"...Te faço dizer 'Oh, meu Deus', Você nunca sentiu este tipo de emoção..."

Wow - Zara Larsson (Feat: Sabrina Carpenter)

Eu nunca imaginei encontrar um cara igual a Park Jimin — um completo idiota, que tira a paciência de todos só em falar. Céus! Por que ele não fecha a matraca?

Encarei o guitarrista, o vendo lançar mais uma vez aquele sorrisinho perverso.

— Estou gostando do papo, mas não temos tanto tempo — o baixinho de mechas brancas, que conheci a dias atrás, falou impaciente. Ele voltou a mim, educadamente, após fazer uma cara feia para Jimin. — Bem-vinda, Júlia, vamos amar ter você no Utted e...

— Acho que não... — Jimin interrompeu.

— Só por isso eu colocava você como parceiro dela — Yoongi retrucou, irritado.

— NÃO! — eu e Jimin falamos em um uníssono.

Por quê, universo? O que eu fiz, santo carma? Não, de maneira nenhuma. Isso não poderia acontecer.

— De qualquer maneira — Namjoon começou pondo suas mãos nos bolsos —, Jimin, você é o único que resolve essas partes sérias da AP. — O loiro abaixou a cabeça discordando. — Ela precisa de ajuda, e você é perfeito pra isso.

— O Jeon é ótimo para isso. Já ensinei pra ele, não foi? — Jeon negou sorrindo, para o sofrimento do amigo e o meu também. — Que se foda! — Park Jimin me lançou um olhar tão sério que eu jurava que queria dizer algo como "Você está ferrada!".

E eu estava mesmo, fadada a encarar as implicâncias bestas de Jimin até perder minha paz de espírito.

— Isso é ótimo! — Rosé, que até então eu havia esquecido que estava ali, deu pulinhos, se agarrando a mim. — Vai ser ótimo, pessoal! Vamos arrasar!

O loiro revirou os olhos, cruzando seus braços tatuados.

❉

Se tinha uma coisa que eu sempre fazia bem, era comer. Eu, Rosé e Lisa saímos da faculdade e fomos direto para comer minha comida favorita: Dak galbi. Um excelente prato de frango com um molho apimentado magnífico — fica melhor acompanhado de uma cerveja gelada. Que merda de dia, hein!

— Não acredito que tenhamos entrado assim no Utted. — Lisa sorria como se fosse algo perto do prêmio Nobel. — A próxima etapa com certeza é entrar no Bangtan. Imagina só! — Ela cobriu o rosto sem conseguir conter a animação.

Nossa... animador

— O Jeon não pode te ajudar a entrar? Tipo, aquele lance de indicação e etc... —  questionei. Com um sorriso quase inexistente, ela respondeu:

— Não é bem assim... Não que eu nunca tenha tentado isso. Mas eles são muito bons, e Jimin nunca me chamaria pro Bangtan, nem bêbado, nem sóbrio, nem em qualquer outra circunstância. Ou seja, totalmente fora de cogitação.

Entendo, mas não seria possível que ele não tivesse um pingo de humanidade nessa vida.

— Meu pai, esse cara tá em todo lugar! — murmurei. — Não posso mais ter um momento de paz.

— Que pena, amiga — Rosé começou. — O cara é quase um mini prefeito dessa faculdade, não tem nada que ele não faça, só ano passado ele...

— Por favor, não quero ouvir mais nada. — Virei o copo de cerveja goela abaixo. — Além de ser um provável filhinho de papai, ele é presunçoso e egocêntrico. Acha que é o dono de tudo, e quem ele acha que é para me tratar desse jeito? — Rosé e Lisa se entreolharam. — O que foi?

Okay. Talvez eu tenha pegado pesado demais.

— Isso tudo por causa de sábado? Ainda está pensando nisso, Júlia? — Então... sim? Rosé exibiu um sorriso no rosto. — Foca no que é mais importante agora. Pensa, o Jeon Jungkook e você, em uma cama quentinha e...

