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Cinco

“Você sempre sorri, mas a tristeza
se revela em seu olhar.”
Mariah Carey | Without You

08 de outubro de 1997,
quarta-feira.

          A chuva cai como nunca ao lado de fora da minha janela. Estou travando uma batalha interna comigo mesma, entre colocar o despertador para tocar daqui cinco minutos ou levantar de uma vez por todas e me vestir. Quando estou prestes a escolher a primeira opção, meu celular berra seu toque ensurdecedor por todo o meu quarto. Reviro os olhos, estendendo minha mão até a mesa de cabeceira e pegando o aparelho.

— Alô? — Atendo, a voz embargada pelo sono.

Bom dia, minha filha — a voz do meu pai preenche o outro lado da linha. — Preciso conversar com você.

Arregalo os olhos de uma só vez, dissipando totalmente o sono que me abraçava como um casaco quentinho de lã.

— Hãn... tá, tudo bem. Quando?

Agora. Passo aí daqui quinze minutos. Amo você — e desliga.

Pisco repetidas vezes, encarando o celular em minhas mãos. Eu fiz algo errado? Provavelmente não, mas esse pensamento não tira a pontada de ansiedade em saber do que essa conversa se trata.

Me arrasto para fora das cobertas, calçando meus chinelos cor-de-rosa e rumando até o banheiro. Cerca de dez minutos depois, estou descendo as escadas de mármore branco, já vestida e com a mochila amarela nos ombros. Debaixo do lance de escadas, minha mãe está sentada no pequeno sofá que ela denominou de "cantinho do relaxamento". Uma luz fraca está sobre ela, iluminando o jornal em suas mãos.

— Bom dia, Ana — me cumprimenta, sem retirar os olhos do jornal. — Tem bolo de chocolate na cozinha.

— Meu pai vai vir aqui me buscar — agora sim ela me encara. — Vou pedir para ele comprar algo no caminho.

— Ele disse o que queria?

— Conversar — dou de ombros, indo até a geladeira e pegando uma garrafa de água. O líquido gelado faz meus dentes congelarem. Faço uma careta, ouvindo uma buzina ecoar por toda a minha rua. — Nos vemos no trabalho — passo por minha mãe, dando um beijo estalado em sua bochecha. — Te amo.

— Boa aula, eu amo você — retribui o gesto, tomando cuidado para seu batom não borrar a minha bochecha.

Ao sair de casa, corro até o carro do meu pai estacionado na rua, sem conseguir escapar das grossas gotas de chuva que caem desesperadamente do céu. Assim que adentro o veículo, sou recebida pelo ar quentinho que preenche o local.

— Bom dia, filha.

— Bom dia — cumprimento, dando um beijo em sua bochecha. — Então, eu fiz algo errado?

Meu pai sorri, ligando o carro e saindo do ponto morto.

— Eu que lhe pergunto. Você fez? — Ele me encara de soslaio, um sorriso se estampando em seus lábios.

— Juro para você que não — levanto as mãos em rendição, colocando o cinto em seguida. — O que foi?

— Lembra que eu comentei um tempo atrás com você, sobre uma mulher que eu estava saindo? — Indaga, parando no sinal vermelho. Calmamente, faço que sim com a cabeça. — Então, essa semana eu decidi que estava na hora de dar o próximo passo — hum, okay. Acho que sei exatamente o caminho que essa conversa irá tomar. — Adele veio morar comigo semana passada — revela. — E nós iremos casar ano que vem.

A segunda revelação me pega totalmente desprevenida. Tanto é, que um ruído atônito escapa por entre meus lábios.

— Sério? — Indago, completamente surpresa. — Mas vocês se conhecem há quanto tempo?

Meu pai sorri fraco, agora parecendo um pouco encabulado.

— Somos amigos há um ano, Ana. Conheci ela em uma das reuniões da One Enterprise Fashion — comenta, voltando a dirigir. — Começamos a conversar algumas semanas depois.

— Mamãe conhece ela? — Pergunto, concentrada na palheta que vai de um lado para o outro, limpando a água da chuva que cai no para-brisa.

— De vista, eu acho — dá de ombros. — Ela foi fotografar a coleção de primavera no meio desse ano.

— Minha mãe já sabe disso?

Robert solta um suspiro, relaxando os ombros.

— Os únicos assuntos que envolvem sua mãe e eu, são os assuntos da OEF e coisas relacionadas a você. Fora isso, não devemos satisfações um para o outro.

