigir por mais de três horas até chegarmos na praia de Hammon Springs. Apesar do clima nublado e um pouco frio, há muitas pessoas circulando pela areia com bolas de vôlei e garrafas de água. Neste exato momento, estou vendo o Spirit Park do topo da montanha-russa, sentindo borboletas no estômago conforme o brinquedo se dirige lentamente até o topo. O loiro não quis vir junto. Segundo ele, a atração é chata e sem emoção alguma – coisa que eu discordo completamente, pois quanto mais perto chego de despencar de uma altura relativamente alta, mais sinto meu coração ficar preso na garganta.

Sei que Scott está em algum lugar lá embaixo seguindo todo o trajeto do carrinho, mas não consigo lhe visualizar. Seguro a barra de ferro que me impede de cair para fora do brinquedo com força, mas minhas palmas estão suadas quando finalmente paramos no ponto mais alto da montanha-russa. Encaro a criança que está ao meu lado – o garotinho deve ter uns oito anos de idade – e está muito mais relaxado do que eu. Sinto vontade de segurar sua mão pequena e pedir para que chame meus pais, mas não o faço. Seria muito constrangimento para uma garota de dezoito anos.

Fecho os olhos, trancando o ar em meus pulmões. É uma questão de poucos segundos até que o carrinho despenque e um coro de gritos – incluindo o meu – sobressaia qualquer outro som no parque. Me permito abrir as pálpebras, mas logo me arrependo. Tudo é um borrão muito rápido; vejo o oceano, as pessoas lá embaixo, a areia da praia, os prédios e montanhas mais além. O garotinho ao meu lado balança os braços na altura da cabeça, gritando animadamente – já eu, sinto que vou ter um ataque cardíaco em poucos instantes. Quando o brinquedo para totalmente, me seguro no ombro da criança para me equilibrar. O menino ri e me ajuda até ter a certeza de que eu consigo ficar de pé. Assim que minhas pernas param de tremelicar, ele corre em direção às escadas e some do meu campo de visão. Sigo o mesmo caminho, me deparando com Scott no final dos degraus; ele segura uma caixa de pizza e duas latinhas de refrigerante nas mãos.

— Que vergonha. Vou fingir que não te conheço — ele debocha, girando nos calcanhares e caminhando na minha frente. Minhas pernas ainda estão bambas, portanto uso seu ombro como suporte. — Você nunca foi em uma montanha-russa?

— Já, uma vez — sorrio, inspirando o ar que coloquei para fora enquanto gritava lá em cima. — Eu tinha sete anos e era aqueles carrinhos em forma de uma minhoca gigante.

— Que merda — Scott solta uma gargalhada gostosa de se ouvir, se sentando em um dos bancos disponíveis no píer. — Aquela criança é mais corajosa que você.

— Não enche — empurro seu ombro, trazendo a caixa de pizza até meu colo. Abro a tampa de papelão, sentindo o cheiro maravilhoso de queijo derretido. Porém, algo no recheio me chama a atenção.

A palavra "Parabéns" está escrita em letras cursivas com uma generosa camada de cheddar. Um sorriso surpreso me escapa e eu encaro Scott. Ele também sorri, largando as latas de refrigerante entre o espaço vazio do banco que nos separa.

— Não é só isso — avisa, abrindo o fecho da jaqueta de couro que, até agora, estava fechada.

— Como assim? — Arregalo os olhos em sua direção. — Você já fez muitas coisas por mim hoje, Scott.

— Pra mim não é o bastante — dá de ombros, retirando uma sacola pequena azul-marinho do bolso interno de sua jaqueta. — Agora sim, feliz aniversário.

Ele me estende a embalagem e eu a seguro entre os dedos, receosa. Scott Summer é completamente doido. Nunca que uma amizade tão recente minha faria metade dessas coisas por mim.

