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Trigésimo Quarto

Aviso: Este capítulo pode ter conteúdo sensível.

Amelia virou-se na cama, tentando adormecer pela milésima vez. Não conseguia tirar da sua cabeça a imagem de Hans, morto, num estranho laboratório que sempre se esforçara para esconder. Era oficial: ficara órfã. A única família que tinha eram um tio e uma prima dentro do clã dos Médici com quem raramente falava. Também não seria naquela altura que estreitaria laços.

Levantou-se, desistindo de dormir. Estava sozinha, pois Elisabeth decidira dormir em casa do irmão, não se sentindo confortável para ficar na mansão. Caminhou na escuridão, descendo descalça as escadas frias. Entrou no antigo escritório de Hans e acendeu a luz de teto.

Aproximou-se da secretária e sentou-se no cadeirão por trás desta. Queria ficar triste pela morte do pai, mas não sabia como. A sua relação com Hans nunca fora boa, praticamente inexistente na maioria das vezes. Contudo, não podia deixar de estranhar o facto de estar sozinha numa mansão que agora sabia ter passagens secretas, no meio da noite, num silêncio espectral. Sempre que ali viera, Hans estava sempre em casa, tal como depois Elisabeth estivera. Amelia não conseguia afastar aquela sensação de isolamento.

Levantou-se e caminhou até uma das janelas, olhando para o exterior. Após uma tempestade de neve, o tempo parecia começar a acalmar-se. O que mais a incomodava em toda a situação era a forma que o seu pai morrera. Fora uma morte violenta... Não que fosse estranho um vampiro morrer daquela forma. Talvez há algumas décadas, mas nos tempos que corriam um vampiro conseguia viver mais de mil anos e morrer de forma natural.

Algures em Southward havia alguém em liberdade que matara o seu pai. O facto de não haver qualquer suspeito para tal acontecimento, era o suficiente para a fazer temer ficar sozinha naquela mansão. Deviam chamar alguém para investigar, mas quem? Normalmente tudo era resolvido rapidamente, os vampiros nunca foram muito discretos. Justiça pelas mãos do povo, era o que acontecia, embora Amelia não fosse muito fã do método. Mas o que podiam mais fazer, não era como se pudessem chamar a polícia local! E não havia detetives vampiros...

Um breve movimento atrás de si, fê-la observar a imagem do escritório refletido na janela. Num primeiro momento, não reparou em nada de diferente, mas depois notou um vulto próximo da secretária. Um arrepio percorreu-lhe as costas, congelando os seus movimentos durante alguns segundos. Encontrava-se mais alguém na divisão para além dela!

Engoliu em seco, tentando recuperar a calma. Ainda assustada, virou-se rapidamente, procurando pela pessoa que estava atrás dela.

- Desculpa se te assustei – antecipou-se Mark, ao ver a expressão no rosto de Amelia.

- Mark! – exclamou Amelia, fechando os olhos e respirando fundo – És apenas tu.

- Porquê? Quem pensavas que era?

Amelia franziu o sobrolho, observando Mark com atenção. Alguma coisa nele estava diferente. O que raio este trazia vestido? Uma camisola de lã e umas calças escuras de bombazine? Aquilo não era nada o estilo dele. Voltou a olhar para os seus olhos cinzentos, tendo a certeza de que alguma coisa estava errada, mas sem conseguir identificar o quê.

- O meu pai... Hans... foi morto – explicou Amelia, ainda um pouco sobressaltada – Não ouviste nada sobre isso?

Mark engoliu em seco, sem saber muito bem o que dizer num primeiro instante. Encostou-se à secretária, formulando uma desculpa rapidamente.

- Não... Quer dizer, sim, claro, só se fala disso.

- Localidades pequenas, não é mesmo? – Amelia suspirou e voltou a sentar-se na cadeira atrás da secretária – Tudo se sabe. De certeza que até no Vale já se ouviu falar disto.

Amelia observou Mark, que parecia um pouco sem jeito.

- Mas, não vieste aqui por causa disso? – arriscou.

- Bem, em parte – confessou Mark, mordendo o lábio inferior – Mas na verdade acho que precisamos de conversar sobre o que aconteceu na outra noite.

Amelia baixou a cabeça, observando os veios de madeira da secretária. Claro, "a" conversa. Só não esperava de tivesse de ser tão cedo.

- Acho que esta é uma altura tão boa como qualquer outra – comentou Amelia, sorrindo tristemente. Levantou a cabeça e encarou Mark – Devo-te algumas explicações.

