Dezessete
“Você me faz brilhar, mas eu disfarço, não vou demonstrar. Então eu estou armando minhas defesas, porque eu não quero me apaixonar. Se alguma vez fizesse isso, acho que teria um ataque cardíaco.”
Demi Lovato | Heart Attack
30 de janeiro de 1998,
sexta-feira.
Afasto o telefone da orelha, pressionando minhas pálpebras e reunindo toda a minha educação para não mandar a atendente da fábrica Yellow para o inferno. Winnie é atrapalhada, mandou as tonalidades dos tecidos erradas e se acha no direito de reclamar comigo. No fim, peço gentilmente que passe o telefone para o seu chefe – Baltazar. O cara é um dos parceiros dos meus pais e sempre entro em contato com ele para fazer os pedidos. Baltazar pede mil desculpas pelo erro de sua funcionária e garante que até amanhã os tecidos em tons pastéis estarão na One Enterprise Fashion. Agradeço, desligando o telefone e riscando essa ligação da minha agenda.
Elevo meu olhar até o elevador, no exato instante em que meu pai sai do cubículo metálico. Ele sorri em minha direção, se aproximando calmamente enquanto cumprimenta alguns funcionários espalhados pelo saguão. Robert Walker para em frente ao meu balcão, depositando um copo de isopor sobre a madeira branca.
— Você não saiu pra tomar café hoje — diz, me alcançando um pacotinho de açúcar.
— Obrigada, pai — sorrio, despejando o açúcar e mexendo o café quente com a colher de plástico. — Tinha muitas ligações e reuniões pendentes. Aliás, Baltazar disse que amanhã os tecidos pastéis estarão aqui.
— Ótimo! Sua mãe estava surtando lá em cima com aquelas cores chamativas — meu pai faz uma careta, unindo as sobrancelhas. — Falta mais alguma reunião?
Beberico o meu café expresso, analisando a agenda.
— Só falta a reunião com o Kennedy Summer amanhã — volto meu olhar para ele. — Sobre o que é?
— Negócios — dá de ombros, ajeitando a gravata no pescoço. — Estamos trabalhando em questões de marketing. Se tudo der certo, a marca da nossa empresa vai ser reconhecida em outros estados.
Abro um sorriso genuíno, feliz pela notícia. Meus pais dedicaram muito esforço e dinheiro para construírem essa empresa. Vê-la ser reconhecida mundialmente é o sonho deles e o meu também.
— Por onde vão começar?
— Califórnia — meu pai balança as sobrancelhas, animado.
— Chique, huh? — Gargalho, vendo de soslaio a porta de vidro da empresa se abrir.
Francis White passa pela soleira, me procurando com o olhar. Quando me encontra, expõe seus dentes brancos e alinhados em um sorriso amigável. Meu pai segue a direção que minhas íris estão fixas, avistando seu ex-melhor amigo de adolescência se aproximar. Robert imediatamente empertiga a postura, aprumando o peito como um galo de briga prestes a lutar. Reviro os olhos internamente.
— Olha só se não é Francis White — meu pai sorri, um sorriso forçado e extremamente falso. — Que surpresa desagradável ter você aqui.
Francis fica em frente a Robert, colocando o cotovelo sobre o balcão e lhe encarando com um sorriso igualmente falso. Analisando-os agora, vejo a diferença gritante entre os dois; e nem estou falando de beleza. Enquanto meu pai aparenta ser um cara mais sério, comprometido e que deposita todas as suas energias no trabalho, Francis irradia um espírito jovem, extrovertido e casual. Papai está usando um terno preto que não possui nenhuma dobra no tecido, já meu instrutor de direção, traja um suéter preto do Bart Simpson sob o casaco acolchoado cinza.
— Cortou o cabelo, Robert — Francis aponta, prendendo uma risada na garganta. — Ficou horrível.
Pigarreio, chamando a atenção dos dois.
— Por favor, vocês têm quarenta anos e estão agindo como duas crianças de nove — lanço um olhar severo para eles, bufando.
— Vim entregar sua carteira de motorista — Francis retira o documento do bolso interno de seu casaco, colocando-o sobre o balcão.
Ontem pela tarde, fiz a última aula de direção. Nem sei como consegui passar, pois enquanto dirigia, atualizei meu instrutor sobre tudo que havia acontecido nos últimos meses entre Scott e eu. Francis não ficou nem um pouco contente quando lhe contei sobre o meu plano mal-sucedido; segundo ele, não tive um pingo de responsabilidade afetiva. Não retruquei e muito menos fiquei chateada com a sua sinceridade. Sabia que desde o momento em que eu falasse isso para ele, receberia um sermão que com certeza iria levar pelo resto da vida como um ensinamento.
