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Movimento

Uma peça é dita ameaçada se estiver ocupando uma casa controlada pelo oponente.

Bella e eu entramos no carro em silêncio e o constrangimento me subiu a mente. Como exatamente eu pudera prender a única pessoa que respeitava e confiava em mim?

- Bella eu acho que lhe devo mais que desculpas. – Eu a olhei esperando uma indicação que eu podia seguir com a aquele assunto, porém não veio.

 Nós saímos do estacionamento da delegacia e Bella parecia incomodada, enquanto dirigia, não parava de olhar para o retrovisor e batucar os dedos da mão no volante.

- Lia já disse que tudo bem, eu só pensei em te proteger e esqueci que você pode se proteger muito bem sozinha. – Eu a olhei estarrecida, porém Bella não desgrudou os olhos da estrada.

- Aonde vamos? – resolvi dizer finalmente.

- Padaria, eu estou com fome. – Bella virou uma avenida enquanto falava e seguiu rumo ao nosso refúgio familiar.

Ela estava do jeito de sempre, mas era o jeito de sempre que ela era com outras pessoas, ela nunca foi assim comigo antes e eu não deveria me importar, mas um peso no meu peso antes pequeno começou a aumentar e eu resolvi olhar o trânsito pela janela ao invés de encará-la.

Nós chegamos à padaria e o lugar estava completamente diferente, por ser noite, provavelmente madrugada, o local estava vazio. Rostos que eu não conhecia trabalhavam lá, outro turno, pensei enquanto Bella abria a porta de entrada para mim. O cheiro estava mais gorduroso, menos saboroso que de manhã e os poucos clientes que lá estavam eram trabalhadores noturnos, ao lado da nossa mesa de costume estavam alguns profissionais da saúde ainda com avental do serviço de algum hospital próximo, tomando café e comendo lanches enormes. Precisava anotar mentalmente qual era o hospital mais próximo para não ir lá nunca, sabe lá Deus quantos tipos de bactérias aqueles profissionais estavam levando para dentro do hospital usando um equipamento de segurança na rua daquele jeito.

 - Vai querer o que Lia? – Perguntou Bella enquanto sentávamos na nossa mesa de costume.

Isso não é nada bom. Eu nunca faço meu pedido. Eu a encarei, ainda desatenta aos movimentos ao meu redor, quando notei pessoas aproximando de nós.

- Ora, ora, se não é nossa fujona favorita. – Disse Luana sentando ao lado de Bella e empurrando a cadeira para trás deixando ela mal se equilibrasse em dois pés.

- Não fala assim Luana, Lia só estava pensando no nosso bem. – Julia colocou a mão no meu ombro esquerdo e se sentou ao meu lado.

- Já que o clube da Luluzinha está todo reunido, precisamos voltar ao trabalho. – Bella falava rispidamente como sempre, mas agora eu me sentia inclusa na turma, sem me sentir protegida ou menos atingida como sentia das outras vezes.

Uma atendente se aproximou com uma caderneta velha, mastigando um chiclete provavelmente velho também e um olhar insinuador para Bella. Por que todas olhavam para ela assim? Não parecia óbvio para mim que Bella gostasse de mulheres. Parece que o resto da humanidade discordava de mim.

- Vão querer o que? – A atendente falava no plural, mas o olhar não saia de Bella.

- Quero um café com três colheres de leite em pó desnatado, dois cubos de açúcar mascavo e creme Machiatto, por favor. – Os pedidos de Júlia nunca eram simples.

            Por mais que a atendente não parasse de encarar Bella, foi Luana quem começou seu pedido interrompendo um começo de frase da Bella que até então pareceu não perceber as investidas visuais da mulher em pé à nossa frente.

            - Eu quero um pão na chapa, um café preto e talvez um melhor disfarce nas suas intenções de encarar minha namorada. – Depois de Luana ter feitos seus pedidos todos da mesa pararam e a olharam, o que gerou uma cena cômica. Namorada?

            - Luana, não seja indelicada com a moça. – Bella foi a primeira a descongelar a cena. Logo após falar com Luana, ela virou a cabeça para minha direção e seus lábios se moveram, porém o som não chegou aos meus ouvidos.

            -Lia? – Bella estava com sua sobrancelha levantada e uma leve preocupação nos olhos.

            - Hãm. Eu... – Olhei a atendente em busca de resposta, ela me devolveu um olhar irritado e olhou o relógio. – Nada. Obrigada. – finalmente falei.

            Bella me olhava com uma calma fingida, era estranho como ela parecia saber tudo de mim, ela sabia que eu tinha alguma preocupação em mente, por outro lado me enganei sobre uma coisa. Eu não sabia nada dela.

            - Lia você precisa de...

            - Ar, eu preciso de ar. – interrompi Bella me levantando da mesa mais rápido do que eu calculara.

            Eu me virei e ouvi uma cadeira se distanciando às minhas costas e um cochichar leve me fez ter certeza que Bella se levantou em seguida. Apressei os passos, queria evitar um confronto constrangedor como aquele, mas estava mais que claro isso seria impossível.

            Assim que eu atravessei a porta da padaria um ar gélido tomou conta dos meus pulmões e eu agradeci aos céus por isso, minha mente pareceu se desanuviar e entrar em sintonia aos meus atônitos pensamentos. Bella que estava logo atrás, como tinha previsto, me segurou pelos braços e me direcionou para o estacionamento. Ela se apoiou em seu carro e eu a encarei sentindo um leve tremor, talvez por causa da brisa, talvez por causa de seu olhar intenso.

            - Você está bem? – Bella trocou o peso dos pés e enfiou as mãos no bolso enquanto ainda me olhava.

