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Quadragésimo

Caleb colocou-se repentinamente de pé, levantando-se da cadeira à beira da mesa de jantar onde estivera sentado, quando ouviu a porta de entrada a abrir. Não fora há muito tempo que um Charles preocupado viera comunicar a ele e Rosie o plano que Elisabeth e Amelia havia conjurado. Planeavam enfrentar um puro sozinhas, correndo riscos muito grandes contra a própria vida.

Rosie e Caleb não sabiam o que responder, mas Charles sabiam perfeitamente o que estes estavam a pensar e colocou-o em palavras:

- Rosie, sei que ele é vosso filho, mas neste momento Amelia e Elisabeth estão a caminho de enfrentar um puro. Atualmente, as hipóteses de saírem vencedoras são muito baixas. Acho que deveriam ter o apoio da vampira mais forte do mundo – Charles pegou na mão de Rosie, apertando-a levemente. O seu rosto mostrava laivos de preocupação – Rosie, tu podes marcar a diferença para todos nós.

Sabendo que tudo o que Charles acabara de dizer era verdade, Rosie deitou um último a olhar a Caleb e pediu para este vigiar a recuperação de Bella. Este acenou, concordando, embora quisesse mais que tudo ir com a esposa, mesmo sabendo que poderia atrapalhar mais do que ajudar. Vira-a depois sair de casa, seguida por Charles, ficando à espera por notícias com o coração nas mãos e o desejo de que tudo corresse pelo melhor.

Quando ouviu o som do trinque da porta de entrada, apressou-se a chegar ao hall de entrada. Encontrou primeiro Elisabeth, com uma perna que parecia ter atacada por um leão, julgando pelo sangue que se via nas calças. Caminhava um pouco a coxear, mas a ferida original, pelo menos a pele, estava quase curada. De seguida surgiu Rosie, carregando Amelia nos braços. Esta pouco se mexia e a sua camisa tinha uma enorme área que fora manchada por um líquido escuro.

- O que aconteceu? – perguntou Caleb a meia voz, ao ver o cenário que se desenrolava na sua frente.

Ninguém respondeu. Rosie dirigiu-se para a sala principal e deitou suavemente Amelia no sofá restante. Esta acordou no momento e tentou sentar-se, mas isso provocou-lhe um forte ataque de tosse. Cobriu a boca com uma mão e quando a retirou estava coberta pelo líquido negro, que também lhe cobriu os lábios de preto. Caleb sentiu o estômago a contorcer-se, recordando algo que havia estado bem enterrado na sua mente. Aquilo não podia ser o que ele estava a pensar... Contudo, apenas uma coisa causava aquela reação num vampiro.

- Amelia... - murmurou Caleb, mas sem expressar qualquer som. Sentou-se a lado de Amelia no sofá, colocando um braço em volta dos seus ombros.

Amelia quase não conseguiu voltar a abrir os olhos, mas encostou a cabeça a um ombro de Caleb. Ainda bem que não precisava de respirar, pois já não tinha forças para tal.

Rosie observava Amelia com um olhar indecifrável, sentindo-se dormente. Pelo seu rosto caiam lágrimas soltas, mas não sabia muito bem porque chorava. Por Amelia estar a morrer? Por ter deixado Mark cair no abismo? Pelas duas coisas ou por mais? Provavelmente se tivesse lidado com tudo de outra forma, nada daquilo estivesse a acontecer.

Elisabeth sentou-se no braço do sofá, perto de Amelia, e desviou o seu olhar para Caleb, não aguentando mais ver o estado agravado de Amelia. Não demoraria muito até o veneno fazer efeito. Caleb também desviou o olhar para a irmã, preocupado.

- O que podemos fazer? – perguntou, ansiosamente – Tem que haver algo que possamos fazer! Antícero deve referir isto nos diários!

- Talvez... Mas não sei se haverá uma solução – ponderou Elisabeth. Se existisse alguma solução, Antícero nem nunca sequer teria cogitado recriar o veneno original.

- Tem de haver! – insistiu Caleb, desesperado – Conhecemos Amelia há um século, isto não pode estar a acontecer depois de tudo o que passamos juntos! E...

Caleb hesitou, não tendo coragem de expressar a pergunta que mais ansiava fazer. O que acontecera a Mark? Já olhara para Rosie várias vezes mas não conseguia decifrá-la. Qualquer hipótese era péssima. Entre Mark escapar ou ter de o prender num local escuro e húmido para o resto da sua existência, não havia solução favorável. Pelos menos se ele estivesse preso, o resto da humanidade estaria em segurança. Todos, menos Amelia.

