Dezoito
“O primeiro beijo foi como uma droga sob a sua influência. Você me pegou, é a mágica em minhas veias. Isto deve ser amor.”
Charli XCX | Boom Clap
09 de fevereiro de 1998,
segunda-feira.
Encaro o céu em tons gélidos acima de mim, inspirando o ar cortante presente na cidade pacata de Snowdalle. Faz poucas horas que parou de nevar, mas os resquícios do gelo ainda cobrem o chão com uma camada mediana de neve branca. Cruzo meus braços em frente ao peito, amparando minhas costas na parede acinzentada da OEF. Dou mais uma bisbilhotada na rua, vendo se o carro vermelho com listras brancas de Scott Summer surge entre tantos outros automóveis, mas não o encontro.
Meus pensamentos me castigam em momentos como esse; onde estou de bobeira, sem absolutamente nada para me ocupar. A seleção das memórias são escolhidas a dedo e me levam diretamente para o nosso beijo. Em seguida, para o meu momento íntimo no banheiro. Ignorei todas as ligações de Scott nesse fim-de-semana, pois estava me sentindo culpada por fazer aquilo pensando nele. Não sei se consigo levar nossa amizade adiante da mesma maneira inocente de antes – não depois de imaginar perfeitamente seus dedos entrando dentro de mim.
Ele não foi à aula hoje, mas me mandou uma mensagem dizendo que viria me buscar depois do trabalho para irmos comprar o presente de Sarah. Solto um suspiro impaciente prestes a desistir de esperá-lo, até que seu carro surge na estrada e estaciona em frente à empresa. Desço os degraus que nos separam e abro a porta do passageiro, hesitando para entrar.
Sinto como se Scott soubesse exatamente o que fiz na madrugada de sábado, embora eu saiba que é apenas minha mente lançando falsos alertas para me deixar desconfortável.
— Precisa de convite? — Sua voz soa autoritária, me despertando. Pisco repetidas vezes, me acomodando no banco de couro e fechando a porta em um baque, como se esse gesto fosse capaz de dar um fim as minhas paranoias.
— Você está atrasado — acuso, colocando o cinto de segurança. — Esqueceu de mim?
— Tive um imprevisto — Scott balança os ombros, terminando de tragar seu cigarro e o atirando pela janela. Seus fios loiros estão totalmente bagunçados, como se ele tivesse acabado de acordar. — Você me ignorou por dois dias.
— Estava ocupada — minto, jogando minha mochila no banco de trás. — Que tipo de imprevisto?
— Um imprevisto com seios enormes, cabelos cacheados e uma boca fenômenal — responde, lambendo os lábios. Só então percebo o resquício de batom vermelho abaixo de sua orelha.
Sinto meu estômago revirar.
— Não acredito que você transou com alguém antes de me encontrar — tento falar naturalmente, mas minha voz soa esganiçada. — Fiquei te esperando por vinte malditos minutos!
— Eu tô aqui agora, não tô? — Abre os braços, colocando as mãos no volante ao me fitar com certa impaciência. — Onde nós vamos?
Quero gritar com ele e extravasar o incômodo que estou sentindo dentro do peito, mas de nada iria adiantar. Então, solto uma lufada densa de ar e ajeito minha touca cinza na cabeça, antes de lhe responder:
— Não sei. Foi você quem me mandou mensagem.
— Eu quero a sua ajuda, mas você tá toda irritadinha — frisa, exasperado. — Fiz alguma coisa de errado?
Como contar ao seu melhor amigo que você está com ciúmes de todas as garotas que ele anda saindo?
— Podemos ir ao shopping — decido ignorar sua pergunta. — Você vai encontrar um milhão de presentes lá. Na verdade, não sei nem porque me convidou.
— Tá falando sério?
— Você escolheu o meu presente sozinho. É tão difícil assim comprar algo para a Sarah?
— Porra, eu convidei você porque precisava da sua opinião! Você é amiga dela há anos e muito mais próxima do que eu — Scott infla o peito, como se reunisse o restante de sua paciência para não me mandar ir com passagem só de ida para o inferno. — Também pretendia levar você ao drive-in depois de comprar o presente.
