Trigésimo Sétimo
Amelia entrou na pequena biblioteca apenas para encontrar Rosie e Caleb concentrados, analisando um único livro. Este era muito maior que os seus semelhantes e tinha uma capa de tecido.
- Encontraram alguma coisa interessante? – perguntou, aproximando-se.
- Sabes como as bibliotecas têm um registo de livros disponíveis? Procuras numa plataforma pelo nome e logo informa se está ou não disponível – destacou Caleb, entregando o livro a Amelia que o analisou com curiosidade – Pelos vistos, Hans tinha um sistema parecido. Nesse livro estão apontados os nomes de todos os livros existentes na biblioteca, identificados por números e prateleiras correspondentes.
- Mas isso ajuda-nos? Não sabemos que tipo de livro procuramos – lembrou Amelia, folheando as páginas, feitas de um material mais resistente que papel.
- Não, mas descobrimos outras coisas – explicou Rosie, levantando-se e colocando-se ao lado de Amelia. Avançou algumas páginas do livro, para lhe mostrar o que pretendia – Por exemplo, existem setenta e seis diários, transcritos para alemão por Hans. Sabes de quem são esses diários?
- Quem?
- De Antícero – revelou Rosie, apontando o nome escrito nas páginas com uma letra elaborada.
- Nem me pergunto como Hans conseguiu deitar as mãos aos diários originais – comentou Caleb, também se levantando.
- Eu posso ter uma ideia... Provavelmente foram roubados dos Médici – ponderou Amelia voltando a entregar o livro a Rosie, que havia feito um sinal para o ver novamente – Como são de Antícero e sendo este o que mais pesquisou sobre a origem do veneno, de certeza que existe alguma informação nos diários.
- Mas onde estão eles, por entre toda a confusão? – questionou Caleb, olhando em volta, observando apenas a maré de livros espalhados irregularmente.
Rosie afastou-se com o livro pesado em mãos. Pareceu procurar alguma coisa numa página e aproximou-se de uma estante onde mais de metade dos livros tinham sido atirados ao chão.
- Supostamente aqui – indicou, fechando o livro de couro repentinamente e pousando-o em cima de uma mesa cheia de papeis.
Caleb e Amelia aproximaram-se de Rosie e olharam para o chão, procurando pelos diários desaparecidos. Amelia baixou-se e pegou num livro, folheando as suas páginas, mas assim que o fez caiu um papel de entre elas. Pegou-o antes que flutuasse até ao chão.
- A capacidade de organização de Hans sempre a surpreender – comentou, após ler a folha – Ao que parece escreveu uma espécie de sinopse para cada diário. Este foi escrito na época da queda do império romano do ocidente... mas não fala nada sobre o veneno.
- Provavelmente deveríamos verificar alguns diários mais antigos. Aqueles que foram escritos enquanto o veneno ainda existia – sugeriu Rosie, pegando em três diários que encontrara – Quem me dera ser tão fluente em alemão quanto vocês os dois. Só vou atrapalhar.
- Não te preocupes, eu mostro-te algumas palavras chave que podes procurar – propôs Amelia, procurando por um caderno e uma caneta.
- Chamamos Richard? – questionou Caleb, também já com vários diários em mãos.
- Ele ainda ficou a ver o laboratório – explicou Amelia distraidamente, enquanto escrevia algo – Encontrámos algumas coisas interessantes que nos podem ajudar, incluindo um pouco de veneno original restante, mas não acabámos de ver tudo.
- Então deixemo-lo continuar a procurar, já que ele é o único que percebe alguma coisa de ciência – propôs Rosie – E também ele não sabe alemão, não teríamos tempo de o ensinar.
Amelia acabou rapidamente de escrever algumas palavras em alemão e entregou o caderno a Rosie. Esta analisou-o rapidamente, pois alguns dos termos já conhecia. De seguida, os três acomodaram-se no chão, entre os vários livros, e começaram a procurar os diários, lendo as suas sinopses. Dez minutos depois já tinham duas pilhas diferenciadas: uma cujos diários não possuíam qualquer informação e outra onde estes referiam o veneno original, mas cujas informações aparentemente não acrescentavam nada de novo.
