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Um Jogador

Nunca pensei que viajar com Bella fosse tão calmo e até mesmo tranqüilizante. Essa manhã não tinha sido nada comum, pelo contrário, fugiu completamente à regra. Fomos à padaria, Bella fez o pedido para viagem enquanto meu corpo parecia estar grudado no banco do passageiro esperando impacientemente para irmos para São Paulo, eu não estava nem um pouco com fome, mas Bella foi a Bella de sempre, me obrigando fazer coisas que supostamente eram para o meu bem. Ela estava sempre certa.

Tomamos o café no carro, Bella dirigia olhando para todos os lados com uma mão no volante e a outra segurando um pão que ela estraçalhava brutalmente com os dentes vez ou outra, as vezes ela colocava o pão todo no boca para mudar a marcha.

- Bella isso é nojento, esse pão já ta todo babado.

Ela se virou em minha direção e sorriu com mais da metade de um pão na boca. Depois desses segundos olhando em minha direção eu achei arriscado comentar mais algo e ocasionar algum outro tipo de distração em relação à estrada. Eu foquei meus olhos em lugar nenhum olhando através da janela do Volvo, era estranho como me sentia entediada, eu passei toda minha vida procurando saber sobre meu pai e não passou pela minha mente, em nenhum momento, de perguntar a ele. Eu agia como se ele estivesse morto, o que era o oposto da minha mãe, que eu sempre imaginava viva, linda, com seu sorriso e sua forma descoordenada de ser, em alguma varanda, sentada em uma cadeira pintando a imagem de um lago à sua frente com a luz do sol refletindo nas águas e pássaros preguiçosos indo às vezes bebericar um pouco de água. Desde que perdi minha mãe, antes de dormir eu me lembro da canção que ela cantava para eu dormir e então eu repasso ela em mente até cair num sono profundo.

Bella ficou em silêncio todo o percurso e por mais que aquilo assustasse, foi um alívio a desistência de tentar trazer algum tipo de felicidade para mim naquele dia especificamente, agradeço aos céus seu mau humor matutino. Normalmente eu não me importaria com as tentativas de Bella, mas hoje não era um dia comum.

Nós chegamos na garagem do presídio e Bella desligou o carro e se ajeitou no banco, virando levemente em minha direção.

- Lia, eu gostaria muito que você voltasse comigo hoje ainda de uma maneira fácil. Teria como você não enlouquecer lá dentro, me forçando a matar algumas pessoas para te trazer de volta?

Eu olhei com os olhos arregalados e as bocas abertas em sinal de espanto para Bella como se ela estivesse falando algum absurdo e recebi um sorriso no canto de sua boca e uma levantada na sobrancelha declarando dúvida, estragando sua tentativa de um rosto descontraído.

Saímos da garagem em direção a prisão. O presídio de segurança máxima Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes foi construído para receber detentos especiais, enquadrados no recém-criado Regime Disciplinar Diferenciado por mau comportamento durante o cumprimento da pena ou por participação em facções criminosas. Esse regime objetiva uma detenção máxima por 180 dias, com o intuito de readaptar o preso para o cumprimento integral da pena em outra penitenciária, o período de reclusão pode ser estendido por um ano.

- O que ele aprontou para acabar aqui? – Bella resmungou perguntou para si mesma.

- O caso é muito semelhante com os dele, é óbvia a intenção de reclusão, ninguém quer um novo serial killer na ativa, ainda menos um com a reeducação mental que só meu pai pode oferecer. A possibilidade de termos uma cópia do meu pai solto por ai é muito provável, a ponto de não deixá-lo em contato com uma mosca se quer.

Bella se sentiu desconfortável alisando as mãos no jeans velho dela.

- Você é maior que uma mosca eu diria. – ela disse sorrindo torto.

Apesar do obvio cinismo de Bella, algo me incomodou, eu realmente era maior que uma mosca, e teria que ter um controle desumano para não levar a próxima jogada ao mundo dos livres, se é que meus questionamentos estão corretos.

- Bella pesquisa todo histórico do meu pai. Quem o visitou? Quem eram seus companheiros de cela? Ou quem de alguma forma falou com ele mesmo que por libras, pode ser?

- Deixa comigo chefe, só me deixa organizar sua reunião familiar em primeiro lugar. –Bella disse abrindo as portas do complexo para minha entrada.

Era engraçada a diferença brusca de clima, fora do prédio havia um dia lindo, ensolarado, com nuvens de um aparente algodão. Já dentro do prédio, tinha um ar abafado, excesso de luzes brancas para compensar a falta de claridade devido a uma ausência de portas e janelas para tal serviço.

Havia um conflito de informações, porque o prédio tinha uma aparência antiga, porém os aparelhos de detecção de metais e os pisos claros e novos davam uma impressão moderna do ambiente.

Nós deixamos as armas, chaves, cinto, moedas em uma caixa plástica antes de passarmos nos detectores de metais. Bella encheu a caixa dela com toda parafernália metálica possível e me olhou levantando os ombros quando meu olhar de indignação cruzou os dela.

Este presídio era considerado extremamente seguro, um dos maiores traficantes que o Brasil já teve, conhecido como Fernandinho Beira-Mar estava lá.

Enquanto eu esperava a liberação para falar com meu pai. Minha mente incrivelmente vagou em silêncio, como se estivesse caído no vácuo, em um “buraco de minhoca”. Ela voltou à ativa assim que foi autorizada minha entrada.

Minha visão de tudo aquilo era inexplicável, um senhor com uma aparência simples, porém cuidada, cabeça raspada, sem barba (padrão determinado do presídio), era exatamente o que lembrava como meu pai, porém mais velho. Ele olhava para mim com total atenção e eu senti meus ombros tremerem como se seu olhar tivesse poder sob meu corpo.

Eu estava em pé diante de um lugar chamado Parlatório, onde presos e visitantes se comunicam através de interfones, separados por vidros, estilo copiado de padrões norte-americanos chamados de Supermax criado no estado de Ilinóis pela primeira vez em 1983.

Ele sorria para mim, o que me fez desequilibrar sentando automaticamente na cadeira ao meu lado. Nós ficamos sentados por alguns segundos nos encarando, o que para mim pareceu uma eternidade, até que ele pegou o interfone e mexeu com as mãos para que eu fizesse o mesmo.