Afundo ainda mais no banco, cruzando os braços. Não estou com raiva do papai, muito menos de sua noiva. Porém, alguma parte minúscula dentro de mim ainda torcia para que a gente voltasse a ser uma família tradicional. Agora, qualquer resquício de esperança que me restava, virou pó.

— Você está chateada? — Pergunta, após alguns minutos em silêncio.

— Eu ainda tinha esperanças que você e a mamãe... sabe? Que o casamento de vocês ainda tinha alguma salvação — confesso.

Meu pai para o carro em frente ao Snowdalle Coffee & Tea, soltando o cinto de segurança e me encarando com compreensão.

— Quando nós morávamos juntos, você via a sua mãe ou eu sorrir? — Questiona, fixando seus olhos azuis nos meus. — Verdadeiramente?

Deixo um suspiro derrotado escapar ao responder:

— Não.

— Sua mãe está muito mais feliz agora, e nem estou chutando. Eu vejo isso. Amei a Marina com todas as minhas forças e ainda a amo, mas não de um jeito romântico. Eu amo a amizade que temos, a mulher trabalhadora e, principalmente, a mãe incrível que é para você — mordo minhas bochechas internamente, tentando engolir o nó que aperta minha garganta. — Eu não queria ser egoísta, sabe? Não queria prender sua mãe em um casamento infeliz, sendo que somos novos ainda e tem um mundo de oportunidades bem na nossa frente. A gente se deu uma chance de ser feliz novamente, uma chance de conhecer o amor outra vez.

Pisco, sentindo lágrimas quentes escorregarem em minhas bochechas. Meu pai se aproxima, limpando-as com o polegar.

— Não quero que fique chateada, muito menos com raiva de mim...

— Eu jamais ficaria com raiva de você — interrompo, minha voz completamente falha.

— Sei como você está se sentindo. Eu fiquei do mesmo jeito quando sua avó me contou que o seu avô estava indo embora de casa — Robert solta uma risada contida, parecendo viajar em lembranças distantes. — Mas eu tenho um segredo pra te contar.

Sorrio, fungando.

— Qual?

— Tudo nessa vida se supera. Até mesmo a separação dos pais.

Sorrio ainda mais quando ele toca a pontinha do meu nariz, aproximando o rosto e depositando um beijo carinhoso em minha testa.

— Você não tomou café, certo?

— Não. Estou com fome.

— Cappuccino e muffins? — Pergunta, abrindo a porta do carro.

— De chocolate, por favor.

Assisto meu pai correr na chuva até a cafeteria, abrindo a porta e permitindo que uma mulher com um bebê entre primeiro. Analisando-o daqui, sinto meu coração se expandir de amor e orgulho. Eu tenho um pai maravilhoso, uma mãe incrível e pais fenomenais. Tenho a melhor família desse mundo, mesmo que bagunçada, mas eu tenho.

Estou parada em frente à casa de Scott Summer – bem, dos pais dele –, prestes a tocar a campainha e lhe dar um soco na cara. Claro, se quem atender for ele. Quando saímos da Musical Records ontem, Scott anotou o endereço de sua casa em uma folha de papel e me entregou, dizendo que estaria disponível das seis até às oito horas da noite. Eu tive que fazer um malabarismo inteiro para descobrir algum ônibus que passasse aqui perto, já que minha dupla detestável nem se ofereceu para ir me buscar no trabalho.

Babaca.

Porém, mesmo com meu malabarismo todo, acabei pegando o ônibus errado. A casa fica praticamente no fim da cidade e o ônibus só foi até uma certa parte – até quatro quadras antes da rua de Scott.

E sabe o pior?

Ainda está chovendo. Muito.

No que isso resultou?

Em uma Anastásia completamente encharcada, que está espirrando à cada dois passos que dá. Além, de claro, estar banhada por um barril de puro ódio. Esse filho da mãe me paga!

Quando estou prestes a tocar a campainha, a porta se abre, revelando uma garota extremamente deslumbrante. Seus cabelos são castanhos e chegam até o final de suas costas, emanando um cheiro gostoso de flores. Apesar de seus olhos estarem um pouco sem brilho – creio que pelo sono –, consigo ver duas esmeraldas reluzentes.

Okay. Acho que estou na casa errada.

— Hãn... desculpa, eu acho que errei de... — minhas palavras morrem no ar, assim que observo uma movimentação atrás da garota peituda em minha frente.

— Quem é? — A voz se aproxima e, logo em seguida, Summer está em meu campo de visão. — Ah, oi — ele sorri. — Como é que vai?