- Eu já sei. Sei que foste apaixonada por Caleb, que estiveste comigo porque eu te lembro dele – Mark encolheu os ombros casualmente – Não foi difícil de perceber.

- Essa não é a história toda... - tentou Amelia.

- Mas não tens que te preocupar – explicou Mark, aproximando-se de Amelia. Baixou-se perto dela e pegou na sua mão – Eu também sei que não amas verdadeiramente Richard. Mas começas a gostar de mim, senti isso quando nos beijámos.

Amelia hesitou antes de falar qualquer coisa. O que ele estava a querer dizer? Aquilo não soava nada como ele. Por muito que quisesse, não conseguia afastar a sensação de que algo ali estava errado.

- Mark...

- Podemos fugir juntos! – sugeriu Mark, apertando mais a mão de Amelia – Largar tudo e simplesmente partir... Esquecer este sítio!

- Não, Mark! Eu não te amo – interrompeu Amelia, levantando-se da cadeia e afastando-se de Mark. Este também se levantou e voltou a aproximar-se dela. Amelia olhou Mark bem nos olhos. Só queria ter de dizer aquilo uma vez – Amei Caleb, sim, há muito tempo e demorei muito tempo a ultrapassar esse amor que acho que poderia mais se chamar obsessão. Mas eu amo Richard! Pode não ser da mesma forma que me senti um dia por Caleb, mas isso é uma coisa boa! Aquela era uma paixão destrutiva e se tivesse acontecido alguma coisa entre nós, se ele quisesse que tivesse acontecido, ia acabar muito mal.

- Mas eu não sou o Caleb!

- Não, és pior. Sentes a mesma coisa por mim que eu senti por ele! Não entendes? Nunca poderá acontecer nada entre nós e devemos esquecer o que já aconteceu. Estou a fazer o meu melhor para fazer isso.

- Amelia...

Mark não chegou a completar o que queria dizer, apenas fitando Amelia. Esta não conseguiu identificar o que viu nos seus olhos. Desilusão, talvez? Mas não havia nada a fazer. Nunca mais aconteceria nada entre eles e Mark tinha de entender isso. Este tentou aproximar-se dela novamente, tentando beijá-la, mas Amelia reuniu todas as suas forças e colocou uma mão no seu peito, afastando-o.

- É o fim, Mark – arrematou.

Este colocou a sua mão por cima da dela, querendo dizer algo, mas não encontrando as palavras para o fazer. Amelia fechou os olhos, tentando não chorar.

Nesse momento de concentração, percebeu o que havia estado a incomodá-la desde que Mark entrara no escritório: Amelia não o pressentira. Ele entrara na mansão, abrira a porta do escritório e entrara neste sem que ela percebesse. Aquele era Mark, Amelia sempre sabia quando ele estava próximo, era um humano e eles não são conhecidos pela sua discrição.

Voltou a abrir os olhos e afastou-se de Mark, retirando a sua mão do seu peito.

- Mark... Onde estiveste estes dias? – perguntou, tentando se conter ao máximo. Como é que aquilo acontecera, como fora possível?

Mark abanou a cabeça, como se não esperasse aquela pergunta por parte de Amelia.

- Eu estive... a dar uma volta. Não estou preso a este lugar – destacou Mark, de forma muito rápida. Sorriu tristemente e voltou a insistir no assunto anterior – Amelia, este não pode ser o fim da nossa história...

Amelia voltou a afastar-se quando Mark tentou novamente aproximar-se dela. Começava a ficar deveras assustada. Aquele não era o Mark que conhecia. Piscou rapidamente os olhos, demostrando, quando os abriu, o brilho vampírico que possuíam quando se transformava.

- Mark, volta para casa – ordenou Amelia, tentando usar os seus poderes de persuasão.

A única resposta que obteve dele foi um suspiro lamentoso. Mark gargalhou tristemente.

- Pensei que conseguia fazer com que viesses embora comigo, mas estou a ver que já tens outras ideias formadas...

- O que aconteceu enquanto estiveste fora? – insistiu Amelia novamente, não conseguindo evitar que a sua voz tremesse.

- Já nada disso funciona comigo – declarou Mark, cortando-lhe a palavra.

Amelia observou, aterrorizada, a pupila dos olhos de Mark atingir um tom branco, brilhante, que confirmava os seus receios e até os agravava. Nem nos seus piores pesadelos imaginara tal coisa... Como é que Mark se transformara num puro?

