Trinta (Alguma consequência, ainda pairando nas estrelas, começará amargamente)
Where you told me even
if we died tonight,
that I'd die yours
— A House In Nebraska, Ethel Cain
🦋
Roseville, 1997.
Aos treze anos, vi na televisão que a incidência de crianças desaparecidas consistia em gentilezas do dia a dia; à espreita, por trás de um educado olá — ou um carro desconhecido, de vidros escuros na vizinhança, que contornava o quarteirão até o parque ou a igreja oferecendo doces, brinquedos, cantarolando canções de ninar nos alto—falantes e atraindo crianças como um enxame de abelhas — um estranho, cuja face era somente produto de delírio e excesso de telopsia, eu adicionava àquelas maldades com dedos longos, dentes afiados e um par de olhos brancos sem íris, que aguardava ansioso o meu gentil deslize.
Foi logo quando a prevalência de crianças desaparecidas cresceu ao redor de Cotton-Cape, a costa meridional do país engolia uma Roseville com seus habitantes de rostos familiares, cujos nomes sabíamos de cor, e então desembocava no oceano a esmo, cheio de estranhos em barcos distantes, desaparecendo como os navios cruzando as linhas horizontais.
Meus temores eram feitos de fantasias irreais e mitológicas, herdadas em cascata, alimentadas por preocupações sem sentido que se disseminavam em noites do pijama e pequenos grupos ao redor da fogueira nos acampamentos de verão da igreja sobre as criaturas da floresta, monstros de mil olhos e areia movediça, depois que irmã Eloise se recolhia. Contudo, vivia sob a constante vigilância das regras da casa como o meu temor mais premente, repassava de cor as direções do meu bom comportamento: nunca sair sem avisar, jamais falar com estranhos, e em hipótese alguma desobedecer. A desobediência era pior que as criaturas aterrorizantes, papai dizia. Mais perversa, furtiva e destruidora.
Os horários rígidos evitam os desvios em troca de uma diversão banal de meia hora antes do jantar, quando, depois da escola, Taehyung e Dana sugeriam uma rápida visita ao fliperama. Temia ser a próxima garota cujas fotos ilustrariam a lateral de uma caixa de leite Hawthorn-Mellody, acompanhada das minhas descrições físicas, expostas na seção de laticínios dos supermercados do condado.
Abraçava as malditas bonecas de rosto de porcelana, com seus sorrisos pintados, congelando expressões apáticas, e chorava ao pensar que poderia ser uma das crianças que esfriavam em um sótão escuro por anos, com pedaços do próprio corpo feito de souvenirs em um freezer sujo. Nunca mais veria mamãe, papai ou Theo. Nunca diria adeus a Dana e Taehyung.
Aos quinze, esses medos ganharam novas nuances, menos imaginativas, mais ameaçadoras. Sentia receio de me apaixonar por alguém que jamais poderia ter, ser arruinada, ou nunca ser boa o bastante para merecer ser notada. Outras canções entoando em um toca-fitas me seduziriam até o maldito carro com seu motor de seis cilindros, peças de roupas de suas vítimas enfiadas entre as brechas do banco só seriam percebidas no desespero de livrar-se das minhas, pétalas arrancadas de capelos novos, bem me quer, mal me quer.
Os dedos longos ganhariam modulações mais sutis, como um par de mãos experientes que eu desejaria que me tocassem — as mesmas mãos culpadas de um feiticeiro que arrancava corações inocentes e os devorava a dentadas por não ter o seu próprio. A névoa mística seria a fumaça tóxica de um cigarro saborizado, desaparecendo no gosto residual cujo sabor tentador eu desejaria experimentar.
Os medos seriam dissolvidos em outros sentimentos; tomaria cada gota do veneno na ponta da língua como remédio para sarar a obediência, desviaria da rota da casa, da rigidez dos horários, das regras morais de papai; entraria no carro de um desconhecido adorado, naquela eletricidade entorpecedora que corrói por dentro, ansiando desaparecer com ele por vontade própria.
O que deveria temer estava escondido naquela ânsia das proibições e nas brechas nunca dadas; eu era o meu próprio monstro e medo vertido, devorando-me de dentro para fora.
Pensei nisso naquela manhã em que acordei na cama de Jungkook. Era sábado. As roupas dele ainda estavam espalhadas pelo chão do quarto, o corpo parcialmente coberto pela manta, seu braço ao redor da minha cintura em uma afirmação de segurança, e a quentura de sua nudez aquecia minha pele. Ele dormia sereno, expondo a cicatriz de vinte centímetros que partia de seu quadril até a nádega esquerda, como as estrias de um cânion. Toquei a pele fina que cobria o antigo machucado. Meu estômago se revirou.
Podia ouvir o Sr. Min dedilhando o piano no andar de baixo, seu caminhar tranquilo pela sala, o silêncio ensurdecedor das primeiras horas da manhã rompido pelas doces cotovias cantando na janela do quarto, onde o galho do ulmeiro pendia contra o vidro, e uma borboleta de asas alaranjadas descansava ao lado da cortina. Aquele era um dos poucos no bairro que sobrevivera à peste do olmo holandês; as árvores de Marina Vista morriam de dentro para fora, e uma endemia extremamente virulenta de grafiose levou cerca de trinta árvores centenárias ao chão em menos de dois anos. Em épocas menos comuns, como o verão, as folhas estranhamente murchavam e perdiam a cor, e o departamento de arborização do condado condenava aquela árvore ao seu ciclo mortiço. Então as borboletas de ulmeiro paravam de aparecer, e suas presenças se tornavam uma raridade em Roseville, menos ali, ao redor da casa cuja proibição continuava válida pelos motivos de outros vírus. Mais agressivos, mais difíceis de curar.
Pela manhã, o quarto de Jungkook parecia apenas o espaço masculino esperado por um garoto de sua idade: posters decorando as paredes, nenhuma incidência de nudez feminina à vista, a bagunça de roupas recém-dobradas esquecidas por cima da cadeira de sua escrivaninha amontoada de cadernos e papéis avulsos, rabiscos feitos à mão colados com fita crepe, uma estante de livros na parede ao lado da porta exibindo títulos desconhecidos e seu uniforme de trabalho pendurado ao gancho preso no armário. As manchas de graxa, em formato de palma, reluziam no denim desbotado. Um único quadro religioso, a Virgem Maria segurando Jesus morto nos braços. Piètas me davam calafrios.
— Preciso ir para casa... — Cochichei.
Ele se moveu, pressionando o peito contra o meu ombro.
— Fica mais um pouquinho, hoje é sábado... — Mal abriu os olhos e se enroscou em minha cintura, ainda tinha hálito de sono, os cabelos úmidos de suor pelo calor excessivo e a dinâmica superaquecida de dois corpos espremidos naquele colchão de solteiro.
— Mamãe vai desconfiar se eu demorar demais.
— Só um pouquinho.
— Jungkook — disse — Falo sério!
— São seis e meia da manhã, Min sempre vai à praia depois das sete, prometo te deixar em casa depois disso, tá bem? Ela não vai desconfiar.
Bastou um ou dois beijos para minha mente silenciar aquelas preocupações, retomando os desejos da noite passada e permitindo que a sensibilidade recém-descoberta tomasse proporções maiores do que deveria. A boca de Jungkook deslizou pela minha cintura, até o umbigo, seguindo o mesmo caminho que só me arrastava de volta ao segundo círculo de um inferno que Dante descreveu.
Na segunda-feira as aulas foram retomadas normalmente após os feriados de ano novo, mamãe havia preparado meu uniforme de inverno pela manhã. Os dias começaram a parecer mais insossos, menos interessantes do que costumavam parecer. Meu mundo e minhas alegrias partiam daquele pequeno recorte do território escolar: ilustrar com notas azuis um boletim perfeito, participar da organização dos encontros de jovens com cristo, reuniões do clube de teatro, livros locados na biblioteca, e então, mergulhar em meu tédio.
Revi os horários e troquei os livros e cadernos de História Americana, Biologia e Aritmética para as aulas do dia.
Pela primeira vez, aquele não parecia um dia comum de volta às aulas, com suas expectativas felizes. Notava a atenção recebida enquanto caminhava até a sala, os olhares, os cochichos e supunha os comentários, sempre fui coadjuvante nessas brincadeiras do colégio. E de uma hora para a outra me vi sendo a estrela principal. Dentro do meu armário, um bilhete feito com recortes de jornal continha uma rima ruim que insinuava algumas meias verdades.
"Piranha da igreja, com fé disfarçada,
De dia reza, à noite é revelada."
Li o verso e enfiei o papel em meu livro de biologia, passei a aula inteira segurando o choro.
Durante as trocas de turno, fui encurralada no banheiro por algumas garotas. Meu rosto mudou de cor de vergonha.
— Então é verdade o que estão dizendo por aí? — Vi o chiclete que Sue Boyd mascava ser jogado de um lado para o outro na boca. Sue costumava andar com Sharon Marie. Garotas bonitas sempre se cercavam de outras ainda mais bonitas. Era uma regra.
— Não sei o que estão dizendo. Você poderia me dar licença? — Desviei para o lado direito, mas o braço de Sue travou a passagem.
— Que você tem chupado aquele garoto Min—Jeon desde as férias de inverno. Todo mundo tem dito por aí que você é uma boqueteira de primeira. Ele mal tinha terminado com a Sharon e você já estava ajoelhando para ele, não é?
Naquela época, eu tinha uma ideia vaga do que era ser uma boqueteira. Acho engraçado pensar nisso agora, algo que parecia tão banal, com um título ridículo e uma fama associada ao ato.
— Isso é mentira!
— Qual é, já deve ter feito coisa até pior. A Emmaline contou que viu vocês dois de esfregação no confessionário do padre Stane.
— Não fiz nada disso.
— Não seja uma putinha tão dissimulada. — Nem precisei erguer a cabeça para saber que o motivo daquelas gargalhadas era eu. — Deve ser boa nisso pra compensar essa cara feia. Ele vai te comer no sofá dele e depois vai espalhar por aí que você é uma vagabunda, é assim que funciona.
Meus sentimentos expostos daquela maneira fizeram com que me sentisse suja. Era só uma mentira ridícula, uma mentira sem sentido que eu não era capaz de contestar, e a ideia daquela concepção errada — uma construção tão odiosa a meu respeito, da qual sempre pareci imune — parecia chacoalhar o meu pequeno mundo frágil. Pensei que os boatos se espalhariam como pragas. Em breve, os rumores chegariam a papai, que estava a dois metros dali, na sala dos professores, e quando os questionamentos começassem, não seria capaz de evitar o castigo que me aguardava.
A rigidez dos meus pais não consistia em violência física; papai mal me tocava, incapaz até mesmo de me abraçar ou oferecer qualquer carinho. Ele não levantaria a mão para mim, mas me daria torturas silenciosas, o gosto amargo da decepção que nunca passa, aquele olhar que iria me ferir mais do que qualquer castigo físico infligido ao corpo. Esmagaria meus sentimentos sem dó ao reforçar todas as manhãs que eu não era a filha que ele havia imaginado.
O cânone do crescimento de toda garota parecia se encaminhar para a decepção de um pai com expectativas erradas, que esquece que a filha também é uma mulher, cuja identidade transcende a passividade da esposa que ele está acostumado a comandar. Não é uma criatura para ser domada por um voto de casamento, nem um anexo em carne e ossos para viver sonhos não cumpridos, aquela esperança complacente de realização terceirizada. Decepcionar papai me causou uma dor lancinante e desesperadora da qual nunca me recuperei, em compensação, foi a última.
A caixa de leite leite estragado surgiu das profundezas de alguma mochila, e em um movimento rápido, estava coberta dos pés a cabeça.
— Por que está fazendo isso? — Encarei o fio puxado de minha meia calça, coberta de leite, enquanto as garotas trocavam risadinhas cúmplices. Minhas entranhas se retorciam e davam um nó.
— Você pode ir chorar pro seu papai agora. Own!
A maldade adolescente parecia uma maneira de punir umas as outras pelas coisas que supostamente deveriam odiar em si mesmas. Estávamos em um universo limitado, que instigava aquele ódio sem fundamentos. Nunca havia trocado duas palavras com Sue Boyd em todos aqueles anos na escola. Em menos de uma semana, eu havia me tornado alvo do seu ódio, seu novo brinquedo favorito.
Só quando cheguei à aula de História Americana, depois das risadinhas contidas no corredor e dos comentários maliciosos dos garotos durante o caminho, percebi o pedaço de papel colado à minha mochila: "Vai um boquete aí?", dizia a inscrição pichada com caneta azul.
Leela Desjardin, a menina de cabelo vermelho que sentava no fundo da sala, arrancou o papel de minhas mãos e jogou no lixo, amassando no caminho. Não precisava erguer os olhos e encarar os rostos para saber que as gargalhadas eram para mim.
— Vocês estão em 1820, seus animais?! Seus merdinhas! — Ela gritou para um bando de garotos reunidos, que pararam de rir na hora.
Me doeu ser motivo de piada, mas me doeu muito mais ser motivo de piada para outras garotas, como se jamais pudesse me igualar a elas, estar em seus ciclos, ser aceita. Ser odiada por uma mentira parecia previsível; não era importante o suficiente para causar qualquer sentimento diferente de repulsa.
A reputação se espalhou como metástase. Em menos de uma semana, aquela se tornou a alcunha pela qual todos me chamavam pelas minhas costas. O pior de tudo era saber que eu nunca tinha sequer feito um boquete na vida.
❁
Passei uma semana inteira evitando Jungkook. Ainda era boa em desviar de suas rotas e presença, como costumava fazer. A intensidade de sua busca exigia mais esforço, mas eu ainda sabia como me esconder e desaparecer de sua vista. Taylor me ligou duas vezes durante aqueles dias, repassando um dos seus recados, que estava preocupado e queria falar comigo. Não pedi que ela respondesse nada.
Na sexta-feira à noite, depois do horário de dormir, quando papai e mamãe se recolheram, ele apareceu. Bastaram duas batidinhas na janela, que me causaram um susto enquanto eu fazia o dever de casa. Estava morrendo de saudades dele, mas preferia sair do foco de sua atenção; os comentários estavam começando a mexer com a minha cabeça.
— Você sumiu, o que aconteceu? — Passou a primeira perna pela janela, e então a outra, surgindo com seu jeans desbotado, destoando de toda decoração cor de rosa do quarto. Estava usando uma camisa henley de mangas longas, o tecido puído, com um pequeno furinho no ombro só tinha o efeito oposto, deixando-o ainda mais charmoso.
— Estava muito ocupada.
— Também não respondeu nenhum dos meus recados. — rebateu ele.
— Tive muito dever de casa, as provas já são daqui a duas semanas, preciso estudar.
Nem conseguia olhar em seus olhos, que não tinham culpa da minha vergonha e do meu medo de ser exposta. Naquela época, descobri que me punia quando me sentia rejeitada, um autoflagelo. Tirava os meus resquícios de felicidade por achar que não os merecia: o direito a uma guloseima favorita, um copo de Mountain Dew no jantar ou um tempo de descanso necessário. Em vez disso, me punia com tarefas, estudo e solidão, preenchendo aquelas lacunas emocionais com punhados de terra, sufocando o organismo. Porque merecia. Porque era má e o castigo servia para lembrar disso. Jungkook era o mais cruel deles.
— Trouxe um doce para você. — Enfiou a mão na calça e retirou a bala de canela do bolso. A embalagem vermelha identificável me fazia lembrar do vício e da insistência com que o Dr. Bobby me proibia de consumi-las em excesso. Surrupiava algumas da conveniência Kim sempre que podia, com a autorização de Taehyung. Estava sempre com um resquício de bala de canela preso à superfície do meu aparelho odontológico nos primeiros anos de uso, até removê-lo.
Dei a volta na cama e tranquei a porta para garantir que papai não entraria de surpresa, como costumava fazer. Aquela ideia de privacidade, que só era recuperada com as portas fechadas, era uma maneira de esconder os pequenos delitos, quando quase nada parecia mais meu. Voltei e sentei ao lado de Jungkook, que observava minha movimentação.
— Posso ter pelo menos um beijo de boa noite?!
Jungkook se aproximou um pouco mais, e eu podia sentir o cheiro do seu cigarro e do sabonete de amêndoas, além do bafo de bala Sunkist Sours perturbando a ordem das coisas. Suas mãos em meus quadris impulsionavam meu corpo em sua direção, e então ele tocou minha boca. Esta era a parte ruim de beijá-lo: não conseguia pensar em mais nada. Também era a parte boa de beijá-lo: não conseguia pensar em mais nada.
— Você parece chateada — Tinha o queixo apoiado em meu ombro, observava as marcações no livro de matemática, os olhos se movendo conforme eu avançava as páginas.
Inclinou o rosto para frente, olhando nos meus olhos.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não é nada demais.
— O que foi, Monroe? Sou seu namorado, você pode me contar.
Foi a primeira vez que ele usou o substantivo: namorado. Lembro do frio na barriga que senti ao ouvir o termo se perder na sua boca assim, tão casualmente, como uma palavra costumeira e usual. Quis perguntar a ele se éramos namorados de verdade, ou se ele estava usando um eufemismo para justificar o quanto tínhamos ficado íntimos nos últimos dias. Comecei a pensar sobre os comentários das garotas na escola e a flertar com a ideia de ser um lance casual. A ideia apertou meu coração ao ponto de me faltar o ar. Éramos só isso?
— Me diz... — Mordiscava os lábios, um vício ansioso que havia adquirido ainda criança.
— É só que as garotas da escola estão implicando comigo, me chamando de um nome horrível.
— Do que estão te chamando, Monroe?
— Bem, eu não sei direito o que é, mas sei que não é bom. — Ele afastou os meus cabelos para trás da orelha, atento ao que eu tinha a dizer. — O que é ser uma boqueteira?
O termo foi pronunciado em um fio de voz quase perdido, baixinho, como se o segredo estivesse sendo revelado para mim também, um daqueles difíceis demais de se repetir em voz alta. Eu não era uma idiota. Deduzia do que o termo se tratava, mas parecia haver um peso enigmático muito maior sobre a palavra, como se carregasse algo além do seu significado explícito: o ato de chupar um pênis.
Ele sorriu, como se avaliasse uma inocência que era quase palpável.
— Você não é boqueteira. Estão dizendo que você é uma?! Se quiser, posso ir até lá na segunda e vão ver só, é aquele babaca do Chris de novo?! Vou pendurar as bolas dele nos sinos de Stane dessa vez!
— Não, não é o Chris, mas as meninas disseram que eu era uma. — disse — Uma boqueteira como as meninas que saíam com você.
Ele balançou a cabeça, pressionando os lábios contra minha testa.
— Você não é nada disso.
— E o que é ser boqueteira, então?
Ele desviou os olhos pelo quarto, erguendo até o dossel da cama, parecia buscar uma resposta, como quem oferece a resposta mais fácil a uma criança.
— É quando uma garota faz muito sexo oral num cara, entende?
Assenti.
— E é bom?
Ele sorriu, fechou os olhos antes de responder, como se estivesse calculando a intensidade da resposta e reajustando o embaraço. Revivia o prazer para si mesmo de forma aprazível, recuperando as referências na memória, provas cabais do que já havia sido feito com outras garotas, eu deduzia.
— Muito bom.
— Bom como aquilo que fizemos na sua casa?
— É, bom daquele jeito.
— E você gosta?
Ele riu de novo; o pensamento tortuoso parecia insistir para que ele se debruçasse sobre a minha ridícula curiosidade.
— Acho melhor eu ir pra casa, só passei mesmo para ter notícias suas...
— Não vá ainda, por favor. — segurei seu braço para perto. — Não vá.
— Sempre que fico a sós com você aqui, não consigo nem pensar direito. — cochichou pertinho de minha boca, antes de me beijar de novo, mais ávido, mais ansioso. A prova cabal do seu sim não vocalizado despontava por debaixo do jeans.
— Então me mostra como é.
Jungkook encarou a janela; a intrusão da vontade parecia um convite que há muito era ignorado. A resistência durou apenas um pouco. A sensação proibida, carregada de uma expectativa inédita, parecia uma combustão espontânea para a motivação.
— Monroe, não precisa se sentir forçada a fazer nada, essas meninas são umas idiotas.
— Tudo bem, mas ainda posso saber como se faz isso?
— Tem certeza?
Afastei os livros para longe da cama, abrindo espaço para a ideia gigante que tinha sobre aquilo, ajustando a postura como quem espera um exame minucioso, uma teoria aplicada daquela ilicitude em seus pormenores. Se ao menos soubesse do que se tratava, poderia dizer que me sentia orgulhosa, por ter feito por merecer o meu título.
Assenti.
Jungkook despiu-se da jaqueta de couro gasto, e então os ritos seguiram como eu já estava acostumada: o par de botas, as meias, a camiseta. Tudo parecia sempre facilmente removível, como se as peças estivessem penduradas em seu corpo de maneira meramente simbólica, prontas para serem arrancadas com a facilidade de um puxão. Meus olhos acompanharam seus movimentos, traçando linhas imaginárias. O pequeno crucifixo que carregava no peito se enroscou nos fios de cabelo e então despencou contra a pele, voltando ao seu lugar, grudado no peito.
Inclinou-se para me beijar outra vez, a mão furtivamente enfiada na base do meu pijama. Gostava de sentir seus dedos ali, na curva de minha cintura. O formato anatômico de minhas costelas parecia ter o molde sinuoso e o encaixe perfeito da sua mão.
— Está nervosa?
Fiz que não com a cabeça. Mas era mentira, podia sentir meus lábios tremendo.
— Vou te dizer o que fazer, tá bem? — Ele tocou os botões do jeans, o fecho-éclair puxado para baixo, exibindo o tecido azulado da cueca por dentro da peça, com o polegar raspando contra meus lábios. — Me dê sua mão.
Estendi a palma como uma dama que aguarda o ato de um beija—mão. Jungkook tocou a ponta do meu dedo indicador com os lábios antes de enfiá-lo na boca, sugando-o com cuidado da base até a ponta, como se fosse um doce favorito. Abrandava o sentimento, de olhos fechados, com um suspiro histriônico, como se, por meio de transmissões telepáticas, me deixasse imaginar a sensação replicada em outras partes do corpo, com suas próprias terminações nervosas sensitivas e estridência.
— Fique de joelhos — ordenou, abandonando a pequena experiência sob minha responsabilidade. Uma genuflexão dos gestos obrigatórios da liturgia, obras do catecismo. O tom de voz suave, como uma lufada de ar soprado, se desmanchou, me atingindo em cheio. — E abra bem a boca.
Ele abaixou as calças até os joelhos, livrando-se da última peça que restava e exibindo a nudez que ainda me causava um espanto desacostumado. A intensa vontade de desviar o olhar lutava contra a relutância de nunca mover os olhos para longe do objeto de desejo. Queria desbravar todas aquelas partes lindas, intocadas e inéditas à minha curiosidade.
— É como na missa...
Fechei os olhos; as mãos amparando a distância de seus quadris com a precisão reconhecível de outras aventuras. Pressionei as mãos contra suas coxas quando ele acariciou meus cabelos com cuidado.
Como uma hóstia, recebi seu corpo sagrado em minha língua.
O suspiro audível de Jungkook me fez continuar timidamente reproduzindo o que havia sido ensinado. Os lábios se fecharam ao redor dele, e a língua experimentou o sabor desconhecido que não podia ser classificado mentalmente com nenhuma referência prévia. Ele não tinha gosto de nada além de pele limpa, banho recém-tomado. Primeiro amor.
Movi a cabeça para frente, uma mímica espelhando o movimento ensinado; deslizava fácil na boca, tocando o palato, esbarrando nas bochechas, provocando o gatilho da náusea perto demais da garganta, enchendo os olhos de lágrimas.
— Puta merda, como você pode ser tão linda assim?!
Jungkook tinha a mão pressionada contra os lábios, a cabeça inclinada para baixo em minha direção, com a cortina negra dos cabelos escondendo os olhos. No entanto, eu podia identificar suas sobrancelhas franzidas e as ondulações percorrendo o rosto, em seu transe hipnótico.
— Estou fazendo isso certo? — perguntei, quebrando aquela magia.
Ele abriu os olhos para assentir, de maneira quase letárgica, tocando a minha pálpebra e então, a curva do meu nariz. Mas estava chorando.
— Qual o problema?
Fiquei de pé num sobressalto, analisando suas emoções microscopicamente. Temia algum erro banal de iniciante, inabilidosa demais com meu novo cargo de piranha local, cujos atributos eram só mentiras em um currículo forjado.
Caminhando até a janela, ele esfregou as palmas das mãos contra os olhos, limpando as lágrimas no tecido grosso da calça que fora erguida com a mesma agilidade com que estava apto a se livrar dela.
— Fiz alguma coisa errada? Desculpe, eu não sei fazer isso direito, eu... — Comecei a falar, mas ele me interrompeu.
— Você não fez nada de errado, Monroe. O problema sou eu. — O choro parecia vir de algum lugar mais profundo e dolorido, que o fazia pressionar os olhos, empurrar o dorso da mão contra a boca para silenciar os soluços. — O problema sou eu. — repetiu ele.
Passei minhas mãos ao redor de sua cintura, uma tentativa desesperada de consolo. Suas emoções pareciam distantes demais dali, lançadas em um plano intocado, nas profundezas de algum lugar.
— Me conte, o que está sentindo?
Girou em redor do próprio corpo e me abraçou de volta; o queixo pressionado contra o topo de minha cabeça, como se tentasse me enfiar inteira em seus braços. Podia ouvir seu coração contra a minha orelha, batendo forte, audível, cheio de vida, em um ritmo descompassado.
Não entendia o que estava acontecendo.
— Quer ir a um lugar comigo? — perguntou ele.
❁
O impacto dos invernos quentes da Flórida, sem neve ou qualquer sinal dos desajustes de temperatura, permitia um céu limpo e estrelado em meados de janeiro. Uma raridade.
Ficamos em silêncio no carro durante todo o trajeto. Jungkook tinha uma mão no volante e a outra apoiada sobre a minha. O rádio tocava música triste de sexta-feira à noite para os solitários apaixonados, provavelmente alguma do Roxette. As letras tristes se misturavam ao clima, guiando a trajetória do silêncio que tateava às cegas uma cumplicidade ocasional da fuga. Sai de casa escondida, fugindo pela janela.
"Make-believing we're together, that I'm sheltered by your heart, but in and outside, I've turned to water, like a teardrop in your palm..."
Parte da rodovia estava interditada desde o fim do último ano; a faixa contrária estava cercada de cones alaranjados e avisos de manutenção. Para aquelas bandas de Roseville, quase ninguém ousava cruzar além das crianças que moravam no bairro dos trailers e dos trabalhadores de cultivo de algodão durante a época de plantio.
— Aonde vamos?
— Aos trilhos. — disse ele — Já foi lá?
Os trilhos abandonados ainda eram um lugar proibido para qualquer um em Roseville. Uma necrópole a céu aberto, como diziam. Um descarrilamento provocou um acidente destruidor; a morte dos funcionários da empresa ferroviária em massa e a lenda que elaborava o motivo da carnificina, do mar carmesim de sangue fresco, braços, pernas, dedos e cabeças arrancadas, pedaços humanos arremessados a quilômetros devido às explosões das cargas inflamáveis, a área inteira como um antigo campo de guerra, desolado e proibido. Era uma história contada antes mesmo de eu nascer. Mas a proibição não necessitava de uma ordem direta e vocalizada, mas herdada, estava implícita como quando se aprende a evitar a peste: a antiga linha férrea era um lugar maldito, e ninguém deveria por os pés por lá.
Jungkook desviou por uma rota contrária, infringindo uma ou duas leis de trânsito, aquela parte da I-10 era quase deserta, pouco iluminada. Assustadora.
Segurei firme no cinto de segurança.
— Deveríamos mesmo estar aqui? — Ele tinha acabado de estacionar o carro, e me lançou um daqueles olhares amorosos, uma mensagem implícita.
— Tá com medo de ver uma alma penada? — perguntou. Deu a volta até o porta-malas, alcançando a manta cinza por baixo de uma caixa de sapatos atulhada de fitas e seu walkman e uma lanterna amarela.
Eu sentia isso de fato: um temor exagerado e uma dúvida. Aquele lugar parecia muito perto da morte, um outro mundo atravessado além de Roseville, uma travessura adolescente que parecia inocente demais. Pressionava o espaço, o clima, a brisa gelada, o céu e as estrelas. Uma conspiração insegura.
— Eu nunca tinha vindo aqui durante esse tempo todo. Nasci nesta cidade, cresci nela e nunca botei os pés nesses trilhos, nem tinha visto sequer um vagão de perto.
Os trilhos cortavam aquela parte de Roseville em direção à linha férrea de Pensacola, com alguma parte do trajeto proibida. Era visível que nenhuma alma viva cruzava aquele lugar há pelo menos duas décadas. Os arbustos cobriam boa parte da trilha imaginária que Jungkook seguia, me guiando com uma lanterna que clareava um lugar-nenhum. Ao longe, os vagões brilhavam à luz da noite, como pequenas peças de um jogo de montar quebrado: deitados, revirados, perfurados pelo tempo e pela oxidação. A maresia colaborava para o corrompimento da matéria. O ar de desgraça que exalava.
— É bonito, né? É meio mórbido, mas gosto daqui porque é intocado, como se o tempo tivesse congelado essa cena. Tipo um cemitério a céu aberto.
— Você nunca viu...
— Fantasmas aqui? Nem uma vez. Mas sei que dizem que alguns corpos ainda estão por aqui. Roseville adora contar mentiras sobre tudo. Um papo furado! — disse ele.
— Já inventaram mentiras sobre você?
Ele riu, mesmo que a pergunta não tivesse um ar cômico de piada.
— Muitas. Desde roubar Stane, profanar a igreja, envergonhar o nome de tio Min, arruinar garotas por aí, até sair com mulheres mais velhas em troca de dinheiro. Você pode escolher uma se quiser. Tenho certeza que já escutou os boatos por aí.
Jungkook parou diante do velho vagão, jogou a manta na parte de cima antes de escalar a pequena escada lateral, pulando alguns degraus. Me ofereceu as mãos e me puxou para cima com facilidade, colocando-me no topo do carro.
A vista era magnífica. Na linha do horizonte, a sombra escura movia-se violentamente, indicando a costa. Eu podia sentir o cheiro da brisa salgada.
— É lindo, Jungkook!
Ele estava agachado, estendendo a manta enquanto eu me equilibrava com um passo imaginário de cada vez, caminhando até ele.
— Venha, dá pra ver as estrelas daqui.
Sentada ao seu lado, recostada em seu ombro, admirava um céu inédito; tantas estrelas que podia enxergar seus contornos, com manchas esbranquiçadas da poeira estelar enlaçando constelações com uma força descomunal.
O silêncio sombrio parecia endurecer sua feição cada vez que erguia os olhos para olhá-lo melhor.
— Por que nunca tentou rebater essas mentiras? Se as pessoas ao menos soubessem o quanto você é diferente do que elas imaginam, eu tenho certeza que essa percepção mudaria.
O assunto foi retomado sem tato, atravessando Jungkook outra vez. Ele era um rapaz de sentimentos fortes e igualmente rápidos, que desaparecia com aquelas confissões como se nunca as tivesse mencionado.
— O que posso fazer? As pessoas escolhem no que elas vão acreditar e não se importam com a verdade, mesmo que seja óbvia. Não interessa o quanto se esforce para provar o contrário, se as pessoas não estiverem dispostas a acreditar nisso, não vão. Eu não posso passar o resto da minha vida tentando provar que não sou o que elas esperam. As vezes penso que eu seja exatamente o que elas mereçam.
— Então nenhum dos boatos é verdade? Nem mesmo sobre as garotas?
— Você acredita neles? — perguntou.
Não respondi nada desta vez. Nem fui capaz de olhá-lo de novo. Ele parecia traído.
— Eu nunca trepei com a Sra. Kurtwood, nem com nenhuma dessas mulheres. Seria um dinheiro fácil, claro, um bom dinheiro que eu não tinha. Eu poderia ter cedido às investidas e às trocas de óleo desnecessárias como uma desculpa ridícula, mas eu nunca aceitei. Nem mesmo uma única vez.
— Mas as pessoas espalham coisas a seu respeito, e você simplesmente nunca...
— Eu nunca nego, não é? Não nego essas mentiras. Não provo o contrário. Você me acha um covarde?
Fiz que não a cabeça.
— Queria entender os motivos.
— Às vezes é mais fácil viver quando as pessoas têm medo de você, Sofi. Quando elas percebem que você é fraca, te destroem.
Fiquei em silêncio.
— Se eu te dissesse que só estive com duas garotas, você acreditaria em mim?
O tom impotente de sua voz se perdeu como um fio rompido. Eu mal conseguia piscar os olhos.
— Por que acreditaria, não é? — Curvou a cabeça sobre o braço, o rosto encarando uma vastidão escura. — Sou o Jungkook, o carinha mais sujo da cidade. Quem iria acreditar?
O tom cômico na sua voz se perdeu como uma piada sem graça, secou as lágrimas com o braço.
— Não diga isso!
— Sabe, quando eu era criança, ficava desejando que minha mãe voltasse. Ou que pelo menos eu pudesse vê-la uma última vez, não do jeito que a vi pela última vez. Mas você sabe o que dizem quando você deseja que alguém volte dos mortos. É preciso ter colhões pra isso.
— O que dizem?
— Algo se perde no caminho entre a vida e a morte, não é mais a mesma alma, o espírito se foi pra sempre. Não acredito muito nessa parada espiritual, mas eomeoni já tinha partido muito tempo antes de ir embora, eu só não sabia disso.
— Então seus desejos se foram também?
Ele fez que não com a cabeça.
— Acho que só aprendi querer outra coisa impossível.
— Tipo o quê?
— Ser amado.
— Jungkook... — Toquei seu rosto, que repousou em minha palma, de olhos fechados.
— Quando eu estava no Lorton, uma coisa aconteceu e preciso que você saiba disso...
Engoliu em seco.
