Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo Trinta e Quatro (O horror do amor e das violetas despedaçadas)

Salt in your kiss,

from the 2am swim

I wish I could put my arm

around your memory.

- Again, Sasha Alex Sloan.


🦋

Roseville, 1997.

Poucas vezes sonhei com Jeon Jungkook após os acontecimentos daquele ano.

Seu assombro manifestava-se em meus sonhos de maneiras mais sutis; como se encoberto por um manto, uma neblina, sufocando pela densidade dos velhos silêncios presos na garganta, daqueles assustadores. Seu rosto, transfigurado, surgia em outras criaturas. Anjos tontos com parcialidade de asas chamuscadas que rangiam após a queda ㅡ uma legião deles; desmembrados, feridos e arruinados, emanando aquelas aflições agudas. Em meio ao caos, encontrava os mesmos olhos doces que se fechavam dolorosamente, o delicado rosto amado, a calmaria na voz doce que se dispersava.

Outras vezes, seu rosto se multiplicava em estranhos nas ruas, seu jeito de andar, ou a maneira como jogava a cabeça para trás numa rara gargalhada. Em sonhos, todos os garotos de Brentwood tornavam-se ele, com suas jaquetas de couro, vestidos como ídolos mortos, como seus cantores de rock favoritos. Sentia a sua presença escapando do lugar encantado onde habitava, escondido nas brechas da vida, dizendo-me olá. Essas memórias são tão doces que se tornam ácidas, queimando a língua.

Mas daquela noite, entre quase todas, é a que mais lembro.

Deitados na cama de Taylor, aos poucos a realidade me atravessava lentamente: minha atenção se prendeu à mancha de sangue que havia arruinado a colcha de cetim azul, assim como o quarto retomava o contorno habitual: um jogo de chá decorava a cômoda ao meu lado, as delicadas bonecas em seus trajes rococós debruçadas em um balanço como a famosa pintura. Um filtro dos sonhos pendurado acima da cama, um altar com cristais e baralhos de tarô empoeirados ao lado dos livros de William Blake. Ninharias espalhadas pelo cômodo adulto, bem iluminado e de janelas largas, com o chão coberto por um carpete que lembrava um veludo azul.

A dimensão da realidade me embrulhou o estômago.

Havia algo perverso na ideia que atravessava minha mente, um sussurro venenoso que não se calava. Deflorada, desfrutável, moça mexida ㅡeu era. Assim diziam as más línguas de Roseville sobre as garotas que desapareciam em Salt Heirs com seus namorados nas noites abafadas de verão. E, como uma cicatriz de vacina no braço, a marca inegável surgia à vista de todos na manhã seguinte, impossível de ignorar.

ㅡ Você parece triste...

A boca de Jungkook se movia de forma quase hipnótica, seu lábio repuxava um pouco para baixo quando pronunciava as palavras, ou quando segurava o riso. Mas ria pouco. O que me fazia pensar que, no fundo, era uma pena. Tinha um sorriso bonito, dentes maravilhosos por natureza. E as covinhas ㅡ ah, as covinhas ㅡ apareciam como pequenas concessões do seu charme, surgindo nas laterais de suas bochechas quando ele comprimia os cantos dos lábios para cima, exatamente como agora, em um gesto de consolo carinhoso.

Ainda estávamos despidos. Eu tinha puxado o lençol até a altura dos ombros, deixando apenas os braços de fora, mas Jungkook estava totalmente descoberto. Tinha o braço apoiado por trás da cabeça, a mão livre fazia um carinho em minha nuca. A ponta do dedo desenhava círculos sem fim e pequenos corações que subiam até a raiz dos cabelos.

ㅡ Está arrependida? ㅡSeu cochicho me provocou um arrepio.

ㅡ Não, ㅡArrependimento não era a palavra que preenchia o peso no peito, que expirava aquela angústia. Não. Aquilo era outra coisa. ㅡSó estou absorvendo tudo.

Ele enroscou o braço ao redor dos meus ombros, me puxou para bem perto do seu peito. Podia ouvir seu coração se contraindo.