– Tinhas razão Amelia – reconheceu Mark, com uma pequena gargalhada que arrepiou Amelia – É o fim. Mas não para mim.

Não havia nada a fazer. Embora soubesse que seria inútil, Amelia fez menções de fugir do escritório de Hans, tentando usar a sua velocidade sobrenatural. Mas era impossível escapar... os puros eram muito mais velozes que os vampiros. Mark agarrou-a num piscar de olhos.

A última coisa que viu, antes da escuridão, foram os olhos brancos de Mark no momento em que este partiu o seu pescoço e a deixou caída no chão.

* * * * *

Bran pegou no copo de vodca, embora sem vontade de beber, ao contrário de todos os outros. Encontrava-se numa divisão circular, com paredes e chão de pedra cinzenta e onde o teto tinha vigas de pedra que formavam arcos entrecruzados: Arcade. A sua única entrada dava para os tuneis que corriam debaixo Southward.

Arcade era um grande espaço que se situava quase ao mesmo nível do Gargantula. Por vezes, no silêncio, conseguia se ouvir o rio a correr. Estava repleta de armários antiquados e caixas com estranhos artefactos que vários vampiros tinham recolhido ao longo dos séculos, bem como uma adega com vinhos das mais variadas datas.

No centro da divisão, existiam variados sofás e uma mesa de centro onde se encontravam vários copos e garrafas, algumas já vazias. Bran encontrava-se em Arcade juntamente com Erick, Valeska e vários amigos que conheciam e tinham permissão para entrar naquele local. Olhou para o líquido dentro do copo que tinha em mãos e suspirou.

Erick ria-se por qualquer razão desconhecida, acompanhado de mais três pessoas, e Valeska tentava escolher um vinil para colocar numa antiga aparelhagem que ainda funcionava. Os restantes conversavam entre si sobre qualquer assunto que Bran não se dera ao trabalho de escutar. Não se sentia disposto para conversas. Estava preocupado e não entendia porque mais ninguém se sentia da mesma forma.

Levantou-se do local onde estava sentado e aproximou-se de Erick. Este olhou-o meio entediado, não querendo ter de lidar com os chiliques de Bran.

- Temos que falar Erick, isto é muito importante – insistiu Bran, pousando o seu copo na mesa. Sentia-se um pouco incomodado por saber que todos estavam a olhar para ele.

- Credo Bran, não mates a diversão de todos – pediu Valeska, aproximando-se dos dois e apoiando-se no encosto do sofá onde Erick estava sentado.

- Não preciso de matar nada... Hans já está morto e, sim, nós devíamos nos preocupar com isso – lembrou Bran.

- Preocupar com o quê? – perguntou Valeska, revirando os olhos – É obvio que alguém descobriu os planos de Hans e o matou, levando Mark dali. Este provavelmente também já está morto.

- Porque é que estão a acreditar nisso? Como podem ter a certeza? – questionou Bran, com um tom de voz desesperado. Será que mais ninguém compreendia a gravidade da situação? – Mark pode se ter transformado e matado Hans!

- Duvido muito – replicou Erick, dando um gole da bebida que tinha em mãos – Acreditas mesmo que Hans chegou à solução que Antícero procurou durante séculos? Assim, à primeira?

- Quem sabe? Mas devíamos nos certificar! – persistiu Bran.

- A única pessoa que sabe de todos os planos de Hans é Bella – observou Valeska, finalmente se sentando no sofá. Apoiou os pés em cima do colo de Erick, mas este rapidamente sacudiu-os – Talvez devêssemos lhe perguntar o que sabe – sugeriu, cruzando as pernas.

- Vês, até Valeska está preocupada! – exclamou Bran, aliviado.

- Na verdade estou mais preocupada com a liderança do clã – explicitou Valeska – Hans deixou algum testamento ou ainda nos devemos reger pelo de Southward? Ou será que, finalmente, podemos fazer eleições como qualquer civilização evoluída?

- Porquê, queres te candidatar? – perguntou Erick, curioso.

- Gostava de ter a oportunidade...

- Vocês não estão a me ouvir! Temos de descobrir quem matou Hans!

Um silêncio sepulcral instalou-se na sala após o grito de Bran. Este engoliu em seco. Provavelmente excedera-se. Costumava ser tão calmo e agora todos olhavam-no como se fosse uma ave rara. Erick levantou-se e olhou furiosamente para Bran, que se sentiu encolher vários centímetros e pensou ver a vida a passar-lhe diante dos olhos. Nunca ninguém gritava com Erick... Talvez fosse esse o problema.

