Declarações e eu te amo
|The moon rises
And I am
becoming you
— Let me in, Haseul
Dancei mais algumas vezes com homens aleatórios que nunca cheguei a ver em minha vida e talvez nunca viesse a me encontrar novamente. Mas de qualquer forma, a garota com que partilhei alguns minutos de alegria não saía da minha mente, o que me fazia desejar correr dos braços deles antes que a música terminasse de fato. Seus olhares quando eu fazia isso eram cruéis e pesavam como milhares de pianos acima da minha cabeça, apesar de que nunca ter experimentado tal coisa, claramente.
E no fim da noite, Kahei cumpriu sua promessa. Devia ser uma ou duas da madrugada quando ouvi batidas na janela e levantei em pura euforia para abri-la o mais rápido possível, embora meus dedos tremessem assim como o resto do meu corpo envolto pelo leve vestido, mas que era o suficiente para me manter aquecida enquanto estivesse devidamente enrolada no edredom. Ainda não tinha sequer superado o beijo que ocorreu algumas horas antes e já estava prestes a conversar com ela pela primeira vez desde esse ocorrido, milhares de coisas passavam pela minha cabeça extremamente acelerada somente naquele curto espaço de tempo e nenhuma sequer chegava perto de ser boa.
Ela sorriu quando entrou e me deitei novamente, sem saber muito bem se aquela tinha sido uma boa ação ou não, mas como Kahei fez o mesmo, pensei que estava tudo bem. Parecia estar tão aflita quanto eu ao chegar mais perto de mim, ou quem sabe mais ainda porque seus dedos começaram a tremer também assim que se entrelaçaram com os meus. Quando pensei em falar algo, ela se adiantou e pediu para começar o que queria.
— Eu não te beijei por impulso, conheço-te o suficiente para saber que pode estar pensando tal coisa, mas não é isso. — Kahei disse com a mão livre, a direita, passando pela minha bochecha, inclinei meu rosto para perto dela e, dessa forma, conseguir aproveitar mais. — Não queria dizer que te amo, então agora estou perdida o suficiente para não saber o que sinto e qual seria a atitide certa de se fazer, se devo te beijar novamente ou me distanciar o máximo possível, mas é tão bom e me sinto feliz junto com você.
— Eu sei. — Sussurrou e me jogo para trás, ficando de barriga para cima. — Entendo tão perfeitamente que me assusta, mas não podemos, Kahei. Você está noiva e somos mulheres, tudo bem que sua situação financeira é boa, talvez fechassem os olhos para isso, mas a minha não. Colocarão toda a culpa em cima de mim e me acusarão de ter feito algum feitiço maligno para te fazer sentir desejo por mim, sabe que a igreja ainda recebe denúncias de bruxaria.
— Exatamente por esse motivo eu demorei tanto para aceitar, talvez nem aceite bem ainda, mas quero te ouvir. — Kahei se aproximou muito mais do que seria considerado respeitável e me virei novamente para ela, que colocou sua mão em meu queixo, fazendo-me olhar em seus olhos. — E quero te sentir, quero sentir seu amor, seu corpo, sua boca, quero te ver sorrindo e feliz como quando estamos juntas, gritar para todo mundo que eu te acho a pessoa mais linda do mundo, Haseul. Se quiser também, por favor, esqueça do mundo e de como vamos ser vistas, se não desejar o mesmo, posso ir embora e seguimos nossa vida.
Era tentador. O toque suave de seus dedos passeando pelo meu rosto, sua respiração sendo roubada pela minha de tão perto, seus olhos sendo iluminados fraca luz da vela. Céus, ela é tão perfeita que chegava a doer, meu coração batia errado como se estivesse sendo afetado, seja por Kahei ou pela minha negação a aceitar o que sentia, talvez até os dois juntos, quem sabe.
Toquei seu rosto assim como ela tocava o meu, mas a puxei para mais perto e a beijei. Kahei sorriu um pouco e contribuiu, tirando a mão do meu rosto e colocando-a em minha cintura, juntando nossos corpos até poucas partes parecessem separadas. Era muito melhor do que o primeiro, fazia-me desejar experimentar mais de seus beijos e descobrir sobre minha garota além das coisas que eram consideradas corretas no ponto de vista de todos. Quis que eles todos sumissem e os expulsei de meus pensamentos.