A confiança que ele empunha em seu sorriso e olhar me lembravam de um personagem que se chamava Hannibal Lecter em um filme.

Ele sorriu à minha obediência quando minhas mãos trêmulas alcançaram o interfone.

Eu ouvi assim que encostei meus ouvidos no interfone.

- Você está linda e se parece com sua mãe, mais do que eu poderia imaginar.

Havia um tom quase paterno em sua voz. Um tom suave e grave, quase rouco, sua voz perturbava meu tímpano. Ele era um miserável sádico que transbordava um brilho de bondade nos olhos e isso é sempre assustador em uma pessoa, é como ver um lobo vestido de ovelha no sentido realístico da metáfora.

Sua aparência era tão simples, porém a imponência que jorrava de suas expressões era uma visão horripilante.

Eu sentia uma dificuldade enorme para produzir som, de repente minha garganta estava seca e minhas cordas vocais aparentemente inativas, até que eu pigarreei como Bella fazia e tentei me concentrar no motivo da visita.

- As pernas, por que você amarrou as pernas da minha mãe?

O Que? Não. Não era isso que eu deveria perguntar. Meus olhos embaçaram e meus ombros tremerem mais uma vez, era estranho o poder dele sobre mim.

Ele estava me encarando com um sorriso largo no rosto, quando de repente ele explodiu numa gargalhada assustadora.

- Vejo que você tem acompanhado meu trabalho. - Ele disse num tom sarcástico, porém de admiração ao mesmo tempo.Mas algo naquela frase estava errada, eu não sabia o que.

Eu estava travada, sem reação, não lembro se tinha prendido a respiração, mas precisei inspirar forte para desanuviar minha visão.

- As pernas. – Continuou ele, deixando um olhar impassível no lugar do sorriso. Parecia quase como uma decepção, mas não tinha certeza, não era fácil lê-lo. – Ela era minha musa inspiradora. – continuou ele, com um aparente nojo de cada palavra.

- Então seu maior desejo era matar minha mãe, você matava pessoas com aparência dela para te satisfazer, por que demorou tanto para matá-la?

Eu continuei olhando apreensiva para o seu rosto, tentando detectar qualquer detalhe que escaparia de alguém desatencioso. Eu estava sem limites, perdendo de vista o motivo real para aquela reunião. Ele estava triste quase como se estivesse chateado com as minhas alegações.

- Algo me diz que você não está aqui para isso. – Disse ele, olhando pensativo para baixo como se confirmasse meus pensamentos.

Era um esforço enorme ter algum tipo de concentração na frente dele, seu sorriso engolia minha coragem e caçoava dos meus pensamentos misturados e confusos. Eu pigarreei novamente, tava odiando essa mania da Bella me dominando, mas era impossível não fazê-lo.

- Você está certo. – Continuei tentando me concentrar. – Por que você criou um discípulo?

- Achei que já estivesse casada a esta altura. – Ele me olhava com aquele brilho nos olhos, e seu sorriso assustador recuperados completamente, minha mãe definitivamente o afetava.

Ele nunca responderia nada que eu precisasse saber, pelo menos não com perguntas diretas, mas eu não deveria jogar com ele. Com ele em regime fechado e sem contato com ninguém, acredito que diminuiria sua influência sob seu discípulo. Esse pensamento me trouxe uma idéia.

- Seu discípulo cometeu um erro. – eu o encarei enquanto dizia.

Ele arregalou levemente os olhos, mas não demonstrou desapontamento ou surpresa.

Eu resolvi continuar.

- As pernas. Ele amarrou as pernas.

Ele suavizou ainda mais sua expressão e me olhou com uma feição parecida com adoração novamente.

- Eu não sei do que está falando, mas pelo que posso presumir de suas alegações, alguém vem tentando meus métodos de arte. – Ele continuou sorrindo e virando levemente o rosto para o lado, porém sem tirar os olhos de mim, o que assustava ainda mais. Será que ele podia ser mais assustador?

Eu não ganharia nada com isso, não dava para entrar na linha de frente dessa forma, eu precisaria lidar com o caso da maneira que eu lidaria com qualquer outro, procurando provas.

Eu estava prestes a colocar o interfone no gancho quando eu ouvi sua voz rouca.

- O centro foi preenchido o equilíbrio foi desfeito. – ele disse colocando o interfone no gancho e sorrindo largamente.

Eu criei forças para me manter em pé e suspirei colocando o interfone no gancho, eu precisava correr em direção a porta, mas não conseguia desvia os olhos do olhar penetrante dele. Será que ele olhava assim para suas vítimas? Meus ombros tremeram mais uma vez o que me deu impulso para virar as costas e andar em direção a saída.

Eu encontrei Bella, encostada na parede em frente à porta, com as mãos nos bolsos, uma perna apoiada na parede, seu famoso olhar pensativo para o chão. Eu levei um susto quando a vi no corredor, mas por outro lado fiquei extremamente aliviada com a sua presença, por um segundo tive vontade de chorar, mas consegui me conter.

- Lia, vem cá. – Bella me abraçou como se sentisse exatamente o que eu precisava.

Eu me afastei dos seus braços, antes que realmente começasse a chorar, senti minha garganta fechar, eu sabia que o choro estava perto, precisava andar.

Bella me apoiou em seus braços e começamos a andar, em direção ao ar puro, céu aberto. Eu me senti tão aliviada que tinha vontade de ir pulando em direção a porta que dava para saída.

- Consegui algumas informações úteis e você? – Bella perguntou como se estivesse automaticamente arrependida de tê-lo feito.

Nós pegamos nossos pertences de metal e saímos em direção ao carro, foi incrível a sensação de liberdade que me acolheu quando eu senti o ar empurrando meus cabelos para trás.

Nós entramos no carro em silêncio, mas Bella não o manteve por muito tempo, mal ligou o carro e já estava tagarelando.

- Consegui os endereços de alguns fãs que visitaram seu pai antes da reclusão. Ele se envolveu em algumas brigas também, pelo que entendi, ele sempre coordenava de fora e nunca se envolveu em nada fisicamente, então não é possível comprovar que ele era a mente por trás de algumas rebeliões. – Bella olhou para mim como se tivesse feito muito bem sua lição de casa.

