Capítulo 1
POV: Annabel
Por um minuto, pensei que fosse capotar no meio da rua de tão rápido que eu corria e pulava os pequenos buracos, pedras e outras coisas na estradinha de chão de minha vida. O ônibus para a escola estava na esquina e eu sabia que, se não o pegasse, iria acabar perdendo a aula, os ônibus que passavam perto da casa de minha avó demoravam a hora para passar. Quando passavam, porque o ponto final tinha seus dias para funcionar e nunca era certo que o mesmo funcionasse. Confuso, muito confuso! Continuei correndo, com a mochila batendo contra as minhas costas e o cabelo castanho embolando na minha boca. Engasguei loucamente com ele? Engasguei! Mas eu não podia perder aquele ônibus, eu precisava ir pra escola de qualquer jeito!
Continuei correndo loucamente, ainda faltavam duas pessoas para entrar no ônibus... Ia dar tempo, ia dar tempo, ia dar tempo...
Cheguei na porta do ônibus e ele estava fechando a mesma, então coloquei a mão no meio e aguentei a porrada. O motorista me olhou, franziu o cenho e abriu a porta novamente. Ofegante, com os pulmões pegando fogo, a respiração ruidosa e completamente suada, subi os degraus do ônibus e tentei falar.
— Bom dia!
O motorista me olhou e assentiu. Entrei no ônibus com todo mundo me encarando. Olhei para eles com uma expressão apreensiva... E como sempre, eles me ignoraram. Dei de ombros. Melhor assim. Fui caminhando lentamente na direção do fundo, tentando imaginar o que aquele povo estava pensando. Uma menina branca como um caramba, cabelos castanhos enrolados na boca e os olhos negros e malvados - como eles adoravam dizer - ofegante, brilhando de suor e atrasada... Deviam pensar que o sanatório havia aberto as portas e me deixado sair. Não ligava. Só queria ver uma pessoa ali e a vi. Sorri grandemente para meu melhor amigo, que estava com a cara enfiada no celular novamente.
— Outro crush? — Perguntei, o empurrando para o lado e me sentando — Não seria o primeiro essa semana.
Meu melhor amigo me olhou, revirando os olhos com um sorriso irônico em seu rosto. Noslek era mesmo um amor, se você acha que pessoas narcisistas são amorosas. Pele morena, mais ou menos do meu tamanho, porte médio, olhos castanhos escuros e um cabelo enroladinho.
— E você acha que eu perco tempo, garota? — Me disse ele, amostrando um contato no celular. O nome era "crush 4"— Ele é maravilhoso, não é?
— Nunca vou conseguir guardar o nome de todos eles, um dia ainda vou atender seu telefone e chamar um pelo nome de outro!— Ri, pegando o celular e olhando a foto. O menino tinha uma barba, cabelo curto e era bem branquinho. Parecia ser um amor — Como ele chama?
— Anthony Fratello. Um amor, não é? — Noslek riu, batendo palminhas animadas e pegando novamente o celular da minha mão— Pena que mora em outro estado.
— Parabéns, Noslek — Disse, rindo dele— Você se apaixonou a distância... E era você que me caçoava pelos namoradinhos nos jogos, não é?
Noslek estirou a língua para mim e levantou o dedo médio, mostrando a tatuagem em seus dedos. "Graecus" estava escrito em seu dedo do meio. Viciado em mitologia romana? Talvez.
Ficamos conversando sobre as paquerinhas de Noslek, porque ele só sabia falar de si mesmo. Mas eu não ligava. Minha vida era bem sem graça, então... Demoramos pouco tempo para chegar na escola, graças a Deus, ainda estava nervosa com medo de perder aquela maldita prova. Fomos rápido pelos corredores, um mar de gente perdido em si mesmo, com olhares vagos e conversas superficiais, maquiados demais, bem vestidos demais, tentando esconder seus medos através de sua felicidade muitas vezes falsa. Olhei para cada um que pude, observando suas "conversas felizes" discorrerem, enquanto Noslek falava ainda mais de seus machos. Passei por uma menina em particular. Cabelos muito cheios de castanhos, perfeitamente alinhados em um penteado. Olhos verdes e o corpo escultural e cor-de-café espremido dentro de um uniforme de cheerleader branco e vermelho. Ela sacode um pompom e pula, gritando algo sobre o capitão do time. Esse chega e a abraça por trás. A menina dá um sorriso de lado e me olha, percebendo que estava olhando-a. Ergue seu dedo médio para mim e comenta algo, logo seus amigos me olham e começam a rir. Noslek percebe que estavam rindo de mim, larga seus cadernos no chão e vai na direção do pequeno grupo, parecendo tão hétero quanto eu.
— O que?— Grita ele, empurrando os outros e ficando cara a cara com a menina que havia levantado e o dedo médio— O que você está rindo? Me conta, estou querendo rir também!
O capitão do time passa a menina para trás e olha para Noslek nos olhos. Suas pupilas tremem. Ele estava com medo. Caminhei até meu melhor amigo e peguei o braço dele.
— Vamos, amigo — Murmurei, tentando puxá-lo de volta para mim — Não vale a pena.
— QUERO SABER DO QUE ESTÃO RINDO!— Enfatiza novamente Noslek, encarando raivoso o capitão— Então, senhor Bomberman, quer me contar a piada?
— Não há piada!— O menino diz, pegando o braço da garota e afastando-se de eu e Noslek— Não há, não é? Não há.
E então vai saindo, reclamando algo com a menina em meio a murmúrios. Noslek me olha e sorri. Reviro os olhos e saio puxando-o novamente a direção de seus materiais, nós os pegamos e corremos para a sala. Noslek era um amor em pessoa, mas quando cismava, era capaz de estourar pessoas de pancada. Havia acontecido na semana passada, quando ele derrubou o mesmo capitão que estava falando agora pouco. E não era o primeiro esse ano. Ele já havia batido em metade da escola e ameaçado até mesmo a diretora. Filho de Apolo nada, hein? Era filho de Ares e não sabia! Corremos até a sala e fomos para o nosso lugar, no meio da mesma. A prova de matemática estava tão difícil como decidir qual minha cor favorita no dia (eu a mudava constantemente, não havia uma cor fixa, então costumava dizer que era arco-íris)
Graças a Deus, consegui pegar a prova da nerd por dois reais e consegui gabaritar. Assim que estávamos saindo da sala, Noslek me puxa para o pátio.
— Pelos deuses, estou faminto — Ele comenta, pegando meu braço— Vamos comer uma coxinha? Eu quero uma coxinha!
— Eu odeio coxinha, você sabe disso. Mas vamos.
O meu melhor amigo mimado me carrega até a cantina e compra duas, me obrigando a comer a segunda. Okay, eu não detestava tanto assim, mas tudo bem. Nos sentamos e logo começamos a falar sobre a prova. Ele estava tão, mas tão nervoso! Meu melhor amigo era muito nerd, preocupado com a faculdade de artes e nossa futura casa o tempo todo, como se o mundo fosse, de fato, acabar se ele tirasse 9,9 em física. Acontecera semana passada e ele chorou até o professor arredondar. Melhor pessoa ever! Fiquei nervosa junto com ele e ataquei a coxinha completamente, quase comendo o guardanapo junto.
— Vamos em um espetáculo hoje?— Ele me pergunta, na fila para comprar outra coxinha.
— De quê? Não é um daqueles musicais de quatro horas novamente, né?— Pergunto, revirando os olhos. Odiava coisas muito prolongadas— Eu sempre durmo e aí você fica bravo, não é minha culpa, sabia?
— Eu sei, mas não, é apenas uma apresentação de balé. Vão estar muitas meninas lá, você vai amar.
Meu amigo compra a coxinha e me olha, com uma carinha safada. Dou um pequeno tapa nele. Como sempre me deixar vermelha? Ele sabia.
No mês passado, havíamos ido para uma festa neon, com aquelas tintas que brilhavam no escuro e tudo mais. Ficamos tão bêbados que mal lembrávamos o que estava acontecendo ao nosso redor, só consegui me dar conta de que estava beijando uma menina completamente sem roupa em uma banheira quando a porta abriu e Noslek entrou agarrado em outro menino. De acordo com ele, eu não liguei e fiz a menina ter um orgasmo múltiplo mesmo assim. Eu não lembrava disso, mas confiava no meu melhor amigo.
— Ta bom, vai. Que horas?
— Eu te busco! Comprei meu carro ontem, vou pegar hoje— Ele anuncia, completamente feliz com sua coxinha em mãos — Não peguei ontem porque estava chovendo demaaaais...
— E quem diria que seus vídeos musicais na internet não te dariam dinheiro, hein?— Disse, dando uma cotovelada nele, que riu em resposta— Você é maravilhoso!
— Eu sei— Foi a resposta dele, enquanto jogava o cabelo invisível e íamos para outra aula chata.
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