— Obrigada — agradeço, conferindo a minha foto no documento. Não saí tão bem quanto imaginava, mas não dou muita importância para este detalhe. — Só falta o carro — pisco para o meu pai que tem um sorriso orgulhoso nos lábios, embora não diga nada.
— Vou subir para o meu escritório — comunica, ajeitando a gravata que já está alinhada em seu pescoço.
— Tudo bem — sorrio. — Bom trabalho.
Assisto papai se afastar, entrando no elevador e dando um leve sorrisinho em direção a Francis White. Quando as portas metálicas se fecham, meu instrutor solta uma gargalhada.
— Robert não muda a pose de superior, né?
— Não vou falar do meu pai com você — reviro os olhos. — Ele é meu pai e você é tipo meu tio barra padrasto. Amo vocês, mas não vou difamar um na frente de outro.
— Certo. Você tem toda a razão. Me desculpe — levanta as mãos em rendição, apontando minha carteira de motorista. — Sei que já disse isso ontem, mas parabéns mais uma vez.
— Eu disse que sou uma ótima motorista — me gabo, bebericando meu café. — Posso fazer uma pergunta?
— Claro.
— Sente falta da amizade que tinha com o meu pai?
Francis e eu já falamos sobre muitas coisas; sobre o seu passado, o meu. Nossos sonhos e medos. Acho que se fosse para selecionar uma pessoa nesse mundo todo que me conheça melhor do que eu mesma e minha mãe, com certeza esse título seria de Francis. O que é até engraçado, pois consigo ser mais comunicativa com ele do que com meus próprios pais. Porém, nunca havia tocado nesse assunto. Estou curiosa após esse rápido encontro deles.
— Sinceridade?
— Por favor.
— Não — suspira, comprimindo os lábios. — Éramos pessoas completamente diferentes na adolescência. Crescemos, amadurecemos e nos tornamos versões melhores do Robert e do Francis que me lembro.
— Você não mudaria nada? — Insisto.
— Não me arrependo de ter perdido um amigo pela sua mãe, se é isso que deseja saber. Ciclos se fecham, é a vida — sorri, sem me olhar nos olhos. Ele coça a barba rala, reflexivo. — Às vezes, Ana... um amor pode durar muito mais do que uma amizade.
06 de fevereiro de 1998,
sexta-feira.
Imaginei que minha amizade com Scott ficaria abalada de certa forma por conta do nosso beijo, mas a relação entre nós está fluindo perfeitamente bem – até melhor do que antes, eu diria. Se existe alguma regra universal onde diz que a amizade desanda depois que um dos lados se declara, então tenho o maior prazer de dizer que quebramos totalmente ela. Ainda tenho a lembrança daquela noite fresca em minha memória, mas tento pensar nela com menos frequência para não confundir meu coração. Acredito que Scott entendeu a importância que tem em minha vida e que nós dois como um casal nunca daria certo, pois nunca mais tocamos no assunto; colocamos uma pedra naquele deslize impulsivo.
— Fala sério, será que dá pra pegar?
Sarah, Helena, Scott e eu estamos no campus da New Blizzard University. Viemos conhecer a faculdade e trazer nossas cartas de recomendação, assim como nosso histórico escolar dos últimos quatro anos. A Blizzard é um verdadeiro sonho. Tudo aqui é muito lindo e magnífico. O reitor da faculdade, Joseph Zard, fez questão de mostrar toda a faculdade para nós em um tour. Vai levar alguns meses até descobrirmos se seremos aceitos ou não – o que espero verdadeiramente que aconteça, pois não me inscrevi em nenhuma outra universidade –, mas decidimos deixar tudo encaminhado para não ter nenhuma pressão ou dor de cabeça depois.
— Claro que não, Scott — Helena revira os olhos, dando um tapa na mão do loiro.
Joseph Zard nos contou que há muito tempo, os universitários começaram a jogar moedas dentro da fonte de água que fica localizada no meio do campus. Segundo eles, se você atirar uma moeda de qualquer valor ali dentro, se formará em seu curso com maestria.
— Se você pegar alguma dessas moedas, a pessoa que jogou vai reprovar por sua causa — alerto, vendo-o arquear as sobrancelhas e pegar uma mesmo assim.
— É realmente uma pena — lamenta, abrindo um sorriso atrevido.
— Você é tão cruel — empurro seu ombro, rindo.
— Gostou? Aprendi com você, anjo — umedeço a boca, fisgando meu lábio inferior para não lhe xingar. Scott tem uma maneira diferente de superar as coisas; fazendo piadas e jogando indiretas é um ótimo exemplo disso.