— Cala a boca, garota! — Lisa exclamou horrorizada com que Rosé poderia ter dito, algo como sexo e BDSM. — Júlia, não pensa em ninguém agora. Garanto que o mais importante pra você é pegar a comissãozinha da AP.

Quase tive um surto na manhã seguinte, quando cheguei na sala de aula e encontrei Hoseok e Jungkook, sentados próximos à minha mesa, com quase toda sala comendo-os com os olhos.

Jeon estava sentado na minha mesa, enrolando suas mechas vermelhas incandescentes, me encarando com um sorriso. Do outro lado, Hoseok gargalhava aos montes com algumas garotas.

Andei até eles, tentando agir naturalmente aos olhares curiosos.

— O que fazem aqui? — foi a primeira coisa que consegui dizer assim que cheguei.

— Viemos ver a nossa musa! — Hoseok cantarolou, passando seus braços pelos meus ombros. — Nossa wonder-woman. Nossa pérola. Nosso bebê.

Jungkook fez uma careta, rindo depois.

— Menos, Hoseok... — Jeon levantou-se da minha cadeira, me puxando para um abraço. — Dormiu bem, princesa?

Como eu iria falar? Eu ainda sabia falar? Que corpo grande, meu pai! Eu não me cansaria de abraçá-lo pelo resto do dia.

Concordei, apertando-o mais um pouco, até ele ceder e se afastar rindo. Meu pior erro foi não conseguir fotografar seu sorriso ainda.

— A gente estava falando com os meninos ontem, e pensamos, "seria ótimo se a Ju pudesse nos ver ensaiando..." — Hoseok contou, prestes a soltar a maior surpresa da vida.

— Eu e o Hoseok viemos te chamar para ver o ensaio mais tarde. Claro  — Jeon mordiscou o lábio inferior —, se você quiser.

— Mano, e se acontecer aquelas cenas de High School Musical e a Ju começa a cantar impressionando a todos. — Ele respirou fundo, empolgado.

— Hoseok, não viaja. — Jeon passou uma mecha dos meus cachos para trás. — Você vai?

Por que ele ainda pergunta?

— Claro. — Respirei fundo. — Eu quero, sim. — Era só falar que queria, Júlia. Agora você parece desesperada.

Os dois riram.

— Mais tarde eu passo aqui pra te pegar, pode ser? — Jeon disse, rindo da minha cara.

Por que ele brinca assim comigo? A última vez que isso aconteceu, eu estava no segundo ano do ensino médio, quando me apaixonei pela primeira vez. Acho que devo me preocupar.

—...é bem importante se cuidar. Entendeu, Júlia? — Do que ele está falando? Àquela altura, eu mal sabia o que estava acontecendo, muito menos sobre o que eles falavam. Jeon estava com o braço no meu pescoço e Hoseok não parava de dizer coisas que na minha cabeça não fazia o mínimo de sentido.

Eu estava respirando? Sério? Parecia que eu estava num filme romântico dos anos 80. Um bad boy, expondo suas tatuagens enquanto subia sua jaqueta de couro preta — esse era Jungkook. Como eu poderia prestar atenção em outra coisa a não ser nele?

Só voltei a prestar a atenção novamente, quando eles ousaram dizer que iam para suas salas. Foi quando meu coração se partiu ao ver Jungkook ultrapassar a porta, com seu sorriso irresistível.

❉

Aquelas foram as aulas mais lentas de toda a minha vida. Sem contar com a parte de Lisa ter matado as aulas, já mandando mensagens para copiar a matéria para ela.

Passei metade da aula olhando através da porta, tentando ver se cada pessoa que passava por ela poderia ser Jungkook à minha espera. Minha empolgação maior era poder vê-los tocar — ver Jungkook tocar.

Jeon não havia aparecido e já havia se passado dez minutos da hora combinada, sem mais esperar, corri até a sala de música, na esperança de ainda o ver. Minha alegria foi levada assim que vi Jennie Kim, parada na entrada da sala, com a expressão tediosa de sempre.

Ela me olhou por cima dos óculos escuros que usava, com o mínimo de interesse.