— Uma noite eles me levaram até um lugar afastado, e me ameaçaram. Eram todos uns filhos da puta cruéis, já me deparei com muita gente de merda na vida, mas não daquele jeito. Um deles decidiu que me bater não era o bastante, era o pior deles, Tallahassee. Eu não estava sendo punido o suficiente, não para o que merecia. — Jungkook encarava o vazio do trilho, parecia procurar mais do que era possível encontrar no meio das arbustos altos e do ferro envelhecido.
— Eles tinham uma tonfa, a mesma que usavam para ameaçar e nos bater caso não obedecêssemos de primeira, e mesmo quando não fazíamos nada, era só divertido bater. Me disseram que só os ruins de verdade vão para a furna e tomam uma surra daquelas, mas acho que, no meu caso, eles estavam pouco se fodendo. E ele decidiu que eu merecia mais do que apenas apanhar.
Seu rosto recendia mágoa, destituído do charme que costumava carregar sem esforços. Era só um depósito de tormento. Dois buracos negros substituindo os olhos e a boca expelindo aquela maldade em pequenas doses.
As palavras se enroscavam na frase, com o choro sentido rompendo garganta e peito adentro.
Durante cerca de quarenta minutos — ou um tempo incalculável e estático de dor narrada em detalhes — ele descreveu as atrocidades do Lorton: as surras, as torturas, os estupros, e o motivo das cicatrizes na pele, como lava que esfria e solidifica, destruindo o solo neutro. O rastro de fogo nunca cessou; Jungkook continuava queimando.
— Quando voltei pra cá, alguma coisa parecia errada comigo, com meu corpo. Eu não funcionava do mesmo jeito, não me sentia mais um cara como os outros. Eu nunca falei isso para ninguém, nem mesmo pro Tanner, ou pro Min, ou pra Sharon, mas eu não me sentia mais um... um homem. É uma ideia de merda, eu sei. Aqueles filhos da puta não podiam ter me arruinado desse jeito. Eu pensava. — Ele tocou o próprio peito, pressionando os olhos; implorando para um pesadelo desaparecer.
— Mas todos aqueles banhos, porra, aqueles banhos já não eram suficientes para tirar o cheiro deles da minha carne.
Não era capaz de dizer uma palavra sequer. Perdendo a habilidade de construir sentenças, me limitei a ouvi-lo. E a chorar. Chorar com ele.
— Sabe, tem alguma coisa quebrada aqui dentro e eu tenho medo de nunca mais ter conserto, mas quando você me tocou daquele jeito, pela primeira vez não senti nojo de mim mesmo, não senti que alguma coisa estava errada comigo, eu senti tanto, tanto amor, eu queria que você me tocasse, eu queria que você fosse minha, queria ser amado de novo. Parecia que você me via, e não só o que fizeram comigo.
Com o seu rosto enfiado em meu pescoço, sentia o frêmito de um choro que não podia ser contido. Jungkook tremia.
— E você que é mais próxima dEle, me diz, se Deus existe e me ama, por que eu não posso ser feliz como todo mundo?
Ainda sinto o aperto dos seus dedos em meu suéter, esmagando as fibras do tecido, os pedaços do seu coração que eu não podia tocar ou remendar em seus devidos lugares de novo com a facilidade de um beijo nas feridas para que sarassem. Eu era só uma criança tentando entender a dimensão daquele dano sem nome, as proporções da maldade e tentando consertá-las com um abraço.
— Não vou deixar ninguém te fazer mal de novo, Jungkook. Me escute bem, eu não vou deixar ninguém te machucar outra vez.
Jungkook era um menino ferido, que sangrava nos braços de quem estava tentado a tocá-lo.
Eu cresci, Jungkook. Tenho idade suficiente para cuidar de nós dois desta vez, você não precisa mais se preocupar, você estará seguro agora. Seguro para sempre comigo.
Eu queria ter ido às profundezas daquele inferno para resgatá-lo de volta, e queria ter salvo Jungkook, como Orfeu nunca salvou Eurídice. Mas eu olharia para trás porque o amava demais para não olhar, eu olharia para trás porque queria garantir que ele não se perderia no caminho, eu seria fraca o suficiente para isso.
Mas eu nunca mais teria dezesseis anos de novo. E Jungkook teria para sempre só dezessete.
Eu nunca pude salvá-lo de nada.
Nem da vida. E nem da morte.
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A tag é #garotosmiths no Twitter.
N/A: Olá!
Dois feitos inéditos hoje: o primeiro é o título gigantesco que não permitiu sequer que eu colocasse a palavra "capítulo" no início, o TOC da autora está daquele jeito. HAHA.
O título é um trecho de Romeu e Julieta, relendo a história, percebi que Romeu tem uma premonição sobre sua ida a casa dos Capuleto, enquanto escrevia esse capítulo, esse trecho veio a minha mente, então decidi batizar o capítulo desta forma.
O segundo feito é que teremos atualização dupla: daqui a uma hora, talvez uma hora e meia, teremos outro capítulo de Badlands. Estão chocados?
Quero muitos biscoitos pelo meu esforço, hein? HAHAHA!
O até breve mais rápido da história deste livro:
Com amor, Sô.
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