- Este Antícero era um sociopata – comentou Rosie após fechar um livro e atirá-lo para a pilha dos inúteis – Acabei de ler um trecho onde ele e vários puros reuniram vários aldeões e os assassinaram como parte de um jogo. E a forma desprendida como ele descreveu a situação faz-me calafrios.
- E eu acabei de perceber como os puros se extinguiram – disse Amelia, ainda de olhos pregados num diário – Eram extremamente territoriais. Quando encontravam outro puro que estivesse na sua área de ação, matavam-no. A ele e quaisquer vampiros pertencessem ao seu clã, porque naquela altura os vampiros tinham sempre um puro a quem prestar contas.
Os três permaneceram em silêncio durante mais algum tempo até que Caleb suspirou, largando um livro que tinha em mãos. Esfregou os olhos, parecendo mentalmente esgotado.
- Não estou a conseguir encontrar nada de jeito sobre o veneno – queixou-se, olhando com desgosto para a quantidade restante que tinham para ler. Será que encontrariam alguma coisa? – E vocês?
- Nem por isso – respondeu Rosie – O diário mais antigo que encontrei foi um trinta e sete.
- Pois, o último que li foi um quarenta – explicou Caleb.
- Eu estou a ler um vinte e quatro e, mesmo assim, nada – ressaltou Amelia, desiludida – Acham que ele fazia apontamentos sobre o veneno em outro lado?
- Talvez – ponderou Caleb, encolhendo os ombros e pegando noutro diário – Mas esta é a única pista que temos...
- Esperem! – interrompeu Rosie, quase gritando – Encontrei um doze!
Amelia e Caleb permaneceram em silêncio enquanto esta lia a sinopse e depois folheava o livro à procura de qualquer coisa. Entregou depois o diário a Amelia, indicando-lhe uma página e um parágrafo.
- Lê isto aqui. Fala sobre o veneno, não fala? – perguntou, ansiosa.
- "Fazem já sete semanas que se extinguiu o veneno que me tornou um puro" – leu Amelia, traduzindo – "Já consegui reunir a grande maioria dos ingredientes que acredito que integravam o veneno original. Irei começar com as experiências o mais cedo possível."
Amelia franziu o sobrolho, passando os olhos rapidamente pela mesma página e sobre as próximas.
- Experiência falhada, experiência falhada... – resumiu, dececionada – Parece que falta alguma coisa que ele não consegue encontrar, algumas plantas raras.
- Como é que o Antícero (que era um botânico ou coisa do género) – comentou Rosie, estranhando tudo aquilo – não conseguiu encontrar essas plantas e Hans sim?
Amelia encolheu os ombros, colocando o diário na pilha de livros naqueles que faziam referência ao veneno. Respirou fundo, tentando não deixar que o desespero tomasse conta de si. Pelo menos em frente de Rosie e Caleb, deveria se mostrar forte. Era o filho deles que estava a criar toda aquela situação e eles estavam a fazer de tudo para o travar sem se deixarem abater.
- Devíamos tentar encontrar o primeiro – sugeriu Amelia, mostrando-se mais colaborativa.
- O que achas que temos estado a fazer? – atirou Rosie bruscamente – Achas que estou enfiada numa biblioteca bafienta porque gosto?
Ao que parecia, não faltava muito para eles desabarem, principalmente Rosie, que era a mais impaciente. Amelia não tomou a peito as suas acusações.
- Estamos todos...
- Esperem aí – interrompeu Caleb, levantando os olhos de um livro que tinha estado a ler atentamente – Encontrei uma coisa interessante, mas não disse nada para não dar falsas esperanças. Não achei o primeiro diário, mas sim o mais próximo disso, o segundo.
- Então, o que é que diz? – perguntou Rosie, ansiosa.