— Não te parabenizei. — Ela se aproximou, arrumando o cabelo em um coque. — Espero que goste da AP, e se não gosta, saia o mais rápido possível, assim poupa o trabalho. — Jennie estalou o pescoço. — O Jeon está te esperando lá dentro.

Muito receptiva você.

Agradeci silenciosamente, mas assim que dei um passo, senti sua mão me segurar.

— Antes de ir... — Engoli em seco, voltando a encará-la. — Não é querendo me intrometer em nada não. Você e o Jeon... isso é o quê? Uma amizade colorida? — Jennie questionou, cruzando seus braços, achando mesmo que realmente aquilo lhe interessava.

E não, não interessava a ela, nem a ninguém mesmo que fosse inexistente algo entre nós.

E para melhorar, eu ainda me sentia intimidada com a presença dela. Jennie era de fato a mulher mais linda e intimidante que falava comigo desde de Evelyn — uma garota britânica que fazia aula de Francês comigo no ensino médio.

Não dava para saber a maneira com que a morena me encarava, seus óculos escuros tampavam essa parte, me fazendo deduzir baseado em seu rosto um desprezo.

— Não sei o que pareceu pra você. Mas garanto que não é nada além de amizade... — Soltei-me dela.

— Sei. — Soltou indiferente.  — Vamos.

Segui o caminho sem responder mais nada a ela, porém Jennie permanecia ali ao meu lado, como se tivéssemos algum tipo de comunicação saudável — e nem se vissem a gente juntas pensariam isso. Os boatos sobre Jennie haviam aumentado ainda mais e no fundo me sentia mal por me colocar em seu lugar.

O enorme salão estava arrumado em ordem, diferente da última vez, os instrumentos estavam arrumados lado a lado. Cada um deles estava em seus devidos lugares, Tae tinha o seu baixo azul pendurado em seu ombro enquanto gargalhava com Seokjin, o tecladista. Namjoon e Hoseok passavam alguma coisa para Yoongi que parecia confuso.

Eu estava amando toda aquela informação, indumentos coloridos, pessoas tocando, algumas conversando, até meus olhos cruzarem com Jimin e Jungkook. Quando Jimin parou seu olhar sobre mim, pude notar seu sorriso se desmontar pouco a pouco, provando mais uma vez seu desgosto ao me ver. Não o julgo, o mesmo aconteceu comigo.

— Você veio. — Jeon se levantou da bateria, vindo em minha direção. — Desculpa o atraso — ele disse, me dando um abraço rápido enquanto eu ainda era fuzilada pelo olhar de Jimin.

— Claro que ela veio — Jimin resmungou, arrumando sua guitarra no apoio. Que desagradável!

— Esse seu humor me dá vontade de voltar. — Soltei, vendo-o sorrir.

— Por favor, faça isso — o loiro retrucou.

Forcei a risada, mandando um dedo do meio para ele.

Jeon se meteu em nossa frente, com a cara de quem não queria ouvir mais uma discussão nossa.

— Infelizmente — Jeon sorriu sem graça —, acabamos mais cedo, não deu tempo de te buscar. Eu nem achei que viria me ver. — Jimin gargalhou, mexendo a cabeça negativamente. — Mas você pode me ajudar a arrumar algumas coisas, se não for demais...

Eu queria demais fazer a sonsa e fingir que minha agenda estava superlotada, o que era uma mega mentira, até porque minha semana se resumia a dormir, comer, assistir séries, fazer minhas higienes e faculdade. E só.

— Por que não? Já estou aqui, o que devemos fazer? —  Eu estava tão empolgada em estar ao lado dele que quase tive um surto interno. O que meses sem beijar não fazem com uma pessoa? Mal arrumo minha casa e quero ajudar nisso, enfim, a hipocrisia.

Nossa missão era simples, levar algumas caixas para o novo estúdio. E assim fizemos, ficamos encarregados de levar o peso e para mim não era nada de mais, vendo o jeito que Jeon queria o tempo todo me ajudar, ele levou a maioria.

Ele era mais agradável do que eu imaginava. Acho que ri tanto com suas histórias que faria de tudo para vê-lo mais vezes durante as semanas.