— Por que não convidou a garota que você estava transando a poucos minutos atrás? — Sorrio em sua direção para amenizar meu desgosto e vejo seu rosto ir de pálido para vermelho em um piscar de olhos.
— Quer saber? Tudo bem — ele levanta as mãos em rendição, girando a chave para ligar o carro em seguida. — Não preciso mais da sua ajuda. Vou te levar pra casa.
Coloco minha mão sobre a dele em um ímpeto, impedindo-o de dar a partida.
— Eu vou pegar um ônibus, não preciso de motorista particular — retiro o cinto, pegando minha mochila no banco de trás e abrindo a porta. Scott encara tudo estarrecido, mas não me impede em nenhum momento de sair do automóvel.
— Você é imprevisível pra cacete, porra — esbraveja.
Assisto o loiro arrancar com o veículo, os pneus fazendo barulho e soltando uma leve fumaça no asfalto. Em menos de dez segundos, a Shelby desaparece no cruzamento. Solto o ar dos meus pulmões, sentindo meu coração pulsar pesadamente dentro da caixa torácica.
Merda.
10 de fevereiro de 1998,
terça-feira.
Afundo meu rosto entre minhas mãos, encarando as questões de química como se fossem algo de outro planeta. Tenho que entregar este trabalho depois do intervalo, mas não faço ideia de como resolver essas perguntas.
— Alternativa D — a voz de Scott chega aos meus ouvidos, assim como a de Sarah e Helena. Os três largam as bandejas sobre a mesa, animados.
— O quê? — Uno as sobrancelhas, encarando o loiro que se senta em minha frente. Ele possui uma feição trivial, como se nada tivesse acontecido entre nós ontem a tarde.
— A resposta da pergunta um. É a alternativa D — repete, enfiando uma colherada de purê dentro da boca. Diante do meu silêncio, Scott revira os olhos e bebe um gole de seu suco, umedecendo os lábios para explicar: — A queima ou extração dos combustíveis fósseis polui o meio-ambiente. Sendo assim, a dependência deles é extremamente desvantajosa.
Ouço com atenção e confiro a pergunta outra vez, finalmente compreendendo a resposta. Lanço um sorriso agradecido em sua direção, marcando a alternativa D.
— A ordem é: D, F, F, A, B, E, A e C — revela. — Sou melhor que você em química, então pode confiar — um sorriso convencido se alastra em seus lábios e ele desvia a atenção para Sarah e Helena. Faço o mesmo após assinalar as respostas, sem me dar o trabalho de conferir se estão realmente certas. Scott Summer não mentiu quando me disse que suas notas eram boas. Elas realmente são.
Sarah Herrera está ao meu lado, empolgada para contar as ideias para o seu aniversário de dezoito anos. Diferente de mim, a loira sempre foi a favor de comemorações extravagantes e aglomerações. Pelo visto, Helena Watson também; pois está tão animada quanto ela.
— Eu estava pensando… — Sarah espalma as mãos sobre a mesa, arregalando os olhos para nós três. Ela batuca as unhas na superfície, fazendo suspense. — Minha mãe infelizmente está no Japão e só vai voltar na próxima semana. Papai vai me levar para almoçar sábado, mas depois estou livre.
— O que você tem em mente? — Helena indaga, roubando uma batata-frita do prato de Scott.
— Eu, a Ana e o Chris costumávamos ir ao karaokê ou ao drive-in quando meus pais não faziam uma festa enorme e convidavam todos os meus parentes que eu particularmente não gosto muito — sufoco uma risadinha. A família de Sarah é um completo caos. — Mas agora… eu quero ir ao Red Snakes.
Nós três automaticamente encaramos Scott, que até então estava absorto ao falatório da loira. Ele para com a caixinha de suco no meio do caminho, nos analisando como se fôssemos psicopatas. Após longos segundos, solta uma gargalhada gutural.
— Como é? — Um vinco se forma entre suas sobrancelhas. O sorriso debochado ainda presente em seu rosto. — Sem chances.
— Que tipo de amigo você é? — Sarah revira os olhos, frustrada.
— Kevan já corre um risco do cacete me deixando trabalhar lá. Imaginem se a polícia resolve dar as caras no Red Snakes e encontra quatro adolescentes menores de vinte e um bebendo até cair pelos cantos? Não estou afim de ser preso e levar sermão de vários pais ao mesmo tempo. Vocês duas nem tem carteira de identidade falsa — aponta para mim e para Sarah.