ㅡ Não precisa ter medo, é normal se sentir assim. É tudo novo. ㅡ Sua voz era baixa, quase um sussurro, enquanto pressionava os lábios contra minha têmpora úmida. ㅡ Mas ninguém precisa saber o que fizemos.

ㅡ Acha que Deus ainda me ama? ㅡA pergunta inocente pairou no ar, fazendo Jungkook tocar o pequeno crucifixo pendurado em seu peito. Ele levou a correntinha até a boca, pressionando-a suavemente entre os lábios, como se buscasse uma resposta que não sabia onde encontrar.

ㅡ Escute, Monroe, quem não amaria uma garota como você? ㅡJungkook devolveu a pergunta. ㅡ Não sou lá o cara certo para dizer isso, mas acho que Deus só quer que você seja feliz.

Sua boca se dissolveu na minha logo depois, a cavidade preenchida com um suspiro profundo. Sempre que eu afastava meus lábios, Jungkook demorava alguns segundos para abrir os olhos novamente, como se quisesse prolongar aquele instante.

Não tive coragem de falar o que pensei na ocasião. O castigo que estava temendo não era somente o divino, nem a severidade de papai, mas o que ele poderia fazer com Jungkook. Garantiria a reprimenda, mandaria ele de volta ao reformatório, iria proferir seu discurso colérico pela cidade. Que Jungkook me arruinou, que se aproveitou de minha inocência e que era um perigo para viver entre as pessoas de bem. Entre as garotas de família. Entre os bons homens de respeito da cidade.

Temia a profecia de Yoongi. Temia a represália que recairia em Jungkook pela minha displicência. E temia o que seria de minha vida a partir de então. Sem ele, sabendo de seu castigo, a tortura imaginária que ainda não havia me alcançado, mas se formava no horizonte esticado que via a uma certa distância, e de repente, de repente...

ㅡ Quer ir à praia dar um mergulho?

ㅡAgora? ㅡ Era pouco mais de duas e meia da manhã, a ideia era mais do que inconcebível.

ㅡ É a hora perfeita. ㅡ Ele ficou de pé, alcançou a cueca embolada no carpete e vestiu-a tão rápido quanto foi capaz de tirá-la. Em seguida, a calça e a camiseta. ㅡ Vamos!

ㅡ E se alguém nos encontrar por aí?

ㅡ Essa é a melhor parte ㅡele disse. ㅡ Ninguém nos verá por lá.

Com o rosto ardendo por aquele entusiasmo, foi fácil me deixar contagiar pela ideia; a alegria de saber que um garoto estava interessado em me levar com ele para seus lugares favoritos. Estava ansiosa pela ideia de viver algo, de sair de minha redoma segura e abraçar alguma aventura pequena, como aquela; um mergulho noturno em uma praia abandonada.

Ringo dormia, em paz, no seu pequeno reino na sala de estar, quando desci as escadas. Preenchi o recipiente com mais água antes de cruzar pela cozinha para trancar a porta dos fundos. Jungkook apagou as luzes da varanda, conferindo pelo olho mágico algum movimento na rua.

ㅡ Meu carro está na esquina, perto da casa dos Russell. ㅡele disse, alcançando as botas que, como de costume, haviam ficado ao lado do gancho de casacos, onde sua jaqueta estava pendurada. ㅡNo três, corremos até lá, certo?

ㅡ Tá bem!

Abriu a porta e deu uma boa olhada na rua silenciosa. Nenhum movimento atípico. Roseville dormia pacificamente.

ㅡ Pegue, vista minha jaqueta. ㅡ Ele disse ㅡ Tá meio frio aqui fora!

De mãos dadas com ele, corríamos pela rua, atravessando-a com passos apressados e descuidados. Era assim que a lenda dele começava: o garoto adotado por um tio postiço que vivia nos fundos da escola católica. O perigoso irmão caçula da infame corja Min-Jeon. Perigosa criatura constituída de risco, que invadia janelas abertas e perturbava a ordem das coisas, uma espécie de entidade maligna guiada apenas por suas próprias vontades. E lá estava eu, de mãos dadas com toda aquela maldade, guiando seus últimos passos assim como ele me ensinava os primeiros. Tentando conter o riso e o tumulto de borboletas no meu estômago. O medo pela cidade que o odiava aos poucos se dissolvia; no fundo, percebia que já não importava se me odiassem também.

