‣ You
꧁ Você ꧂
Talvez devesse ficar em casa para variar, Jasper cogitou ao assistir o nascer do sol apresentando um novo dia. Domingo, era seu dia preferido, por mais estranho que parecesse. Estava sentado no telhado de sua casa, encharcado da chuva leve do dia anterior. Uns raios solares o atingiram em cheio e sua pele refletiu como um diamante, antes das nuvens deixarem tudo cinza de novo. Ele encarou o céu, cansado de tudo ter cores tão fracas e sem vida, mas buscava não fechar os olhos pois toda vez que o fazia, via os olhos de Beatrice levemente arregalados, surpresa e curiosa com as cicatrizes dele. Ele levou os dedos para o exato lugar onde ela o havia tocado antes de ele sair correndo. Sentiu sua cicatriz, a mordida de um dos vários soldados que ele matou friamente, ter excelente memória fotográfica podia ser considerada uma punição muitas vezes, principalmente para alguém como ele. Jasper suspirou pela primeira vez em horas e deixou o ar fresco invadir seu corpo. Não era um alivio, nem lhe dava qualquer calma. Precisava ver Beatrice de novo. Ela sabia. Sabia que ele era um vampiro, mas não saiu correndo nem se afastou com medo ou repulsa.
O que será que estava pensando?
— Nada agora.— respondeu Edward ao se aproximar de casa— Estão dormindo.— ele pulou graciosamente para o lado de Jasper e se sentou, não estava tão molhado quanto Jasper, é claro, ficara escondido dentro da casa das garotas.
— Me pergunto se algum dia você vai deixar de responder perguntas que eu não fiz para você.— Jasper riu empurrando o irmão de leve. Edward abraçou os joelhos como se estivesse com frio.
— Elas demoraram para dormir, queria saber que pesadelos tiveram.— Edward comentou, pensativo.
Conosco, certamente. Jasper respondeu em pensamento. Não estou afim de contar aos outros que elas sabem.
— Alice já sabe.— Edward disse e Jasper revirou os olhos.
Sabe de quem estou falando, Jasper respondeu. Edward bufou e balançou a cabeça. De dentro da casa ouvia-se os poucos movimentos da família. Esme pintava mais uma tela da sua vista da floresta. Pequenos e grandes quadros que completariam uma obra muito maior ocupando a parede da sala. Alice, estava no seu quarto e pesquisava no computador por roupas que daria para as garotas Swan em um momento futuro. Emmett flexionava os músculos diante do espelho e se admirava com a vista. Rosalie polia seu carro pela milésima vez na semana. Carlisle folheava pilhas de papéis de seus pacientes no hospital.
Era um clima pacifico, Edward sentia muito por ter que ir adiante com isso, tinha que avisar que as garotas sabiam o que eles eram. Tomou coragem e pulou do telhado com Jasper ao seu lado.
Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ
O dia raiou com força no rosto de Beatrice. Ela se revirou na cama, cobrindo o rosto, sonolenta. Se sentou devagar sentindo a cabeça girar, não tinha apagado por tempo o suficiente. Respirou fundo sentindo-se estranha, o corpo todo formigava. Estava nervosa. A descoberta de que vampiros existiam era um tanto perturbadora, mas ela não podia se dar o luxo de surtar por isso. Eles são imortais, são como... deuses, ou demônios, já que insistiam em se rotular como fatais.
As cicatrizes de Jasper voltaram em seu pensamento, eram muitas, mas por que será?
Beatrice se levantou e foi tomar um banho quente, a mente em outro lugar. Depois de seca e bem agasalhada foi se encontrar com sua irmã mais nova na cozinha. Se sentaram de frente uma para a outra e se olharam nervosas por um instante.
— Não foi um sonho, foi?— Bella perguntou, insegura.
— Com certeza não.— Beatrice suspirou— Deveríamos estar surtando?
— Aposto que sim, mas meu único medo é que Edward suma.
— E não que ele e o irmão dele tenham alto potencial de nos matar?— Beatrice ironizou.
— Eles não são monstros, sei que não.— Bella defendeu sem ser grossa. Beatrice fechou os olhos e esfregou o rosto com força.
— Acho que não vou conseguir tirar isso da cabeça nem se tomar banho de ácido.
— Sei como se sente.— Bella suspirou e deitou a cabeça no braço sobre a mesa.
— O que vamos fazer?— Beatrice gemeu.
— Não sei.— Bella sussurrou.— eu tenho tantas perguntas para fazer, mas nem tenho certeza se vamos ver qualquer um deles amanhã. Sei que Edward me prometeu mas...
— Ele pode ter mentido.
— Não— Bella respondeu e olhou para a irmã, incrédula— eu ia dizer que talvez a família dele o leve a força ou coisa assim.