— Vocês dois têm? — Minha melhor amiga volta-se para Helena, abrindo a boca em um perfeito 'O'.
— Tinha um cara lá em Londres que fornecia por um preço bacana — a morena dá de ombros, como se não fosse nada demais.
— Bem, isso não importa. Você já levou a Ana!
— Era uma ocasião diferente e nem ficamos por muito tempo — responde, deixando a comida e o suco de lado. — Pensa em outra coisa. Sei lá… que tal um piquenique no Snowdalle Park? Seu aniversário é bem no dia dos namorados e fiquei sabendo que as pessoas solteiras dessa cidade se reúnem lá na esperança de encontrarem o amor da vida delas. Quem sabe você não recebe um cara bacana de presente?
— Não! Eu quero encher a cara e burlar as leis desse país — Sarah joga os cabelos ondulados para trás dos ombros, cruzando os braços em seguida.
Solto uma gargalhada, guardando meus materiais dentro da mochila. Levanto calmamente do banco embutido, ajeitando o blazer e a gravata verde-musgo em meu pescoço.
— Vou dar uma passadinha na biblioteca. Vejo vocês na aula de artes — aviso, me afastando.
As duas murmuram algo como "até daqui a pouco" e voltam a insistir para que Scott nos leve até seu trabalho. Porém, o loiro está ocupado demais despejando sua atenção em cada passo meu. Sei disso, porque antes de sair pelas portas duplas da cantina, visualizo suas orbes azuis fixas em mim.
Jimmy está atrás do balcão, concentrado em suas palavras-cruzadas. O senhor de cabelos brancos possui um vinco entre as sobrancelhas, devido ao esforço que está fazendo para descobrir as respostas. Estou sentada no corredor dos livros de fantasia e contos de fadas, folheando as páginas de Alice no País das Maravilhas. Jimmy levanta a cabeça, direcionando seus olhos castanhos em minha direção.
— Cavalheiro ou cavaleiro? — Indaga, sussurrando.
— Cavalheiro é um rapaz educado e gentil. Cavaleiro é quando ele anda a cavalo — explico, usando o mesmo tom baixo para lhe responder.
— Obrigado!
Sorrio, voltando minha atenção para o livro em minhas mãos. Já o li diversas vezes e em todas elas, a sensação de aventura se faz presente como se fosse a primeira vez. Gosto de estar no mundo maluco de Alice; às vezes, até me imagino no lugar dela.
De soslaio, observo a porta da biblioteca se abrir. Jimmy levanta a cabeça mais uma vez, acenando levemente com a mão em direção à pessoa que acabara de entrar. Um par de coturnos pretos surge diante de mim e eu elevo meu olhar até os olhos azuis de Scott. O loiro retira a mochila dos ombros, se sentando em minha frente com as costas amparadas na prateleira. Os traços de seu rosto estão serenos, não há indícios de que veio até aqui para brigar ou discutir comigo.
— Tem alguma coisa acontecendo? — Questiona, descansando os braços sobre os joelhos dobrados.
Mordo internamente minhas bochechas, fitando o livro outra vez.
— Não.
— Aconteceu sim, Anastásia — bufa, pegando o livro de minhas mãos e o colocando ao meu lado. — Olha pra mim — pede, seus dedos quentes segurando minha mão fria com firmeza. Engulo em seco, analisando seus olhos ansiosos e confusos. — Me diz. O que tá acontecendo com a gente?
— Você quer que eu diga o quê? — Arqueio as sobrancelhas, tentando disfarçar meu nervosismo. — Estamos normais.
Ele ri, soltando minha mão para bagunçar os cabelos.
— Não estamos normais, Tásia. Viramos uma verdadeira tempestade!
— Isso é ruim pra você? — Solto uma leve risada. — Acha que bagunço sua vida? Que sou um caos?
— Não, não! Claro que não! — Nega, exasperado. — Eu me sinto em um vendaval de altos e baixos. Na maioria das vezes, estou no olho de um furacão sem saber para que lado ir. No meio de tantos desastres, eu te encontrei — enfatiza, emanando sinceridade e intensidade em cada mísera palavra. — Você, Anastásia Walker, é a tempestade mais bela que já passou na minha vida.