Retiro a caixinha preta aveludada de dentro da sacola, sentindo meu coração pulsar nas têmporas. Abro a tampa vagarosamente, analisando a correntinha de ouro com um pingente de dois corações; o coração maior é vazado, já o da frente – o menor – é preenchido. Retiro a jóia da caixinha, suspendendo-a na altura do rosto. Meus lábios estão entreabertos quando volto minha atenção para Scott; um lampejo de ansiedade adorna seus olhos azuis.

Cacete… — é tudo o que digo, saltando meus olhos do loiro para a jóia, depois para Scott novamente. — É lindo, Scott!

— Esse colar é exclusivamente seu — revela, parecendo mais aliviado por eu ter gostado do presente. — Isso quer dizer, que nenhuma outra pessoa em Snowdalle ou no resto do mundo tem esse pingente.

— Como assim?

— Eu desenhei esses corações e mandei o joalheiro fazer unicamente para você — sorri, convencido. Meu queixo praticamente vai ao chão. — Pode admitir, sou incrível.

Solto uma risada, beliscando seu ombro por cima do tecido grosso da jaqueta. Infelizmente, não posso discordar e iniciar uma discussão boba por conta de seu egocentrismo. Esse gesto foi realmente incrível.

— Vai se ferrar. Isso é golpe baixo — sorrio, virando de costas quando Scott faz menção de colocar o colar em mim. Seguro meus cabelos no topo da cabeça, sentindo seus dedos gelados tocarem minha pele. Em poucos instantes, a correntinha está alinhada em meu pescoço. — Obrigada, eu… nem tenho palavras o suficiente para agradecer. Foi um dos melhores presentes que já ganhei na minha vida.

— Eu é quem tenho que agradecer — Scott se vira para frente, deixando um suspiro escapar. — Quando eu cheguei aqui, não me senti em casa de jeito nenhum. Mas aí, a gente começou a se ver todo dia e, de alguma forma, eu me senti confortável — umedeço os lábios, sentindo meus olhos marejarem. Inferno! Por que estou tão emotiva ouvindo isso? — Eu me sinto em casa quando estou com você.

Prendo meu lábio inferior entre os dentes, tirando a caixa de pizza do meu colo e deslizando até Scott. Envolvo seu pescoço com meus braços, enterrando meu rosto na curvatura entre a gola de sua jaqueta e a pele quente de seu pescoço. Uma lágrima solitária escorre de meus olhos pois, embora Scott ainda não saiba sobre o que passei alguns anos atrás, me sinto extremamente grata a ele por ter permanecido – mesmo que de seu jeitinho confuso –, mas permaneceu. O loiro foi o responsável por me fazer sair da minha bolha e acreditar que as pessoas podem, sim, ser boas quando querem.

E um dia, pretendo lhe agradecer por tudo.

Scott fica com os braços parados, totalmente imóvel. Parece surpreso, mas não demora a retribuir. Sinto seu nariz tocar a pele sensível do meu pescoço, o que causa um arrepio em todo o meu corpo. Torço internamente para que não perceba. Ele inspira meu perfume adocicado, como se quisesse guardar meu cheiro para sempre consigo. Ficamos assim por alguns segundos, sem falar nada, apenas nos abraçando e, mentalmente, agradecendo ao outro por sermos quem somos.

Sou a primeira a me afastar, instantaneamente sentindo falta de seu calor. Scott sorri, pegando as latas de refrigerante que caíram sobre o banco no momento em que lhe abracei. Ele abre o lacre, estendendo-a para mim. Agradeço, dando um gole e cruzando as pernas sobre a madeira. A praia está esvaziando aos poucos e os primeiros resquícios do pôr do sol começam a surgir. É uma visão de tirar o fôlego.

Filho?

Meus olhos se desviam do horizonte e pairam sobre a mulher que está de pé a poucos metros de onde estamos sentados. Seus olhos azuis estão arregalados em direção a Scott, que imediatamente enrijece o corpo e une as sobrancelhas. Minhas íris saltam de um lado para o outro, notando semelhanças nítidas entre os dois; o nariz fino, os lábios bem desenhados e, principalmente, a cor dos olhos.