— O que? Então você confia nele? Bella, o segredo dele não é qualquer coisa, ele pode ter mentido para você e nunca mais voltar.
— Não fale assim! Você quer que Jasper suma?— Bella disse, um tanto agressiva, Beatrice levantou as mãos se rendendo.
— Não estou falando o que quero, estou falando o que pode acontecer.— Beatrice falou e se levantou, procurando mudar de assunto.— Eu vou voltar para Port Angeles hoje á noite, não terminei minhas compras, você vem?
— Não.— Bella resmungou— Ah, desculpe por agir assim... é que... eu acho que..
— Está apaixonada.— Beatrice a interrompeu.— Eu sei, Bella, está escrito na sua testa.
A Swan mais nova congelou por um segundo encarando a mais velha e então se encolheu.
— Esse sentimento é apavorante.— admitiu, Beatrice sorriu e acariciou a cabeça de Bella.
— Eu sei— revirou os olhos, divertida— Só... cuidado para não se apegar demais. O amor destrói a gente se tratado de qualquer jeito.
— Eu vou... reprimir tudo, de qualquer maneira, aposto que vai ser impossível ele sentir o mesmo.— Bella disse, exalando pessimismo.
— Eu não me preocuparia com isso.— Beatrice sorriu— Ele também está apaixonado por você, Bells. Vi o jeito que ele te olhou ontem, não foi um olhar de um cara desinteressado.
— Então deve ter sido o mesmo jeito que Jasper olhou para você.
— Antes ou depois de ele ir embora correndo?— Beatrice resmungou, cruzando os braços, mas não estava irritada, na verdade, estava a flor da pele por se lembrar.
— Antes, bem antes.— Bella sorriu maliciosa. Elas ficaram em silêncio por um momento.— Você acha que ama ele?
— Ah, não, não confunda paixão com amor, Bella. Mas— ela deu de ombros— eu gosto dele, não sei explicar como ou porquê, mas acho que a noite passada trouxe o sentimento à tona de novo. E eu não gosto dele por causa disso. Paixão diminui a produtividade das pessoas. E eu preciso ter noção de cada detalhe do que eu estou fazendo nesse meio tempo.
— O que está tramando? Sério?
— Calma, gafanhoto, você vai ver.— Beatrice riu.— Vou dar uma volta agora, talvez passe na delegacia para ver como papai está, pode preparar um almoço?
— Claro, claro.— Bella balançou a cabeça concordando e seguiu Beatrice com o olhar enquanto ela subia as escadas com pressa.
Quando os rapazes chegaram ás escondidas a casa dos Swan ouviram a cantoria baixa vinda do banheiro, se camuflando ao som do chuveiro, era Beatrice. Os irmãos se olharam brevemente e logo concordaram que ela cantava bem. Jasper deu um sorrisinho de satisfação e deu a volta na casa para ouvi-la ainda melhor, pulou no telhado sem fazer barulhos audíveis para os humanos e ficou imóvel numa posição visivelmente desconfortável. Mas valia a pena se ele podia ouvi-la.
—But now take me home, take me home where I belong...— ela cantarolou, ecoando pelo banheiro e chegando aos ouvidos de Jasper. Ela estava em paz, ele pode sentir isso, e isso o abalou mais do que esperava, era como se uma felicidade estranha o inundasse, felicidade por ela estar bem mesmo depois de saber que ele é um monstro. Ela saiu do box e desligou o chuveiro, ainda cantarolando, se envolveu com a toalha e penteou o cabelo encharcado se olhando no espelho. Foi para o quarto encharcando o carpete onde pisava descalça e fechou sua janela para se vestir, iria sair para ver se conseguia ir mais rápido até a casa de Harry, desta vez iria com a câmera ver se conseguia a peça chave então iria para Port Angeles comprar o que faltava. Vestiu-se normalmente, completamente de preto e prendeu o cabelo num rabo de cavalo.
Ela saiu, sempre se sentindo observada, mas sabia que mesmo que olhasse rápido não veria seu perseguidor. Ou melhor, Jasper. Ela sabia que era ele, de alguma forma, sabia. Andou depressa na bicicleta até a frente da casa de Katlyn, mas não pretendia ser vista pela amiga, estava vasculhando o terreno a casa de Stuart. O carro de Harry não estava lá, que maravilha, notou mau humorada.
Deu meia volta e pedalou para a escola, verificou no relógio de pulso, o tempo era o mesmo da ultima vez que testara, talvez devesse se acostumar com ele, não era o melhor que podia fazer mas queria fazer tudo na quarta-feira.
O dia foi longo para os dois, Jasper a seguindo de um lado para o outro, e Beatrice se levando ao seu limite em cada viajem que fazia. Voltou para casa e tomou outro banho, com pressa, logo ia escurecer e ela não queria demorar em Port Angeles.