— Eu te amo. — Sussurei quando nós separamos. — Muito e muito, mais do que imaginei.
— Eu amo mais. — Kahei disse sorrindo e me abraçou, descansando a cabeça no meu peito. — Não se sinta culpada, está bem? Nós nos amamos e não existe problema nisso.
Suspirei. O que me preocupava era isso também, mas além disso havia o noivo dela. Mesmo que eu tenha ouvido uma coisa ou outra na cidade quando ia lá para resolver assuntos do baile sobre as saídas nortunas dele para tabernas e prostíbulos, no entanto, as fontes das fofocas que correm por lá nem sempre são das mais confiáveis. Preferi ignorar o pensamento de que Kahei estava traindo alguém, mesmo que ainda não fosse realmente casada, embora o sentimento de culpa ainda estivesse lá.
— Seu noivo...
— Também me trai. Com mais de uma mulher e com certeza muito mais de uma vez, pelo que sei. — Ela responde confirmando minhas suspeitas e também os boatos que ouvi. — Mesmo assim, agora eu estou me sentindo culpada. — Kahei disse encolhendo as pernas contra o peito e apoiando a cabeça nos joelhos.
— Desculpa. — Respondi fazendo carinho no cabelo dela. — Você me ama? De verdade? Mesmo, mesmo? — Perguntei fazendo pausas a cada vez que falava, vendo ela rir e sair da posição que estava. Kahei se sentou na cama e pegou meu rosto com as duas mãos.
— Eu te amo. — Deu um beijo rápido na minha boca. — De verdade. — Mais um. — Mesmo, mesmo. — E outro. — Que horas são? Estou com tanto sono.
Levantei da cama e andei até a penteadeira, peguei o relógio que deixo guardado lá e vejo que já passava das três da manhã. Comecei a rir de nervoso, mesmo que tapando a mão com a boca. Se fôssemos dormir agora, com certeza alguém vai nos flagrar e daí é direto para a forca, sem opção de qualquer defesa. Embora eu também estivesse com muito sono e querendo que ela ficasse comigo, era arriscado o suficiente para fazer uma decisão ser tomada por mim:
— Pode dormir, eu te acordo de manhã. Não é muito tempo para você dormir, mas acho que dá ao menos para descansar um pouco. — Falei enquanto me sentava para a cama.
— E você? Como vai ficar acordada até quase seis da manhã sendo que você rodopiou toda a minha sala umas nove vezes durante as danças? Não está cansada?
Não respondi, apenas dei de ombros e me deitei ao lado dela novamente. Kahei adormeceu rápido, questão de minutos somente e isso me fez questionar o quão exausta ficou pelo baile e por ter vindo aqui. Fiquei observando-a durante muito tempo, ela estava linda, ou talvez eu estivesse tão apaixonada que a achava perfeita até com o cabelo tapando parte do seu rosto.
Conseguir não adormecer não foi tão difícil, a pior parte vai ser acordá-la antes do sol nascer completamente para que fosse embora antes dos meus pais acordarem, já que está começando a clarear lá fora. Ela está extremamente fofa agarrada na minha cintura como se fosse um bebê, não sei a vou conseguir fazer tamanha crueldade com quem está em um sono tão bom.
— Kahei, meu amor. — Sussurei fazendo carinho em seu rosto. — Já está na hora de ir.
— Agora? — Ela murmurou se soltando de mim. Coçou os olhos e olhou para fora pela janela, quando viu que realmente estava começando a clarear o dia, se sentou na cama. — Não quero ir.
— Mas precisa. Meus pais não vão ser tão bondosos quanto Elise é, melhor não arriscar.
Ela balançou a cabeça mostrando que entendeu e se levantou mesmo sonolenta. Kahei me beijou na bochecha antes de pular a janela e sussurrou "amo-te" já do lado de fora, foi até o portão e, de lá, acenou. Fiquei olhando para o lado de fora até que ela saísse do meu campo de vista e pulei na cama para tentar dormir por um pouco de tempo antes de Elise entrar e me encontrar acordada.
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