Minha boca fica um pouco entreaberta e o ar parece rasgar cada centímetro dos meus pulmões. Minhas costelas doem pela intensidade absurda que meu coração palpita, intensificando os tremores em meu corpo. Minha pele gruda com o suor mesmo em uma temperatura capaz de congelar qualquer coisa. Por que diabos sinto borboletas voarem livremente em meu estômago?
Balanço a cabeça, interrompendo meus devaneios.
— Talvez eu esteja com medo de perder você, tá legal? Todas essas garotas que você sai…
— Você não precisa se preocupar. Ninguém vai roubar o seu lugar. Meu coração é seu.
— Muito lindo, mas vocês estão em uma biblioteca — quebramos nosso contato visual, encarando Jimmy que nos observa por trás dos óculos fundo de garrafa. Sibilamos um "perdão" para o senhor, soltando uma risadinha em seguida.
— Vem cá, dramática — Scott abre os braços, esticando as pernas. Viro de costas, me aninhando entre elas. O loiro envolve meu tronco em seu abraço, beijando o topo da minha cabeça. Sinto-o se esticar atrás de mim, seus dedos longos alcançando o livro de Alice. — “Que espécie de gente vive por aqui?” “Naquela direção”, explicou o Gato, acenando com a pata direita, “vive um chapeleiro; e naquela direção”, acenando com a outra pata, “vive uma Lebre de Março. Visite qual deles quiser: os dois são loucos.”
— O que está fazendo? — Sorrio, virando um pouco minha cabeça para trás. Scott está concentrado na página em que parei.
— “Mas não quero me meter com gente louca”, Alice observou. “Oh! É inevitável”, disse o Gato; “somos todos loucos aqui. Eu sou louco. Você é louca.” — Brinco com meus dedos, escutando sua narração calma e serena atentamente. Ler Alice no País das Maravilhas é ótimo, mas escutar o loiro a contando exclusivamente para mim é incrível. Ele entrelaça seus dedos aos meus, continuando: — “Como sabe que sou louca?” perguntou Alice. “Só pode ser”, respondeu o Gato, “ou não teria vindo parar aqui…”.
— Scott? — Interrompo, ficando totalmente de frente para ele.
— Hum?
— Desculpa por ontem e hoje. Acho que posso ser um pouco louca às vezes — confesso, baixinho.
— Eu sei — sorri, apertando levemente minha bochecha. — As melhores pessoas são assim.
14 de fevereiro de 1998,
sábado.
O caminho todo até o Red Snakes foi banhado por uma animação fora do normal. Scott Summer parece mais feliz do que nunca, assim como Sarah, Helena e eu – o loiro até aceitou ligar Just Want To Have Fun no último volume dentro da Shelby. Agora que estamos no bar, a agitação não está diferente.
Minha melhor amiga conseguiu convencê-lo a nos trazer até aqui, mas ele deu uma condição: ir embora antes das duas da manhã. Sarah e eu inventamos uma desculpa esfarrapada para os nossos pais, dizendo que íamos comemorar na casa de uma amiga nova – o que não é totalmente mentira, já que vamos dormir na casa de Helena. Por falar nela, seus pais – Pérola Watson e Hevan Watson – são incríveis e nos receberam de braços abertos.
Conforme os minutos se passam, o álcool age em nosso organismo com maestria. Helena está ao lado de Sarah sobre o palco de madeira, ambas soltando a voz ao som de I Drove All Night da Cindy Lauper. Há uma grande quantidade de pessoas assistindo-as, encantadas e envolvidas com o timbre melodioso e doce das duas.
— Você está quieta — Scott observa, puxando uma mexa do meu cabelo solto. Sorrio.
— Estou feliz, de verdade. Sarah está tão ocupada se divertindo que mal teve tempo de notar que o Christopher não mandou mensagem para ela.
— Essa briga já passou da hora de acabar — confessa, ficando ainda mais despojado sobre a cadeira de madeira. — O orgulho é mais importante que a amizade de vocês?