Quando o ruivo se preparava para lançar uma tempestade sobre a cabeça de Bran, foi interrompido. Todos os olhares se voltaram para a pesada porta de madeira. Tinham ouvido cinco batidas. Quem tinha a chave, apenas entrava, nunca ninguém costumava bater à porta.

Bran saiu do frente de Erick, que voltou toda a sua atenção para a entrada de Arcade. A porta desencostou-se, abrindo-se suavemente nas dobradiças perfeitamente oleadas. Ouviram-se passos no chão de pedra que ecoaram pelos subterrâneos. Todos se levantaram-se, não conseguindo esconder a admiração ao ver que se aproximava.

- Boa madrugada a todos! Não sei se sabem, mas o sol já está a nascer...

Mark sorriu ao ver ao a surpresa espelhada no rosto de toda a gente. Perguntava-se quem teria a coragem de falar primeiro.

- Mark! – exclamou Erick, afastando as pessoas da sua frente e aproximando-se lentamente do recém chegado – Estás vivo...

Um arrepio percorreu a coluna de Bran, que, ao contrário dos outros, se afastou para o fundo da sala.

- Bem, sim, dependendo do ponto de vista – confirmou Mark, encolhendo os ombros – Porque estão tão surpreendidos, foram vocês que me prenderam e me entregaram a Hans.

Mark fechou a porta, encostando-se a esta. Segurou a maçaneta e partiu-a, de forma a que dificilmente alguém saísse dali sem ele perceber. Atirou-a casualmente para o fundo da sala, onde Bran a agarrou com um rápido reflexo. Observou a ligação por onde, pouco antes, estivera presa à porta. Fora partida com facilidade demais para um simples vampiro.

- O que é que queres? – perguntou Valeska, colocando-se do lado de Erick.

- Agora mesmo? Bom, gostaria de estar à beira mar a beber uma margarita, mas acho que isso não vai acontecer tão cedo – confessou Mark, encostando-se à parede de pedra, cruzando os braços e observando com curiosidade os armários escuros à sua volta.

- Porque não? Hans está morto, ninguém sabe onde estás ou o que te fizeram a não ser nós – lembrou Erick – Estás livre.

- Liberdade é uma coisa relativa – ponderou Mark, voltando a encarar Erick – Ninguém se importou com a minha liberdade de escolha quando me injetaram com aquele veneno.

Erick sabia que aquela situação não ia acabar bem. Fez sinais discretos para todos rodearem Mark. Apesar de ter lido muitos livros sobre os puros, nunca havia realmente conhecido um. Acreditava que grande parte do que tinha lido fora exagerado. Como era possível um puro ser capaz de superar vários vampiros, ter tanta força que ninguém era capaz de o parar? O facto de pensar que poderia suplantar Mark, foi a sua ruína.

Valeska afastou-se de Erick e aproximou-se de Bran que continuava no fundo da sala, segurando a maçaneta da porta.

- Eu não acho que vamos sair daqui vivos – comentou Bran, em voz baixa.

Valeska respondeu-lhe com um olhar indecifrável, mas planeava escapar no meio da confusão. Ela não morreria naquele local escuro e bolorento só por causa de Erick.

Momentos depois, Erick fez sinal para iniciar o ataque a Mark. Rapidamente verificou que a sua teoria estava errada. Mark quebrou-os com a facilidade de quem quebra um galho de arvore. Quando o primeiro o atacou pelas costas, Mark virou-se placidamente e quebrou-lhe a coluna. Assim o corpo caiu pesadamente no chão, levantou um pé e esmagou violentamente o seu pescoço, separando com um só golpe a cabeça do resto do corpo.

Assim que viram o que aconteceu ao amigo, os outros não precisaram de nenhum sinal de para atacar Mark. Como cães raivosos, atiraram-se para cima dele que por momentos ficou oculto aos olhos de Valeska, Bran e Erick, que acabara por recuar para junto dos outros dois. Bran pensava numa forma de rodear Mark e abrir a porta sem que este o apanhasse, enquanto Erick simplesmente esperava que os outros fizessem o trabalho por ele. Já Valeska observava a confusão, não acreditando que estava a ver ao vivo a força total de um puro.

Num segundo, dois vampiros tinham caído, decepados. Os três restantes conseguiram a custo prender Mark, que parecia debater-se. Contudo, pelo brilho no seu olhar, Valeska acreditava que ele se estava a divertir, fingindo não ter tanta força quanto realmente possuía.