Pisco, incrédula. Encaro o carpete puído de boas-vindas sob meus pés, me certificando se meu queixo não caiu no chão. Por sorte, ainda está no mesmo lugar.

— Eu ligo pra você, linda. Agora tenho alguns trabalhos para fazer — Scott sorri para a menina, que retribui o gesto e lhe beija os lábios.

Viro o rosto para o lado, tentando não me sentir enojada diante da cena. Quando a garota finalmente vai embora, correndo até um carro branco estacionado do outro lado da rua e sumindo do meu campo de visão, meu punho se fecha no estômago de Scott. Ele se contorce, me dando espaço para entrar.

Porra, Walker! — Esbraveja, fechando a porta. — Qual é o seu problema?

Você é o problema! Você sempre é o problema.

Se recuperando, Scott me olha com certo desdém. Ele passa as mãos nos cabelos bagunçados, ajeitando a camiseta preta em seu corpo logo em seguida. O loiro me analisa dos pés à cabeça, unindo as sobrancelhas.

— Você está molhada?

— É OL.

OL? — O vinco em sua testa se aprofunda ainda mais.

— Novo elemento da tabela periódica. Ódio Líquido por você transpirando dos meus poros — sorrio sarcástica ao vê-lo revirar os olhos, zombeteiro. — Eu peguei o ônibus errado, ele me largou a quatro quadras antes da sua.

— Hum, que triste — um sorriso contido se inicia no canto de sua boca, se alastrando pelo restante de seus lábios até seus dentes estupidamente brancos aparecerem. — Eu até ia te buscar no seu trabalho, mas não posso recusar um bom par de peitos.

Lhe dou outro soco, desta vez, no ombro. Ele alisa a parte atingida, bufando.

— Primeiramente, se vamos fazer esse trabalho, ele tem que ser muito bem feito e organizado — aponto para a porta. — Isso significa que eu quero chegar aqui e te encontrar sozinho e, de preferência, sem feder a sexo.

— A casa não é sua, ruiva — debocha. — Não pode ditar regras justamente para mim.

— Claro que não, mas exijo compromisso. Se você marcou comigo às seis, tem que me esperar às seis. Suas fodas podem esperar o dia seguinte, nosso trabalho não. A não ser, claro, que você queira repetir o último ano outra vez.

O loiro cerra os dentes, apertando as pálpebras com a ponta dos dedos. Respirando fundo, ele murmura:

— Vamos acabar logo com essa merda — passa por mim, adentrando ainda mais na casa. — Na sala ou no meu quarto?

— Na sala — respondo inocentemente, mas o sorriso de Summer só evidência o quão suja é sua mente. — Ah, pelo amor de Deus, Scott!

— O que foi? Só estou sorrindo — levanta as mãos em rendição, caminhando de costas. — Não tenho culpa se seus pensamentos são impuros.

— De impuro aqui só tem você — bufo, largando minha mochila no chão da enorme sala. — Aatchimm!

Coloco o braço em frente ao meu nariz a tempo, sentindo meus olhos marejarem pelo espirro. Me viro em direção a Scott, vendo-o arquear as sobrancelhas e assumir uma expressão séria no rosto ao dizer:

— Nós não precisamos fazer o trabalho hoje — comenta, seriamente. — Posso te levar pra casa.

Nego com a cabeça rapidamente, dispensando a oferta.

— Estou legal, é apenas um resfriado — garanto. — Vamos iniciar o trabalho hoje.

Dou um passo para trás quando Scott se aproxima subitamente, levando sua mão grande e gelada até minha testa. Estremeço com o contato, me questionando se ele passara a tarde toda com essa maldita mão no congelador.

— O que pensa que está...

Porra, Anastásia — interrompe, indignado. — Parece que o inferno se mudou para a sua testa.

Uno as sobrancelhas, tocando minha própria pele. Realmente, a temperatura está um pouco fora do normal. Dou de ombros, como se não fosse nada de mais. Até porque não é nada de mais.

— Eu não estou morrendo.

— Mas está ficando doente! — Exclama, parecendo... preocupado? Não. Só pode ser um delírio da minha cabeça.

— E desde quando você se importa? — Questiono, levantando uma de minhas sobrancelhas.

— Eu posso te odiar, ruivinha — sorri de canto. — Mas não sou tão ruim quanto pareço.

Abro a boca para revidar.

Uma. Duas. Talvez três vezes, mas nada sai.