            Eu a encarei, mas não saia nada da minha boca. Minha mente também não estava com vontade de processar nenhum tipo de diálogo, isso e o fato dela estar particularmente bonita agora, seus cabelos repicados estavam balançando em harmonia com o vento e com as mãos nos bolsos e aquele casaco, parecia uma heroína de anime, sempre perfeita, eu em compensação comia cabelo e me tremia dos pés à cabeça, completamente desastrada na paisagem.

            - Por Deus, Lia. Fala alguma coisa. – Bella fez menção de tocar meus ombros e eu me afastei acarretando um olhar de incredulidade e uma sobrancelha levantada o mais alto que eu já tinha visto até hoje.

            - Prefixo do latim Ex, ação de tirar, saída, acabamento, ação de levar, provação, negação. – Eu a encarei, estava com os seis dedos apontados para ela por ter citado o significado de Ex e numerado com os dedos. Seu rosto permaneceu congelado na mesma expressão de antes.

            - Lia, eu. – Bella começou uma frase, então parou para me olhar novamente.

            - Esquece, não estou te julgando, só realmente precisava de ar.

            - Eu sei o significado de Ex lia, mas você disse que. – Bella tentou outra frase, mas não conseguia a deixar falar. Aquele momento era embaraçoso, Bella estava numa tentativa fiel de, aparentemente, me conquistar, aparecer com uma namorada, era no mínimo constrangedor. Mas o que eu tinha com isso?

- Eu não preciso ouvir minhas próprias palavras, enquanto eu não estiver problema de armazenamento da minha memória recente, isso não é necessário. – Eu respondi o mais ríspido possível para Bella.

- Certo. – Bella simplesmente respondeu a altura. - Nós voltamos – Continuou Bella abaixando a cabeça depois de uma pausa.

            Jura? – Meu tom de voz era ácido.

            Gotas de orvalho se acumulavam nos meus cabelos e ombros e estava me congelando aos poucos.

            - É o que você quer? – eu a olhei esperando uma resposta, mas não parecia vir nenhuma, até ela puxar o ar com força e me olhar por entre o cabeço repicado.

            - Eu. – Bella colocou as mãos para cima e deixou que elas pendessem bruscamente ao lado do corpo. – Eu não sei, Lia. – disse por fim.

            Nós nos encaramos por alguns segundo e uma pontada que estava leve começou a pesar no meu peito.

- Talvez eu já saiba o meu pedido, melhor entrarmos. – Eu a olhei novamente e um arrepio passou por todo meu corpo deixando minhas mãos e pés dormentes.

Eu estava prestes a me virar em direção à padaria, quando senti uma mão quente segurar minha mão esquerda - Eih, calma, espera. – Bella me puxou preguiçosamente para sua direção e fixou seus olhos nos meus, eu vi dor e isto me virou o estômago.

- Você tem uma namorada agora, não encosta deste jeito em mim ou me olha assim. – Eu estava furiosa, mas a expressão dela depois do que eu disse pareceu muito pior que ódio.

- Nunca faltaria com respeito a nenhum dos lados, eu só estou preocupada com você. – A voz de Bella parecia de mil facas capazes de cortar uma geleira com a mesma facilidade que se corta uma manteiga.

- Dispenso sua preocupação. – eu me desvencilhei de suas mãos e voltei meu corpo na direção de onde viera.

Voltar para a padaria foi mais estranho do que ter saído do nada. Primeiro porque sempre procurava por Bella antes de entrar e agora eu estava andando roboticamente sem ao menos enxergar alguma coisa, e segundo Bella nunca foi nada além de minha amiga, por que as coisas pareciam mudar agora? Eu não quero nada com ela, então é melhor parar de fazer cena. Afinal não é como se eu tivesse perdendo algo que um dia foi meu. Será que eu estava com ciúmes de amiga? Meu Eu crítico me olhou com uma sobrancelha levantada, amigas tem ciúmes. Eu tirei meu Eu crítico da mente com um chacoalhar de cabeça.

Quando voltei à mesa, me deparei com o olhar de preocupação de Júlia e o rosto interrogativo de Luana que não parava de olhar para porta.

- Tudo bem com vocês? – Júlia afastou os olhos do seu caderno de anotações por alguns minutos.

- Por que não estaria? – respondeu uma voz familiar colocando as mãos nos meus ombros. Bella.

As mãos dela em mim, ainda causavam o mesmo efeito, me faziam tremer.

Eu me sentei no mesmo lugar de antes porque minhas pernas estavam prestes a vacilar e me concentrei em não demonstrar meu prévio desequilíbrio.

- Enquanto as duas tomavam ar fresco, descobrimos alguma coisa sobre nosso Potter. – Luana apontava para o celular enquanto falava, como indicação de onde veio suas informações.

- Não chama ele assim, só eu posso chamar ele assim. – Bella olhava com indignação fingida para Luana e certo brilho que eu não consegui decifrar, admiração talvez.

Um sentimento parecido com ódio subiu na minha cabeça como um fogo alastrando e queimando cada parte minha, mas isso não era do meu feitio e eu não iria permitir esse tipo de sentimento, seja lá o que isso significava e só tinha um jeito disso parar, vou mudar minhas atitudes com Bella.

- Você dizia? – balancei a mão para frente para que Luana continuasse, mas ela parecia em transe com Bella ainda, demorou certo tempo para as duas voltarem para o nosso mundo.

- Depois da sua alegação contra Lucas na sala de interrogatório todos foram atrás dele esperando respostas, mas. – Luana dizia enquanto foi interrompida por Júlia.

- Estão procurando em todos os lugares, ele simplesmente desapareceu. – Júlia disse com uma voz sufocada, como se lhe faltasse ar no meio da frase.