Mark arremessou um dos vampiros contra um armário, deixando-o atarantado. Quando reparou que os outros dois tinham diminuído a força com que o agarravam, atirou-os ao chão. O que tinha caído próximo do armário voltou a aproximar-se, agarrando um braço de Mark, mas este sacudiu-o e com um golpe decapitou-o. Agarrou no colarinho de um vampiro que se tentava levantar do chão, levantando-o. Espezinhou o pescoço daquele que permanecia caído e decepou aquele que agarrava.

Largou o corpo do vampiro e voltou o olhar para Erick, que o observava em choque. Mark estava coberto de sangue da cabeça aos pés, rodeado dos corpos e cabeças dos vampiros recém assassinados. Fez a menção de se dirigir para Erick, que recuou alguns passos, quando sentiu Valeska a passar perto dele, dirigindo-se para a porta, a uma velocidade sobrenatural. Mark agarrou-a ainda em corrida e decapitou-a num piscar de olhos, vendo o seu corpo cair no chão. Esta nem percebera que fora apanhada.

Voltou a observar Erick e Bran, afastando alguns cabelos da frente dos olhos. Chegara o momento pelo qual tanto esperava.

- O que é que queres de nós? – perguntou Bran, com a voz a tremer. Os olhos cinzentos de Mark congelaram-lhe a alma.

- Acho que é bastante óbvio – constatou Mark, com uma gargalhada que aterrorizou Bran – Quero que vocês todos vão para o inferno, se é que tal coisa existe! Por tudo o que me fizeram, podem se juntar a Hans e cantar "Kumbaya" no pós vida!

- Foste tu que mataste Hans! – exclamou Erick, com o tom de voz um pouco mais alto do que gostaria.

- Não acredito que só estás a perceber isso agora! Quão burro é possível alguém ser? – perguntou Mark, estupefacto. Depois pareceu ficar mais pensativo, aproximando-se dos dois vampiros, que recuaram ainda mais – Ou será que sou eu que estou muito inteligente? É estranho, na verdade, porque desde que me transformei, lembro-me de cada segundo da minha nova vida. Estou também a perceber coisas que nunca havia percebi antes. O movimento do mundo, das estrelas... O que é que acham?

- Acho que devias visitar um psiquiatra! – sugeriu Erick, começando a ficar farto de tudo aquilo.

- Eu? Oh, mas não estou maluco. Sim, estou praticamente sem emoções, mas não louco – ressaltou Mark – A única coisa que sinto no momento é esta vontade imensa de me vingar de tudo e de todos, uma raiva do mundo em geral. Neste caso, de vocês...

Erick desistiu de argumentar com Mark. Nunca fora bom naquela parte mesmo. Se os outros incompetentes não tinham conseguido detê-lo, ele mesmo o faria. Saltou por cima do sofá que ficara entre eles, direito para tentar lhe acertar um soco, mas Mark agarrou o seu pulso, atirando-o contra a parede da sala. Acercou-se do ruivo, colocando uma mão em volta do seu pescoço e levantando Erick encostado à parede. Este agarrou o braço de Mark, tentando afastá-lo, mas não conseguiu.

- Um deja vu, não é mesmo? – escarneceu Mark – O mundo dá mais voltas do que cubos de gelo num copo de whisky... Mas ao contrário de ti, não conheço quem se interesse pela tua pessoa e não tenho medo de confrontar os desejos de ninguém.

- Mark, não faças isto – implorou Bran, arriscando a aproximar-se dos dois. Já que ia morrer mesmo, qual era a diferença? – Por favor, já mataste gente o suficiente!

- Será que matei mesmo? Não é irónico eu matar alguém que, tecnicamente, já se encontra morto? – ponderou Mark, não se dignando a olhar para Bran.

- As coisas não funcionam assim – lembrou Bran, engolindo em seco – O que é que os teus pais vão dizer?

Erick sentiu a mão de Mark a afrouxar a força com que o agarrava e logo viu ali uma oportunidade para se libertar. Sacudiu o braço de Mark e deu-lhe um murro que acertou o seu nariz. Ao contrário do que esperava, Erick não fez qualquer estrago no puro, apenas nele próprio. O soco estilhaçou todos os ossos do seu punho, fazendo com que Erick caísse no chão de pedra, agarrado à mão.

- Erick? Mas que merda!? – admirou-se Mark, tocando na face, um pouco chocado por aquilo que tinha causado. Ainda não tinha experienciado aquela parte da transformação.

Pegou Erick pelo colarinho, levantando-o do chão. Quando Erick viu as pupilas de Mark branquearem totalmente, percebeu ali que a sua vida acabara. Era como olhar a morte nos olhos. Mark levantou uma mão e, apesar dos protestos de Bran, decepou Erick, deixando cair o corpo inerte no chão, não muito longe do de Valeska.

Bran desviou o olhar do corpo de Erick e engoliu em seco. Então era assim que iria morrer, decapitado pelo primeiro puro que surgira em séculos. Contudo, ao contrário das previsões de Bran, Mark apenas o mirou e sorriu. Aproximou-se deste e colocou-lhe uma mão no ombro, fazendo-o tremer como varas verdes.

- Sabes, uma vez vi um filme de um pirata que acabava com a vida de todos a bordo de um navio, menos de uma pessoa. Isto porque quem vivia, contaria a história do que aconteceu. Não é uma bela teoria? Bom, decidi testá-la, para ver o que acontece.

Mark bateu levemente duas vezes no ombro de Bran, que se pudesse teria empalidecido como a cal. Mark aproximou-se da porta e deu-lhe um pontapé, arrancando-a da dobradiças. O estrondo desta a cair no chão de pedra criou um som ensurdecedor pelos túneis que ecoou por vários segundos.

Assim que Mark saiu de Arcade, Bran deixou-se cair no chão, sem conseguir respirar. Abriu a sua mão e deixou cair a maçaneta da porta que ficara a segurar durante todo aquele tempo. Agora era apenas uma bola amachucada de metal.

* * * * *

Ao ouvir um som estrondoso vindo dos subterrâneos, Bella congelou. Estava na casa abandonada, parada em frente da porta escancarada que dava para os tuneis. Perguntava-se o porquê daquilo quando ouviu aquele som. Um som estranhíssimo que preconizava algo ainda pior. Tentava decidir se devia descer, quando ouviu passos a subir as escadas de pedra.

Lentamente, surgindo da escuridão, Bella viu um vulto a aproximar-se dela. Num primeiro momento não percebeu quem era, pois este estava coberto de sangue. Quando surgiu sob a luz, Bella recuou, reconhecendo o irmão.

- Mark! – exclamou esta sob um sussurro. Abanou a cabeça, espantada – O veneno funcionou, Hans tinha razão...

Mark congelou na ombreira da porta, observando Bella. Com que então, mesmo vendo o irmão coberto de sangue misterioso, aquela era a primeira coisa em que ela pensava.

- Nenhum "Bom dia, como estás? Já não te vejo há tanto tempo!" – perguntou Mark, irónico.

Bella abanou a cabeça, cobrindo a boca com as mãos. O último propósito de Hans tinha sido cumprido, ele não havia morrido em vão. O veneno funcionava... Nesse momento, ao observar mais atenção o aspeto de Mark, começou a raciocinar o facto pelo qual ele estava coberto de sangue. E tendo vindo dos tuneis, só poderia significar uma coisa. Tentou voltar-se, afastar-se de Mark o mais depressa possível, mas foi impedida.

Mark colocou-se na frente de Bella, trespassando-a com a sua mão.

- Eu sei que isto não vai fazer nada e que provavelmente te vais curar rapidamente – considerou Mark, ao ver uma expressão de mistura de dor e terror no rosto de Bella – Mas vai doer como os infernos e é só isso que quero.

Arrancou o coração de Bella, deixando-o cair no chão de madeira. Bella desfaleceu na sua frente, ainda acordada por um momento, mas desmaiando logo de seguida. Mark voltou costas à irmã e saiu para a luz da manhã, respirando fundo e sentindo mil e um cheiros diferentes.

Sacudiu a roupa ensanguentada. As roupas com que se trocara durante a noite estavam nojentas e rasgadas. Felizmente, sabia de alguém recém-falecido que havia deixado para trás um armário cheio de peças de roupa com o mesmo número de Mark. Provavelmente também aproveitaria para tomar um duche.

Sorriu, sentindo-se com as energias renovadas. Era tempo de terminar o resto dos seus planos em Southward. Depois finalmente poderia sair daquele fim de mundo. 

* * * * *

Nota da Autora:

Repararam que ultimamente tenho colocado certas músicas no início dos capítulos? Essas mesmas estão na playlist de Barbastella no Spotify, para quem quiser ouvir. A música de hoje, You Should See Me In a Crown, da Billie Eilish, só conheci recentemente, mas acho que ficou perfeita neste capítulo.

Será que me atrevo a perguntar do que vocês estão a achar do ritmo atual da história???

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