4. ғʀɪᴇɴᴅs
"...Deveria saber que tinha a vadia mais fodona..."
Ain't Shit - Doja Cat
Eu ainda estava um pouco assustada. Não assustada com a atitude do Jungkook de ter me chamado para sair — ainda que tenha sido inesperado —, a presença mínima da Jennie Kim havia destruído toda minha autoestima. A rápida aparição dela me fez passar o caminho todo do Starbucks até o prédio de Psicologia pensando se era real toda aquela ladainha de Lilith.
Jungkook não pareceu nada incomodado depois que saímos da cafeteria, muito pelo contrário, conversou, brincou com Lisa e foi o caminho todo com a gente.
— Terra para Júlia... — Lisa agitou as mãos, chamando minha atenção novamente.
— Me desculpa, eu estava meio perdida... — Pensando em como vou reagir se caso a ex do carinha bonita me vê com ele e surtar igual um demônio. — Nada demais...
Já fazia alguns minutos que estávamos esperando Rosé na nossa mesa de costume. E diferente dos dias anteriores, os caras da AP não estavam em sua mesa — o que, para mim, foi uma falta de entretenimento, já que eu adoro bisbilhotá-los.
— Mas, aí, fala o que vocês conversaram? Você e o Jeon vão sair? — Não consegui conter meu sorriso orgulhoso. Quem eu quero enganar? Estou há tanto tempo sem sair com alguém, que nem lembro mais como se beija.
— Não está com medo dela? — Por que você tinha que me lembrar?
— Não acho que seja isso tudo que falam. — Olhei para longe, na primeira mesa, lá estava ela. Com os lábios avermelhados, Jennie encarava seu celular. — Já faz um tempo que eles estão separados, né? — Voltei a olhar para Lisa, que não estava com expressão boa. — Não é?
— Fez um ano hoje. — Ela passou uma mecha de seus cabelos negros para trás. — Olha só, eu não sei exatamente o que aconteceu, tudo que temos são especulações. Na verdade, quase não vemos ela surtar, como alguns da AP já viram.
— Então, tá tranquilo sair com ele?
— Pergunte a ela — brincou Lalisa.
— Tá doida?!
❉
Minha tarde ocorreu exatamente como planejei. Livros espalhados pelo sofá da sala, enquanto comia salgadinhos e maratonava a quarta temporada de The Vampire Diaries — talvez uma tarde não tão planejada.
Não havia sido meus planos passar a tarde toda assistindo a série, mas não havia mais nada que me tirasse o tédio, era quarta-feira. Estava tudo indo, quando meu pai me mandou mensagem, avisando que estava em Seol a trabalho e queria me ver.
Vou excluir o fato de que outras mensagens tenham sido broncas por eu não ter retornado as 17 ligações perdidas, por motivos de: estava chorando litros por causa da Bonnie.
Corri para o banho e fiz o básico, escovar os dentes, lavar o cabelo. Havia decidido que usaria algo diferente do meu normal, um vestido solto. Eu particularmente prefiro as camisas largas, calças e, às vezes, vestidos justos e curtos. Com o cabelo preso em um coque baixo, deixei escapar duas mechinhas na frente. Passei um corretivo, rímel e gloss, para cobrir a cara de zumbi que eu estava.
E eu entrei em pânico quando cheguei no shopping e vi a mensagem do meu pai avisando que chegaria atrasado. Beleza, o que eu faço? Pedi um sorvete e me sentei em uma das mesas perto da sorveteria.
Quando eu era menor, costumávamos fazer isso juntos, eu, meu pai e minha mãe. Adorávamos tomar sorvete enquanto víamos as pessoas passarem. Era como um momento de reflexão, onde parávamos para prestar a atenção no mundo a nossa volta, sem notar o que, no momento, passava em nós mesmos. Mas logo lembro que momentos ruins vieram depois e que hoje tudo que eu tenho são memórias dela sorrindo.
— Você está me seguindo? — Assustei-me, virando o rosto, com tanta beleza. — Acho que isso é um sinal bom. — Jungkook riu, me deixando sem jeito.
Ele vestia uma camisa longa preta — que deixava um pouco das suas tatuagens à mostra —, uma calça preta larga e um sapato da mesma cor — ele gosta mesmo de preto.
— Você está em todos os lugares? — brinquei rindo e ele fez o mesmo. — Achei estranho, não te vi na universidade...