— Não é tão simples quanto parece, Scott — solto um suspiro, brincando com o guarda-chuva da minha bebida. — Eu o amo. Somos amigos há anos, mas ele magoou minha melhor amiga.
— Se você o ama tanto quanto diz, por que está esperando tanto tempo? — Indaga, arqueando as sobrancelhas.
— Não quero atrapalhar — dou de ombros. — Quando discutimos na aula de química, ele me disse para não jogar meu relacionamento fracassado sobre o dele. Dizem que na hora da raiva, falamos bobagens sem pensar; coisas que nem pensamos sobre aquela pessoa, mas dizemos mesmo assim com o intuito de machucá-la. Eu já acho totalmente o contrário. A fúria é como o álcool; te deixa em um estado de torpor e as coisas que preferíamos manter somente dentro de nós, acabam saindo de forma automática.
— Você nunca me falou sobre o seu ex-namorado — desvio meu olhar, ponderando se esse é o momento certo de contar minha história fodida para ele pela primeira vez. — Se você não se sentir confortável…
— Logan era um cara de aparência doce que escondia um limão azedo e podre por trás do sorriso gentil — conto, passando meu indicador em volta da taça como se fosse a coisa mais fascinante do mundo. — Ele colocava a culpa de absolutamente tudo que dava errado em nosso relacionamento sobre as minhas costas. Me proibia de vestir roupas muito decotadas e de sair com meus amigos. Na última briga que tivemos, ele me empurrou pelos ombros e bati minha cabeça contra a parede. Apesar de ter conhecido o verdadeiro inferno quando estava com Logan, sofri quando terminei com ele — umedeço os lábios, sem coragem de encarar Scott. — Acho que o ser-humano é programado para sofrer por coisas que não merecem as partes do nosso coração.
— Que filho da puta… — Scott leva o punho cerrado até os lábios, parecendo indignado. Arrasto minha cadeira para mais perto dele, tombando minha cabeça em seu ombro.
— Eu estou bem agora. Já faz alguns anos e ele se mudou de Snowdalle.
— Esse cara magoou tanto você ao ponto de te fazer não acreditar mais no amor?
— Acho que sim… — levanto minha cabeça, encarando seus olhos azuis.
Scott não está com pena, muito menos tomando cuidado como se eu fosse uma bonequinha de porcelana incapaz de me curar das rachaduras. Suas íris transpassam compreensão, como se ele finalmente tivesse encontrado a última peça para completar o quebra-cabeças que eu sou. O loiro me puxa ainda mais para si, beijando minha testa com carinho. Seu peito infla e ele sussurra orgulhoso:
— Você é forte e incrível, Tásia. Nunca se esqueça disso.
Duas cervejas e dois Mojitos mais tarde, Scott e eu estamos sobre o palco vasculhando a lista de músicas dos anos oitenta para cantar. Dessa vez, o loiro é quem vai escolher a canção. Do outro lado do bar, Kevan grita que Scott não tem um bom gosto musical e que irá espantar os clientes. Sabemos que é mentira, por tanto meu amigo apenas levanta o dedo médio em direção ao chefe.
— Já assistiu Dirty Dancing?
— Muitas vezes.
— Que tal The Time Of My Life? — Ele balança as sobrancelhas, me estendendo o microfone cinza.
— Só se você fizer a dancinha do Johnny Castle.
— Fechado! — Scott sorri, selecionando a música de Jennifer Warnes e Bill Medley.
Pego o microfone de suas mãos, virando de frente para a platéia com o total de vinte pessoas, incluindo Sarah e Helena que estão tão animadas para nos ouvir cantar quanto os demais.
— Now, I've had the time of my life. No, I've never felt like this before. Yes, I swear, it's the truth… and I owe it all to you — ele se posiciona atrás de mim, a voz melodiosa atingindo meus ouvidos com maestria. Deito minha cabeça em seu peito, levando o microfone até meus lábios.
— 'Cause I've had the time of my life, and I owe it all to you… — dou fim a introdução da música, me afastando de Scott e caminhando até a outra parte do pequeno palco. As pessoas assoviam e dão pequenos gritinhos entusiasmados.
Agora, eu tive os melhores momentos da minha vida. Não, eu nunca me senti assim. Sim, eu juro, é verdade… e devo tudo a você.