— Acabamos! — ele falou, se jogando na cadeira acolchoada ao meu lado.

Meu deus, como ele consegue ser tão...

— Meu pai! Espero que meus braços estejam iguais aos seus amanhã.

— Deus queira que não. Imagina você com meus braços? — gargalhamos.

— Realmente — respondi ofegante. O cheiro de lavanda do aromatizador e o acúmulo de poeira nas caixas havia dominado toda a sala e fazia Jungkook dar leves coçadinhas no nariz.

Levantei-me, pondo as mãos nas cinturas, orgulhosa por ter carregado metade das caixas, mesmo sabendo que Jeon havia feito a maior parte do trabalho.

— Me desculpa fazer você carregar todas as caixas.

Ele riu.

— Claro que não. Eu precisava te ajudar. — Ele levantou-se da cadeira, retirando a jaqueta, exibindo seu braço tatuado e me fazendo parar para admirá-lo. — Pode tocar se quiser. — Jeon se aproximou o suficiente para me arrancar o ar. E que besteira, eu não podia ficar boba com aquilo, eu só estava perto dele. — Ela é nova, ainda está um pouco inchadinha, sente aqui. — Ele pegou minha mão, levando-a até o olho vermelho desenhado detalhadamente em seu braço.

Por mais que eu quisesse falar algo, eu não conseguia. Eu estava tão perto dele, tão perto do seu calor. Eu não sabia por que me sentia daquele jeito, seria os hormônios do meu período fértil ou simplesmente era porque fazia tempo que eu não me relacionava com nenhum cara? Se nem eu sabia o que realmente sentia, quem dirá ele, que se aproximava ainda mais de mim, com seus olhos fixados nos meus lábios.

Eu não iria culpar minha vida sentimental por inteiro, até porque todos os caras que eu havia me relacionado no ensino médio não haviam passado de meros beijinhos aqui e ali. E até então, nunca me ocorreu esse sentimento, de querer tanto — de ansiar tanto por alguém.

— Muito... muito bonita a tatuagem... — gaguejei, sentindo sua respiração bem próxima da minha.

Ele ia me beijar? Não, ele queria mesmo fazer isso dentro de um estúdio empoeirado?

Jeon segurou meu rosto com suas mãos, arrumando uma mecha do meu cabelo para trás cuidadosamente. Eu conseguia sentir seu perfume cítrico. Jungkook estava muito próximo, me perdendo em mim mesma e no que de fato olhar. Seus olhos, seu cabelo, seus lábios? Sim, eu estava definitivamente presa em seus lábios corados.

Em um pequeno gesto, Jungkook umedeceu seus lábios, exibindo um sorriso. Senti meu coração pular assim que ele se inclinou para frente lentamente.

— Nem fudendo que estão se pegando aqui... — Mais uma vez, ele tinha que atrapalhar.

Será que esse cara não tem o que fazer?

Arrumei minha postura, um pouco envergonhada por ser pega naquela situação novamente, pela mesma pessoa.

Eu queria tanto socar a cara daquele idiota. Como ele aparece assim e arruína a única chance que eu tinha de beijar Jeon Jungkook?

Já Jeon não parecia nem um pouco afetado com a atitude do amigo, apenas direcionou o beijo a minha bochecha e saiu aos risos com Jimin, porta à fora.

Respirei fundo, contando até dez até...

— Esse idiota! — berrei assim que a porta do estúdio se fechou. — Esse desgraçado, infeliz! Ah! Universo, você me odeia?

Eu já havia assinado a sentença de que Park Jimin seria punido seriamente pelo aconteceu.

❉

Jungkook te adicionou a Lascados

Jungkook:

| Bem-vinda, Ju!

Jonnie:

| Bem-vinda!

Hoseok:

| Agora o negócio ficou bom!

Taehyung:

| Gente, ela pode entrar nesse grupo?

Jungkook:

| Foda-se, coloquei ela

Taehyung:

| Tá brincando muito, Jk!

| Encarei o celular, cética. Jeon havia me posto no grupo errado ou era só impressão?

Me:

Oi pessoal! Obrigadaaa |

Os pontinhos começaram a aparecer, até me deparar com "Jimin está digitando...", pronto, aí estava o problema.

Jimin:

| Que merda é essa?

Jimin:

| É só eu sair para resolver negócios que vcs fazem a festa.

Jungkook:

| Kkkkkkkkkkk sim

Yoongi:

| Vão arrumar o que fazer. Todo dia isso.

Gargalhei imaginando a carinha do Yoongi falando rabugento.

Taehyung:

| Cara, eu estou atolado de trabalho, não sei o que estou fazendo aqui

Jin:

| Me esperaram? O MAIS LINDO DO MUNDO CHEGOU!!!

Namjoon:

| KKKKKKKKKKK sempre

Hoseok:

| Júlia? Ainda está aí?

Me:

Estou kkkkkk |

Namjoon:

| Acabamos esquecendo de te avisar sobre o baile de arrecadação.

Namjoon:

| Se você tiver alguém para ir com você, seria ótimo.

Jungkook:

| Ela vai comigo.

Jimin:

| Previsível.

Taehyung:

| Muito previsível.

Yoongi:

| A garota mal chegou e vc já quer fisgar ela?

Jin:

| Gente, ela tá vendo as mensagens. Sejam civilizados.

Eu parei na parte, "Ela vai comigo". Eu mal sabia que teria um baile, imagina ir com Jungkook. Inesperado.

Uma notificação de Jungkook baixou na tela e, em um modo desesperador, cliquei.

Jungkook:

| Eu sei que falei que você iria comigo sem te confirmar

Jungkook:

| Mas você quer mesmo ir comigo?

Me:

KKKKKKKKKK |

Me:

Você está me pedindo para confirmar algo que nem foi pedido? kkkk |

Jungkook:

| Me desculpa kkkkkk

Me:

Tranquilo. Mas você precisa me dar um tempo, sabe... para pensar. |

Que mentira, eu não precisava de tempo nenhum para pensar, eu estava era louca para aceitar ir com ele, por um vestido arrebatador, e dá uma laçada nele com as minhas pernas de grila.

Meu deus, que tipo de pessoa eu estou me tornando?

Jungkook:

| Tudo bem, você quem sabe kkk

Jungkook:

| Infelizmente o que eu tanto queria não aconteceu...

Me:

O quê? |

Respirei fundo, sentindo um tapa de adrenalina. Que droga, que besta que eu sou!

Jungkook:

| Eu queria ter te beijado naquela hora.

Me:

TEM CERTEZA? |

CÉUS, POR QUE EU MANDEI ISSO? NÃOOO!! APAGA, APAGA, APAGA, JÚLIA PARKER. Apaguei a mensagem, mas ele já havia visualizado.

Jungkook:

| KKKKKKKKKK

Jungkook:

| Toda certeza do mundo.

Me:

R.I.P |

❉

No dia seguinte, eu quase não consegui encarar Jungkook no refeitório. Era quinta-feira e o dia em que os meninos não tinham ensaio, o que só ajudava mais na parte "não consigo para de olhar para ele depois do que ele 'disse' ontem à noite". Jeon estava rindo na mesa de costume, com os outros meninos, algumas vezes até abraçava algumas garotas que eu não sabia quem eram, mas que estavam ali com eles.

Que tortura...

Jeon as faziam rir, do mesmo jeito que me fazia rir. Gargalhadas estridentes, causadas por suas palhaçadas — ou talvez a sua beleza moderna. Merda! Eu estava encarando-o de novo, e bem fixamente. Que tipo de espécie possessiva eu sou?

Problemático? Claro que era. Eu não queria assumir, mas todas aquelas garotas com ele eram maravilhosas e eu, bom... sou eu. Não tem nada de interessante em mim.

Merda, eu sou interessante, sim! Lei da atração, Júlia...

— Quando parar de secar o JK — Lisa passou seus dedos longos estralando na minha frente —, talvez possa comer bem.

— Eu como bem — me defendi, sabendo que não, eu não como bem, na verdade eu até esqueço de comer. Se me deixar em casa sem comida congelada, eu estou fadada a viver de lamén. — Tá. Eu sei que não como tantos verdes como vocês duas. Mas essa é minha alimentação saudável.

— Okay. Hambúrguer com fritas? Isso é saudável em que mundo? —  Lisa retrucou, vencendo a discussão. — Mudando de assunto. Que história é essa que está circulando por aí que a Jennie foi vista aos beijos com o...

Soltei os hashi imediatamente, prestando total atenção. Lisa diminuiu a voz se inclinado para a frente, eu e Rosé fizemos o mesmo.

— Ela foi vista com o Jimin — a morena concluiu e, sinceramente, não foi novidade.

— Sério que isso é uma "novidade"? — Revirei os olhos.  — Garotas, é óbvio que eles têm um caso. Deve ser por isso toda essa rixa.

— Faz sentido. Imagina se o Jimin salvou a Jennie de um relacionamento abusivo e ela acabou se apaixonando por ele loucamente, e ele descobriu que também...

— Cala a boca — interrompi Rosé. — E se na verdade, o Jimin "roubou" a Jennie do Jk e para isso criou um boato que a Jennie era abusiva para pôr a culpa no JK e ter uma razão para sair de bonzinho? O Jimin tem cara de fazer isso.

— Júlia, você é macabra — Lisa disse, cruzando os braços. — Nenhuma de vocês mencionaram o fato da Jennie ser, na verdade, a vilã disso tudo.

— Gente, óbvio que não, ela parece mais a vítima disso tudo do que o Jimin. — Rosé olhou rapidamente para o loiro na mesa atrás e voltou a dizer: — Olha, não é defendendo o Jimin não, mas ele parece bem inofensivo nessa história.

— Isso é baseado no quê? — Cruzei os braços irritada. — Na beleza angelical dos seus loiros cabelos de ouro? Ou na sua boca vermelhinha...

— Eca! Pervertida. — Lisa soltou aos risos. — Parece que tem alguém aqui que anda reparando.

— EI! Isso não tem nada a ver. — Tentei me defender, vendo as duas gargalharem. — Isso não vem ao caso. Gente... para de rir!

Depois de passar essa vergonha, eu teria sim que me retirar para o buraco da vergonha — minha casa —, mas como nem tudo são flores, eu tive a ilustre ideia de me candidatar a tocar bateria. Não, eu não me candidatei para ficar perto do Jungkook — mentira. Talvez eu tenha, só um pouco.

Atravessando o estúdio, fui direto para a sala de música e, no mesmo instante, todos os pelos do meu corpo se arrepiaram ao ver Park Jimin e sua guitarra ultrassônica a todo volume.

— O que faz aqui?

Ele parou imediatamente de tocar, cruzando os braços com aquele sorriso irritante.

— Eu que te pergunto o que faz aqui. — Respirei fundo. — Esqueceu que eu sou o professor de música? — Não, eu definitivamente não havia lido nada sobre ele naquela folha enorme dizendo "curso de bateria e guitarra com o melhor músico da Art treine project".

— Você é o melhor músico da Art treine project? — indaguei, indiferente. Foi muito satisfatório ver o sorriso se Jimin ficar forçado o bastante para parecer enojado.

Sem direcionar mais nenhuma palavra, me sentei na bateria, segurei as baquetas da maneira que havia visto Jeon segurar outra vez, fiz o que eu achava ser um som.

— Você é terrível. — Jimin, que estava alguns metros à minha frente, veio e tomou as baquetas da minha mão, direcionou-as para a bateria com tanta força que me assustei. — Faça assim... — Ele repetiu uma, duas, três, quatro vezes.

O máximo que eu consegui foi lançar as baquetas várias vezes na direção de Jimin, que cá entre nós, não estava nada contente em me ouvir batucar. E por poucos minutos cogitei lançar de verdade uma baqueta na cabeça daquele idiota, que não parava de reclamar do meu processo de aprendizagem.

— Tem como você parar de reclamar? — perguntei, percebendo mais uma vez seus olhos me encarando com ódio. — Isso me desconcentra.

— Parar? Você está aí há uma hora e meia, e tudo que faz é lançar a baqueta em mim. —  E lá estava ele reforçando mais uma vez meu fracasso.

— Esse é meu processo de aprendizagem, seu idiota. Acha que eu nasci sabendo? — falei mais alto do que deveria e minha voz acabou soando como um apito na sala.

— Eu já te expliquei umas trezentas vezes. Você só tem que fazer! — Ele atravessou a sala, subiu no palco e se deu o trabalho de tomar as minhas baquetas. — 1... 2... 3... é assim que faz...

— Eu sei fazer! — Puxei-as de sua mão, e foi aí que eu reparei o quão minúscula eu era ao lado de Jimin, e quão ridículo era eu berrar com ele. — Não preciso de ajuda.

— Por que não faz logo? Você está arruinando meus tímpanos.

Esse...

— Eu já falei que sei e que não quero sua ajuda!

— Que teimosa do caralho — o loiro resmungou, massageando as têmporas. — Se o Jungkook tivesse aqui, tenho certeza que você faria isso mais rápido.

— O QUÊ? — Ele acabou de usar um homem para justificar algo que eu não sei fazer? — Você é idiota? — Ele é, não sei por que perguntei.

— Vai me dizer que não foi por isso que veio fazer aula? — Meu deus, me segura para não bater nele com essas baquetas...

Respirei fundo, encarando seu rosto

—  Claro que não! Outra coisa — cruzei os braços —, você é gay?

O rosto de Jimin fez uma careta que eu nunca havia imaginado, e eu queria rir.. .muito.

— Por que você acha que eu sou gay? — indagou o loirinho indignado.

— Por que essa fixação toda comigo e o Jungkook? É ciúmes? Eu não fazia ideia que vocês dois tinham algo...

— Ciúmes? Não, eu não sou gay. E não, não tenho ciúmes. — Ele riu com as mãos na cintura. — Ele só não é o cara certo pro tipo de coisa que você quer. Mas você não entende quando os outros querem te aconselhar. — Ele apontou para a bateria, aumentando o tom de voz. — Agora vamos tocar bateria? Foi pra isso que você veio.

— Que tipo de coisa você acha que eu quero? Você se baseia no achar das pessoas, o tempo todo "achando" que eu quero "tal coisa" com "tal pessoa".

— Mas eu estou certo — disse convencido. — Vai me dizer que você não imagina vocês dois sendo um parzinho romântico frufru onde ele te dá rosas e te faz gozar numa mesa de jantar?

— Nossa... não. — A ideia da mesa foi legal. — E que tipo de pessoa você é? Falando mal do seu próprio amigo. Vindo de você não me causa nenhum espanto. Você fala como se fosse terrível ter algo com ele.

— Não estou falando mal, Jeon Jungkook só não deixou claro suas intenções ainda.

Não acredito que estou discutindo novamente com ele.

— Para de tentar pôr coisa na minha cabeça. Isso não rola comigo, como acontece com a Jennie. — Jimin fechou a cara de imediato, assumindo a expressão mais séria que eu já havia visto em seu rosto.

— Jeon é meu amigo, mas isso não muda o fato de ele feito merda com as pessoas, isso inclui a Jennie. —  Ele respirou fundo. — Pior ainda são esses boatos de pessoas que, assim como você, não se preza a saber pelo que Jennie realmente passou.

— Você tem inveja dele. Agora já sei. — Peguei minha bolsa. — Não sei por que te irrita tanto o fato de eu me aproximar dele, sendo que ela fez a mesma coisa. Você está querendo me proteger? Me proteger do seu amigo mega legal, educado, gente boa e gato?

Agora, eu definitivamente estava frita, iniciei uma discussão com Jimin, ofendi ele e ainda meti Jennie, sua protegida e talvez amante.

— Inveja? — Ele riu. — Você nem ao menos o conhece. Não seja estúpida, Júlia.

— E você? Querendo me proteger? Acha mesmo que eu acredito? — Olhei no fundo dos seus olhos. — Você ao menos me conhece.