Merda. Não é assim que você confessa que está reparando nele, Júlia.
— Ah! Você notou? — Ele deu um sorriso. — Hoje teve ensaio da banda, para semana que vem. Tá uma correria. Tive que vir fazer compras também. — Jungkook se sentou ao meu lado. — E você? Veio passear? Oh meu deus, está num encontro?
— NÃO! — soltei imediatamente. — Não estou em um encontro. Marquei de ver o meu pai, mas ele se atrasou. — Respirei fundo. — Me conta mais dessa apresentação. Eu não fazia ideia que tinha uma banda na KIU.
— É. — Jeon arrumou sua postura. — Não é da KIU, sabe... Eu e os meninos a fundamos no início do curso. Foi uma loucura.
— Tem um nome, não é?
— Bangtan boys — ele gargalhou. — Não me pergunte o significado. O Namjoon-hyung é melhor com isso.
— O Joonnie também faz parte da banda?
— Você o conhece?
— Claro! É uma história bem engraçada, mas o conheci no segundo dia, na biblioteca. Mas nunca imaginei ele em uma banda.
Ele cruzou os braços, esboçando aquela carinha bonita com um sorrisinho.
— Sim. Não é muito a cara dele, mas ele é muito talentoso. — Jeon apoiou cotovelos na mesa. — Aliás, o único compositor nato na banda.
Parece que quanto mais os dias passam, mais eu descubro que vir para essa universidade foi a melhor escolha da minha vida.
Jeon olhou para o lado, acenando para alguém. E eu reconhecia, um loiro todo estiloso e... Jennie. Não vou mentir, me senti envergonhada ao ponto de querer imensamente que eles não se aproximassem.
— Eu tenho que ir. — Ele se levantou. — Aproveite bastante, Jay. — Jeon depositou um beijo em minha bochecha.
Despedi-me dele, vendo seus amigos de longe me encararem com os rostos inexpressivos. Okay, eu sei que me dei mal. Mas quase no mesmo instante que Jeon se afastou, meu pai chegou, logo perguntando:
— Nossa, você estava falando com ele? — Claro que estava. Não sou tão... tá, sou meio antissocial, sim.
— Sim, pai. E vou logo dizendo, ele é um amigo — constatei, ainda olhando a distância com que ele se afastava.
— Ele não pareceu ser só seu amigo. Estão saindo? Como ele se chama? — o mais velho questionou, se sentando. E eu revirei os olhos, rindo. — Tá vendo! Eu sou bom nisso. Mas como se chama esse carinha?
Suspirei involuntariamente, querendo que todo aquele frio na barriga não fosse só atração física. Até porque, para alguém como eu, que não beija, não transa e tão pouco vai para encontros, esse tipo de coisa não acontece com frequência. Digo, se apaixonar ou me sentir nas nuvens como dizem, essas coisas não acontecem comigo. E agora acho que estou encrencada, pois, como não acontecem, eu não sei como reagir.
— Ele se chama Jeon Jungkook.
❉
— Não tenho nenhuma roupa! — Eu já estava entrando em desespero. Era sexta-feira e de manhã eu já estava procurando a roupa para o dia seguinte, apavorada em ligação com Lisa e Rosé.
— Júlia, relaxa. Deve ter um vestidinho bem romântico por aí — Lisa sugeriu. — Deixa para procurar mais tarde.
— Não acho que o Jungkook seja do tipo que gosta de vestidinho — comentou Rosé, pela primeira vez. — É só que ele passa uma vibe mais couro e jeans. Vai por mim, além de confortável pra você, ainda é lindo.
E por um lado Rosé estava certa, confortável, foi a parte que ouvi.
— Isso é um encontro, Rosé. Não acha um vestido melhor? Fofo? Romântico?
— Eles vão a um bar?! Não tem nada de romântico nisso. Fala sério, ele não sabe nem escolher um lugar bom! — Rosé soltou.
— Mulher, você esperava o quê? Torre Eiffel? Jantar à luz de velas? Ele nem a conhece!
— Essa doeu em mim — soltei, vestindo a calça enquanto ouvia a discussão.
— Na minha opinião, a calça e o jeans ganham. E no caso do encontro, no mínimo uma comida japonesa, ou marcar num parque. Ele a chamou para um bar. Acho que é um rolê de amigos. — E lá se foi vinte por cento da minha esperança. — Júlia, é importante não se criar expectativas. Ele é um malandro.