Eu olhei para mesa e me desesperei, o Lucas era o assassino eu tinha certeza, não podia deixa-las correndo perigo, precisava fazer algo. Bella estava cochichando algo com Luana que respondia com risadas entrecortadas, quando aquele sentimento voltou, já estava passando dos limites, eu não podia mais sentir aquelas coisas, então decidi fazer algo que talvez resolvesse esse caso de uma vez por todas. Assim eu poderia me transferir e ficar o mais longe possível de Bella e de toda aquela confusão de sentimentos que ela causava.

- Eu sei que parece loucura, mas preciso fazer algo. – Disse olhando para mesa.

Bella se interrompeu na conversa com a Luana como se sua língua tivesse sido cortada em uma fração de segundo e Luana me olhou sabendo que Bella parara por algo que eu disse.

- O que quer fazer? – Bella afastou com a mão alguma conversa que Luana pensou em começar e levantou uma sobrancelha olhando para mim.

- Não quero, eu vou. – Eu olhei para Bella com uma fúria que eu não sabia que tinha até então.

- Ok. O que vai fazer então? – Bella deve ter entendido meu tom de voz porque perguntou no mesmo tom que o meu só que vindo dela parecia uma trovoada, ao contrário de mim que possivelmente lembrava um bebe rato profundamente zangado.

- Vou ver meu pai. – Todos me olharam simultaneamente, então desviei os olhares delas e olhei a movimentação ao redor, que era quase nenhuma na verdade, não tinha quase ninguém na padaria, eu odiei porque durante as manhãs o lugar era lotado e transmitia uma espécie de calor humano deixando tudo abafado e familiar, essa hora o lugar parecia tão morto.

- Ah não, você não vai, caso encerrado. – através da minha visão periférica, vi que Bella me olhava, então virei meu rosto para encará-la e não foi nada agradável o olhar que eu recebi de volta.

- Isso não foi um pedido para opiniões. – Eu a encarei sussurrando minhas palavras.

- Eu não dei uma opinião. – Disse Bella com as palavras saindo entre os dentes.

- Vamos parar com a discussão vai, se a Lia quer ir, qual o problema Bella? – Luana se virou para Bella durante a pergunta.

Eu sabia que Bella só estava tentando me proteger, mas aquela superproteção que me agradava e me deixava confortável, agora me irritava profundamente e eu estava louca para ouvir Bella dizer na frente da Luana o porquê me protegia tanto, na verdade, estava louca para ouvir.

- É Bella, por quê? – Eu encarava Bella enquanto perguntava e vi por algum segundo algo no olhar que Bella me devolveu, mas não consegui decifrar antes que sumisse.

Bella pigarreou antes de começar falar. – Então vamos, mas vamos todas.

Eu travei, sem conseguir argumentar, nem parecia uma má ideia.

- Adoro visitar assassinos sinistros que influenciam pessoas a matar preso em uma prisão de segurança máxima, mas precisamos de autorização. – Luana disse levantando da mesa o que nos impulsionou a fazer o mesmo.

- Chefe? – Perguntou Júlia olhando para Bella enquanto organizava suas anotações.

- Chefe. – Disse Bella deixando o dinheiro na mesa ao lado da comida intocada.

O apartamento do delegado não ficava longe, era um prédio pequeno com três andares de esquina com uma avenida movimentada e uma síndica fofoqueira que sempre aparecia na janela quando ouvia vozes em baixo da sua janela, eu sabia disso porque todo ano tinha uma festa mais selecionada na casa do chefe e desde que conhecera Bella, ficávamos bebendo e rindo de piadas toscas no estacionamento do prédio que ficava exatamente em baixo da janela da sindica, porém ficava longe da festa e de olhares mal humorados e isso já era suficiente. Às vezes Bella falava mentiras absurdas sobre o delegado mais alto que o normal só para sindica se debruçar ainda mais na janela para tentar ouvir mais coisas, e quando ela o fazia rolávamos de rir da pobre mulher.

Quando chegamos ao apartamento o delegado já estava na portaria nos esperando, provavelmente alguém ligara para ele da padaria. Ele estava de roupão mal escondendo um pijama surrado e com uma cara ainda pior que a de sempre e um chinelo de pano.

- Desculpa o horário chefe. – disse Bella ao abrir a janela de passageiro que eu estava sentada para conversarmos com ele.

- Não peçam desculpas, façam algo útil para esta investigação, os prefeitos daqui e de lá deram cartão branco para as visitas na cadeia, podem ir qualquer horário. – O delegado me olhou pela primeira vez até então e desceu uma oitava na voz ao falar – Lia, sei que é difícil para você, mas realmente precisamos fechar esse caso.

Eu acenei com a cabeça positivamente e Bella seguiu com o carro para estrada que levava para SP.

Dessa vez a recepção no presídio foi diferente, os guardas nos olhavam com uma ligeira rispidez e insegurança, o que para mim fazia total sentido, nós estávamos quebrando as regras de uma prisão que foi construída com as mais regras e politicas de proteção possível e então chega à filha de um criminoso fazendo bagunça.

- Júlia, Luana – Bella apontou o dedo para as duas antes de continuar. - eu quero que pesquisem tudo sobre este lugar, se o pai da Lia passa informações para o lado de fora eu quero saber como, se ele soluça nas terças- feira, qual policial ele prefere, qual comida ele come, que horas ele vai ao banheiro e quantas vezes eu quero saber tudo. - Bella pausou trocando olhares com a Luana por um segundo. - Eu e a Lia vamos entrar.

Eu fui tentar argumentar sobre Bella ir junto, mas ela me interrompeu com um olhar tão feroz que minhas palavras desceram de volta garganta abaixo.

- Quem morreu e te nomeou a líder do clube? – Luana olhava para Bella com uma falsa tranquilidade e Bella parecia furiosa.

Nós nos separamos e enquanto eu passava no detector de metal vi de relance Luana abordar um segurança de forma amigável demais.

Aquele lugar estava começando a ficar familiar e isso não me agradava nem um pouco.

Bella me parou na entrada da sala aonde ia me encontrar com meu pai.

- Lia se quiser sair em qualquer circunstância, simplesmente me de um toque, certo?

Eu a encarei e então entrei na sala deixando-a sem uma resposta.

Então descobri que tínhamos sido levadas para uma sala diferente, essa era mais parecida com um interrogatório, porém mais escura maior e com um espelho do teto ao chão.

Nós nos sentamos e esperamos cerca de dez minutos que eu podia jurar que pareciam dez horas, três policiais trouxeram meu pai algemado, o colocaram em uma cadeira em frente a nossa, prenderam as corrente que estava em seus pés em um gancho no chão e prenderam suas mãos para trás, aquilo parecia desconfortável, mas meu pai fez parecer com que estivesse ali por vontade própria para uma partida de xadrez.

- Olá, senhor Matarazzi, nós viemos. – Bella começou a falar, mas não conseguiu terminar, meu pai me olhava assustadoramente encantado e a interrompeu no meio da frase.

- Lia, você parece cada dia mais com sua mãe. – Ele me olhou ainda mais profundamente e um arrepio se alojou na minha lombar subindo vagarosamente até a cervical.

- Aquela que você matou e drenou todo o sangue? – eu o olhava sem esperar resposta desanimada já de tanto enigma sem solução.

- Você tem o mesmo espírito também. – Disse ele com uma gargalhada assustadoramente tranquila, como se já esperasse esse tipo de reação de mim e não se importasse nem um pouco.

- Não vim para papo furado. – Eu lancei um olhar furioso e ele me devolveu com um sorriso carismático.

 Meu pai agia como se pessoas morrendo por sua causa fosse à coisa mais comum do mundo.

Bella se encolheu na cadeira e eu poderia jurar que a vi tremer.

Meu pai pareceu pensar por uns segundos e então balançou a cabeça para apagar tal pensamento.

- Ok, vamos aos negócios então, o que precisa de mim?

Aquela frase me fez vacilar, era estranho como me senti mal, afinal fiquei anos sem ver meu pai e então apareço exigindo respostas, tratando-o mal e acusando-o de tudo que era possível, mas ele era um assassino e eu não deveria me sentir errada por isso. Ele é um assassino, não um pai.

Eu recuperei meu equilíbrio mental e me concentrei em produzir uma voz firme.

- Preciso que me conte a verdade. – eu não tive sucesso, minha voz saiu embarcada eu parecia uma adolescente prestes a chorar.

Ele entortou a cabeça para o lado me olhando com algo que parecia fascínio nos olhos. Eu me arrepiei novamente.

- Um rapaz um tanto peculiar uma vez disse que se você encontrar um caminho sem obstáculos, ele provavelmente não leva a lugar nenhum.

- Frank Clark. – sussurrou Bella.

Meu pai pareceu notar Bella pela primeira vez, a encarando, analisando, medindo seu corpo, mas não durou muito tempo, ele voltou a me encarar logo em seguida. Eu o olhei com revolta nos olhos e um rosto provavelmente impaciente o que o fez voltar ao assunto.

- A verdade então Liatris. – Meu pai se ajeitou na cadeira e me olhou como um pai prestes a contar histórias de dormir para uma criança.

- Existe um mundo muito obscuro lá fora Tris e eu a quero longe dele. – Ele me olhou novamente e parou de falar, só meu pai me chamava de Tris e só em momentos de afeto, eu tremia com a ideia daquele apelido me lembrar momentos acalentos, longos minutos se passaram como se tivéssemos parados no tempo.

- Eu vi os símbolos nas fotos pai, pareciam de cultos satânicos ou algo do tipo. O que você fez? – Uma lágrima solitária caiu dos meus olhos enquanto eu falava e minha voz saiu sussurrada no final e esses sinais de fraqueza me deixaram furiosa.

Meu pai me olhava com um olhar que eu não conseguia decifrar, mas parecia o mesmo olhar que eu lembrava quando pequena.

- Não é satanismo. – Ele riu levemente e então sua feição ficou seca e ríspida como se tivesse com nojo. – se eu lhe contar promete se retirar do caso e nunca mais procurar nada sobre isso?

Nem morta!

- Prometo – disse tentando não ser rápida demais nem tocar o nariz ou esfregar a testa, qualquer sinal que provasse que eu estava mentindo.

- E sua amiga aqui vai ter que sair. – Meu pai dizia de Bella, mas não olhou em sua direção, ele ainda me encarava como se estivéssemos sozinhos.

Bella se ajeitou na cadeira tomando uma atitude de pavão ameaçador o que significava que tinha acabado de mentalmente colar seu corpo na cadeira com um cola permanente.

- Ela fica. – disse mais com medo de ficar sozinha com meu pai do que sendo solidaria com Bella.

- É a vida dela que você está colocando em risco. – Ele disse levantando os ombros em sinal de pouca importância.

- Quando você era criança tínhamos um cachorro, não lembro o nome dele. – ele me encarou antes de recomeçar rindo. – enfim, ele tinha mania de ir a uma padaria perto de casa e ele sempre voltava com coisas que as pessoas davam para ele. – ele gargalhou deixando os pelos dos meus braços em pé. – a cara dele devia ser de uma piedade tão grande que todos acabavam dando coisas para aquele baixinho miserável.

- Minha vida está em risco por ouvir histórias de velho gagá, essa é nova – sussurrou Bella.

- Os símbolos. – eu pausei tentando me segurar na cadeira para não enforca-lo antes de continuar. – você estava falando sobre os símbolos.

Ele retomou de um provável transe, seu olhar parece ter desfocado por um tempo até voltar de seus devaneios, então imprimiu uma voz nada sorridente ao falar. – Os símbolos, claro. Conte-me o que sabe?

Eu me ajeitei e respirei fundo antes de começar a falar de um jeito prático.

- Foram dois crimes até agora, todos iguais aos seus provavelmente com os símbolos, não tenho certeza, porém as pernas presas. As peças de xadrez indicando o próximo alvo, tudo igual, é só que. – eu pausei tentando achar as palavras certas enquanto ele me encarava com certa curiosidade. - o jogo parece tão errado. – disse finalmente entre sussurros.

- Sim, sim. As peças de xadrez.

Eu o encarei esperando por uma continuação, mas não veio, então continuei.

- Me conta o que você sabe, esse jogo está ficando fora de controle.

Ele me encarou parecendo em outro de seus devaneios. – Você está vendo tudo de uma perspectiva tão amadora Liatris.

Ele sorria para mim e isso já me irritava.

- Não quero sua desnecessária opinião, quero sua ajuda, algo com que eu possa trabalhar.

Ele confirmou com a cabeça e respirou fundo antes de começar. – Eu acho que posso te ajudar, mas devo lhe avisar você não vai gostar nada do que eu tenho para falar.

- Continua o de sempre então. – disse lhe com uma nova curiosidade.

Ele sorriu como se tudo que eu dissesse fosse exatamente o que ele queria ouvir. – O jogo de xadrez é uma peça fora do quebra cabeça.

- Ok. Ótimo! Mais enigmas. – Eu balancei as mãos entre meu corpo e suspirei como uma criança mimada.

 - Desculpa Tris, mas desta vez eu disse exatamente o que queria dizer.

Eu o olhei confusa.

- Certo, então o me diz sobre os assassinatos?

Ele pausou parecendo curtir o momento e Bella se preparou para falar.

- Senhor Matarazzi não adianta nos enrolar, eu tenho uma equipe lá fora investigando tudo o que faz ou com quem tem contato, cedo ou tarde vamos capturar seu plagiador. – Bella dizia com tanto ódio e nojo suas palavras que meu interior pegou fogo, eu sabia que ele era um assassino, mas era meu pai, algo me dizia que lá no fundo ele era minha família. Não ele é um assassino.

Ele sorriu para Bella com insignificância, afastou as costas do acento fazendo um barulho estrondoso de corrente que fez eu e Bella automaticamente ir mais para trás, então começou a falar, sorrindo. – Quem disse que sou eu quem é plagiado?

Bella levantou uma sobrancelha e ele adorou esse efeito então resolveu continuar, como um gato brincando com um rato que não conseguia escapar. – Eu conheço esse sistema porque ele existe há séculos e não porque eu fiz algum dia.

- Sistema? – perguntei com curiosidade.

Ele confirmou com a cabeça e sorriu se recostando no acento o que provocou outro tilintar de correntes.

Eu continuei encarando-o na espera de uma continuação e ele continuou. – Já ouviu falar sobre os Ordinem per sex ?

Eu não respondi então ele voltou a falar. - Os Ordinem per sex é uma ordem formada muito antigamente, onde possuía membros das famílias mais ricas de um antigo condado, com a visão de dominar o mundo através da eternidade.

Eu o encarei incrédula, mas ele fingiu não notar.

- Me fale mais. – eu balancei a mão em sua frente incitando-o a continuar o que o deixou extasiado por causa da minha curiosidade.

- A “Ordinem per sex” dominou o mundo por trás das cortinas, como se o mundo fosse um grande teatro de marionetes, ninguém nunca soube o quando e onde eles influenciaram e influenciam até hoje.

- Eu nunca ouvi falar dessa ordem. – eu disse encarando-o

- E esse é o ponto, ninguém nunca ouviu, eles são fantasmas.

- Isso é um pouco insano. – disse Bella, eu nem lembrava que ela estava ao meu lado, parecia uma estátua desde que foi tratada como um rato pelo meu pai.

- Exatamente e é esse o exato intuito da ordem, permanecer como inexistentes. – continuou meu pai.

- E como você sabe dela? – continuou Bella.

- Longa história. – meu pai disse olhando para Bella com um pouco mais de interesse.

- Temos tempo. – ela olhou de relance para mim esperando confirmação, eu não respondi.

- Na verdade vocês não têm.

Nós olhamos para ele e ele sorriu satisfeito pela atenção.

- Terão mais mortes? – sussurrei.

- Sim, mais três para ser mais específico.

- Continue falando. – disse olhando para nada especificamente.

- A ordem tem várias cerimonias sagradas, porém uma eles levam muito a sério, a cerimônia Sacra messis.

- O que há com essas sociedades secretas e todo seu latim? – Bella perguntou para si mesma.

- Sacra messis é uma cerimônia onde um membro de um dos cinco grupos tem que morrer quando completa 25 anos. – meu pai disse interrompendo nossos pensamentos. – Reza a lenda que essa cerimônia começou porque um dos membros da ordem ficou muito convencido, se sentiu no poder mais do que os outros, mas a primeira regra da ordem é que as leis da natureza devem prevalecer, e uma dessas leis é que tudo deve ser balanceado, se o meio perder o equilíbrio, algo tem que acontecer para compensar o desequilíbrio, fazendo com que tudo se balanceie.