Nós já estávamos na auto-estrada, quando meus batimentos cardíacos ficaram descompassados, algumas dúvidas me invadiam completamente, mas algo piscava em um vermelho fogo em sinal de alerta em minha mente.

- Lia, você está pálida. O que houve? – Bella fez uma entrada brusca no acostamento e ligou o pisca alerta, olhou para mim com os olhos arregalados de preocupação e esperou eu dizer o que tinha.

Eu sabia que só seguiríamos viagem se eu falasse algo, mas minhas idéias ainda não tinham palavras que as expressassem corretamente.

- Eu preciso de um tabuleiro. – eu disse olhando para frente, Bella já estava acostumada a acompanhar minhas loucuras e palavras desconexas, então ligou o carro e dirigiu o mais rápido possível para a delegacia.

Estávamos no elevador, quando Bella desligou o celular e olhou para mim preocupada.

- Quem era no telefone?

- O Sr. Seu almoço, você precisa comer e eu duvido que aceite sair da delegacia para isso hoje.

Nós saímos do elevador e entramos na sala apinhada de pessoas correndo de um lado para o outro. Eu entrei em minha pequena sala, que era uma sala simples, com apenas um sofá uma escrivaninha com uma cadeira, um velho e ruidoso computador, um armário de arquivos e um grande quadro de vidro apoiado na parede.

Hoje havia um diferencial em minha mesa, alguém deixou um tabuleiro de xadrez lá, imagino que foi a pedidos de Bella em uma das vezes que estava ao celular pela manhã.

Minha cabeça estava rodando em pensamentos absurdos quando o chefe de polícia e mais um grupo com oito pessoas entraram se apinhando em minha sala, tudo parecia rodar aceleradamente, as coisas estavam definitivamente indo rápido demais.

- Lia. Bella. - Disse o chefe cumprimentando com a cabeça antes de continuar. – Esse grupo será o grupo apoio de vocês meninas e eu quero saber exatamente o que vocês conseguiram para nós.

Eu estava olhando para o grupo, uns com cara de nojo, outros com desprezo, havia apenas três pessoas no canto da sala com uma cara de dúvida. Provavelmente as três pessoas não deviam conhecer a fama da Bella ainda.

Eu inspirei o ar profundamente e encarei um por um.

- Eu quero apenas aqueles três no fundo para o grupo, o resto você pode dispensar.

Todos se viraram para mim e seus rostos se intensificaram ainda mais nas expressões anteriores.

- Lia, você não pode... – Começou o chefe, mas Bella interrompeu mais pensativa do que autoritária.

- Se a Lia disse que quer apenas os três, ela terá apenas os três.

O Delegado Costa olhou para mim com os olhos em súplica. Quando ele percebeu que eu não abriria a boca ele dispensou os demais da sala com um aceno de cabeça.

O garoto com uma cara perdida respirou fundo, aparentemente aliviado por minha escolha.

- Você escolheu os novatos, Lia. Espero que saiba o que está fazendo. – Disse ele transferindo uma sincera dúvida para os olhos.

Novatos, então aí estava a explicação dos rostos em sinais de dúvidas. Eu preferia lidar com mentes livres de opiniões feitas ao meu respeito e principalmente a respeito de Bella, assim seria como lidar com massinhas de modelar, simples, fácil e obviamente modelável ao seu modo.

- Lia, você poderia compartilhar sua maravilhosa idéia conosco ou não somos dignos o suficiente? . – Bella falou, interrompendo meus pensamentos.

Eu senti um tremor na espinha, o que estava se tornando comum a essa altura, mas resolvi explicar minha idéia.

- A ultima coisa que meu pai disse foi “O centro foi preenchido, o equilíbrio foi desfeito”. – Eu disse causando pânico nos rostos dos novatos, que olhavam incrédulos para o delegado Costa.

- Alguém tem algum problema com isso? - Disse Bella em direção aos novatos, percebendo o mesmo que eu.

A idéia da palavra pai na minha frase é perturbadora para mim, quanto é perturbador para quem acaba de me conhecer.

Bella olhou e minha direção se desculpando com o olhar pela interrupção de pensamento e voltou a se sentar na ponta da mesa apoiando o corpo com as mãos.

- No jogo de xadrez, existe uma filosofia em que, enquanto nenhuma peça for jogada há um equilíbrio, quando o primeiro jogador faz sua jogada o jogo perde o equilíbrio fazendo o adversário fazer sua primeira jogada também em busca da restauração do equilíbrio. – Eu respirei me perdendo em pensamentos, mas logo me recuperei quando Bella deu uma tossida para me ajudar.

- Você acha que isso tudo é um jogo de xadrez? – Bella perguntou me encorajando a continuar.

- Sim, e se eu tiver um mapa talvez eu saiba a próxima jogada, ele quer que joguemos com ele. – Eu disse tentando montar um enorme tabuleiro em minha mente.

- Você está referenciando pessoas como um jogo? – disse um dos novatos, o que tinha respirado fundo a pouco. Ele tinha cabelos curtos, um óculos estilo Harry Potter e um nariz empinado como se a qualquer momento fosse espirrar. Ele se arrependeu do que disse claramente, assim que cruzou olhares com Bella.

- Sim, eu estou. Se eu não entrar na mente de um Serial Killer, como eu poderia entendê-lo? – disse tentando explicar, mas acho que eu estava tentando convencer a mim mais do que a qualquer outro.

- Achei que só tinha ocorrido um assassinato. – Disse a segunda novata, loira, muito bonita e com feições de uma estudante dedicada.

- Não vai continuar assim por muito tempo. – eu disse me posicionando em frente ao tabuleiro e dando a primeira jogada, um peão em direção ao pequeno centro.

Todos estavam me encarando, então resolvi explicar.

- A primeira vítima foi um peão, a melhor jogada para um peão é em direção ao pequeno centro, com essa jogada o peão controlaria todo o pequeno centro e ainda assim abriria a diagonal para o bispo da direita, caso preciso de uma jogada rápida e ainda libera a dama para um possível desenvolvimento favorecendo a jogada em todos os sentidos. – Expliquei o melhor que pude, mas ainda estava concentrada quando ouvi a voz da terceira novata, uma garota de estatura baixa, feições delicadas e um leve tom desafiador na voz que automaticamente transferia aos olhos.

