Capitulo Vinte
Derick Evans:
Olhei para Charles, sentindo um calor suave crescer no peito, e beijei sua bochecha com carinho. Seu sorriso se alargou, e seus olhos brilharam com uma alegria tão pura que parecia iluminar o ambiente. Ele ficou animado demais, quase como uma criança que acaba de receber o presente mais esperado.
— Obrigado por tudo... de verdade — sussurrei contra o seu ouvido, sentindo o toque suave de seus braços me envolverem. Em um movimento delicado, ele me puxou para um beijo, um beijo doce e suave que transmitia todo o amor que compartilhávamos.
Enlacei meu braço em torno do seu pescoço, puxando-o para um selinho leve que o fez soltar uma risada baixa e divertida. O som da sua risada me trouxe um conforto imediato, como se fosse a melodia exata para acalmar qualquer tormenta.
— Eu te amo tanto... — murmurei com um sorriso sincero. — Você trouxe cor para a minha vida. Me fez esquecer tudo de doloroso que vivi no passado.
Charles sorriu com ternura, seus olhos cheios de compreensão e afeto.
— Você quer falar sobre isso? Seu tio me contou o que aconteceu, sobre como seus pais apareceram de novo... Ele estava realmente preocupado com sua reação quando soube que eles estavam vindo.
Uma pontada de desconforto atravessou meu peito, e eu desviei o olhar por um momento, tentando afastar a tensão. Charles continuou, sua voz tranquila, mas curiosa.
— Preciso dizer... seus pais são pessoas realmente estranhas. Você acredita que eles ficaram me encarando o tempo todo enquanto eu conversava com Sam sobre a decoração? Foi, no mínimo, desconcertante.
Soltei um suspiro, tentando organizar meus pensamentos.
— Eles... — hesitei por um segundo antes de continuar. — Eles assustam qualquer um. Há algo de perturbador neles que é difícil de descrever. Mas o que me incomoda mais é o efeito que têm sobre mim. Eles me deixam nervoso, como se cada vez que estão perto, eu perdesse o controle sobre mim mesmo.
Antes que eu pudesse continuar, Charles me levantou do chão com facilidade, me carregando até a cama. Sentei-me em seu colo, e ele me segurou com firmeza, seus olhos sempre atentos aos meus.
— Há três anos — minha voz saiu trêmula, as memórias ainda dolorosas —, eles deixaram muito claro o que sentiam por mim.
O peso dessas palavras ficou no ar, e Charles me abraçou com mais força, como se quisesse me proteger de qualquer dor que ainda estivesse presa ao passado. O toque dele era tudo o que eu precisava naquele momento.
— Sinto muito — Charles murmurou, com a voz baixa e cheia de compaixão. — O que aconteceu naquela época que te machuca tanto? Me conta... o que houve antes de você ir para Los Angeles? — Ele me envolveu em um abraço suave, seus braços fortes me cercando com uma delicadeza que parecia carregar todo o cuidado do mundo.
Soltei um suspiro pesado, sentindo as memórias amargas voltarem à tona. As palavras saíam lentamente, carregadas de dor reprimida.
— Meu ex-namorado... ele me usou. Ele só estava comigo para impulsionar a empresa dele. E quando não precisou mais de mim, me jogou fora sem o menor remorso. — Meus olhos ardiam com as lembranças, e uma pontada de vergonha atravessou meu peito. — A verdade é que ele já tinha outra pessoa, alguém que conheceu há menos de um ano. Eu... eu fui apenas uma ferramenta, algo que ele usou e descartou sem pensar duas vezes.
Senti a mão de Charles apertar levemente meu ombro, um gesto silencioso de apoio. Respirei fundo e continuei, embora cada palavra fosse como um espinho.
— E foi aí que descobri que meus próprios pais estavam por trás disso. Eles me usavam para manter a empresa desse idiota nas mãos deles, como uma marionete. Enquanto ele me mantivesse por perto, tudo estaria bem para eles. Mas quando ele me trocou por outro e me humilhou... meus pais me descartaram sem hesitar, como se eu fosse lixo. — Minhas mãos tremiam ao lembrar de como fui deixado para trás, sozinho.
A voz de Charles era baixa, quase um sussurro, mas cheia de dor por mim.
— E o amante? — ele perguntou.
Soltei um riso amargo antes de responder.
— Ela... era parte de uma organização sombria, ligada a militares. Ela fez favores sujos para minha família, e meu tio nunca suspeitou de nada. Eu não tinha escolha, Charles. Minha vida estava nas mãos dos meus pais, que só se importam com o dinheiro. — As palavras saíam em um fluxo constante agora, como se tivessem estado presas por tempo demais.
— Enquanto eu obedecesse, tudo ficaria bem para mim... ou pelo menos era o que eles queriam que eu acreditasse. Apesar de ter seguido uma formação normal, eu ainda me destacava. Sempre fui inteligente, mas fui completamente enganado por aquele homem hipócrita. — Minhas palavras estavam carregadas de desprezo. — Um idiota que nunca me deu valor de verdade.
A raiva nos olhos de Charles era palpável, mas ele se controlava, apertando os punhos enquanto me ouvia.
— Meu pai sabia que quando meu ex me descartasse, ele perderia o controle de tudo. Então, ele deliberadamente enviou homens para garantir que eu me apaixonasse por alguém que fizesse o que ele quisesse. Mas, por acaso, eu escolhi o homem errado... o homem que acabou destruindo o controle que eles tinham sobre mim. — Suspirei, sentindo o peso dessa escolha sobre meus ombros. — E a amante... ela teve que sacrificar o homem dela por causa das tramas do meu pai, tudo em nome de manter o poder.
— Como essas pessoas podem ser chamadas de pais? — A voz de Charles estava cheia de raiva contida, seus olhos brilhando de dor e indignação. Ele apertou os dentes, lutando para conter a frustração que sentia por mim. — Derick ... por que você não contou isso ao seu tio? Ele sempre esteve ao seu lado, ajudou tanto ao longo desses anos.
Eu me encolhi ligeiramente, soltando um suspiro pesado.
— Por medo... medo de que meus pais fizessem algo contra ele. Ele não tinha nada a ver com essas sujeiras. — Fechei os olhos, sentindo a tensão subir. — Meus pais... sempre foram obcecados por dinheiro, e fariam qualquer coisa para conseguir o que querem, mesmo que isso significasse destruir a família ou amigos. E, Charles... — engoli em seco, a frustração tomando conta de mim —, eu ainda não consigo ver as coisas claramente o suficiente para me opor a eles. Não sei se algum dia poderei realmente fazer algo.
Charles me puxou para mais perto, seu abraço firme e reconfortante. Ele inclinou a cabeça e depositou um beijo suave na minha testa, tão delicado que senti meu coração acelerar. Era como se naquele gesto, ele estivesse tentando curar todas as feridas que meus pais tinham causado.
— Você não está mais sozinho, Derick — ele sussurrou. — Eu estou aqui... e sempre estarei.
— Mesmo sabendo que eles vieram pedir permissão para mim e para o meu tio, já tendo noção de que havia algo por trás disso tudo, a mágoa ainda está aqui — sussurrei, sentindo o peso das palavras afundar em meu peito.
Charles me olhava com uma atenção profunda, como se estivesse captando cada nuance de dor em minha voz.
— Sei que todos dizem: "Você precisa esquecer". Mas como se faz isso? Como se diz ao cérebro para apagar o que ainda machuca? E o coração, como se manda nele? — minha voz tremeu um pouco, enquanto continuava. — O que sentimos jamais pode ser esquecido. As lembranças invadem a mente e trazem lágrimas aos olhos, enchendo o peito com uma saudade de algo... ou alguém... que não volta mais. Alguém intocável, que ainda assim causa uma dor imensa.
Senti uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto, mas não a afastei. Charles me observava com uma mistura de compreensão e dor por mim.
— Sei que o seu passado foi cheio de cicatrizes — ele começou, sua voz suave e firme ao mesmo tempo. — Mas você já sobreviveu a tantas coisas. Você é mais forte do que qualquer um poderia imaginar. E nunca, nem por um segundo, deixe que pensem o contrário. Você é mais do que qualquer expectativa que colocam sobre você.
Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras, o carinho que transbordava de sua voz. Uma pequena chama de gratidão acendeu dentro de mim, aquecendo a escuridão.
— Onde você estava antes? — perguntei, quase sem pensar, um sorriso pequeno se formando em meus lábios. — Fico tão feliz de ter encontrado alguém que me ama com tanta imensidão, que cuida de mim, que me ouve até o fim.