Rosie tentava não retribuir os olhares de Caleb, com medo que ele lesse nos seus olhos o que ela fizera. Que fora Rosie a acabar com tudo para Mark. De repente, começou a sentir-se demasiado assoberbada, como se tudo dentro dela estivesse comprimido a um nível muito superior ao possível. Deu um passo para trás respirando fundo, mas ficar perto de Amelia piorava a sensação cada vez mais.

Voltou costas a tudo e correu para a rua, ouvindo Caleb a chamar o seu nome. Mas Rosie precisava de ar fresco urgentemente. Precisava de sair daquela casa, até mesmo da própria Southward. Já nada naquele fim de mundo parecia calmo como antes. Agora parecia a própria entrada para o inferno.

Deixou-se cair de joelhos na praça, encostando-se ao pedestal de pedra da estátua de John Southward. Tudo mudara... E o pior podia ainda não ter passado, pois Richard ainda não acordara. Não aguentaria fazer com ele o mesmo que fizera a Mark. Onde estava a adaga? Provavelmente ainda caída no miradouro...

Sentou-se e encolheu os joelhos para junto do peito, sentindo-se totalmente desesperada e impotente. Nunca deveriam ter voltado para Southward! Deviam ter ficado em Edimburgo ou se mudado para o local mais distante que conseguissem pensar. Talvez a Austrália... Se no final de tudo ainda tivesse uma família, levá-la-ia embora do Reino Unido e nunca mais pensaria em voltar.

Fechou os olhos, sentindo o vento frio da noite a tocar o seu rosto. Tinha de juntar as ideias, perceber como tudo ia se resolver dali em diante. Tinha de haver uma luz no fundo do túnel. Nem que fosse uma vela prestes a se apagar, Rosie ia fazer de tudo para a manter acesa.

Levantou-se, usando a ajuda de uma reentrância no pedestal. Olhou para cima, observando feições arrogantes de John Southward. Aquele homem... Rosie nunca o conhecera direito, mas sabia que fora este a mexer os cordelinhos junto de Hans. O seu comparsa na busca pelo veneno original, o que criara um clã no meio do nada com o propósito de encontrar aquele líquido infernal. Uma estatua dele no centro da praça, sempre à vista cada vez que alguém olhava para a rua, irritava Rosie.

Nem o facto de ter começado a decorar a estátua com as coisas mais estapafúrdias em que pudesse pensar, ajudara a ultrapassar a raiva. Pelo menos sabia que divertia todos os outros, principalmente Richard que, embora não soubesse que era a própria mãe que as realizava, as adorava. Agora já não importava mais...

Rosie pontapeou com toda a força que tinha o topo do pedestal. Logo no primeiro impacto, parte da borda de pedra desfez-se e a estátua balançou muito levemente. Rosie sentiu que parte da sua raiva desvanecera. Quem disse que bater em alguma coisa não ajudava?

Aplicou outros pontapés no pedestal e após alguns puxões, agarrando as pernas de pedra, a estatua caiu no chão com um estrondo. O impacto fê-la se partir ao meio, levantando no ar uma pequena nuvem de pó que se dispersou rapidamente com o vento.

Não era o suficiente. Alguém ainda podia reconstruir a estatua, colando os dois pedaços. Rosie abaixou-se e agarrou a parte mais pequena da estatua, recuando. Levantou-a bem alto, o mais que conseguiu, e depois atirou-a para cima da outra metade. Um som seco deu a indicação a Rosie de que a estatua se partira em muitos pedaços. Um leve sorriso formou-se nos seus lábios. Já queria fazer aquilo há muito tempo.

O bem-estar que sentia desapareceu rapidamente e o sentimento anterior de vazio voltou novamente. O que era suposto fazer agora? Um som próximo de si fê-la levantar o olhar da estátua destruída.

- Mãe?

Rosie observou o vulto que se aproximava de si. O seu olhar toldara-se de lágrimas mal ouvira aquela voz.

- Bella! – sussurrou Rosie, aproximando-se da filha, segurando-a pelos braços, emocionada – Acordaste...

- O que aconteceu aqui?

Rosie não respondeu e apenas a envolveu num abraço que surpreendeu Bella. Esta abraçou a mãe de volta, deitando um olhar à estatua de John Southward desfeita no chão. Quanto tempo estivera adormecida? Será que todos já sabiam de Mark?