— Vocês dois realmente esqueceram o que rolou na festa do Felipe? — Sarah retira a pedra que havíamos colocado no assunto, nos encarando com curiosidade e diversão.
— O que rolou na festa do Felipe, Tásia? — O loiro inquire, fingindo inocência. Agradeço mentalmente por isso.
— Acredita que eu esqueci?!
— Vocês são estranhos — minha melhor amiga gargalha e começamos a caminhar para fora do campus.
Sarah não acreditou em mim quando lhe contei que havíamos feito as pazes sem ressentimentos. Ela também não acha possível que nós tenhamos nos aproximado ainda mais nas últimas semanas sem ao menos querer repetir o beijo daquele sábado. Já Helena, ficou feliz em perceber que o laço que nos une é realmente muito forte. Não conseguimos ver, mas está ali, em algum lugar, mostrando que nossa amizade não é frágil.
— E vocês duas? — Scott aponta para Sarah e Helena, balançando as sobrancelhas de maneira sugestiva. — Fiquei sabendo que se beijaram na festa do Felipe.
Sarah Herrera fixa seus olhos azuis em mim, seu rosto atinge matizes avermelhadas e quase posso imaginar o que se passa em sua cabeça neste exato momento. Não contei nada, tento dizer com o olhar e espero que ela entenda.
— Vi vocês duas quando me levantei do sofá para ir fumar — ele exclarece, dando de ombros.
— Infelizmente o coração dela pertence a outra pessoa — Helena brinca, fazendo um bico.
— Posso fingir que não sei que é o Christopher? — Scott arqueia as sobrancelhas, deixando Sarah ainda mais constrangida. — Ah, qual é? Gostar do melhor amigo não é nenhum crime. É bem natural até, eu diria.
Mordo internamente minhas bochechas, encolhendo-me na lapela da jaqueta jeans. Helena percebe, pois me lança um olhar que transpassa algo como "viu só?".
— Okay. Eu gosto dele ainda, fazer o quê? Não posso mandar no meu coração e sei que ele ainda bate pelo Chris.
— Na verdade, seu coração bate porquê é a função dele — digo, encarando a loira que revira os olhos.
— Você me entendeu — bufa, impaciente. — E sobre o beijo, não foi nada demais. Selinho deveria ser considerado um cumprimento.
— Ah, é?
— É algo tão simples, por que não? — Sarah dá de ombros ao pararmos em frente ao carro de Scott.
— Por que nunca me cumprimentou assim, então? — O loiro tem um sorriso malicioso nos lábios e minha melhor amiga não está muito diferente dele.
— Posso resolver isso agora mesmo.
Arregalo os olhos, sentindo meu coração martelar contra as costelas. O ritmo é doloroso e sinto meu estômago dar voltas enquanto assisto Sarah Herrera dar alguns passos até meu melhor amigo. Ela se coloca na ponta dos pés, erguendo-se até que seus lábios raspem levemente nos de Scott. Sinto uma sensação terrívelmente desconfortável atingir meu corpo, mas tento não demonstrar. Os dois caem na gargalhada, dizendo algo como "prefiro ficar apenas no aperto de mão". Nem mesmo isso diminui o incômodo que queima gradativamente meu peito.
Me acomodo no banco do passageiro, colocando o cinto de segurança e repousando minha cabeça na janela. Sarah e Helena murmuram algo sobre as festas das fraternidades, mas não faço questão de fazer parte do assunto. Fecho meus olhos, concentrando-me na música do Queen que soa baixinha no rádio. Scott Summer aumenta um pouco o volume, começando a dirigir.
— Hoje é o seu dia de escolher o lugar que vamos comer — a voz do loiro sobressai a música e o falatório das minhas amigas, mas continuo de olhos fechados. — Dormiu? — Sinto seu dedo dar um peteleco suave em minha orelha, mas me mantenho imóvel. — Certo. Sarah, escolhe.
Como esperado, minha melhor amiga sugere o Made's Burger. Permaneço com as pálpebras fechadas até chegarmos lá. A verdade, é que estou tentando decifrar o misto de angústia e desapontamento que ronda meu coração neste momento.
Ele é solteiro.
Ela também.
Não há motivos para ficar assim, certo?
Errado. Meu coração dolorido responde, mas o ignoro como sempre.
Encolho-me sobre o colchão macio da minha cama, soltando uma lufada frustrada de ar. São três horas da madrugada e eu ainda não consegui dormir. Sinto algo me incomodar, mas não faço ideia de como resolver esse sentimento angustiante que vagueia pelo meu corpo. Tento forçar meu subconsciente a não se importar com isso, mas as fagulhas de ciúmes perpassam meu coração em um aviso indolente de que não irão embora tão cedo.
Ciúmes.