Antes que ele pudesse responder, inclinei-me e o beijei com delicadeza. O toque dos nossos lábios era suave, como uma promessa silenciosa. Charles me puxou com mais ternura, e, sem pressa, nos deitou na cama, seus movimentos tão cuidadosos quanto os sentimentos que compartilhávamos.
Ele me olhou nos olhos, e naquele momento, senti como se todo o peso do meu passado estivesse se dissipando, ainda presente, mas menos esmagador, porque agora eu tinha Charles ao meu lado. E isso era suficiente para seguir em frente.
****************
Charles me puxou gentilmente pelo braço, guiando-me até o quarto onde nossa bebê iria ficar. Quando ele abriu a porta, fiquei sem palavras por um momento, parando à entrada. Meu coração disparou ao ver o que estava diante de mim.
O quarto ainda estava em processo de ser finalizado, mas a visão era encantadora. As paredes tinham um tom suave de lavanda, com pequenas estrelas pintadas à mão que brilhavam com a luz suave do abajur. O berço, de madeira clara, já estava no centro, envolto por um delicado dossel de tule branco que balançava levemente com a brisa que entrava pela janela aberta.
As prateleiras na parede começavam a ser preenchidas com pelúcias e livros infantis. Uma poltrona de balanço estava posicionada perto da janela, onde a luz do pôr do sol iluminava o ambiente com um brilho acolhedor. Pequenos detalhes, como quadros de animais sorridentes e um móbile com figuras de lua e estrelas, completavam o cenário.
Eu me aproximei lentamente, com os olhos marejados, tocando o dossel do berço com uma leveza quase reverente.
— Está lindo... — sussurrei, sem conseguir desviar o olhar. — É mais do que eu poderia imaginar.
Charles se aproximou por trás, envolvendo meus ombros com seus braços fortes.
— Ainda não está terminado, mas queria que você visse o quanto isso já se parece com o que sonhamos — ele disse, sua voz suave contra o meu ouvido. — Cada detalhe foi feito pensando em nós, na nossa família, e em como esse quarto será o primeiro lugar onde nossa filha vai se sentir segura e amada.
Meu coração se apertou de emoção, e virei para ele, com um sorriso emocionado.
— Obrigada... por tornar tudo isso realidade.
Ele me beijou na testa com ternura, e juntos, ficamos ali, imaginando o futuro que nos aguardava.
Enquanto estávamos abraçados, ouvimos risadas suaves ao fundo. Nossos corpos estavam tão sintonizados que a risada ecoou como um acorde que nos trouxe de volta ao momento. Viramos a cabeça ao mesmo tempo e, para nossa surpresa, vimos o pessoal parado na entrada, todos com sorrisos nos lábios, observando o momento íntimo que compartilhávamos. Carlos, sempre brincalhão, estava com o celular em mãos, apontado diretamente para nós.
— Sorria! — ele exclamou, antes de tirar uma foto, capturando a cena em que eu estava aninhado nos braços de Charles.
Eu senti Charles rir baixinho contra o meu cabelo, o peito dele vibrando contra mim de um jeito que fez meu coração acelerar.
— Não acredito que você está documentando isso, Carlos — Charles disse, fingindo indignação, mas o sorriso em seu rosto mostrava o quanto ele estava se divertindo.
— Eu não podia perder esse momento — Carlos respondeu, piscando para nós enquanto mostrava a foto na tela do celular.
Charles inclinou-se para mim, seu rosto a milímetros do meu, e murmurou de forma tão baixa que só eu poderia ouvir:
— Essa vai ser uma lembrança especial, mas a verdadeira química entre nós... só nós dois conhecemos.
O calor subiu pelo meu corpo ao ouvir essas palavras, e eu mal consegui evitar sorrir. Ele apertou minha cintura levemente, como se quisesse reforçar a intensidade do momento. Nossos olhos se encontraram, e naquele instante, todo o mundo parecia desaparecer. Era como se o simples toque de sua pele na minha desencadeasse uma corrente de eletricidade que nos ligava de uma forma que ninguém mais poderia compreender.
O pessoal continuava rindo e fazendo brincadeiras, mas para nós dois, o tempo havia parado.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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