- Ele quer que você dê a próxima jogada? Vamos precisar matar pessoas para capturá-lo?

Ela tinha um gênio forte, me identifiquei automaticamente, mas seria um desafio para Bella, com toda certeza Bella teria vontade de matá-la antes do almoço.

- Não será necessário, ele fará todas as jogadas. Se conseguirmos entender as próximas jogadas nós ficaremos um passo a frente, só que ele sabe disso e duvido que facilite para o nosso lado. Ele vai jogar xadrez sozinho, somos apenas uma platéia. – Eu disse prestando mais atenção na novata, ela devia ser bem nervosa, suas unhas eram roídas e ela tinha uma impressão impaciente no rosto, definitivamente nos daríamos bem.

- Qual seu nome? – perguntei em direção a ela.

- Luana. – Disse ela empinando levemente o nariz.

- Então Luana, esse jogo tem uma regra principal, a vitória só acontece quando um dos lados comete um erro e o equilíbrio não pode mais ser restaurado. Ele espera por um erro, mas não creio que isso o intimida.

Bella bufou à minha frente dando a volta na mesa e sentou na cadeira colocando os pés em cima da escrivaninha, o que não intimidou Luana de continuar a colocar uma voz aos seus pensamentos.

- Nós sabemos que a primeira peça é o peão, mas o que faz você pensar que ele fará essa jogada especificamente?

Ela era esperta, e curiosa. A cada segundo eu gostava mais ainda da Luana, sua pergunta era realmente pertinente.

- É simples, é a melhor jogada a se fazer. Se ele começou com o peão, certamente ele foi para o pequeno centro.

Eu encarei a Luana por um momento, tentando telepaticamente economizar nossas feições em palavras e ela automaticamente sorriu para mim. Bella deu um pulo neste exato momento e rodopiou em direção ao mapa da cidade no quadro em frente à mesa.

- Muito bem, largando um pouco o papo furado. Como vamos enfiar um tabuleiro neste mapa? – Bella estava com as mãos no queixo passando uma exagerada pose de pensativa.

- Precisamos medir simetricamente o mapa, compreendendo todo ele. Ele teria que ter oito por oito. – eu estava fazendo os cálculos automaticamente na cabeça e já imaginando o quadro montado no mapa.

- Potter, acha que consegue exercer sua habilidosa simetria nisso aqui? – disse Bella apontando para o mapa, é claro que seus gestos eram exagerados, como uma vendedora exibindo uma mercadoria. Acabo de chegar a conclusão de que todos os movimentos de Bella são exagerados e sempre irônicos.

Todos olharam para o menino, e ele ficou automaticamente ruborizado.

- É Lucas Senhora. – O menino disse ganhando uma levantada de sobrancelha da Bella. Ele fungou e resolveu tentar novamente.

- Si... Sim, eu posso fazer isso. – gaguejou virando a cabeça para o lado como um cãozinho perdido.

- Corre atrás da reguinha então. – Bella disse girando os dedos no alto da cabeça, indicando para ele agir, da mesma forma que o nosso delegado fazia.

Lucas saiu numa velocidade extraordinária para fora da sala e Bella ficou explicitamente feliz por conseguir incomodar alguém.

- O objetivo do momento será controlar o centro. – Eu disse, ganhando toda a atenção novamente. - Digamos que a parte vertical dos quadrados terão números de 1 ao 8 em ordem crescente e horizontalmente cada fileiras de quadrado será nominado da letra A ao H, assim organizamos melhor mentalmente o tabuleiro.

Eu confundi todos, então resolvi desenhar nas extremidades de uma folha que estava jogada imitando o tabuleiro em cima da mesa.

- Sendo assim, podemos dizer que a primeira jogada feita, a qual perturbou o equilíbrio do tabuleiro foi a E4, precisamos colocar a jogada no nosso futuro tabuleiro/mapa exatamente no endereço onde foi achado o corpo da nossa primeira vítima o peão.

Eu parei um momento olhando o quadro.

- Qual seu nome? – eu perguntei olhando a loira confusa à minha frente.

- Julia. – Ela disse assustada olhando para mim e para Bella sucessivamente.

- Julia, nós não podemos ser idiotas, você vai atrás de outras provas que não seja a nossa idéia precipitada. Parece muito provável essa teoria, mas não completamente. O ideal é agirmos de vários ângulos.

- Essa é a minha deixa, vou fazer alguns telefonemas. – Disse o delegado se retirando logo atrás da resignada e amedrontada Júlia. Foi quando o Lucas entrou vitorioso com uma régua na mão e foi direto para o mapa para não perder tempo. Bella se afastou automaticamente, dando mais espaço para o menino trabalhar.

- Qual seria a próxima jogada? – perguntou Julia, cruzando os braços impacientemente com as distrações, o que fez minha atenção voltar ao rumo do jogo.

- Como a primeira jogada dominou o pequeno centro, a resposta clara seria o adversário responder do mesmo modo, que no caso seria jogando outro peão no E5. Ficando frente à primeira peça do jogo no tabuleiro. – Eu movimentei o outro peão em frente ao primeiro no tabuleiro.

Bella estava impaciente o que fazia Luana automaticamente se agitar, as duas não se pareciam tanto olhando melhor. Luana era impaciente de um jeito infantil, mas meiga, o que era completamente o oposto da Bella, nada meiga, muito menos infantil, apenas impaciente com as pessoas. As duas mexeram os pés em sincronia o que me fez querer chorar, aquilo ia ser desgastante.

- Acho que terminei. – Disse Lucas olhando para o mapa todo recentemente quadriculado.

- Aleluia! – disse Bella circulando o garoto para analisar o quadro.

Eu dei o melhor olhar de indignação que eu pude em direção à Bella, que me respondeu levantando os ombros e dizendo O que? Com a boca, porém sem emitir som algum.

Eu fui em direção ao mapa e Lucas teve dificuldades para sair do caminho antes de se atrapalhar com os próprios passos em minha direção.

- Obrigada Lucas. – Eu disse quando marcava dois pontos vermelhos com a caneta que eu peguei no aparador abaixo do mapa.

- Se eu estiver correta o próximo crime ocorrerá nesse bairro. Bella...

- Deixa comigo. – Interrompeu se retirando da sala no mesmo instante.

- Você. – disse apontando para a Luana. – Você pode pesquisar todas as casas à venda ou abandonadas nessa região?

Apontei para o mapa e Luana assentiu com a cabeça se encaminhando ao meu computador. Eu a olhei com indignação quando ela sentou na minha cadeira.

- O que? – Ela me encarou reparando na minha boca aberta em protesto.

- Vou demorar mais se eu sair daqui. – Continuou.

Bella apareceu pálida de repente, ela estava com o celular na mão e me olhando como se eu fosse algum monstro.

- Vamos lá profeta, acabamos de receber um chamado. Parece que uma vedendora de imóveis foi apresentar uma casa à venda e deu de cara com um presunto.

Luana sorriu e se levantou num pulo. Eu não estava tão animada, isso só significava mais sangue derramado, mais vítimas e mais famílias para dar a triste notícia.

Nós entramos no carro da Bella, agora como um grupo, Bella e eu no banco da frente e Julia, Lucas e Luana atrás.

A cena do crime era parecida com a do dia anterior. Fêmea, morena, aproximadamente 25 anos.

- Jesus, ela é a tua cara Lia. – Disse Bella entrando por último na cena.

Nós estávamos em um semicírculo em volta da cena. Era exatamente a mesma cena, a garota estava amarrada, mãos e pés, com o corpo numa perfeita porcelana, os olhos embaçados, sua cabeça levemente pendida para baixo, como se transmitisse um sinal de derrota.

Havia uma mesa de centro em frente à vítima e outro peão, dessa vez a peça era preta, servindo como peso para um papel com letras semelhantes a do outro crime.

Eu coloquei as luvas e peguei o bilhete com as mãos trêmulas. O papel era simples, branco, as letras tinham o mesmo tom suave e confiante que o outro, era visivelmente os mesmos traços.

O bilhete dizia: “Que o jogo comece!”. E logo abaixo com letras menores estava a frase “Benvenuti nel mio mondo”.

O bilhete foi tirado da minha mão por Bella, que ficou incrivelmente curiosa ao ver minha expressão. Os novatos abriram suas malas e começaram então em vão procurar digitais, escarros, sangue ou qualquer outro tipo de evidência.

- O que ele quis dizer com todo esse italiano? – Bella perguntou agitando o papel em minha direção.

- Ele já tem a próxima vítima, ela pode ser italiana, ou mora em um bairro italiano, ou come num restaurante italiano, não sei.

Lucas parecia atordoado olhando para mim com um ponto de interrogação.

Luana começou a falar, mas não olhou em minha direção, atenta às possíveis provas para encontrar.

- Por que você acha isso?

- É como eu faria. Ele disse que o jogo tinha começado, é natural pensar que a próxima frase era indicativa de uma dica.

Eu parei para analisar a cena, tinha tantas coisas diferentes ali, quase imperceptíveis, o corpo tava tratado bem demais, os quadros de fotos foram formados tecnicamente perfeitos.

- Impossível. – suspirei entre os dentes.

- O que exatamente? – Bella sussurrou tentando imitar meu tom de voz.

- O corpo, ele não foi tratado aqui, ele moveu o corpo. – Eu olhei incrédula para a cena, eram incríveis os detalhes.

- A cadeira não foi arranhada, o que significa que a vítima não se debateu, as mãos e os pés não estão com hematomas, o que significa que a vítima não fez força o suficiente para fazer com que as cordas a marcasse.

Não dava para notar isso antes, não sem as evidências do meu pai e muita pesquisa, mas era obvia a diferença. Agora ele resolveu amarrar os pés, ele transporta o corpo ao lugar desejado, ele monta o cenário.

Bella prestou mais atenção na cena a nossa frente.

- Sim, nos arquivos do seu pai tinham arranhões no piso proporcionado pela cadeira, e as fotos eram coladas com certa pressa, mas sem imperfeições.

Eu troquei o peso das pernas, incapaz de mover mais que isso.

- Exatamente, ele quer ser diferenciado, quer imprimir suas digitais. Como um copiador de quadros valiosos, ou ladrões de bancos, eles sempre fazem uma forma de imprimir sua autenticidade, seja ela uma insígnia escondida ou um traço levemente diferenciado, mesmo que em uma cópia. Ele é vaidoso e isso é bom.

Lucas estremeceu novamente e isso me deu pena, ele não parecia ter estômago para isso.

- Como ele vai desestabilizar o equilíbrio ao seu favor dessa vez? – Júlia perguntou.

- Eu preciso pensar, mas a jogada óbvia seria cavalo F3, criando uma barreira, dando a possibilidade de atacar o peão inimigo e ao mesmo tempo defender seu peão.

Luana levantou como uma criança faz quando pede a vez de falar para um professor.

- Se a posição é a F3 a próxima vítima apareceria aqui por perto, talvez até nesse quarteirão.

- Sim, só que estamos falando do cavalo. Eu achei que ele apenas faria as regras do jogo de xadrez em um mapa da cidade, mas podemos considerar o tamanho de jogadas com o tempo.

- Desenha mestre Yoda, ninguém entende sua língua. – Exclamou Bella com seu olhar incriminador.

- O peão só pode andar uma casa por vez, ele realmente andou uma casa no mapa da cidade, confirmando nossa teoria, só que podemos pensar no tempo, ele matou com intervalo de um dia, isso com certeza foi desconfortável e arriscado. Talvez o número de passos seja também o numero de dias, o que no caso do cavalo seriam de três dias, como no peão que foi um dia só.

- Como você acha que ele transporta suas vítimas? – Lucas começou, com uma sincera curiosidade.

Eu não queria divagar sobre o caso, mas estava com dó do menino, ele realmente estava amedrontado.

- Diria um carro funerário, um furgão eu não sei exatamente.

Lucas suspirou insatisfeito com a minha resposta.

Bella se inclinou em direção ao corpo da vítima.

- Ela tem uma mancha rocha no pescoço, eu diria que ela foi eletrocutada.

Ela olhou para mim esperando um comentário.

- Não sei dizer. – completei insegura e curiosa. Esse assassino habilitou tudo a seu modo, ele é extremamente vaidoso, não poderíamos continuar com a filosofia do meu pai.