Levanto em um ímpeto, sentindo raiva e uma inquietação fora do normal. Sinto meu corpo suar frio, implorando por um segundo banho para dispersar toda essa tensão que não me deixa dormir. Caminho até meu banheiro, fechando a porta atrás de mim e retirando meu pijama felpudo de coala. Ligo o chuveiro, ajustando a temperatura da água de morna para quente. Puxo a cortina que separa o box do restante do banheiro, me permitindo um momento relaxante e particular.
Fecho meus olhos, entrando debaixo dos jatos quentes e constantes de água. Amparo minha testa nos azulejos brancos, pegando minha esponja lilás e colocando um pouco de sabonete líquido. Começo a esfrega-lá em meus braços, subindo até minha clavícula e seguindo o percurso até meu pescoço. Meu corpo, aos poucos, começa a relaxar. Ainda assim, sinto meu interior arder. Estou ardendo de ciúmes. Lembro-me do selinho que Sarah deu em Scott e, embora não se compare com o beijo que nós demos naquela noite, me afeta de alguma forma. Solto a esponja no chão ao arranhar minha pele acidentalmente pela força imposta, trocando o objeto pelas minhas próprias mãos.
Meus pensamentos me guiam até o dia vinte e sete de dezembro, relembrando os apertos firmes de Scott em meu corpo e sua língua ávida dentro da minha boca. Involuntariamente, apalpo meus seios e comprimo meus lábios, soltando um ruído gutural. Aperto minhas pálpebras, querendo que a memória evapore. Porém, ela se torna ainda mais nítida e fresca. Massageio meu couro cabeludo, lembrando do toque firme de Scott Summer na região. Desço vagarosamente meus dedos entre a fenda dos meus seios, passando o indicador em movimentos circulares sobre o mamilo saliente. Minha pele se arrepia e uma onda de prazer serpenteia meu corpo até o meio das minhas pernas. Continuo deslizando meus dedos até minha barriga, apreciando cada sensação que estou me proporcionando. Aperto gentilmente a carne macia de minha cintura, no ponto específico onde ele tocou aquela noite. Umedeço os lábios, descendo minha mão até a virilha. De repente, abro meus olhos e cesso os movimentos.
— Merda, merda! — Murmuro, sacudindo a cabeça. — Não posso fazer isso pensando nele.
Você tem a capacidade de se masturbar pensando em qualquer pessoa. Se Scott Summer está em seus pensamentos, é porque você quer que ele esteja. Minha consciência alerta.
Inferno!
Engulo em seco, fechando meus olhos novamente. Já fiz isso algumas vezes – a primeira foi com Logan Lee, meu ex-namorado. Não cheguei a gozar, pois naquela época, o moreno só estava preocupado com seu próprio prazer. Ao chegar em casa, terminei o serviço por conta própria. Estava envergonhada, mesmo estando sozinha em meu quarto. Tentei deixar o ambiente o mais confortável possível e, quando isso finalmente aconteceu, eu me toquei pela primeira vez.
Estranhei no início, mas depois foi incrível conhecer cada cantinho do meu corpo. Descobri pontos que me levaram à loucura e me deixaram pisando em nuvens, coisa que Logan não me proporcionou em nenhum momento.
Scott Summer volta aos meus pensamentos, me induzindo a pressionar o ponto pulsante entre minhas pernas. Quando o faço, aperto meus lábios para não gemer.
— Meu Deus! — Sibilo ao deslizar meu dedo anelar nas paredes internas da minha boceta. Estou extremamente molhada apenas com a lembrança do nosso beijo. Céus!
Com movimentos circulares massageio meu clitóris, enquanto insiro outro dedo dentro de mim. A imagem de Scott é tão nítida em minha mente, que quase esqueço que sou apenas eu mesma me proporcionando esse momento de prazer. Imagino seus lábios deslizando em meu pescoço, seus dentes mordiscando o lóbulo da minha orelha e sua língua delineando cada centímetro do meu corpo.
Aumento a velocidade dos movimentos quando sinto a excitação pressionar meu ventre. Arfo, fisgando meu lábio inferior ao me desmanchar embaixo do chuveiro. Tombo a cabeça para trás, tentando recuperar o fôlego. As ondas de prazer ainda ondulam meu corpo e a água que cai do chuveiro causa um leve desconforto em meu ponto extremamente sensível.
Evito abrir os olhos pelos próximos minutos que se estendem, sem acreditar no que fiz.
Capítulo saiu adiantado pois mais
tarde não terei como postar! ❤️
Deus tá vendo você não me seguir lá no Instagram 👀. Posto spoilers e um monte de conteúdo legal, quem já me segue lá tá de prova!
(@grasielebooks)
Sobre essa última cena da Ana... 🤡
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