Pois, eu tive os melhores momentos da minha vida, e eu devo isto tudo a você…
— I've been waiting for so long. Now, I've finally found someone to stand by me — sorrio quando ele caminha em minha direção, chocando seu ombro largo com o meu.
— We saw the writing on the wall, as we felt this magical fantasy — passo pelo loiro, jogando meus fios ruivos em seu rosto.
— Now, with passion in our eyes, there's no way we could disguise it secretly. So, we take each other's hand, 'Cause we seem to understand the urgency — desço do palco e caminho até um cara que aparenta ser apenas dois anos mais velho que eu. Seguro sua mão e ele me gira; faço o mesmo, igual ao filme. Viro meu rosto em direção a Scott. Ele está cantando sobre uma cadeira, retirando a jaqueta de couro e a jogando para Sarah e Helena. Gargalho diante da cena.
Tenho esperado por muito tempo. Agora, finalmente encontrei alguém que fique ao meu lado.
Vimos tudo bem claro, ao sentir esta fantasia mágica.
Agora, com paixão em nossos olhos, não há como disfarçar. Então, nós damos as mãos, pois parece que entendemos a urgência.
— Just remember! — O loiro salta da cadeira, apontando para mim.
— You're the one thing… — meus dedos se fecham na gola de sua camiseta preta, puxando-o para mais perto.
— I can't get enough of — completa, dando um leve sorrisinho presunçoso.
— So, I'll tell you something… — corro até o palco, sendo seguida por ele. — this could be love!
Apenas lembre.
Você é a única coisa...
Da qual eu nunca me canso.
Então vou lhe falar o seguinte… isto pode ser amor!
— Because I've had the time of my life. No, I've never felt this way before. Yes, I swear, it's the truth… and I owe it all to you — cantamos em uníssono, dividindo o mesmo microfone. Fecho os olhos para atingir as notas mais graves, assim como Scott. — 'Cause I've had the time of my life, and I've searched through every open door. Till I've found the truth and I owe it all to you.
Porquê eu tive os melhores momentos da minha vida. Não, eu nunca me senti assim. Sim, eu juro, é verdade… e devo tudo a você. Pois eu tive os melhores momentos da minha vida, e eu procurei através de cada porta aberta. Até que encontrei a verdade e devo tudo a você.
Gargalho alto quando Scott pula do palco, assim como Johnny Castle faz em Dirty Dancing. O loiro olha para trás, os fios mais compridos de seu cabelo se chocando em sua testa quando ele diz:
— Hey, baby!
As pessoas abrem espaço em frente ao palco, deixando que Scott faça todos os passinhos de Johnny. Não sei quantas vezes o loiro assistiu esse filme, mas fora o suficiente para decorar cada mínimo detalhe. Estou tão entretida e admirada com a maneira que ele interage com as pessoas e interpreta o personagem, que esqueço de cantar. Nesse momento, só quero lhe admirar e ouvir sua voz.
— With my body and soul, I want you more than you'll ever know. So, we'll just let it go. Don't be afraid to lose control, no — Scott induz outras pessoas a lhe acompanhar nos passos. O Red Snakes virou uma verdadeira aula de dança sincronizada. — Yes, I know it's on your mind when you say: stay with me tonight. (Stay with me).
Com meu corpo e alma, eu te quero mais do que você jamais saberá. Por isso, vamos nos soltar. Não tenha medo de perder o controle, não. Sim, eu sei que está na sua mente quando você diz: fique comigo esta noite. (Fique comigo).
Deixo meu microfone no pedestal e Scott entrega o dele para Sarah, que assume a cantoria. Sinto meu coração bater fortemente contra as minhas costelas quando o loiro acena positivamente com a cabeça em minha direção, se preparando para me erguer no ar. Desço do palco e corro até ele. Sinto meus pés saírem do chão e solto gritinhos para que me solte. Alguns segundos depois, Scott me coloca no chão e me abraça.
— Eu devo isso tudo a você — sussurra em meu ouvido, enquanto as pessoas aplaudem freneticamente. Aperto ainda mais seu corpo entre meus braços, sentindo meu coração se aquecer e meu estômago congelar.
— Também devo tudo isso a você, Scott.
— Eu ainda estou em dúvida entre a faculdade de Psicologia e Nutrição.
Sarah Herrera faz uma pausa, bebendo o último gole de seu drink colorido. Estamos reunidos ao redor da mesa, jogando sobre ela todos os nossos sonhos, medos e inseguranças. Perdi as contas de quantas bebidas consumimos desde o momento em que descemos do palco – uma hora atrás –, mas fora o suficiente para nos deixar mais tagarelas que o normal. Sinto minha língua amortecida e minha visão embaçada, mas não pretendo parar agora.
— Você combina com nutricionista — Scott observa, projetando os lábios para baixo. — Seu prato vive cheio de verduras e essas baboseiras saudáveis.
— E você? Pretende fazer um curso de maior babaca do ano? Ou já está graduado? — A loira decide ignorá-lo. Helena e eu sufocamos uma risadinha.
— Quero fazer Biologia Marinha — revela, dando de ombros. Lhe encaro surpresa. Nunca havia imaginado que ele seguiria um caminho tão diferente de seu pai. — Pretendo trabalhar no AquaMon, lá em Hammon Springs.
— Isso é em outra cidade, Scott — friso em um sussurro.
— Eu sei.
— Então esse é o seu plano? Fazer faculdade aqui e se mudar?
O loiro balança a cabeça, parecendo indeciso.
— Acho que sim.
Fico sem reação. De repente, a possibilidade de perdê-lo me causa náuseas. Não imaginei que Scott se mudaria para outra cidade futuramente. Pensei que ele havia se encontrado aqui, que havia gostado das amizades que adquiriu e da pessoa que aos poucos está se tornando com a nossa presença. Ouví-lo dizer que pretende construir sua vida longe de mim, parte meu coração em incontáveis pedaços. A despedida nem ao menos aconteceu, mas meus olhos ardem apenas com o pensamento. Estaríamos a três horas de distância um do outro – o que para muitos é pouco tempo –, mas não quando você tem certeza de que uma parte sua iria junto com essa pessoa.
Sua melhor parte.
— Eu preciso ir ao banheiro — me levanto em um rompante, cambaleando um pouco para trás. Scott faz menção de puxar meu pulso, notando que fiquei abalada com a sua revelação. Porém, recuso sua preocupação e desvio rapidamente pelas pessoas no bar até chegar ao banheiro feminino.
Fecho a porta atrás de mim e caminho até a pia, encarando meu reflexo abatido no espelho sujo e descascado. Meus fios ruivos estão bagunçados, resultado da animação que estávamos algumas horas atrás. É curioso como o álcool age de formas distintas nas pessoas; enquanto uns se tornam frios e engraçados, outros se trancam no banheiro de um bar lotado para chorar por coisas que nem sequer aconteceram ainda. As lágrimas grossas e quentes deslizam por minhas bochechas e deixam um rastro preto de rimel em seu caminho, se acumulando no queixo e pingando na porcelana branca da pia. Meu coração arde, e quanto mais tento me impedir de ser fraca e vulnerável, mais meu corpo cede aos soluços.
Eu me tornei um caos desde a chegada de Scott Summer a Snowdalle. Achei que minha vida estava nos eixos e que nada iria me afetar outra vez; novamente, fui péssima em cumprir promessas. O loiro bagunça meu coração e minha mente de um jeito único. Fui idiota por pensar que poderia esquecer aquele beijo e seguir com nossa amizade como antes. Quem eu quero enganar? Minha alma reconhece Scott como sua outra metade e, por mais que eu tente negar isso a mim mesma, estou ciente de que tudo que ele sente por mim – ou sentia – é em partes, recíproco. Meu coração acelera quando o vejo, me pego admirando seus traços por mais tempo do que deveria e somente o timbre de sua voz me deixa arrepiada.
A cada dia que passa, vejo Scott como a minha casa. E é nele que meu coração quer fazer morada.
Cena do karaokê foi inspirada nessa cena de Dirty Dancing (assistam)!!! ❤️
E preparem seus ventiladores ou ar-condicionados porque o capítulo 19 vai estar pegando fogooooo! 🗣️🔥
Bom fim-de-semana para vocês,
até quarta-feira!!!
(me sigam no insta que vai ter spoiler do capítulo 19 antes dele ser lançado)! ❤️
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