Aos poucos, a bravata das novas descobertas me colocava em passo errático na ordem das coisas. A culpa que parecia irredutível, sulfurosa e sufocante desaparecia, quase instantaneamente. Domada por uma coragem que nunca tive para nada, ocupando o meu pequeno altar de filha mais velha, de boa moça, menina meiga e obediente, a sensação de estar livre era melhor do que a aprovação impossível do meu pai.

As luzes do quintal da casa dos Russell ainda estavam acesas quando alcançamos o carro.

No caminho, Jungkook me contou algumas histórias sobre o passado. Como a origem do carro havia sido presente da tia Cecília, antes de falecer. A carcaça do velho Ford Maverick ficava no ferro-velho de Edwin Brown. Todo mundo sabia que Edwin era veterano de guerra, que havia sido torturado por cerca de sete meses antes de ser libertado pela própria pátria. O pesadelo da vida militar ainda o assombrava quando estava lúcido. Por isso evitava a todo custo a sobriedade, como uma criança foge de seus monstros. Não era um homem ruim, como todos diziam, fazia mal somente a si mesmo, dano que já parecia irreversível. Havia tostado a própria orelha com um ferro de passar roupas há cinco verões, em um dos episódios em que acreditou que o exército inimigo era capaz de ouvir seus pensamentos através dela.

Para chegar ao bairro de trailers, era necessário atravessar o ferro-velho. Cecília dava aulas de reforço às duas garotas, cuja mãe trabalhava dois turnos no posto de gasolina, e arrastava Jungkook com ela. Não demorou muito para as cartinhas de amor surgirem no bolso de seu casaco. Ele disse. Na época, não dizia uma palavra e não sabia de onde o encanto havia surgido. Eu ainda me lembrava da chegada do Jungkook taciturno, que não esboçava outras emoções além do choro ou total apatia. Na ida e na volta, o tímido garoto olhava o carro. Ou o que havia sobrado dele. A tia lhe fez uma promessa. Se conseguisse falar pelo menos uma palavra por dia, quando tivesse idade suficiente para dirigir, o carro seria seu.

ㅡ Qual foi a primeira palavra que falou para ela?

ㅡ Tia. ㅡ ele respondeu prontamente. ㅡ Tia Cecília.

Cecília morreu antes de Jungkook completar a idade suficiente para ter sua carteira de habilitação, mas a promessa foi cumprida como um último pedido. Edwin vendeu o carro pela metade do preço.

ㅡ Eu restaurei o Maverick sozinho, ele tinha outra cor, costumava ser amarelo. Mas eu sempre o imaginei preto. Acho que ficou mais parecido comigo assim. Queria que a Gomo-nim tivesse visto o que fiz, prometi que a levaria para dar uma volta com ele. ㅡ ele comentou, batucando no volante.

ㅡ Foi assim que consegui meu emprego também. De onde tiraria dinheiro para pagar o conserto e a pintura? O samchon não ganhava muito como professor, então passei meses trabalhando para o Sr. Kent enquanto Tanner estava no reformatório. Não sabia fazer nada. Nadinha. Era moleque. Aprendi tudo o que sei agora com ele.

ㅡ Você gosta muito do Tanner, não é?

Ele assentiu.

ㅡ Sei que as pessoas têm medo do Tanner, assim como têm medo de mim. Mas ele é um bom rapaz, só passou por muita coisa ruim. Não é fácil ter que crescer tão rápido.

Tanner Kent ainda vivia em Roseville quando retornei à cidade. Havia se casado com Julie Lovey, por quem foi apaixonado a vida inteira. Alguma parte dele emanava amor, amor esse que Julie encontrou para si mesma.

Soube, alguns anos depois, por Taylor, que, após perder o filho mais velho, Jake Kent (em homenagem ao melhor amigo do marido), Julie pendurou-se em uma corda no sótão por não suportar a tragédia. O garoto se afogou no lago que ficava na propriedade da família Lovey, na Virgínia Ocidental, dois meses antes. Tinha acabado de completar quatro anos. Seria devastador para qualquer mãe. Para qualquer criatura. Tanner a encontrou quando retornou do trabalho. "Ainda estava quente", ele disse. "Ainda parecia minha."