- Estou tão feliz que estás bem – disse Rosie, com a voz abafada.

Havia muitos anos que Bella não via a mãe daquela maneira. Talvez desde o nascimento de Mark... Bella afastou Rosie de si, vendo que o seu olhar perdera o brilho que ganhara nas últimas semanas.

- Tens de me dizer o que aconteceu – voltou a insistir Bella.

Rosie abanou a cabeça, engolindo em seco. Sentou-se à beira do pedestal que sobrara, cobrindo a face com as mãos e limpando as lágrimas.

- Tudo está arruinado – começou Rosie, olhando tristemente para Bella, mas sentindo-se aliviada por esta se encontrar bem – Nada vai voltar a ser como era antes...

* * * * *

Quando acabou de explicar tudo o que acontecera nas últimas horas, Elisabeth levantou-se, sentindo que precisava de um pouco de movimento, de outra forma enlouqueceria. Caleb não dissera uma palavra. Agora percebia perfeitamente o que Rosie estava a passar. O silêncio pesado na sala foi interrompido por mais um ataque de tosse de Amelia, que a acordou do seu estado de letargia. Daquela vez não tossira o líquido preto. Tentou não tomar isso como um mau sinal.

- Estás bem? – perguntou Caleb preocupado, retirando o braço de volta dos ombros de Amelia, deixando-a endireitar-se – Pareces um pouco melhor.

Alguma da palidez de Amelia desaparecera, mas assim que acordara sentiu um arrepio gelado a percorrer-lhe as costas. Apesar de parecer melhor, sabia que não ia demorar muito tempo até tudo voltar em dobro.

- Acho que isso não vai ser muito durador – comentou, com a voz rouca.

- Temos de ler os diários de Antícero – insistiu Caleb, também se levantando, ansioso por começar a agir. Deixara os livros que trouxera no escritório perto do quarto de Bella – Vamos fazer o seguinte: eu vou falar com a Rosie e depois voltamos à pesquisa. Isto não vai acabar assim – afirmou, tentando parecer confiante.

Caleb afastou-se e segundos depois Elisabeth e Amelia ouviram a porta a rua a bater. Amelia fez menção de se erguer, mas não teve forças. Elisabeth aproximou-se dela e apoiou-a, ajudando-a a se colocar de pé.

- Posso saber o que estás a fazer? – perguntou, preocupada – Devias estar a descansar!

- Tenho de ver Richard – pediu Amelia – Pode ser a minha última hipótese.

- Não fales assim. Vais ver que vamos encontrar alguma coisa – assegurou Elisabeth, colocando um braço de Amelia por cima dos seus ombros, para esta se conseguir manter levantada.

- Sabes tão bem como eu que não vamos encontrar nada – contrapôs Amelia, com um pouco mais de energia na voz – Por favor, leva-me até ele! – implorou.

As duas trocaram um olhar, enquanto Elisabeth ponderava sobre o que fazer. Não podiam perder a esperança. Era tudo o que lhes restava. Se encarassem a realidade, não teriam forças para continuar.

- Está bem, vou levar-te – concordou relutantemente – Mas depois vais descansar!

- Sim, senhora enfermeira – disse Amelia com um leve sorriso.

- Enquanto isso vou dar uma olhadela a alguns diários, para ver se encontro alguma coisa – propôs Elisabeth – Tenho também de ver como está Bella. Deve estar prestes a acordar.

Com cuidado, Elisabeth guiou Amelia até ao andar superior, subindo as escadas o melhor que podiam. Quando abriram a porta do quarto de Richard, Amelia observou a sua silhueta estirada em cima da cama. De longe, parecia que estava apenas a dormir. Porém o que corria nas suas veias podia ser o que iria destruir de vez aquela família.

Amelia afastou-se de Elisabeth, caminhando precariamente até à cama de Richard, sentando-se depois a seu lado. Elisabeth observou-a, apreensiva, enquanto Amelia pegava numa mão de Richard. Mordeu o lábio inferior e aproximou-se.

- Sei que provavelmente não devia comentar nada sobre o assunto – começou, tentando encontrar uma forma suave de abordar o tema. Mas a pura honestidade é sempre a melhor solução – Ouvi a tua conversa com Mark no miradouro...

Amelia voltou o olhar para Elisabeth. Já desconfiava que tal tinha acontecido.

- Creio que parte não tenha sido uma surpresa – supôs Amelia.

- Sempre soube dos teus sentimentos por Caleb – confessou Elisabeth – Mas não sabia que tal te atormentava até hoje.