— Nós vamos... Aatchimm! — Fungo, secando as lágrimas que escapam pelos meus olhos. — Começar esse trabalho hoje! Quanto menos tempo eu olhar pra essa sua cara, melhor.

— Mais um defeito pra lista — Scott cantarola, caminhando em direção às escadas de mármore. — Ingrata.

Cruzo os braços, apertando os cílios em sua direção. Se meu olhar fosse capaz de queimá-lo vivo, com certeza o loiro estaria derretendo no chão neste exato momento.

— Tudo bem, vamos fazer esse trabalho hoje. Porém, eu preciso passar em um lugar antes. Você vai comigo — aponta em minha direção, subindo as escadas ao completar: — Vou pegar alguma coisa limpa e seca para você vestir.

Suspiro, encarando o cômodo em que estou. Mal reparei em sua casa quando entrei, mas olhando agora, posso afirmar que a pessoa que decorou tem um ótimo bom gosto. As paredes são de um tom claro, os sofás são marrons e o tapete felpudo é bege. Me pergunto se o quarto de Scott é tão limpo e organizado quanto esta sala.

Meus olhos são atraídos até a estante, onde algumas fotos P&B estão emolduradas em porta-retratos. Me aproximo, pegando um. Analiso Kennedy Summer segurar uma versão pequena de Scott nos braços. O bebê era risonho, exibindo um total de zero dentes na boca. As bochechas eram gordinhas, assim como suas mãozinhas e seus pezinhos.

Sorrio, pois tenho uma foto parecida com esta no meu quarto. Papai me segurava com cuidado, transbordando felicidade em forma de lágrimas pelos olhos. Eu era tão gordinha quanto Scott, e tinha um sorriso tão radiante quanto o dele.

É impossível não me lembrar da conversa de mais cedo e...

— Aqui — dou um sobressalto, balançando a cabeça para afastar os pensamentos. Coloco a foto no mesmo lugar e me viro para encarar Scott. Ele colocou uma calça jeans e a sua jaqueta de couro. — Talvez fique um pouco grande.

O loiro me atira as roupas secas, se dirigindo até o sofá marrom em seguida.

— Onde fica o banheiro? — Pergunto, analisando-o se deitar e colocar as mãos atrás da cabeça.

— Ah, por que não se veste aqui? — Questiona com um sorriso perverso brincando em seus lábios.

— Deixo essa para a garota que saiu daqui alguns minutos atrás — aponto com o polegar para o hall de entrada.

— É uma pena — faz bico, passando a língua nos lábios logo em seguida. — Eu iria apreciar muito o show.

Pisco, incrédula. Por algum motivo, sinto a necessidade imensa de tomar um grande gole de água. Minha boca seca, dando a sensação de que acabei de lamber o deserto inteiro. A roupa molhada e grudenta no meu corpo me traz um aviso de que eu preciso me trocar, antes que esse resfriado se transforme em algo pior. Portanto, pigarreio, forçando minhas cordas vocais a funcionarem.

— Banheiro...?

— Segunda porta, ao lado da escada — aponta, colocando uma almofada marrom sobre o rosto.

Sigo suas instruções, entrando no banheiro e encarando meu reflexo no espelho; rosto vermelho, olhos sem brilho e cabelos completamente emaranhados. Solto uma lufada de ar, pegando o elástico preso em meu pulso e prendendo meus fios ruivos em um rabo de cavalo bagunçado. Em seguida, tiro minhas roupas úmidas o mais rápido possível, vestindo a camiseta preta enorme e a calça de moletom larga de Scott. Dou uma última conferida na minha aparência acabada, voltando para a sala.

Scott tira a almofada do rosto ao notar minha movimentação guardando as roupas molhadas na mochila. Seus olhos me examinam cuidadosamente e um meio sorriso desenha seus lábios avermelhados.

— Não ouse falar nada — levanto o dedo indicador, dispensando seus comentários idiotas.

— Qual é? Eu ia te elogiar — levanta as mãos em defesa, se sentando no sofá e acrescentando: — Mas já que você não sabe lidar com isso, está parecendo um saco de batatas.

Pego uma almofada marrom sobre o sofá, atirando-a no garoto tatuado que tem um sorriso divertido no rosto. Sorrio quando lhe acerto a cabeça em cheio.

— Certo. Onde nós vamos?

— Tenho que... — Scott se levanta, pensativo. — Pagar umas contas para o meu pai — sorri, balançando as chaves em seu indicador.