Entre as fábulas sobre infância roubada, o carro assombrado e as maldições da cidade, Jungkook nos levou até Santa Dahlia, nos confins do condado de Cotton-Cape. A praia era frequentada por amantes, produtores de cinema vez ou outra, ou entusiastas do nudismo, os boatos diziam. Durante a madrugada, nenhuma alma vivente ousava cruzar as areias do lugar com aspecto assombrado. Era a praia mais perto da costa de Rhiannon e, ao longe, podíamos ver as luzes do farol.

ㅡ Você vem aqui com frequência? ㅡ perguntei, mas ele soube. Ele soube quase imediatamente o que eu queria saber. No subtexto da pergunta, queria encontrar a resposta: se Sharon havia sido a primeira, se ele a tinha trazido até aqui para fazer o que costumavam fazer quando estavam juntos. Agora sabia como era, e o sentimento parecia tomar uma proporção diferente.

ㅡ Só vim aqui uma vez ㅡdisse ele. ㅡ E então fui até a sua casa naquela noite.

Ele riu, antes de livrar-se das botas, da calça e da camiseta, com os pés mergulhados na areia fina que se movia com a brisa gelada.

ㅡ Você não vem?

Tirei os sapatos, as meias, a jaqueta e o vestido. O vento frio fazia a pele arrepiar inteira. E, de mãos dadas com ele, mergulhei na imensidão daquele mar.



ㅡ Posso ler algo para você? ㅡ Enrolados na toalha branca que Jungkook havia buscado no carro, ele abriu o velho caderno de capa puída que eu me lembrava desde criança. O caderno que ele carregava para cima e para baixo na escola, junto ao peito.

ㅡ O que é isso?

ㅡ É o diário da minha mãe. ㅡdisse ele, folheando as páginas com cuidado. ㅡ Ela escreveu alguns poemas, as citações favoritas dela, alguns textos à mão. Gosto de ler quando sinto saudades.

O delicado diário com capa de couro esfarelada [item 45 na caixa] tinha páginas decoradas com bétulas, miosótis, asas de insetos, selos e embalagens de bala. As páginas estavam cuidadosamente escritas em hangul, Jungkook me disse.

ㅡ Ela escreveu de trás para frente. Levei meses para conseguir decifrar a primeira página. Está vendo? ㅡApontou. ㅡSeguem uma ordem diferente da escrita tradicional.

ㅡ E o que você conseguiu decifrar?

ㅡTudo, basicamente. Levei anos nesse processo. Minha mãe era uma poetisa talentosa, uma mulher inteligente demais. Não me surpreende que ela tenha deixado esse diário para que eu soubesse disso. E esse texto, poema, fragmento, não sei, é uma mistura de tantas coisas. É o meu favorito. Posso ler?

Acompanhei os símbolos na página com os olhos, mas não conseguia identificá-los. Apenas a data: 19 de janeiro de 1967.

ㅡ Nabi, flor bonita. Flor selvagem. Rosa de Saron, lindo hibisco resistente da terra de onde venho, que sobrevive às intempéries, ao fogo e à chuva, à neve e ao estio. Capaz de florescer novamente, mesmo danificada, tolhida. Rios e montanhas esplêndidos cobertos por flores de Mugunghwa, como os que adornam seus cabelos quando ela dança. Linda Nabi de vestido azul que me assombra os sonhos. Vejo as flores emoldurando seu rosto. Doce Nabi, que desconhece a delicadeza. Broto recém-saído da terra, com mãos feridas, que suplica a Deus para curar tudo: a morte, a vida, o amor que carregamos. O horror do amor e das violetas despedaçadas, mancha púrpura que nunca mais largou a pele. Mas Deus não pode curar tudo, Nabi-ssi. E, se pudesse, por que ousaria arrancar meu amor de mim?