- É complicado. Sempre foi – revelou Amelia, suspirando, contudo arrependendo-se de seguida pois sentiu picadas fortes de dor no peito – Nem tudo o que ali disse era verdade. Sim, eu e Mark... É algo de que me arrependo profundamente. Mas eu amo Richard. Neste momento é tudo o que sei ser real. Infelizmente é tarde demais.

- Amelia...

- Ouve, não importa o que aconteça, promete-me que nunca irão desistir – implorou Amelia, apertando os lábios. Não podia chorar agora – Devem todos ficar juntos, pois só assim conseguirão enfrentar as adversidades.

- Para com isso, vai tudo ficar bem! – afirmou Elisabeth, agachando-se perto de Amelia e olhando-a nos olhos. Quem não podia desistir era ela!

- Não sabes isso. Não sabes o que vai acontecer. Ninguém sabe – frisou Amelia – Vocês os dois, tu e Caleb foram a minha única família durante décadas. E apesar de tudo o que aconteceu, essa foi umas das poucas alturas da minha vida em que experienciei a verdadeira felicidade. Quando as pessoas que se amam estão juntas, tudo é mais fácil.

Elisabeth abraçou Amelia, fechando os olhos com força. Uma lágrima solitária correu pelo seu rosto.

- Não fales assim – pediu com a voz a tremer – Estás a assustar-me...

Amelia retribuiu o abraço, sentindo que só o ato de levantar os braços lhe tirara demasiada energia. Sentia-se tão cansada... Nunca soube realmente como era sentir-se daquela forma até àquele momento.

- Acredita em mim – afirmou Elisabeth, afastando-se de Amelia e limpando o rosto com as costas de uma mão – Vou voltar daqui a uma hora e estarás aqui à minha espera. Talvez um pouco de mendax te possa ajudar, sim? Trago quando voltar.

Amelia acenou, não querendo perturbar mais a amiga. Quando Elisabeth saiu do quarto, fechando a porta atrás de si, Amelia deitou-se perto de Richard, ignorando as dores que sentia. Este continuava sem nenhum batimento cardíaco, mas ainda assim parecia ter vida dentro dele. Porque é que não acordava? Voltou a pegar na sua mão. Conseguiria ouvi-la?

- Sinto a tua falta – admitiu Amelia a meia voz – Nunca tinha percebido, realmente percebido, o quanto eu te amo. Sei que parece estranho, afinal estamos prestes a casar, mas é a pura verdade.

Voltou o olhar para o seu rosto, impassível.

- Espero que estejas bem, que acordes em breve. Infelizmente há uma grande hipótese de quando o fizeres eu não estar mais viva. Explicar-te-ia como isto aconteceu, mas não te quero preocupar.

Amelia fechou os olhos e encostou a sua cabeça ao ombro de Richard. Após alguns momentos, voltou a abrir as pálpebras com dificuldade e tentou fixou o olhar no candeeiro de teto, que era um globo terreste. Parecia estar um pouco desfocado.

- Esperava mesmo ter a oportunidade de te mostrar o mundo. Sei que nunca saíste do Reino Unido. Há países tão maravilhosos pelo mundo fora, com cenários de cortar a respiração. Das pirâmides de Gizé à floresta Amazónica e até simplesmente às praias de areia cor de rosa – Amelia deixou escapar uma pequena gargalhada – Aposto que quererias logo perceber o porquê desse fenómeno e não aproveitarias o sol e o mar.

Tentou engolir em seco, mas apenas sentiu uma comichão na garganta, impelindo-a para tossir. Ignorou a vontade, pois ainda tinha muito para dizer a Richard.

- Não sei se ainda me amas, apesar de tudo o que Mark te contou. Se me perdoas... Sei que será difícil de o fazer, muito difícil. Mas espero que em algum lugar no teu coração encontres uma forma de o fazer. Não quero que essa seja a última lembrança que tenhas de mim.

Apertou com mais força a mão de Richard e voltou a fechar os olhos. Fora atingida por uma forte dor de cabeça. Lentamente, começou a sentir um formigueiro nas pernas e percebeu que começava a perder a sensibilidade nestas. Com as suas últimas forças, forçou-se a voltar a abrir os olhos e olhar uma última vez para Richard.

- Desculpa por tudo. Isto não podia ter acontecido contigo, logo contigo – exclamou com a voz embargada – Nunca me devia ter envolvido, mas quando te conheci foi mais forte do que eu. Como podia me afastar de ti? Mas fui egoísta... Nunca devia ter voltado para Southward... Lamento muito...