Estreitando os olhos em sua direção, acabo lhe seguindo pela casa até uma porta branca perto da cozinha. A garagem é grande, mas está abrigando apenas seu carro vermelho com duas listras brancas no capô. Não sou muito boa em decorar modelos de carros, mas tenho certeza que este é um Mustang GT-350.

Scott destrava as portas, se acomodando atrás do volante. Entro logo em seguida, batendo a porta do passageiro um pouco forte demais. Está aí uma das maiores humilhações da humanidade: passar vergonha ao lacrar a porta do carro e passar vergonha por não conseguir fechar a porra da porta de primeira.

— Você quer matar a Shelby?! — Scott arqueia as sobrancelhas, parecendo verdadeiramente irritado.

— Quem?

— A Shelby, meu carro — pisco algumas vezes, explodindo em uma gargalhada logo em seguida.

O loiro revira os olhos, dando ré no carro. A chuva lá fora está cada vez mais intensa, anunciando que o outono havia chegado para ficar. Scott liga o para-brisa, afastando as gotas grossas de água que insistem em cair do céu nublado. Após alguns minutos em silêncio, a voz do loiro preenche o carro.

— Qual é o seu lance na One Enterprise Fashion? — Pergunta, casualmente.

— Marco reuniões, ligo para as fábricas para pedir material — dou de ombros. — Não é nada demais, na verdade, é bem entediante.

— Você queria estar confeccionando, então? — Seus olhos repousam em mim por um segundo, curiosos.

— Também não — nego com a cabeça, observando a estrada praticamente vazia. — Não curto muito esse lance de moda. Não é a minha praia.

— Então qual é a sua praia, Anastásia Walker? — Ele sorri ao parar em um semáforo, despejando toda a sua atenção em mim.

— Posso saber o motivo do interesse repentino? — Cruzo os braços, desconfiada.

— Só estou curioso.

Aperto os cílios em sua direção, torcendo os lábios. Mesmo hesitante, respondo sem lhe encarar:

— Pretendo cursar Medicina Veterinária — revelo, mexendo em meus próprios dedos. — Gosto de lidar com animais, apesar de não ter nenhum.

— Já teve algum?

— Um gato — sorrio com a lembrança. — O nome dele era Harry. Ele tinha o pelo todo preto e os olhos verdes.

— O que aconteceu com ele? — Meu coração se aperta com a pergunta. Apesar de fazer muito tempo desde o ocorrido, ainda sinto falta do meu gato.

— Eu me descuidei e deixei a porta da frente aberta, ele escapou e atravessou a rua. Um carro veio e… bem, você já deve saber o final da história.

— Sinto muito — lamenta.

— Eu tinha doze anos na época, já faz tempo — suspiro, escorando meu cotovelo na janela. — Depois desse dia, eu decidi que queria salvar os animais.

— Seus pais não pegaram no seu pé por isso? — Indaga, voltando a dirigir assim que o sinal fica verde.

— Não, por que pegariam? — Uno as sobrancelhas, lhe observando dessa vez e, ao julgar pela sua feição séria e tensa, aposto que fora exatamente isso que acontecera com ele e seus pais. — Meus pais sempre me apoiaram nessa questão de fazer o que eu realmente gosto. Eles sofreram muito no passado, seguindo profissões que detestavam até fazerem o que realmente amavam — sorrio sem desgrudar os lábios, nostálgica. — E você? Trabalha no quê?

Scott demora a me responder, parecendo completamente imerso em um mundo só dele. Seus músculos faciais ainda estão tensos, evidenciando o quão incomodado está com o assunto. Quando estou prestes a desviar o olhar para a janela e entender a conversa como encerrada, ele responde:

— Consegui um trabalho no Red Snakes. Um bar perto da New Blizzard University, quase no fim da cidade.

— Já ouvi falar. Você já tem vinte e um? — Scott sorri, a tensidade evaporando dentro do automóvel aos poucos.

— Não — dá de ombros. — Mas ganho bem para servir os universitários. O dono do bar não parece se preocupar com o fato de que um policial pode entrar lá e prender ele por vender bebidas alcoólicas para menores. Além do mais, ganho cerveja de graça — pisca em minha direção.

— Você não pensa em trabalhar com o seu pai?

— Não é a minha praia, literalmente — concordo com a cabeça, percebendo que ele acabara de estacionar em frente ao shopping da cidade.

— O que estamos fazendo aqui?

— Pagar a conta, ruivinha. Esqueceu? — Sorri, soltando o cinto. — Me espere aqui, eu não demoro.