Quero levá-la para longe dos passos descuidados, dos olhos desatentos. Da crueldade dessas mãos que te podam, linda flor cuja beleza não pode ser arrancada. Nabi, com seus olhos de gato, que me beija a boca e entorpece como veneno. Que revira minhas entranhas. Nabi, com suas bochechas macias em repouso passivo, lábios que pressionam os meus. Nabi-ssi, que pode me devorar a dentadas. Animal selvagem de hálito quente, de carne e desejo. Dois cordeirinhos apaixonados, sem lobo escondido na estepe.

Releio o poema de Catulo que você gostava de me ouvir recitar: "Não consegui com todas as minhas lágrimas tirar nem um pouco da sua raiva; pois assim que isso foi feito, você lavou seus lábios com bastante água e os enxugou com seus dedos delicados, para que nenhum contágio da minha boca permanecesse."

Era o meu pecado imundo que te condenaria? Você tinha receio de saber o que éramos de verdade?

Mais que amigas, pior que amantes. Não me ouse dar esse nome.

Bela Nabi que falava de pecado e castigo, de Deus e suas salas sulfurosas, escuras, e dos veludos tingidos de preto. Paredes marcadas pelos pecados, onde as almas condenadas apodrecem no esquecimento. E então me falava sobre maridos, uma vida decente, sobre sonhar com o paraíso. E, nessa vida de sonho, meu amor não jamais caberia.

Não me esquecerás, Nabi. Nem mesmo nas portas do céu.

Pois, em seu coração ardente, serei uma brasa eternamente, um furioso inferno.

E assim o texto terminava. Dolorosamente.

ㅡ É lindo, Jungkook. É lindo.

Ele ergueu os olhos até mim.

ㅡ Quando leio agora, sei exatamente como a eomeoni se sentiu ㅡ disse ele. ㅡ É como me sinto com você.

Enrolando uma mecha do meu cabelo entre os dedos, pressionando-a entre os lábios, ele sugava suavemente a água salgada.

ㅡAchei que nunca conseguiria me sentir assim... ㅡ Jungkook disse. ㅡ Essa vontade de... fazer tudo com alguém, ser tudo pra alguém.

Meus tímpanos martelavam no peito. A noite revirando as tripas. Seus olhos continuavam presos nos meus.

ㅡ Faz de novo comigo ㅡJungkook cochichou contra a minha orelha. O pedido angustiado veio munido de um tom de voz manso, afetado; a palavra se pendurando no lábio, escorrendo pelo queixo até o meu ouvido. ㅡ Por favor!

Encaixou a cabeça na curvatura do meu pescoço, o nariz raspando contra a pele grudenta de água alcalina; os olhos se fecharam lentamente, feito dobras de veludo. O tremor dos cílios longos, frágeis, equalizava a força do mundo comum que desaparecia conforme suas vontades tomavam as rédeas. Jungkook, que sempre foi senhor de si, rendia-se diante delas.

Assenti. Desejava o mesmo, consciente da inexperiência, da dor que se prolongaria até ser extinta do corpo. 

ㅡVamos voltar para o carro, posso cobrir o banco de trás para você ficar confortável... ㅡele ofegava, ansioso. O contorno ligeiramente visível de seus lábios sustentava um sorriso, leve movimento que escondia parte dos dentes. A boca pintada com cor de fogo, maltratada de tanto beijar no período das últimas horas, se moveu. ㅡVem.

Olhei para ele. Direto para as entranhas. Despindo-o de pele, músculos, ossos e sangue. De seu nome amaldiçoado. Podia ver sua alma, nua e pulsante, colidindo com a minha no perigo daquele abismo. Eram feitas da mesma matéria.

ㅡNão, quero fazer aqui. Aqui. Perto do mar. ㅡAs palavras pareciam atravessá-lo inteiro, como uma adaga empunhada, perfurando seu coração lacerado até o outro lado das costelas. ㅡ Quero olhar as estrelas.

Não disse nada por um minuto. Me olhou com aquela atenção de antes, de quem me via.

Com pressa, Jungkook estendeu a toalha na areia, sua vontade já se revelando em uma preparação silenciosa e quase mecânica debaixo do algodão molhado da cueca, da qual se livrou sem embaraço. A pálida luz da lua refletia na sua carne, exibindo as gotas de mar decorando as costas como pingos de cristais, os joelhos e as solas dos pés cobertos pela areia prateada, como uma longa caminhada por cima de finas cinzas.