- Como em um jogo de xadrez. – Dessa vez era eu quem estava tremendo.

- Exatamente, um dos membros era viciado em xadrez, na verdade.

Algo estava me incomodando naquela história, mas ainda não conseguia saber o que era.

- Eles mataram uma pessoa de uma das famílias do membro, é isso? – Perguntou Bella tentando pegar mais informações.

- Sim. E isso foi feito por muitos anos. – respondeu meu pai com entusiasmo pela história.

- Mas, se são só seis membros como tem tantas pessoas nessa cidade, e por que se parece com Lia e essas pessoas simplesmente nasceram na mesma época? – Perguntou Bella novamente.

Achei o que estava me incomodando.

- Depois de anos seguindo essa tradição, as famílias que não iam dar a oferenda naquela época se sentiam, de certa forma, abençoadas e uma das famílias achou isso desvantajoso o que entra em contradição com a regra que colocou essas mortes na lei para começo de história.

- Então eles resolveram balancear novamente. – respondeu Bella, em sussurros para si.

Meu pai balançou a cabeça em confirmação e satisfeito consigo mesmo.

- Fazendo uma oferenda para todos os membros da família para que o equilíbrio se reestabeleça, então seriam cinco mortes a cada quinze anos, representando cada família da ordem, porém, um dos mortos ainda tem que ser da ordem.

- Você fica repetindo cinco membros da ordem o tempo todo, meu latim está meio enferrujado, mas se não estou errada Ordinem per sex significa a ordem dos seis, certo? – disse olhando para o meu pai que devolveu um olhar parecido com orgulho, o que fez meu estômago embrulhar.

- Você sempre foi inteligente. – eu ainda podia sentir meu pai olhando para mim, mas eu já tinha abaixado a cabeça há um tempo.

- A ordem dos seis começou com seis membros, porém um dos membros se retirou depois que começaram as matanças.

- Essa ordem que você fala parece um tanto rígida, eles deixariam uma família inteira simplesmente sair do ciclo?

- Rege a história que a sexta família era a mais rica e poderosa da ordem na época, eles tinham tantos segredos contras as outras famílias que acabaram deixando isso acontecer, não tão amigavelmente quanto isso parece, mas eles conseguiram.

- Calma, não sei se estou acompanhando muito bem, então a ordem dos seis são, na verdade, cinco? - perguntou Bella chacoalhando as mãos enquanto falava.

            - Precisamente. – respondeu meu pai com uma calculada paciência.

            - A sexta família por um acaso não seria a grande fã de jogos de xadrez, seria? – meu pai me olhou novamente encantado depois da minha pergunta e sorriu antes de continuar como de costume.

            - Sim, exatamente aí que eu queria chegar, o sexto membro tentou ajudar as vítimas da cerimônia assim que saiu da ordem, enviando-lhes dicas em forma de estratégias de xadrez, ele era revoltado com a ideia das matanças e dizem que foi por isso que ele saiu, a ordem tinha escolhido o amor da sua vida para morrer naquele ano.

            - Mas porque jogo de xadrez? Ele não podia simplesmente escrever? – Perguntou Bella.

            - Poderia, mas se você fosse uma assassina e alguém deixasse seus próximos passos na mesa de descanso da vítima para as outras pessoas acharem. O que faria? – meu pai perguntou direcionado para Bella.

            - Mudaria meu próximo passo. – respondeu Bella.

            - Exatamente. – respondeu meu pai como se um professor tivesse acabado de ensinar algo para um aluno.

            - E a ordem simplesmente deixa? – eu olhei para o meu pai com certa incredulidade.

            - Isso afeta pouquíssimo no que diz respeito às mortes, ninguém sabe jogar xadrez tão bem na verdade e as jogadas que ele faz às vezes foge a regra, para que acompanhe com as pistas, o que deixa tudo um pouco sem sentido.

            Eu o olhei completamente confusa.

            - Se não funciona, por que fazer então? – eu o olhava sem fixar meus olhos imaginando toda aquela história lunática nas cenas de crimes, o pior é que fazia certo sentido.

            - Ele prometeu. – ele me olhou com ternura, então diminuiu a voz. – o integrante da sexta família era apaixonado por uma das oferendas como disse antes, e dizem que seu ultimo pedido antes de morrer foi que ele fizesse de tudo para impedir que aquilo acontecesse novamente. – ele respirou exaltando a voz com entusiasmo. – o Sexto teve uma dificuldade gigantesca para conseguir sair da ordem, ele fez uma estratégia, que no começo era uma jogada de xadrez, tão confusa que fugiu a regra do jogo acabando em se tornar uma regra própria, seu próprio jogo, com regras que ninguém nunca inventara antes, foi exatamente por isso que ele vencera a guerra.

            - Por que ele não salvou a vida dela? – Bella perguntou olhando para suas mãos.

            - Porque ele não conseguiu. – Bella o encarou sem entender a resposta. – a maior fraqueza de um homem é o amor e a ordem sabia disso, eles marcaram no livro dos ceifadores uma hora e o local e foi executado em outro lugar e hora completamente diferente, o sexto ficou esperando o ceifador no local e hora errada e isso o destruiu.

- Mas por que simplesmente não impedir a morte se ele sabe a hora e o lugar? – foi à vez de Bella questionar.

- A decisão que o sexto tomou afetou gerações inteiras dessa família. A ordem sempre foi muito poderosa, ela está entre religiões, melhores faculdades, na ciência, em tudo. Depois do que o sexto membro fez seu nome se tornou miserável, amaldiçoada e sua geração fanática e assustada, eles tem a missão de tentar impedir as mortes sim, mas o real sentido foi esquecido no tempo e acabou virando apenas parte do ritual, como o natal por exemplo. – meu pai me olhava com curiosidade enquanto minhas sobrancelhas se uniram numa carranca confusa.

- Ceifadores. - sussurrei.

            Eu o olhei com tristeza nos olhos e ele leu isso facilmente, como quem lê as expressões de uma criança.

            - Sim, assim que as leis das oferendas saíram, a ordem criou um grupo chamado de Messores, eles são criados em uma igreja específica, essa igreja é uma fração da católica que surgiu depois de cristo, porém muito mais ortodoxa que a tradicional, conhecida como Illius Mortiferis. Os anciões têm a missão de escolher crianças fortes que passam por um ritual doloroso para serem escolhidos, apenas os mais fortes aguentam e só para sofrer ainda mais. – Meu pai pausou abaixando a cabeça como se estivesse cansado de contar histórias, ele estava visivelmente entediado ou sofrendo, mas não conseguia decifrar com toda certeza, respirou profundamente e pareceu unir animo para continuar. – Essas crianças nascem e crescem para matar, sabem fugir, lutar, são resistentes a quase tudo, frio, fome, angustia, sono, medo. Eles são criados para não temer a natureza e sim usá-la a seu favor, são mal alimentados e dormem em camas feitas de palha, mas principalmente lutam, como se não houvesse amanhã, são verdadeiros guerreiros.

            - Você está dizendo que essa ordem cria crianças para matar? – Bella o olhava com indignação.

            Meu pai tinha um olhar triste na feição.

            - Sim. Crianças que mal comem e são espancadas quase até a morte para resistirem às adversidades, nada combate eles, nada nem ninguém.

            Eu senti que o ponto fraco dele era justamente essa parte da história, ele definitivamente estava sofrendo, os Messores mexia com ele, eu senti uma oportunidade de explorar isso.

            - Eles raptam crianças também? – Bella perguntava indignada com tudo aquilo.

            - Na verdade são doações, os fiéis dessa religião sentem honrados quando seus bebês são escolhidos, as mulheres que tiveram seus filhos doados para o bem da humanidade são bem tratadas para sempre, quase idolatradas, mulheres adoram isso. – meu pai sorria enquanto Bella parecia querer vomitar.

            - Entregar seus filhos para um bando de loucos? – Bella estava com sua famosa sobrancelha levantada, mas agora com uma expressão de ódio e ironia no rosto.

            - Serem idolatradas. – respondeu meu pai com um sorriso.

            - Mulheres loucas você quer dizer. – Bella tinha nojo na voz.

            - Não estou aqui para discutir religião. – disse meu pai divagando.

- Não, você está aqui porque matou pessoas. – disse com a voz vacilante, porém ele pareceu não notar.

- Na verdade, a realidade de uma religião é uma realidade alternativa, quando você está dentro, tudo parece à coisa mais natural do mundo, como se não existisse outra verdade e são as pessoas de fora que estão cegas. – meu pai olhou para Bella enquanto falava e então sorriu como se ela fosse uma criança desprovida de inteligência.

            - Sobre religiosos fanáticos viverem em um mundo paralelo eu entendo, o que eu não entendo é como uma mãe pode fazer isso com um filho em nome de qualquer entidade que seja. – Bella parecia não se abalar com os olhares do meu pai, ela era uma boa investigadora, só estava ali por respostas.

            - É esse o ponto. – Começou meu pai se empolgando novamente. – Essas mulheres crescem numa religião onde se acredita que tudo será entregue a mãe natureza, se você fizer isso de boa vontade à mãe natureza se encarrega de realocar a alma do seu filho em um lugar especial depois da sua morte.  Isso é comum desde o início da humanidade, como Adão, Eva, Abraão, Astecas, Maias, Incas, os índios, católicos, protestantes, enfim.

            - Então é esse tipo de eternidade que você comentou antes? – eu o olhei com curiosidade.

            - Quase isso, a ordem vive eternamente através das memórias, mas isto é outra longa história. – meu pai olhou para nós com desanimo, ele parecia não querer falar sobre isso.

- Nós temos tempo. – disse Bella olhando sem importância para o seu relógio.

Eu encarei meu pai, ele parecia cansado e desanimado, nós não tiraríamos nada dele dessa forma.

- Acho que conseguimos trabalhar com o que você nos deu até agora. – ele me olhou em agradecimento enquanto eu falava e tinha certa ternura em sua expressão que me fez querer chorar. Ele é um assassino.

Bella me olhou em protesto, mas não questionou mais que isso, ela sabia que só eu entendia meu pai naquela sala.

- Russo. – ele disse em tom alto. – O nome do cachorro era Russo. – ele disse finalmente.

Sim, nós realmente tínhamos um cachorro chamado Russo, mas isso era incrivelmente irrelevante. Foi quando eu lembrei que Yuri Matarazzi nunca falava algo irrelevante.

 Bella levantou com os braços cruzados e foi em direção à porta, ela me olhou novamente em busca de alguma resposta diferente da que eu já dera com o olhar, não veio então ela bateu na porta e se encostou ao lado com um pé apoiado na parede, ela estava linda. Cala a boca. - me repreendi.

Eu precisava parar de olhar para Bella por algo que eu não sabia explicar, porém a próxima pessoa a encarar naquela sala era meu pai que eu também não queria no momento ele sabia me ler e eu não queria saber no que estava pensando para ser sincera. Eu resolvi por fim olhar para o chão e meus pés o que não durou muito porque os guardas logo nos interromperam entrando bruscamente na sala.

- Bom, acho que essa é minha deixa. – ele cumprimentou os guardas com a cabeça e me olhou a seguir. – espero sinceramente nos vermos novamente Tris. – o carinho que ele imprimia na voz era nauseante e reconfortante ao mesmo tempo.

Eu confirmei com a cabeça do mesmo jeito que ele fazia o tempo todo e olhei para Bella que tentou disfarçar sua indignação, mas não conseguiu a tempo. Bom, acho que essa é a minha deixa. Eu levantei da cadeira e esperei os guardas levarem meu pai que me olhava sem se preocupar com o que faziam com ele que estava sendo empurrado e apertado com as correntes tilintado.

Ele saiu e uma nuvem negra pareceu se dissipar do ambiente, ficou tudo tão calmo e claro novamente, minha mente parecia em câmera lenta com ele por perto, mas ao mesmo tempo mais sagaz, eu olhei para Bella que acenou em direção à saída segurando a porta para que eu passasse.

- Lunáticos religiosos então Hãm? – perguntou enquanto saíamos pelo corredor.

- Não sei o que pensar, no entanto é uma boa história. – minha voz ainda parecia abalada pelas emoções perturbadas dentro daquela sala, mas tinha um tom de firmeza e eu fiquei momentaneamente feliz.

- Ok, Watson o que faremos? – Bella olhava para mim com certa curiosidade óbvia quando parei abruptamente para afronta-la. – Watson eu? – Bella riu e voltou andar.

- Sério? Vai me questionar que eu te chamei de Watson AGORA? – ela enfatizou muito no agora parando e apontando para o chão enquanto mexia a boca como se mascasse um chiclete invisível.

- Só estou dizendo que eu tenho mais cara de Sherlock do que você, o que faz de você o Watson mais provável, estatisticamente. – disse voltando a acompanha-la.

- Estatisticamente. – sussurrou Bella entre um sorriso disfarçado de indignação.

Fomos interrompidas do nosso devaneio assim que passamos pelos detectores de metal rumo à saída, Júlia e Luana estavam nos esperando impacientes.

- O que foi isso? A reunião do ano? – Luana estava com suas mãos para cima apontando provavelmente para o sol.

- Digamos que Lia não desenvolver em matéria de diálogo familiar. – Bella se desculpava com as mãos teatralmente.

- Não fui eu que me tremi toda quando meu pai entrou na sala.

- Eu não me tremi toda. – Bella colocou as mãos na cintura indignada pela minha observação.

- OK. Parem as duas, temos coisas mais sérias para discutir. – Júlia virou-se em direção à saída assim que terminou a frase e algo no seu tom desacelerou meus pensamentos e trouxe uma testa enrugada ao meu rosto, então segui os passos de Júlia em direção à saída.

Bella encostou sua mão no meu ombro indicando para que eu parasse e eu o fiz.

- Você está bem? - Bella estava com um tom sério e um rosto de preocupação o que me fez lembrar bons tempos quando Bella me tratava como se eu fosse algo a proteger.

Eu afastei mentalmente aquele pensamento antes que me deixasse mais triste e encarei a porta da saída a minha frente.

- Eu estou ótima.

Ela encostou o dedo indicado no meu queixo e me virou lentamente para ela e então eu encarei aqueles olhos profundos que diziam algo que eu não entendia ao certo.

- Tem certeza? – Bella perguntou umas duas entonações abaixo da dela  que me fez tremer e enrijecer todo o corpo.

Alguém tossiu às nossas costas e eu não precisei virar para saber que era Luana.

-Vamos? – Disse depois da tossida aparentemente desconcertada. Eu estava olhando para o chão com o rosto queimando, mas agucei minha visão periférica para não perder nada, porém não entendia como ela podia ficar só desconcertada com o jeito que Bella me tratava, era para ela ficar revoltada ou com ciúmes, ou será que eu estava exagerando e aquilo realmente não era nada. Luana passou por entre eu e Bella fazendo com que os olhos de Bella finalmente se desgrudassem do meu rosto por alguns instantes, ela me encarou novamente e eu quis correr dali, mas consegui me controlar e apenas andar para saída ouvindo Bella se mover logo atrás.

Lá fora os raios iniciais de uma manhã normal pareciam surgir, estava um clima perfeito, frio na sombra calor ao sol, eu sempre achei esse o melhor clima de todos, Luana e Júlia estavam encostadas no carro aparentemente em uma discussão, não conseguia processar as palavras dela pela distancia.

- Você esta louca? – consegui ouvir Luana dizer.

- O que está havendo? – Bella que estava esse tempo todo atrás de mim se adiantou no momento em que fez a pergunta, eu sabia que ela estava atrás, mas estava tão distraída que controlei para não dar pulinhos pelo susto.

- Júlia quer ir atrás de Lucas, pressioná-lo para saber o que ele sabe. – Luana dizia como se fosse a coisa mais louca do universo.

- Talvez nós já saibamos o que ele sabe. – disse mais para mim do que para o grupo que agora estavam posicionados em uma roda me olhando.

- Então esse passeio não foi um desperdício total afinal. – disse Luana encarando Bella deixando implícito que eu estava travada em pensamentos e não responderia nada concreto.

- De forma alguma. – respondeu Bella de forma obediente para os pedidos mentais de Luana.

Aquela simbiose parecia tão sinistra, meu estômago revirou e se eu funcionasse que nem um desenho eu teria ficado verde, me recompus e entrei no carrsentando no banco carona e colocando o sinto.

- Não sei vocês, mas acho que isso é um “vamos embora”. – Júlia disse, eu não estava olhando para elas, mas senti as três me encarando pela janela do motorista, eu revirei os olhos e cruzei os braços. Senti-me uma criança de 12 anos fazendo birra, mas a cena funcionou, todas entraram no carro e saímos rumo à estrada.

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