— Meu Deus, faz tantos anos que… — a mulher leva as mãos até a boca, parece chocada. — Você cresceu tanto!

Scott Summer se mantém imóvel, parece perdido, em choque. Ele só sai de seu transe particular, quando a mulher dá alguns passos até nós. O loiro imediatamente se levanta, derrubando a lata de refrigerante no chão de madeira do píer.

— Você se lembra de mim, não? — Questiona, dando um passo à frente. — Sou eu, a sua mãe.

— Eu sei quem você é, Samira — Scott tem uma reação bem parecida com a que teve quando lhe perguntei sobre sua mãe; é como se alguém colocasse algo ácido em sua língua.

— Filho, nós…

— Não me chame assim, porra — me coloco de pé também, segurando a barra de sua jaqueta. Seu rosto está vermelho e posso jurar que chamas lampejam em seus olhos azuis. — Não me chame de uma coisa que eu nunca fui pra você.

— Por favor, temos que…

— Eu não quero ouvir — o loiro a interrompe outra vez, passando as mãos nos cabelos. — Se você quer consertar o passado, explicar a sua ausência, contar que está morrendo, passando fome ou qualquer merda do tipo… Eu. Não. Ligo!

Embora as palavras duras não sejam direcionadas para mim, sinto o peso e a dor de cada uma delas. Não me imagino, em hipótese alguma, falando algo do tipo para os meus pais. Pensava que Scott não gostasse de sua mãe, mas ele parece odiá-la profundamente. Assim como notei a tempestade de suas íris quando o conheci naquele dia chuvoso, também noto o furacão nos olhos azuis de Samira. Ela parece abatida, arrependida e cheia de explicações que nunca pôde dar. Os anos a maltrataram – não esteticamente –, mas mentalmente. Sua dor é visível e chega a ser quase palpável no ar.

Uma chance. Eu só preciso disso, filho — Samira praticamente implora, dando mais um passo em nossa direção. Scott recua dois para trás, trombando seu corpo esguio com o meu. Ele finalmente me encara, parecendo se dar conta de que eu ainda estou aqui.

— Vamos embora — anuncia, pegando a caixa de pizza. Permaneço estática no lugar, encarando a mulher que seca as lágrimas que caem freneticamente de seus olhos. — Anastásia, você não me escutou?!

Engulo em seco, sem saber o que fazer. Sinto dor por Samira, mas não sei o que aconteceu no passado para Scott ter tanto repúdio assim dela. Pela primeira vez desde que chamou a atenção do filho, seus olhos recaem sobre mim. Ela parece envergonhada, mas sustenta meu olhar. Tento sorrir, para de alguma forma tentar lhe acalmar, mas acabo comprimindo os lábios e caminhando até o loiro.

— Nunca mais apareça na minha frente — é o veredito final de Scott, antes de colocar a mão espalmada em meus ombros e virar as costas.

Ele me guia para longe do píer e, consequentemente, para longe de seu passado conturbado.

Tá vendo esses coraçãozinhos que eu uso em todos os capítulos? Então, é o formato do pingente do colar da Ana e uma "marca" especial desse casal-não-casal. Aliás, precisamos de um nome para o shipp deles... 👀

Eu queria MUITO saber se vocês já tem alguma teoria sobre o prólogo KKKKKK muita gente no capítulo 11 ficou relembrando dele e amei as reações de vocês, sério. Então, tem alguma ideia? 👀

A partir de agora todos os capítulos são os meus favoritos e estamos nos aproximando do caos, amo??? Aliás, no capítulo 13 vamos conhecer o Clay (é um fofo, af).

Beijinhos cintilantes e até sexta-feira nesse mesmo horário! ❤️

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