ㅡVem cá ㅡele sussurrou. ㅡ Vem para perto de mim...

Estávamos tomados por aquele apetite insaciável da descoberta, um alvoroço com sabor de novidade ainda preso à garganta.

Sua boca devorou meu pescoço no instante seguinte, sua língua deslizando pelo contorno do meu queixo, pelos ossos salientes dos meus ombros, até alcançar a fonte ainda estéril, incapaz de nutrir; meus pequenos seios, que cabiam inteiros nas palmas fechadas de suas mãos, ou sob o toque delicado de sua língua.

Estava nua, o corpo revestido somente de brio, sal e da ridícula calcinha de algodão que levou o mesmo fim das outras peças de roupas amontoadas na areia. A pele fria logo ardeu ao mínimo toque de sua mão febril em minha cintura, devotamente adorada. Ele esticou as mãos, sacudindo meus cabelos, removendo a fita de veludo vermelho ainda pendurada ali, deslizando-a sob o nariz. Último resquício de pureza que levaria consigo.

ㅡAchei que nunca mais sentiria isso, essa vontade tão forte de... ㅡ murmurou. Tocava o próprio corpo movimentando o punho para cima e para baixo. Peço permissão para podar as palavras exatas. Aquela intimidade trocada entre dois jovens mergulhados no idílio de um primeiro amor pode ser impactante. Ele usou um termo que nunca tinha escutado antes dentro daquele contexto. Palavra forte, com gosto agridoce, que tomou a boca dele e então a minha.

O amor também é feito desses rompantes de desejo que o coração é incapaz de conter no seu pequeno escopo de conhecimento.

Gostava muito do cheiro de Jungkook: vulgar, pungente e meio adocicado, que se misturava à salmoura da praia e à criticidade da colônia que escorria pele afora. Às vezes, quando o perfume da maresia interpela pela janela da casa, sou atingida pela dimensão da saudade. A nostalgia me tira para uma dança lenta, rodopiando no silêncio, é ele que retorna, munido dessa noite e do sentimento emaranhado nela. Vem, me bagunça e se vai.

Ele veio devagar, os olhos desolados, prestes a engolir meu rosto, feito uma assombração à espreita que se movimenta no breu do quarto.

Seu cabelo úmido grudando em meus dedos.

Deitada sobre a toalha, ele me beijou. Ergueu seu corpo nu por cima do meu. Lábios com gosto de sal. Todos os territórios inexplorados de sua pele tocando a minha. Mantendo minhas mãos erguidas, pulsos presos contra a areia fina da assombrada Santa Dahlia. Podia ouvir as ondas quebrando, a imensidão do mar violento que se libertaria da ameaça silenciosa das ondas dos retrocessos, ameaçando nos levar com elas, sem nunca nos alcançar.

ㅡ Quero te ensinar algo... ㅡ murmurou, sua língua fazendo um trajeto pontual da palavra. Seu verbo transitivo direto que exigia sentido.

Trocamos de lugar, ele por baixo, com suas mãos em todos os lugares, sua boca em cada centímetro de pele. Beijei suas têmporas iluminadas pelo suor, a ponta de seu nariz alongado para baixo, a curva de seu lábio inferior com a adorável pinta decorando a pele.

Trêmula, equilibrada em seu colo, Jungkook se encaixou em mim com uma lentidão que prolongou a sensação ainda estranha e desconhecida. Sua expressão doce e suplicante ㅡ lábios entreabertos, olhos fechados, mãos hesitantes no ar ㅡ buscava tocar a criatura invisível que parecia reger a sinfonia que atravessava aquele silêncio de sua boca desamparada.

ㅡApoie as mãos aqui, no meu peito. ㅡ Ele cochichou.

ㅡ Estou fazendo isso certo?

ㅡ É como uma gangorra. Para cima e para baixo ㅡ ele disse. ㅡ Não precisa ter medo, estou aqui com você.

Ergui o corpo, e então desci devagar.

Ele suspirou.

ㅡ Olhe as estrelas, está vendo? ㅡ sussurrou antes de se mover, fazendo o universo inteiro acompanhá-lo, impulsionando-me para frente e para trás. ㅡ Estão nos assistindo...