Foi quando veio um pensamento perturbador na minha mente, os crimes poderiam ter sim diferenças, mas sua similaridade ainda era desconfortável, meu pai deveria estar envolvido de alguma forma nisso tudo, afinal ele deu a largada real para o jogo.

Voltamos ao escritório e automaticamente Luana se aproximou do quadro marcando um círculo com tinta vermelha no próximo bairro.

Os próximos dias foram insuportáveis, nós ordenamos as patrulhas no bairro e nas proximidades da provável jogada. Nós cinco praticamente dormíamos no escritório, parávamos de vez em quando para cochilar ou ir para casa tomar um banho e trocar de roupa, mas basicamente a nossa vida se resumiu em comida gelada delivery, muito café e doses homeopáticas de desespero ao ver o tempo passar.

Os mais ausentes eram sempre Lucas, que precisava fazer inalação várias vezes durante o dia devido a um desvio de septo, e Bella que estava sempre em campo tentando ser a mais pratica possível em relação a provas e pistas. Bella não nascera para ficar em um escritório pensando e rabiscando um quadro, ela era prática por tanto estava sempre rodando em busca de algo que pudesse nos ajudar.

A próxima jogada estava óbvia, mas não havia nenhum imóvel abandonado naquela parte do bairro e só tinham duas casas à venda, que foi rapidamente providenciado patrulhamento e seguranças tornando uma impossível entrada sem ser notada.

Já passava do meio dia eu, Luana e Julia ainda não tínhamos pistas da próxima jogada, não conseguíamos referenciar nada com a frase em italiano e muito menos com lugares abandonados. Estávamos travadas nas informações que o assassino nos dera, precisávamos avançar e expandir os pensamentos, mas todas as minhas teorias já tinham dado em nada.

Luana parou de digitar desesperadamente no computador e olhou esperançosa nos meus olhos.

- Há dois anos existiu um restaurante italiano na área F3, agora é um estúdio de arte, você acha que talvez...

- Liga para Bella mandando o endereço imediatamente. – disse interrompendo a frase da Luana.

Júlia saiu da sala com alguma idéia a perseguir.

Eu peguei um copo de café, já estava me irritando com a Luana que falava sobre a história antiga do restaurante e meus pensamentos estavam vagando na idéia de outra vítima, quando algo me chamou atenção em suas palavras.

Desculpa. Qual era o nome do restaurante que você falou? – eu disse sem me virar do xadrez/mapa a minha frente.

- Benvenuti.

- É isso. Liga para Bella e fal... – Fui interrompida com o barulho da porta se abrindo.

Bella entrou na pequena sala apinhada de roupas, travesseiros e copos de cafés espalhados e se espantou imediatamente com a bagunça, ela já estava há mais de 12 horas fazendo ronda junto com a patrulha, abordando suspeitos, procurando pegadas nos imóveis ou qualquer evidência que a fizesse sorrir. Ela balançou a cabeça como se afastasse uma nuvem da sua cabeça e voltou ao que parecia o objetivo da entrada dela na sala.

- Recebemos um chamado, uma senhora achou estranha a entrada de um furgão, daqueles refrigerados, em uma espécie de estúdio ontem à noite. Era domingo, era um furgão, sabe como... – Bella se interrompeu a tempo de ver meu copo descartável de café cair e espirrar café para todo o lado principalmente em mim e no chão.

- Você não acha que aqui já está sujo o suficiente? – Bella disse indignada.

- Benvenuti.

- Compartilhe Lia, anda. - Bella estava impaciente.

- Se não tiver um corpo nesse salão terá em breve. – Sussurrei

- Então vamos logo prender esse babaca, preciso de férias depois dessa. – Bella foi em direção a saída gritando suas últimas palavras.

- Luana liga para o Lucas voltar e eu vou atrás da Julia, alcance a gente, você sabe o endereço.

Luana estava com o queixo caído, mas se recuperou rapidamente e levantou correndo para saída, e eu corri atrás de Bella que estava me esperando em frente à porta do elevador encostada de lado na parede, a cabeça abaixada e uma cara de poucos amigos.

- Não quero te chatear Lia, mas você está engatinhando atrás do assassino. Cadê aquela história que você precisa estar um passo a frente?

É claro que aquilo me chateava, mas não deixava de ser verdade. Eu estava apanhando feio desse cara.

A cena do crime era a mesma, nós cinco olhávamos desanimados para cena do crime, Júlia começou a falar sem tempo para respirar.

- Nas pontas dos dedos das mãos de todas as outras vítimas tinham resquícios de piroclastos conhecido comumente como pedra-pomes foi o que ele usou para desconfigurar as digitais. Nos cabelos tinham resquícios de cerdas de javali e nylon usadas geralmente para fazer uma escova de cabelo. As unhas foram cortadas e limpadas com uma substância característica do formol. Na segunda vítima foram encontradas fibras ainda desconhecida na roupa. – Ela respirou olhou para nós e continuou. – Elas estão sempre com essa camisola de seda, esse tecido não é tão comum estou procurando onde podemos encontrar esse tipo de roupa. Os órgãos delas foram falhando aos pouco indicando que elas ainda estavam vivas quando houve a troca de sangue por glicerina. É claro que estamos procurando nos programas de reconhecimento, pessoas com a aparência da Lia, mesmo que mínima para protegê-las, apesar de ser uma idéia vaga. A única coisa que ainda não consegui pensar é onde ele colocaria todo o sangue. – Terminou ela, abaixando a voz em sua ultima frase.

- Ok. Nosferatu chega de tagarelar. Corra atrás de onde ele pode ter comprado isso tudo. – Bella disse distraída com a cena a sua frente.

- Potter. – Continuou ela. – Procure evidências diferentes do que a gente já sabe e Lia, para com a cara de órfã chorona e leia a porcaria do bilhete.

Eu não sei que horas o Lucas chegou, mas ele estava plantado atrás de mim com uma cara calma e inespressiva o que me preocupou, ele parecia sempre tão perdido. Esse traballho transforma qualquer um, lembro como era quando comecei.

Eu estava realmente pirando a esta altura, mas vi imediatamente o bilhete na mesa de centro segurada por uma peça de jogo de xadrez, o cavalo.

Eu coloquei as luvas, peguei o cavalo, embalei como evidência. Bella revirou os olhos enquanto eu dramaticamente peguei o papel com a escrita agora familiar.

- “ Now you see, now you don’t”. – Eu recitei em voz alta para todos na sala.

Então eu olhei as palavras menores indicando a próxima dica e travei quando li “O que você acha que quer dizer Lia?”

- O que você acha que quer dizer? – perguntou Bella, aterrorizando até meu último fio de cabelo.

Eu entreguei o papel nas mãos de Bella e saí para o ar livre, a última coisa que eu vi foi Luana e Bella espantadas lendo o pequeno pedaço de papel.

Bella veio atrás de mim logo em seguida. Eu estava apoiada em seu carro pensativa e não conseguia pensar muito claramente, e nem me desligar mentalmente o que era muito pior.

- Ele usou o cavalo sabiamente, essa jogada faz com que ele fique de olho no pequeno centro e tenha total controle de suas forças. Isso tudo está se transformando numa guerra de forças.

- Chega Sherlock. Eu quero saber se você está bem. – ela apoiou as mãos nos meus ombros me obrigando a encará-la.

Eu só consegui balançar a cabeça afirmativamente.

- Ótimo. - ela me empurrou em direção ao banco do passageiro e entrou em seguida ao meu lado.

- Precisamos atualizar o chefe, ele obviamente está atrás de você isso já fugiu do controle. Talvez se você sair do caso e tirar umas férias ou... – Bella não conseguiu terminar a frase.

- Fora de cogitação. – Eu disse cruzando os braços.

Nós chegamos à delegacia e Bella me direcionou até minha sala virando automaticamente em direção contrária onde havia um delegado chamando desesperadamente com seus famosos dedos agitando o ar. Eu não estava no espírito para discussão então entrei obediente na sala bagunçada.

Resolvi organizar a sala, já que meus pensamentos estavam uma bagunça.

Não adiantava o quanto eu pensasse nada nunca era claro, eu não conseguia sentir a próxima jogada, como se algo tivesse me bloqueado.

A porta atrás de mim bateu ruidosamente me transportando de volta a realidade, Luana tinha acabado de passar pela porta e começou a andar de um lado para o outro.

- Estou confusa. – começou ela. – Que diabos era aquela frase? Fez sentido para você?

- É um ditado popular para mágicos, um mágico começa com uma frase sobre distração, e então antes que você imagine faz um truque diante dos seus olhos e é quase impossível notar seu segredo. - disse Bella depois de abrir a porta.

Bella estava certa, era o que vinha me perturbando, que tipo de truque ele queria dizer? Não conseguia imaginar a próxima jogada, talvez seja isso. Uma hora eu estou vendo o jogo de uma perspectiva de telespectadora e então não consigo ver mais nada.

Bella estava me encarando e eu não sei explicar, parecia que ela estava com medo de mim. Isso me destruía, não sei o porquê, mas significava muito para mim o que Bella pensava a meu respeito, eu precisava terminar logo com isso, eu nunca iria querer Bella sentindo ódio de mim, eu queria que ela tivesse orgulho. Talvez eu tivesse transferido um sentimento de mãe ou de irmã mais velha para com ela.

- Lia, eu vou contar até três e quando eu estalar os dedos você vai voltar para mim. – Disse Bella com sua ironia implacável de sempre.

Eu inclinei no sofá, limpando minha mente para voltar a engrenar mais lentamente dessa vez.

- Você estava dizendo?

- Qual a próxima jogada, nosso querido Lecter está encantado por você. Temos que resolver isso logo.

- Você disse encantado? - disse ouvindo um três baixinho vindo da Bella.

- É Lia, não é a hora de fingir problema mental agora, vou dormir com você todos os dias a partir de hoje, e terá uma ronda em volta da sua casa também, não quero que se preocupe.

- Não funcionou muito bem a ronda da última vez. – Disse Luana fazendo com que eu e Bella parássemos de nos encarar e olhamos nervosamente para a Luana, que deu três passos para trás com as mãos levantadas encenando desculpas exageradas.

- Preciso ver meu pai. – Disse, causando congelamento instantâneo na sala.

- Porra Lia, não há nada no mundo que eu não faria por você agora, mas isso?- Bella estava visivelmente desesperada, suas mãos variavam entre esfregar o queixo e levantar indignada, ela fazia isso enquanto andava de um lado para o outro, até parar e realmente me encarar.

Ela desviou os olhos de mim se virando para a Luana, mas sem olhá-la, como se tivesse perdida em pensamentos.

- Chama o resto do clubinho Luana, precisamos de uma reunião. Agora!

Luana saiu desesperada pela porta entreaberta. Quando eu voltei a tomar atenção na sala Bella estava me encarando como se eu tivesse cuspido em seus sapatos.

- Você vai fazer o que você faz de melhor, vai ficar sentada nesse sofá até arranjar uma merda de solução cabível, e não pensa que eu vou deixar entrar na porta daquele presídio novamente, você tem noção de como ficou da ultima vez? Simplesmente não. Não. Você está me ouvindo?

- Eu obviamente estou ouvindo, não sou surda. – disse com uma voz pacata, como se o dia estivesse chato e como sinal de revolta eu levantei do sofá me inclinando em direção à janela.

O dia estava chuvoso de repente, como se entendesse a tempestade dentro de mim.

- Lia, por favor, me escute. - Começou Bella, mas não conseguiu falar mais nada.

- Eu vou ver meu pai, você me acompanha se quiser.

- Não quero que você vá, tenta me escutar.

- Por que é tão importante para você que eu não vá?

- Não quero perder você. – Bella pausou se aproximando de mim com aquele cuidado excessivo como se eu fosse algum tipo de animal selvagem e continuou. Dessa vez sua voz estava mais suave e mais baixa. – Lia, você fica confusa e mais pensativa do que é possível imaginar, você se perde quando fala, pensa ou vê seu pai.

Ela encostou o indicador no meu queixo, levantando minha cabeça e com a outra mão ela afastou um cacho, que estava atrapalhando minha visão, me causando um choque elétrico em baixa voltagem.

A porta da sala abriu, fazendo Bella dar um passo para trás e se posicionar automaticamente à minha frente, como se me protegesse de algo terrível. Ela realmente me tratava como criança e isso me irritava, não queria ser um bebê chorão e eu odiava a vontade que eu estava de chorar.

- Por Deus Bella para de agir como se fosse meu cão de guarda.

Bella relaxou os músculos visivelmente, mas não saiu da sua posição o que me fez empurrar ela de lado para olhar os recém-habitantes da sala.

Luana estava com cara de garotinha obediente trazendo os outros dois com ela.

Lucas estava me encarando com certa compaixão nos olhos e aquilo provocou ainda mais minha fúria.

Estava um clima de tensão e silêncio onde ninguém conseguia se falar ou aparentemente se mexer e eu não tinha ideia de onde tudo aquilo ia dar, até que a voz da Bella nos despertou.

- Ok, crianças. Quero respostas agora, vamos lá. – Ela disse enquanto suas mãos davam duas batidas para o alto e sentava em minha escrivaninha.

Todos olharam para mim e Luana começou empolgada.

- Lia, qual é a próxima jogada?

Eu a encarei nervosa estava justamente evitando essa pergunta, e eu não sabia o porquê até aquele momento.

- Eu não sei.

A sala congelou novamente e eu pude notar o desenrolar da cena a minha frente. Lucas olhou tentando disfarçar sua indignação e Júlia parecia não se importar, no entanto Bella e Luana pareciam preocupadas comigo.

- Defina “Eu não sei”. – Disse Luana fazendo sinal de aspas com os dedos o que fez quebrar a cena congelada como num passe de mágica.

- Mágica. – eu sussurrei pensativa.

- O que disse? – perguntou Lucas mudando os pés de apoio incomodado.

- Bella tem razão, é como as palavras que antecipam um truque. Mas qual truque?

Eu não consegui pensar, tudo que vinha em minha mente eram perguntas, rios de perguntas sem respostas.

Eu não podia mais aguentar aquilo, eu sai correndo da sala e abri sem bater na sala do delegado, que me olhou curioso.

- Quero ver meu pai hoje, consegue dar um jeito? Espero sua ligação no carro – disse saindo da sala sem esperar uma resposta.

Eu caminhei decidida de volta para minha sala. Eu nunca fui antes tão indelicada, mas eu precisava acabar com aquela história quem sabe assim Bella pararia de me ver como criança e as pessoas parassem de morrer por causa de um lunático entediado.

Eu respirei fundo antes de entrar na sala, e encontrei pessoas agitadas, de um lado para o outro, falando alto, como se tivessem tido uma ideia.

- Lia, tivemos uma ideia. – Gritou Luana empolgada, - e se a jogada do cavalo tenha sido a distração, para não dar tempo de prevermos o próximo passo dele. Chegamos muito perto dessa vez, ele pode ter ficado assustado.

- Ou entediado com o óbvio. - Replicou Lucas.

- Chaves do carro. – Eu disse estendendo minhas mãos em direção a Bella que me olhou confusa.

- Não. Hã Hã. Nem pensar. – Bella começou, indignada.

- Olha Bella eu não vou perder meu tempo explicando que não sou mais criança, muito menos tentando te convencer que eu preciso fazer algo que você não quer. Você não é minha mãe ou minha superior, eu sou independente e não preciso de babá. Então me passa logo a chave e não tente me impedir.

- Calma lá, Joana D’arc, eu só não quero você dirigindo meu carro. Você é muito braço, eu te levo. – Bella chacoalhou as chaves nas mãos com um sorriso inocente no rosto.

Eu não sabia o que dizer então eu gaguejei algo sem sentido e virei às costas rumo ao elevador.

Bella passou algumas ordens para o grupo, no qual não conseguia entender de onde eu estava.

Nós entramos no carro e Bella estava impaciente, mas não queria demonstrar, então eu fingi não reparar para poupá-la do desconforto.

- E então para onde vamos garota independente?

- Nenhum lugar ainda. Estou esperando uma ligação.

Bella abriu um sorriso largo e colocou as mãos em cima da cabeça, questionando silenciosamente.

- Então, você me arrasta ate aqui sem intenção nenhuma de ir a qualquer lugar?

- Já disse. Estou esperando uma ligação.

- Eu entendi essa parte.

Ela recostou-se no banco, pegou uma moeda em um compartimento do carro e começou jogá-la para cima. Ela estava, sem sombra de dúvidas, tentando me irritar, eu sabia disso porque enquanto ela jogava a moeda, de vez em quando me olhava de canto de olho sorrindo levemente.

Eu pulei bruscamente alcançando a moeda no ar, abri a janela e joguei-a o mais longe possível, como se fosse uma granada sem o trinco de segurança. Quando voltei minha atenção ao carro, Bella tinha congelado com as mãos como se fosse receber a moeda que eu havia pegado no ar, me encarando com a boca aberta.

- Olha, não é pela moeda, eu tenho um porta-moeda aqui, mas ela por outro lado não merecia todo esse ódio.

Bella era muito debochada e às vezes aquilo me fervia o sangue. Ela percebeu imediatamente o que causara em mim, então ela encostou pela segunda vez com a ponta dos dedos no meu rosto, e eu senti de novo aquela onda eletrizante. Aquilo era estranho tinha certa conexão entre a gente, não sei se eu teria isso com a minha mãe, ela não viveu tempo o suficiente para eu saber quais são os sentimentos exatos. Eu senti vontade de chorar, mas nunca ousaria fazê-lo na frente da Bella.

- Puxa o ar Lia. – Bella sussurrou.

Eu puxei o ar como ela pediu e ela fez sinal para que eu soltasse então eu o fiz. Trazendo-me uma onda de tranquilidade e uma leve tontura.

O telefone tocou e eu saltei batendo as mãos no câmbio do carro.

- Alô? – disse Bella pegando o celular que estava no meu colo, o que me irritou mais do que a dor que estava pulsando nas pontas dos meus dedos pela recente contusão.

Eu ouvi as palavras, Sim. Ok. Pode apostar que sim, chefe. Então ela desligou balançando negativamente em minha direção.

- Para o presídio então hã. – Ela disse, quebrando o silêncio e saindo com o carro.

Eu não imaginava o que passava na mente da Bella, eu só não queria que fosse desaprovação, nós fomos em silêncio a viagem inteira e aquilo me perturbava ainda mais. Não queria chateá-la, mas não ia sentar numa sala com medo dos meus pesadelos, enquanto pessoas morriam.

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