— Desacelere, Tris!— Bella pediu segurando o braço da irmã que estava prestes a sair de novo— Você parece sempre trabalhar a oitenta por hora, isso não é saudável.
— É que... eu... Port Angeles!— lembrou a irmã.— Logo vai escurecer, não quero chegar tarde.
— Pare um pouco, por favor? Jante comigo. Port Angeles pode esperar— Bella a puxou para a cozinha, a comida já estava na mesa. Bella também tentando ocupar a mente com outra coisa a não ser a ansiedade de ver Edward de novo, ficou cozinhando, tinha feito bolo e preparado toda a janta adiantada, fora a pipoca que tinha comido mais cedo, mas isso não conta.
— Bells, sério eu tenho que ir.
— Vou contar pro papai que você enlouqueceu e vou fazer ele te internar numa clínica psiquiátrica se não ficar comigo agora— Bella ameaçou.
— Eu sou a mais velha, tenha algum respeito!— Beatrice riu, surpresa, mas cedeu. Elas comeram sem falar muito, o assunto lhes escapou quando sentaram á mesa. O assunto de vampiros era algum tipo de tabu naquele momento e elas não conseguiram discutir sobre. Beatrice correu para a picape antes que Bella a oferecesse bolo.
As compras foram rápidas, o demorado foi chegar até lá que a picape não era feita para correr de nenhuma maneira, fora as falhas que dava vez ou outra nos faróis. Jasper não a acompanhou para dentro da cidade em primeiro momento. As pessoas ainda estavam rodando lá e ele não queria que Beatrice o visse tão imediatamente. Como chegaria nela? Pedindo desculpas por ter corrido como uma criança assustada na noite anterior? Talvez, seria patético mas ela merecia um bom tratamento. É estranho não querer decepcionar alguém que sequer é da família.
Alice o ligou quando Beatrice já estava fazendo caminho para casa pensando em jantar de novo. As lojas iam se fechando, e Beatrice tinha estacionado o carro um pouco longe de onde tinha ido. Jasper atendeu o telefone, tirando os olhos de Beatrice que vinha na sua direção, ele estava do outro lado a rua de onde Beatrice tinha estacionado.
— Fala.— atendeu.
— Não ouse sair de perto dela hoje.— Alice disse e desligou em seguida fugindo das perguntas de Jasper. Ele encarou o telefone, confuso, e olhou para Beatrice de novo, ela estava sendo seguida, Jasper reconheceu o homem da noite anterior quase imediatamente. Beatrice parou ao chegar na picape, estava usando fones no volume máximo, colocou a mochila com suas compras no capô e a abriu.
Ela não notou o homem chegando por trás dela quando vasculhava a bolsa em procura das chaves da picape, o homem era irmão mais novo dos dois porcos que as assombraram na noite anterior mas ele correu com os outros amigos quando os rapazes chegaram. Ele tinha perdido o irmão naquela manhã, o irmão que Beatrice cravara o canivete em autodefesa. Ela havia rompido uma veia importante da perna do homem, e ele não tinha sido socorrido a tempo, perdeu muito sangue. Jasper sabia desse detalhe, Alice lhe contou quando voltou para casa. O mais velho foi o que morreu, o do meio era o que estava internado por conta das costelas quebradas do chute que levou de Edward, e seria levado a cadeia quando melhorasse, era um estuprador procurado, ele tinha ficado com tanto medo de Edward que não falava nada com nada quando seu irmão mais novo tinha ido vê-lo. E lá estava o mais novo, a procura de vingança, tinha reconhecido Beatrice na loja de revistas e quadrinhos, mas ela sequer havia olhado em sua direção.
A rua estava vazia, era domingo a noite, todo mundo fechava uma hora mais cedo. Haviam outros carros na rua, de ambos os lados, as luzes dos postes já estavam acessas e a lua nova brilhava ás sete e quarenta. O homem andava devagar atrás de Beatrice, ainda não tinha entendido que ela não estava sozinha. Jasper arregalou os olhos nas sombras, furioso e se preparou para atacar. Beatrice finalmente achou a chave, colocou a mochila sobre o ombro e se virou avistando o homem segurando uma faca que reluzia sob a luz do poste, ela se encostou na picape e levou uma mão às costas a procura de seu canivete, sem se lembrar se ele estava mesmo na sua bolsa ou na sacola com o vestido em sua casa. No momento em que ele avançaria nela, Jasper pulou nas suas costas, segurou-o pela nuca e bateu o rosto dele na traseira da picape, quebrando seu nariz e o apagando imediatamente. Não durou um segundo. O som da faca caindo no chão e do impacto do rosto do homem na picape vieram em seguida. Apesar de Jasper saber o estado de inconsciência do homem, ainda o virou para si e pendurou-o pelo pescoço, a uns bons centímetros do chão, estava pensando seriamente em quebrar seu pescoço ou esmagar de vez sua traqueia.