Amelia aproximou-se mais de Richard e beijou-o no rosto. Depois voltou a colocar a cabeça no seu ombro. Levantou uma mão tremelicante e limpou as lágrimas que corriam pelo seu rosto. Ao olhar para a sua mão, reparou que as unhas tinham tomado uma cor negra, cor do mesmo líquido que o seu sangue se transformara. Fechou os olhos por uma última vez.

Nunca tivera medo de morrer. Esse nunca fora o problema. Temia era nunca ter vivido realmente antes da morte. E vivera? Por completo? Amelia acreditava que não. Passara tantos anos a chorar por Caleb que nunca aproveitara tudo o que a vida tinha para oferecer. Mas era só uma vampira com duzentos anos! Pensara que tinha tanto tempo pela frente! Mas não, fora só uma ilusão. Cada dia devia ser vivido como o último, pois ninguém conhece o futuro. O facto de ter uma alta expectativa de vida não significava nada. Se vivesse sempre à espera que o futuro fosse melhor e não fizesse nada para mudar o presente, a vida passaria por entre os seu dedos sem nunca a ter vivido.

Viajara todos aqueles anos para tentar ultrapassar o seu passado, tentar preencher aquele vazio na sua vida. Porém não era realmente o que devia ter feito. Na verdade, estava era arrependida por nunca ter dito a Caleb o que sentira. Ele podia ter negado, mas ao menos Amelia ficaria a saber e nunca passaria o resto da vida a pensar "e se?". Conseguiria ter ultrapassado tudo sem quaisquer remorsos.

Apesar de ter estado longe, nunca esquecera aquele canto do mundo...

Lentamente, começou a deixar-se levar por um sono profundo. Não soube quanto tempo depois aquilo aconteceu, pois julgo que era apenas um sonho ou uma alucinação. Embora já não conseguisse mexer um músculo, sentiu algum movimento na sua mão direita, aquela que se encontrava entrelaçada na de Richard. Talvez um último espasmo do seu corpo moribundo?

Quando a sua mão se desprendeu completamente da de Richard, percebeu que aquilo estava mesmo a acontecer. Richard estava a mexer-se, ele estava acordado! Amelia estava muito feliz por este, mas por outro lado triste por não se conseguir despedir decentemente dele. Agora Amelia estava num estado letárgico, não conseguindo fazer mais nada a não ser pensar ou ouvir e sentir o que a rodeava. Não faltava muito tempo para chegar o fim. "Estou tão feliz que acordaste", pensou.

Richard não soube o que o acordou, mas percebeu imediatamente que tinha alguém a seu lado. Piscou os olhos, confuso. Apoiou-se nos cotovelos e olhou em volta. Definitivamente não fora ali que encontrara Mark e onde este o atacara. Quando reparou em Amelia, foi como todo o mundo desaparecesse.

- Mell, o que se passa? – perguntou Richard, assustado.

Observou a sua pele, manchada por um líquido preto, e os seus lábios que possuíam um tom mais escuro do que o normal. A sua camisola estava rasgada na lateral e toda a zona estava coberto pelo estranho líquido. Algo de muito terrível acontecera!

- Mell, acorda! – pediu Richard, colocando uma mão na sua face e virando-a para ele.

Amelia sentiu Richard a tocar-lhe e sentiu-se horrivelmente por não lhe poder dizer que ainda estava ali, mesmo que não fosse por muito mais tempo. "Vai tudo ficar bem", pensou como se pudesse falar com ele, "Não te preocupes comigo".

- Por favor, Mell, acorda! – implorou Richard, angustiado.

A sua voz pareceu estar mais longe, como se Amelia estivesse debaixo de água. Não havia nada que pudesse fazer... Aquele era o fim. Não podia parar o tempo, nem para um último adeus. Assim era a vida e, consequentemente, a morte. "Eu amo-te Richard", pensou pela última vez, com toda a sua restante energia, antes de desaparecer na escuridão.

- Não, Mell – exclamou Richard, com lágrimas a correrem-lhe pelo rosto – Por favor, acorda! Eu também te amo...

Apesar de não perceber o que se estava a passar, Richard sabia que era algo muito mau. Vampiros, normalmente não possuíam batimentos cardíacos, então não conseguia perceber por aí qual era o estado de Amelia. Mas havia qualquer coisa que lhe dizia que esta não estava bem. Richard sentia que uma luz se havia apagado e não havia maneira de a acender.

- Por favor...

Puxou uma almofada e colocou-a debaixo da cabeça de Amelia. Depois Richard levantou-se da cama, sem saber o que fazer, com a visão toldada pelas lágrimas. Tinha de chamar ajuda! Alguém devia tê-la ajudado a chegar ali, naquele estado Amelia não poderia fazê-lo sozinha.

- Está alguém em casa? – chamou, elevando a voz, tentando ouvir a resposta.

- Onde é que ela se meteu?

Encaminhou-se para a porta, tencionando abri-la, mas reconheceu a voz de Elisabeth.

- Ela nem se deu ao trabalho de nos avisar que já tinha acordado, simplesmente saiu!

Nesse momento, uma forte dor de cabeça atingiu as têmporas de Richard. Conseguiu entreabrir a porta antes de ter o reflexo de colocar as mãos na cabeça e fechar os olhos com força, tal era a intensidade da dor. Nunca sentira algo daquele género. Podia ser consequência do que Mark lhe fizera?

- Eu estava tão preocupado contigo.

- O quê?

Richard começou a ouvir mais vozes para além da de Elisabeth. Eram tantas! Não podia estar assim tanta gente dentro de casa. Quantas mais vozes ouvia, mais a dor de cabeça aumentava. E porque o som era tão alto? Parecia que toda a gente estava a falar a seu lado, ou até dentro da sua cabeça!

- Parem de falar! – gritou Richard, caindo de joelhos no chão.

­- Elas nunca mais apareceram, temos de ir saber o que se está a passar.

- Não acredito que ele me fez isto!

- A noite nunca mais acaba...

- Quem está a tomar conta da pensão?

Porque é que ninguém se calava? As pessoas não podiam falar assim tanto!

- O que se passa?

- Richard, estás bem?

Ele batera com a cabeça quando Mark o atirara contra a parede. Depois disso não se lembrava mais nada. Talvez ainda estivesse desmaiado. A ter um pesadelo horrível, onde Amelia estava a morrer e ele estivesse a alucinar. Sim, essa era a única explicação, nada daquilo era real!

Quando sentiu alguém a tocar-lhe no ombro, assustou-se e abriu os olhos. Subitamente, todas as vozes se calaram. Elisabeth estava ajoelhada na sua frente, observando-o preocupadamente.

- Está tudo bem?

Ainda perturbado com tudo o que acontecera, apenas uma coisa lhe veio à mente.

- Amelia...

Elisabeth levantou-se e olhou para Amelia deitada na cama. Correu para esta desesperadamente e virou o corpo para si.

- Não, não pode ser, apenas a deixei por uma hora! Prometi que voltava!

Richard levantou-se, ainda um pouco afetado pela dores anteriores. Colocou-se do outro lado da cama, apoiando-se na cabeceira da mesma.

- Por favor diz que há alguma coisa que possamos fazer! – implorou, olhando mais uma vez para a figura fraca de Amelia e sentindo os olhos a encherem-se de lágrimas.

- Eu... - Elisabeth gaguejou, sem saber o que dizer – Nunca ninguém sobreviveu a isto – pensou, engolindo em seco.

- O que queres dizer? – insistiu Richard.

Nunca ninguém sobreviveu... Não, ela não tinha dito isso. Mas Richard ouvira-a falar, embora não a tivesse visto a dizer as palavras. Estava a enlouquecer?

- Lamento muito, Richard – gaguejou Elisabeth, por entre soluços e lágrimas – Ela só queria dizer adeus.

Era demasiado. Demasiada informação de uma só vez. Aquilo tinha de ser um pesadelo, Richard não podia estar acordado. Nada daquilo podia ser real! Amelia não podia ter morrido. E ele definitivamente não estava a ouvir... os pensamentos das outras pessoas.

Richard arquejou. O que se estava a passar? Afastou-se da cama e aproximou-se da porta que dava para a varanda, abrindo-a e saindo para o pequeno espaço exterior. Agarrou-se à balaustrada, olhando a paisagem à sua frente. A noite estava a terminar. Uma luz suave começava a surgir atrás das montanhas. Contudo, naquele momento, nada serviria para o acalmar.

Novamente começou a ouvir vozes por todo o lado e, juntamente com estas, surgiu a dor de cabeça. O que se estava a passar com ele? Sentou-se no chão e juntou os joelhos ao peito. Fechou os olhos com força, sentindo tudo a voltar outra vez. Aquilo tinha de ser um pesadelo. Tinha de ser...

* * * * *

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