A sensação gostosa tomou o corpo delicadamente. Tão acostumada que estava a manter meus joelhos dolorosamente unidos pelas regras do uniforme escolar com as patéticas saias, tomava o caminho oposto da reprimenda das freiras: pernas afastadas, joelhos contra a areia.

Deixando as mãos ásperas de um garoto ditarem o rumo dos quadris. Quis odiar a invenção diabólica daquele delicioso prazer. Incapaz de manter minha cabeça no eixo sem tombá-la em todas as direções em busca de amparo, pequena bússola quebrada.

Olhei para o céu, a imensidão das estrelas que se desenhavam cada vez maiores, precisava de um norte.

Jungkook tinha a cabeça jogada para trás, enterrada na areia. Lábios comprimidos exibiam a covinha do lado esquerdo do rosto. Uma de suas mãos segurava a minha contra seu peito, enquanto a outra repousava no fim da minha espinha dorsal, ditando um ritmo lento e profundo. Havia areia grudada em seu corpo, no queixo, no rastro deixado por suas mãos, e nos cabelos, como grãos de açúcar na umidade.

ㅡ Eu prometo que você nunca mais esquecerá essa noite. Prometo que não esquecerá de mim.

E lançou sua maldição premeditada.

Ergueu o corpo para perto, beijando a minha boca. Com os braços ao redor de seus ombros, queria aquele cheiro de Jungkook para sempre nele. Para sempre em mim. Preso em meus cabelos, na minha pele, na palma das mãos.

Eu respirava calmamente. Tão alto alcançava as estrelas que temia dispersá-las com um sopro.

ㅡ Continue assim, continue ㅡJungkook gemeu em minha boca. Tão entorpecido que estava quase sonolento, tinha uma das mãos pressionadas contra o meu ventre. ㅡ Quero te sentir gozar...

As mãos entrelaçadas, as estrelas derretendo naquele céu bonito. Fechei os olhos quando aquela onda de calor me tomou. O furioso inferno do qual Joohyun falava. Havia deixado aquele calor de herança ao filho.

Foi quando deixei de observar as estrelas e comecei a senti-las.


❀ ༄ ઼° ○ ❀ °○ ❀ ༄ ઼°○ ❀

#garotosmiths


N/A: Olá! Como vocês estão? Espero que estejam bem!

Enquanto escrevia o capítulo, fiquei pensando em quão especial foi essa noite para os dois. No quanto o Jungkook estava disposto a se abrir, a sentir amor e a descobrir que ainda podia amar e ser amado. Também estou ansiosa para falar mais sobre a Joohyun, uma personagem que eu particularmente amo e sobre quem, em breve, terei a chance de falar melhor. Jungkook e a mãe tinham gostos bem parecidos além da escrita, não é? Às vezes, me pergunto em qual fundo terei que mergulhar para trazer à tona tudo o que esse personagem tem a oferecer!

Além disso, muita gente sempre me pergunta sobre o Tanner: quem é Tanner Kent? O que aconteceu com ele? Embora eu não tenha planos de inseri-lo de maneira grandiosa na narrativa, Tanner era um amigo valioso para o Jungkook, assim como Jungkook era para ele.

Badlands tem tantas camadas que são prazerosas de escrever, abordar, estudar e criar. Sinto muito orgulho de ter criado algo assim, que considero valioso e bom. Mas, ultimamente, tenho me sentido frustrada com a minha própria escrita, acredito que a execução poderia ser melhor.

Acho que é normal sentir insatisfação com o que escrevo à medida que fico mais experiente, mas acredito que ainda posso melhorar e entregar algo realmente bom para vocês. Ainda assim, sou imensamente grata por vocês estarem aqui, lendo com tanto carinho o que compartilho.

Sou muito grata por isso, pela espera, pelos comentários, mesmo que eu não me sinta 100% satisfeita. E não se preocupem, é só um desabafo para pessoas que confio aqui!

De qualquer forma, o próximo capítulo ainda não tem data, mas prometo que não vou demorar!

Já adianto: teremos o ponto de vista do Taehyung!

Obrigada pelo carinho e até qualquer hora!


- Com amor, Sô!

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro