𝟭𝟯. 𝗼 𝗽𝗼𝗻𝘁𝗼 𝗱𝗲 𝘃𝗶𝘀𝘁𝗮 𝗱𝗲 𝗘𝗹𝗹𝗶𝗼𝘁
․⚬་◦➣ O PONTO DE VISTA DE ELLIOT.
ELLIOT ESTAVA CANSADO. Não no sentido literal da coisa, mas cansado de interagir com pessoas que não davam a mínima para como ele se sentia. Dean era potencialmente indiferente com ele, assim como Ravena. Raphael o odiava ─ o que era, em partes, recíproco. E Sam estava distante. Eles estavam juntos há pouco mais de duas semanas, e o período de adaptação estava sendo uma grande merda. Isso porque ele não sabia ao que deveria se adaptar.
Talvez à nova realidade repleta de monstros? Ou ao fato de correr risco de vida? Talvez a alternativa de ter poderes que poderiam ser controlados, ou que controlariam ele? Seja qual fosse, ninguém parecia estar realmente se importando. Com exceção de Sam, mas ele tinha saído com Dean em um caso e agora, toda a questão emocional de suas habilidades caíram nas costas de Ravena, que mal sabia ensinar sobre a prática de seus poderes.
E agora ele tinha que passar pelo processo torturante de se tornar um aluno mais uma vez, entrando em uma sala larga que ele apelidou de "O Treinamento". Sim, ele deu nome a uma sala.
─ Está atrasado. ─ Ravena pontuou assim que ele entrou. Ela estava de costas para o Adams, enrolando fitas brancas nas mãos como se fosse uma boxeadora se preparando para um treino.
Ele nunca entendeu porque ela fazia isso.
─ Sete minutos.
─ É assim que começa, não é? ─ Ela se vira, o rosto sério, e se aproxima do centro do ambiente. ─ Vem aqui.
Ele obedece, mesmo que a contragosto.
─ Dormiu bem?
─ Por que quer saber?
─ Vou interpretar como um "sim".
Claro, Elliot pensou, segurando a vontade de revirar os olhos. É claro que você nem ao menos vai fingir se importar.
─ Vou pedir uma coisa para você hoje. ─ Ela então se senta no chão, em posição de flor de lótus, e espera paciente até que ele faça o mesmo. ─ Bota pra fora.
─ O que?
─ Sua raiva. Ou tristeza. Ou ansiedade.
Ele a encarou com suspeita. Aquela mulher devia ser maluca se acreditava que ele ia falar sobre seus sentimentos de luto com ela.
─ O que? Acha que isso vai alterar o fato de não termos progredido em cinco por cento nos treinos? ─ Agora ele revira os olhos.
Ela sorri de novo. De alguma forma, isso o deixa maluco.
─ Adams, você pode ser uma pessoa sarcástica e mal-humorada, ou apenas está agindo como tal. Eu não faço ideia de qual situação se encaixa no seu caso, porque eu não te conheço.
─ Não é assim que Sam faz os treinos. ─ Ele resmunga, implorando para que alguém interrompesse tudo aquilo. Talvez Raphael. Ele sabia que os dois irmãos estavam estranhos um com o outro, e se o Blackburn aparecesse, ela perderia essa pose de coach e ficaria tão emburrada quanto Elliot. E honestamente? Seria um pouco divertido ver ela se perder nessa personagem que resolveu fingir com ele.
─ Então como ele faz?
─ Vai mesmo insistir nisso? ─ Ele arqueia apenas uma sobrancelha. Ela assente com um único aceno com a cabeça. Ele suspira. ─ O Sam só... Ele parece entender o que eu tô passando. Ele não usa as habilidades dele há muito, muito tempo, mas ainda sabe descrever cada sensação que ela causa, e eu me identifico com isso. Ninguém aqui parece realmente se importar com tudo isso, mas ele é diferente. Ou pelo menos, ele atua melhor que o resto.
─ Cruel. ─ Ravena cutucou as unhas, depois olhou para ele. ─ Mas é verdade. Acho que todo mundo está sendo meio escroto com você desde que chegou. Sinto muito por isso. Não acho que exista alguma justificativa para o modo como menosprezamos você.
Elliot estala a língua no céu da boca. Ele esperava por tudo naquele momento, menos isso. Achava que Ravena era o tipo de mulher arrogante e egocêntrica que negaria qualquer erro que cometesse. Isso porque, na cabeça dela, ela não cometia erros.
─ O que está pensando? ─ Ela pergunta, tirando-o de devaneios.
─ Não achei que se importaria em ter essa conversa comigo.
─ Olha, eu não posso dizer que sei exatamente pelo o que você está passando, mas talvez eu entenda um pouco. Pelo menos um pouquinho. ─ Ela indica uma quantidade minúscula com os dedos indicador e polegar, e o Elliot acaba sorrindo no processo. ─ Essa vida é uma merda. De verdade. Não vou tentar te enganar quanto a isso. Caçadores vivem menos, a maioria deve ter uma alimentação terrível e nunca podemos nos fixar em um lugar. Não podemos ter uma família, ao menos que o parceiro seja tão fodido quanto a gente. E não temos um salário, ou benefícios, ou um seguro de vida... Meu Deus, é realmente uma merda.
Elliot ri. Poderia ser pela sinceridade dela, ou pelo fato de ela estar tentando ser comunicativa, ou tentando ser positiva enquanto citava o que só poderia ser um castigo kármico que eles chamavam de vida... Mas ela parecia tremendamente humana. Assim como Sam. E isso dava a ele a esperança de que talvez o de olhos azuis não fosse um monstro. Só alguém que cometeu um grande erro.
─ Mas se serve de consolo, Dean me contou que todos os caçadores têm passe livre para o céu.
─ Isso existe?
─ Segundo ele, sim. Ele e Sam já passaram por isso algumas vezes, eu acho.
─ Eles já morreram? ─ Elliot indaga, esticando o pescoço e demonstrando curiosidade.
─ Aparentemente, sim. ─ Ela balança a cabeça, parecendo muito tranquila enquanto falava de uma das maiores anormalidades presenciada em vida.
─ Então são mortos-vivos?
─ Eles têm amigos no Céu. E no Inferno. Então provavelmente tiveram uma mãozinha para retornarem pra cá. Eu sei que é bizarro, mas é melhor só acreditar.
─ Entendi.
Ele parece pensar um pouco. Estava esperando para ver se ela diria algo, mas a morena parecia muito confortável com o silêncio... Diferente dele.
─ Então por que vocês são caçadores? ─ Ela o olha com certa melancolia. ─ Digo, se é tão ruim assim...
Ravena o interrompe: ─ Não temos muita escolha, Elliot. Eu fui adotada por uma família de caçadores, e Ralph sofreu do mesmo destino por vir de uma longa linhagem deles. Sam e Dean foram marcados pelo sobrenatural quando eram crianças, e foram ensinados assim.
─ Poderiam ter tentado outro caminho.
─ A maioria de nós não tem essa escolha. E, honestamente, não sei se é possível dormir de noite sabendo que pode haver pessoas lá fora, pessoas sem o nosso conhecimento e experiência, correndo risco de vida. Acho que seria egoísta demais...
─ Ter uma vida decente? ─ Ele sugere. Parecia sarcástico, mas ela sabia que só estava interessado no assunto. Estava deixando ela entrar, mesmo que minimamente.
─ É ─ Rav assente, forçando um sorriso. ─ Exatamente isso. Eu já tentei uma vez. Não deu muito certo.
─ O que aconteceu?
─ Eu quis alguém do meu lado e não pude ter. Depois, as pessoas que eu amava; pessoas que não estavam envolvidas nisso, começaram a correr perigo. Eu tive que voltar.
─ Eu sinto muito.
─ Obrigada. ─ Ela respira fundo, depois solta o ar como se fosse a coisa mais cansativa do mundo. ─ Não queremos te colocar nisso, nessa merda toda. Mas neste momento, é o único jeito de te proteger. Não espero que você entenda por enquanto, mas...
─ Obrigado. ─ Ele sorri, e se levanta logo em seguida.
Quando Ravena o encara, ele estende a mão.
─ Vamos treinar logo. Essa merda tá ficando muito sentimental.
Ele sorri. E ela o acompanha, pegando em sua mão logo em seguida.
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