Scott Summer salta do carro, fechando a porta e correndo até a entrada para escapar das gotas de chuva. Pelos próximos quinze minutos, tamborilo os dedos em meus joelhos, até que a porta do motorista é aberta e o loiro larga duas sacolas brancas no banco de trás.

O caminho de volta é feito em silêncio.

Scott abre a porta da garagem, adentrando a cozinha e largando as sacolas sobre a bancada de granito. Ele se abaixa em frente ao balcão, retirando uma panela de dentro de um dos armários. Em seguida, abre um pacote de pipocas da sacola e despeja o milho alí dentro. Arqueio as sobrancelhas.

— O que você tá fazendo? — Seus olhos pairam sobre mim, um brilho divertido dançando em suas íris azuis.

— Nós não vamos fazer o trabalho hoje. Vamos assistir um filme — revela, colocando azeite na panela. Antes que eu consiga lhe fuzilar com uma resposta afiada, ele interrompe: — E nem adianta fazer birra e cruzar seus braços em frente ao corpo. Isso pode até funcionar com os seus pais, mas comigo não cola.

Abro a boca, mas volto a fechá-la umas três vezes. Penso em pegar minha mochila e dar o fora daqui o mais rápido possível, mas meus pés se fixam no chão de uma maneira quase inacreditável. Reviro os olhos, me sentindo incomodada com essa aproximação repentina.

Primeiro no carro, agora estamos prestes a assistir um filme juntos?

— Você prefere pipoca doce ou salgada? — Questiona, como se estivesse tudo ok nisso. Relutante, respondo:

— Doce — suspiro, me dando por vencida. — Qual filme vamos assistir?

— Aluguei três na locadora do shopping — Scott coloca a panela no fogão, ligando o fogo e voltando seus olhos para mim. — O Rei Leão, caso você tenha a alma de criança ainda. Sexta-Feira 13, porque é meu filme favorito e, claro, Titanic. Caso você seja uma romântica incurável.

— Não curto muito essas baboseiras de romance — faço careta, me debruçando sobre a bancada.

— Ah, não? E por quê? — Parece curioso agora, enquanto retira uma caixinha de leite condensado da sacola.

— Depois de tudo que eu passei, continuar acreditando nesse sentimento me parece... — desvio o olhar, engolindo em seco. — Estúpido.

Scott me encara por alguns segundos que quase julgo beirar a eternidade. Quando finalmente pisca, um sorriso contido surge em seus lábios.

— Achei que era a sua praia livros e filmes de romance — dá de ombros. — Ou que você chorava assistindo Titanic.

— Já foi, há algum tempo. Pode acreditar, os personagens dos livros são sempre tão perfeitos, tão... irreais. O garoto nem sempre é bom e a mocinha nunca é tão perfeita na realidade. Assim como o casal principal nem sempre termina bem — balanço meus ombros, acrescentando: — Eu nunca choro vendo filmes, a vida real já é trágica o bastante.

— Não sei se esse seu pensamento me assusta ou me surpreende — solta uma leve risada, sem que eu perceba, acabo fazendo o mesmo. — Mas concordo com você.

— Será que estou mudando seus pensamentos sobre mim?

— Talvez — sorrindo, ele se vira de costas e começa a preparar a cobertura da pipoca.

O restante dos preparos fora feito em silêncio, até irmos para a sala com duas bacias de pipoca; uma doce e a outra salgada, e dois copos transbordando refrigerante — além de uma xícara com chá de laranja para mim.

Não gosto da idéia de me manter perto de Scott Summer. O cara exala problema onde quer que passe. Não duvido nada que por onde caminhe, deixe uma trilha de destroços como uma maldita tempestade. Pois, apesar de manter a pose neutra e disfarçar seu interior com piadinhas fúteis, eu vi suas íris azuis.

E elas transmitem qualquer coisa, menos paz e segurança. Porém, elas também me passam uma sensação; familiaridade. Porque, apesar das inúmeras diferenças entre nós dois, eu tenho certeza de uma coisa:

O coração dele é tão fodidamente quebrado quanto o meu.

Ai, eu amo a amizade que eles criam nesse livro e esse capítulo é o pontapé inicial pra essa fase incrível acontecer!

Não esqueça de deixar sua estrelinha e o seu comentário, isso me ajuda e me motiva muuuitooo!

Vou deixar uma dedicação especial ao meu gatinho que infelizmente faleceu no mês passado, um pouco antes de eu concluir essa história. Amo você, hoje e sempre.
🐱❤️

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