- Aqui Antícero começa a falar da altura em que começou a transformar outras pessoas em puros – explicou Caleb – Segundo ele, quando estava a distribuir o veneno, este caiu sobre um pouco da sua pele, queimando-a. Demorou algumas semanas a regenerar, tal como se fosse um ferimento por queimadura normal.
- Sim, mas em que isso nos ajuda? – questionou Rosie, aproximando-se de Caleb, para conseguir espreitar para as páginas do livro.
- Há mais – revelou Caleb, voltando a olhar para o diário, procurando algo – Depois disso, Antícero pediu para um puro recém-criado beber novamente o veneno, explicando que se o fizesse os seus poderes dobrariam. Este fê-lo e o veneno queimou a sua garganta, deixando-o incapacitado durante várias semanas, não conseguindo também se alimentar.
- Credo, esse Antícero não batia muito bem – observou Rosie, fazendo uma careta. Aquela cena trouxera memórias longínquas de volta à superfície da sua mente. Caleb observou-a, adivinhando o que esta estava a pensar.
- Como conseguíamos fazer isso com Mark? – ponderou Amelia, não reparando na expressão anterior de Rosie – Não se deixaria enganar dessa forma.
- Antícero escreveu que quando o ferimento curou, o puro já começara a mumificar, não conseguindo mover-se a não ser lhe alguém lhe fornecesse sangue – explicou Caleb.
Os três entreolharam-se, pensando em várias situações onde poderiam novamente oferecer o veneno a Mark, mas não tiveram nenhuma ideia.
- Não temos muito veneno disponível para invenções – lembrou Amelia – Temos que acertar à primeira. Posso ver o livro?
Caleb entregou o diário a Amelia que voltou a reler o que Caleb relatara. Folheou as restantes páginas, procurando por alguma informação que lhe saltasse à vista. Quase no final do livro, encontrou um trecho interessante. Leu-o para si mesma, não querendo alertar Rosie e Caleb num primeiro momento.
"Depois da minha recém-descoberta, acredito que no futuro poderei usar o veneno como uma arma. O importante é descobrir como o multiplicar, pois o disponível irá acabar rapidamente. Iniciei hoje mais um teste às suas estranhas capacidades. Persuadi um forjador na cidade a criar uma arma especial. Esta assemelha-se a um adaga, mas no seu centro existe um veio vazio, que poderá ser preenchido pelas mais diversas substâncias mortais.
Dependendo do conteúdo, o mais simples corte num humano poderá envenená-lo, causando a sua morte, mesmo quando este julgava ter escapado à luta. Num puro, se a adaga com o veneno original for inserida na sua profundidade total, paralisará a sua vítima, iniciando assim a mumificação em poucos dias. Muito útil contra inimigos onde a morte é uma pena demasiado leve. Irei testar a minha teoria em breve."
Amelia folheou o resto do diário, encontrando no fim uma nota a confirmar a receção da adaga. Para saber mais, provavelmente teriam de encontrar o terceiro diário. Levantou o olhar, para Rosie e Caleb que tinham recomeçado a busca em outros livros.
- Algum de vocês encontrou o terceiro livro? – questionou – Segundo o Antícero existe uma espécie de adaga que pode ser preenchida pelo veneno e usada para ferir os puros, fazendo com que mumifiquem mais rapidamente. Só que neste diário não diz se funciona.
- Então a tua solução é esfaquear o Mark? – perguntou Rosie, chocada.
- Vocês não estavam à procura de formas de lhe dar o veneno? Esta é a mais simples!
- Ele não vai simplesmente se deixar esfaquear...
- Eu... eu não sei mais o que fazer – desistiu Amelia, deixando cair o livro no colo. Podia ser que Mark tivesse mesmo ido embora e não tivessem de se preocupar.
- Vamos dividir os livros entre nós e depois reunimo-nos com mais ideias – sugeriu Caleb, tentando promover a calma – É o melhor que temos a fazer. Por enquanto, vamos manter o local fechado e o veneno protegido. Ninguém pode descobrir que este ainda existe. Pode ser a nossa única hipótese.
- Tens razão – cedeu Rosie, suspirando – Mas, por favor, vamos repensar os envenenamentos e o esfaqueamento, está bem? Tem de haver outra maneira.
Rosie e Caleb pousaram o olhar em Amelia. Esta concordou relutantemente, mas não via outra saída. Não podiam propor a Mark que se deixasse prender, sendo este basicamente invencível. Poderia não haver mais nenhuma forma de o travar! Tendo ou não a colaboração dos outros, tinha de encontrar a adaga. Se Hans roubara aos Medici toda aquela informação de Antícero, podia ser que também tenha roubado objetos, entre eles a adaga.
- Não acham que Richard está a demorar muito tempo? – reparou Caleb.
- Vou buscá-lo – sugeriu Amelia, levantando-se do chão.
- Eu vou contigo – afirmou Rosie, imitando-a.
Caleb também se levantou, pegando numa pilha de livros.
- Vou levar alguns destes diários para nossa casa. Também vou pedir ajuda a Elisabeth para ajudar a lê-los.
Rosie não conseguiu evitar um som involuntário. Não acreditava que Elisabeth fosse fazer alguma coisa para os ajudar. Seguiu Amelia quando esta começou a descer as escadas em caracol, curiosa para ver o laboratório, deixando Caleb encarregue do transporte dos diários. Contudo, quando chegou, os seus olhos apenas identificaram a falta de Richard.
- Não disseste que o deixaste aqui em baixo? – perguntou para Amelia.
Amelia olhou em volta, reparando de imediato na porta de madeira aberta. Aproximou-se da entrada e olhou para a escuridão. Viu um túnel de pedra que se estendia por alguns metros, realizando pouco depois uma curva apertada.
- O que é isso? – perguntou Rosie, espreitando por cima do ombro de Amelia.
- Segundo Richard, existe uma rede de tuneis por baixo de Southward – explicou Amelia, mordendo o lábio inferior, tentando não se preocupar – Provavelmente foi investigar.
- Então vamos procurá-lo – insistiu Rosie, empurrando Amelia para a escuridão.
Amelia entrou no túnel, contudo quando chegou à primeira curva reparou que não estava a ser seguida. Olhou para trás, vendo Rosie à procura de qualquer coisa.
- Estou à procura de uma luz – explicou Rosie, vendo o olhar interrogativo de Amelia à beira da porta.
- Não precisas, após entrar na escuridão os teus sentidos compensam a falta de visão – explicou Amelia, franzindo o sobrolho.
- Mesmo assim...
- Anda lá, não me digas que após várias décadas nunca experimentaste? – estranhou Amelia.
Rosie negou, porém, não vendo outra alternativa, decidiu acreditar em Amelia. Nunca sentira a necessidade de entrar num buraco escuro sem luz, nem de atirar-se de penhascos de vinte metros de altura só para verificar se era realmente imortal, tal como Charles contara uma vez que fizera. Podia ser imortal, mas isso não significava que quisesse experimentar a sensação de quase morte.
Quando começou a avançar na escuridão percebeu que era capaz de sentir as paredes e a direção onde estas seguiam, metros e metros à sua frente e atrás de si. Dessa forma conseguiu perceber que havia chegado a um entroncamento mesmo antes de entrar nele.
- Há alguma coisa estranha – comentou Amelia, a sua voz ecoando entre todos os tuneis – Ainda não identifiquei o quê...
- Também o sinto – confessou Rosie. Sentia uma estranha vibração no ar. Esta era conhecida, mas demorou a reconhecer de onde a conhecia – É uma lâmpada! – exclamou, espantada por nunca ter reparado no som que faziam.
- Sim, eu também ouço isso, mas não era do que estava a falar – esclareceu Amelia – Tenta cheirar o ar.
Rosie fez o que Amelia lhe dissera, sentindo de imediato o que esta lhe indicara.
- Parece sangue – observou Rosie, franzindo o nariz.
- Sim, mas ao mesmo tempo não é. Normalmente quando cheiramos sangue sentimos fome, embora que agora por causa do mendax seja pouca – explicou Amelia – Este não causa essa sensação. Quanto muito, faz-nos querer afastar dele. Parece que foi diluído em água, está muito suave. Sabes o que é?
Rosie abanou a cabeça, esquecendo-se que Amelia não a podia ver. Contundo, esta percebeu a sua intenção.
- Sangue de vampiro – revelou, lembrando-se de seguida do porquê da sua existência –Provavelmente vindo de Arcade – murmurou.
Contudo, Amelia não dissera a Rosie que também conseguira sentir muito ao de leve um pouco de sangue humano.
- Sentes a presença de Richard? – perguntou Rosie, preocupada, dando voz ao que Amelia estava a pensar.
Não se ouvia qualquer batimento cardíaco nos tuneis. Um mau pressentimento começou a apertar o estômago de Amelia, fazendo-a engolir em seco e respirar fundo, tentando raciocinar normalmente.
- Provavelmente saiu por um dos tuneis – lembrou, esperando que isso fosse verdade – Um deles vai dar ao Gargantula, consigo ouvir a água.
- Então eu vou seguir por ele, a ver se o encontro – propôs Rosie, afastando-se. Estava a conseguir orientar-se melhor.
- Vou a Arcade – disse Amelia.
Rosie já tinha seguido caminho, então Amelia seguiu o som das lâmpadas e cheiro de sangue, entrando noutro túnel estreito. Após alguns minutos começou a ver uma luminosidade a tocar as paredes do túnel e metros depois encontrou uma porta de madeira aberta. Estava aberta para uma enorme sala cheia daquilo que Amelia só poderia chamar de tralha.
Entrou em Arcade, reparando de imediato no sangue disperso por toda a divisão. Mas nada a podia preparar para o que encontrou de seguida. Quando olhou para a sua direita, sentiu que pela primeira vez seria capaz de desmaiar espontaneamente. Apenas se deixou cair de joelhos no chão, não sendo capaz de imitir qualquer som. O choque fora demasiado, muito pior do que quando encontrara Hans decapitado. Amelia sentiu que toda a sua vontade de viver lhe fora retirada quando viu Richard estirado no chão.
Aproximou-se deste, começando a tremer. Nem sabia que vampiros eram capazes de tremer. Colocou uma mão na sua face, observando os seus olhos fechados e o sangue que havia escorrido da sua cabeça. Como aquilo acontecera? Olhou para cima, vendo uma mancha de sangue na parede.
Queria chamar por alguém, por ajuda, mas não conseguia formar nenhumas palavras. Lágrimas começaram a escorrer pela sua face, mas Amelia não conseguia nem chorar decentemente, apenas estava sentada do lado de Richard, com a mão no seu peito onde outrora batera o coração.
Fechou os olhos, não conseguindo se mexer. Apenas quando ouviu ao de longe a voz de Rosie a chamá-la, conseguiu sair daquele estado de transe. Não podia deixá-la encontrar o filho daquela forma. Iria destrui-la. Porém antes de se levantar e conseguir pronunciar as palavras que queria, Rosie entrou na sala.
Enquanto Amelia perdera toda e qualquer reação, entrando num estado de choque que a deixara imóvel, Rosie correu para junto de Richard, chamando pelo seu nome.
- Richard! O que aconteceu? – perguntou Rosie desesperada, ajoelhando-se perto do filho, puxando o seu corpo para junto de si – Amelia!
Esta apenas olhava fixamente para algo que deslizara de perto de Richard.
- Amelia, como o transformamos? – perguntou Rosie, começando a chorar. Esta não conhecia muito de medicina, mas sabia que um ferimento daqueles dificilmente seria curável num hospital. Só havia uma maneira de o salvar.
Voltou a deitar Richard no chão e limpou as lágrimas do seu rosto. Pegou no seu braço, tentando concentra-se para libertar o veneno, tal como Caleb fizera na altura que a transformara. Mordeu o seu pulso, pensando que seria o suficiente para reviver Richard. Mas o veneno não podia circular pelo seu corpo, pois o coração não batia.
Lembrou-se de todos os filmes e séries onde era feita CPR e começou a fazer compressões cardíacas. Devia ser o suficiente para o veneno se espalhar. Richard não podia morrer, Rosie nem punha essa hipótese. Parou durante uns segundos e voltou a morder o seu pulso, retomando as compressões. O que mais poderia fazer?
- Rosie.. – chamou Amelia com a voz trémula, olhando para algo que carregava numa mão.
Rosie ignorou-a. Amelia devia ter começado o que ela estava a fazer logo que o encontrara, mas não, ela entrara em estado de choque! Aquela não era uma altura para congelar, era uma altura para agir! Se esta voltasse a chamá-la, era capaz de a matar de tão furiosa que estava...
- Isso não vai fazer qualquer diferença – explicou Amelia, com uma voz tremelicante.
- Cala-te – vociferou Rosie, parando as compressões e voltando a morder o pulso de Richard.
- Rosie...
- Tu deixaste-o aqui deitado e não fizeste nada para o ajudar! – gritou Rosie, sentindo-se a ferver por dentro – És uma inútil! Agora cala-te e deixa-me!
- Rosie, ele não está morto – disse Amelia, não conseguindo elevar a voz mais alto do que um murmuro.
Pela primeira vez Rosie desviou o olhar de Richard, lançando os seus olhos faiscantes contra Amelia. Antes que pudesse dizer alguma coisa, Rosie já a tinha empurrado contra o chão, prensando um braço contra o seu pescoço, não a deixado se levantar.
- Como te atreves a sequer pensar que eu acredite que ele esteja morto? – perguntou Rosie com um tom de voz ameaçador – Ele está bem, é apenas o tempo de o veneno fazer efeito, o que poderia ter acontecido mais cedo se não estivesses a chorar como uma Maria Madalena em vez de fazeres alguma coisa!
- Não é o teu veneno que vai fazer efeito – interrompeu Amelia, mal conseguindo falar. Sentiu Rosie a reduzir a força com que agarrava e conseguiu libertar um braço, colocando no campo de visão de Rosie uma seringa.
- O que é isso?
- O teu veneno não vai funcionar porque já existe outro no seu sistema – explicou Amelia. Cerrou os olhos, não conseguindo evitar com que várias lágrimas escorressem destes. Porque é que aquilo estava a acontecer? Voltou a olhar para Rosie, sentindo que se esta a matasse naquele momento não ia importar – Alguém injetou Richard com o veneno original, provavelmente antes de lhe partir a cabeça. O que significa que ele já se está a transformar.
- Isso não é possível – declarou Rosie, abanando a cabeça, descrente – Ninguém teve acesso a esse laboratório a não ser nós.
- Estás enganada. Alguém teve – lembrou Amelia, sentindo-se doente – E sabemos muito bem quem foi. Quem passou horas e horas naquele laboratório e revirou tudo na biblioteca...
Rosie largou Amelia e sentou-se no chão, junto de Richard. Olhou para o seu corpo inanimado e cobriu a sua cara com as mãos. Começou a abanar a cabeça, desesperada.
- Não, não pode ser, isto não pode estar a acontecer outra vez...
Amelia tomou a coragem de aproximar-se de Rosie e sentar-se a seu lado. Observou Richard, pensando na última vez que falara com ele. Com o seu "eu" verdadeiro, não com quem ele se iria tornar. Engoliu em seco.
- Quem me dera que Richard estivesse morto – desabafou, em surdina – Porque o que lhe vai acontecer é pior do que a morte. Mark transformou Richard num puro... E se nós não conseguimos lidar com um, dois vão ser o nosso fim...
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