— Jasper!— Beatrice chamou, o loiro olhou em sua direção imediatamente, o olhar irado e vidrado logo se dissipou ao ver o pavor da garota. Ela estava o repreendendo. Jasper franziu a testa sem entendê-la, havia acabado de salvar sua vida, e ela estava com medo dele? Não, não é assim que deveria ser, mas também o que esperava, que ela se jogasse em seus braços, adorando-o? Ah, que horror, sentia-se a ponto de enlouquecer. Mas ele entendeu a preocupação dela errado— Alguém pode te ver!— ela continuou a bronca depois do que pareceu uma eternidade para ele. Jasper franziu mais ainda a testa, completamente perdido e então se tocou da cena, um adolescente segurando um homem gordo a uns bons vinte centímetros do chão como se ele tivesse o peso de um travesseiro, seu braço sequer tremia de esforço, afinal, não havia nenhum ali. Soltou o corpo de qualquer jeito no meio da rua encarando Beatrice.
— Está preocupada comigo?— pensou em voz alta. Beatrice hesitou olhando para o chão.
— Bom, se você tem um segredo é melhor cuidar bem dele, não acha?— perguntou retoricamente.
— Você está bem?— Jasper diminuiu a distância entre eles em duas passadas largas. Levantou a mão para tocar o rosto da garota, mas deixou-a cair antes de realizar o ato, com medo de ela se retrair com sua pele fria e inumana.
— Tudo que ele conseguiu fazer foi me lançar um olhar de ódio, eu vou sobreviver.— ela tentou descontrair e enfim ergueu os olhos, encarando os olhos dourados de Jasper, nervosa.— Acho melhor sairmos daqui— falou. Jasper olhou pro corpo atrás de si, o homem tremeu, acordando e Jasper concordou depressa.
— Eu dirijo.— decretou, erguendo a mão. Beatrice fez cara feia, mas ao ver o homem mexer o braço para levá-lo ao rosto jogou as chaves na mão de Jasper e correu para o banco do passageiro.
Jasper arrancou com a picape depressa e escancarou a janela defeituosa para que pudesse respirar, tinha ficado exposto a sangue fresco dois dias seguidos na frente de Beatrice, era uma sorte não ter perdido o controle ainda.
— Que tipo de maldição você tem? A morte a persegue com tanta frequência assim?— perguntou a garota, irritado.
— Eu não tenho culpa se ia ser assaltada.— Beatrice respondeu na defensiva o encarando de perfil.
— Ele não ia te assaltar, garota, ele ia matar você.
— O... o que?— Beatrice gaguejou, surpresa— Eu não o conheço.
— Claro que não, vocês humanos são tão cegos!— Jasper resmungou a encarando fixamente, não precisava olhar para a estrada conhecia muito bem o caminho de volta para Forks.— Ele ia se vingar pela morte do irmão. É um dos babacas que assediaram você e Bella noite passada.
— Morte do irmão?— Beatrice repetiu.
Jasper não respondeu, preferia não ter mencionado isso.
— Eu matei aquele cara?— Beatrice arfou, não magoada, mas... o sentimento não era bom.
— Sim.— Jasper confirmou, a contragosto.— Acertou a veia femoral dele, não foi socorrido a tempo.
Beatrice congelou por um longo momento, como se visse sangue nas próprias mãos e se afundou no banco, o olhar distante.
— Estava se protegendo, não foi sua culpa.— Jasper lhe disse, preocupado que ela tivesse ficado triste.
— Não, eu sei... mas... me pegou de surpresa. Meu Deus, eu matei um cara— ela sussurrou, atordoada. Piscou algumas vezes e focou o olhar no rosto de Jasper— E você, me salvando de novo.
— É, acho que sim— Jasper focou os olhos na estrada.
— Por que?— ela perguntou, depois de um minuto de silêncio.
— Por que te salvei?
— Não. Por que foi embora ontem?— Beatrice se explicou, de repente ansiosa.
— Eu precisava.— Jasper sussurrou.
— Algo me diz que não.— ela rebateu, Jasper deu um sorrisinho triste.
— Eu não sei como te responder isso.
— Por favor, não fique quieto. Eu estou meio que surtando aqui— Beatrice pediu e tocou o braço dele, Jasper encarou a mão dela por um momento antes de a olhar nos olhos de novo.— Você está fugindo de algo, me diga o que é.
Eles se olharam, Jasper respirou fundo e sua garganta ardeu tanto de desejo pelo sangue dela que ele teve que alongar o silêncio para se controlar melhor e não quebrar o volante em pedacinhos de tanto esforço.
— Você.— respondeu quando a mão dela caiu no banco entre eles— Estou fugindo de você.
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