— É mesmo — Lisa concordou.
— Ele deve ser bom mesmo — comentei.
— O quê?! — as duas gargalharam do outro lado da linha.
— Para ele ser um malandro, mulherengo do jeito que falam, ele deve ser ótimo na cama — completei rindo.
— Vai de você querer descobrir.
— Que isso, Lisa!
Era ótimo estar na escola àquela hora, tipo, ótimo não estar em casa aceitando paranoias de como seria o encontro que ninguém sabe na real o que é. Ou pensando que Jeon Jungkook poderia estar planejando algo, como um jantar surpresa ou mais que um barzinho. A verdade é que, mesmo sabendo que não poderia ser tudo aquilo que eu imaginava, eu acabaria me conformando com a queda de expectativa.
Muitas vezes, durante as aulas, passei desenhando o rosto de alguém, a pessoa que supostamente roubaria meu coração. Não que eu soubesse, mas eu a via de forma diferente. Como se essa pessoa estivesse tão perto para me tocar e, ao mesmo tempo, incapaz de me ver.
A verdade é que sempre queremos ser amados, de jeitos diferentes por diferentes pessoas, mas às vezes algumas intenções são iguais e imutáveis.
— Você pode, por favor, parar de pensar nisso? — resmunguei a mim mesma, caminhando pelo pequeno parque próximo ao refeitório. — Você parece uma adolescente. Você é ADULTA. — Ou era para ser uma.
— Licença! — alguém atrás de mim chamou. E assim que me virei, me surpreendi. Um cara de cabelo quase branco, piercing no lábio, calça rasgada e, claro, como eu esqueceria de notar o violão nas suas costas? — Tá falando comigo?
— Não. Me desculpa, é que eu falo sozinha às vezes, comigo mesma — respondi, vendo exibir um lindo sorriso gengival.
— Sei como é. — O cara arrumou a alça do violão. — Eu sei quem você é. — Ele soltou do nada, pegando o caminho comigo ao lado. — Você é a amiga do JK, a cantora. Eu vi seu vídeo, me amarrei na sua voz. — Como reagir a elogios? — Esqueci de me apresentar, me chamo Min Yoongi. A seu dispor, madame — brincou ele.
— O meu nome é...
— Júlia? — completou ele, sorrindo. — Ele fala bastante de você. Cheguei a achar que estão saindo. Desculpa a intromissão, mas você está saindo com o Jeon?
— Não. — De onde ele tirou isso?
— Ah, claro! Você não deve ser doida. — Olhei para ele, percebendo que falava sério. — Tem que ser bem doida para ficar com o JK. Além de paciência, perde também a noção.
— Com um amigo desse... — soltei sem querer, cobrindo a boca.
— De boa — ele gargalhou. — Eu falo porque conheço a peça e, se eu fosse você, o que no caso não sou, prestaria bem a atenção para não cair nos encantos da piranha.
— Você tá falando do Jeon? — questionei gargalhando e ele riu junto.
— Sim. Ele é de fato o cara mais difícil para se resistir. Ele e o Loirinho — complementou ele enquanto nos aproximávamos da parte de fora do refeitório.
— Tenho que ir, Min Yoongi — falei. — Foi um prazer conhecê-lo.
Ele sorriu, balançando a cabeça.
— Valeu, Júlia.
Caminhei até minha mesa, onde Rosé já me encarava soando curiosa.
— Vai, pergunta logo.
— Você parece estar arrasando os corações, Júlia Parker! — brincou ela, cutucando meu braço.
— De onde você tirou isso, garota?
— Os meninos da AP estão se comunicando com você. Sabe o que significa? Você é uma boa candidata — gargalhei enquanto ela gesticulava. — O Namjoon, o JK, Taehyung e agora Min Yoongi? GAROTA!
— Para de falar besteira, Roseanne! — pedi, rindo. Era muito engraçado, porque eu achava mais surreal que ela. — Eu o encontrei acidentalmente. E foi ele quem falou comigo.
Ela revirou os olhos.
— A Lisa foi ver umas coisas da AP golden com o JK. Ela disse que era pra você ficar de olho, porque ela ia caçar informações com ele, sobre esse "encontro". — A loira deu uma piscadinha.
— Meu deus! Vocês estão em outro nível — ri com Rosé.
Eu ainda não estava acreditando que ela tinha mesmo ido procurar informações sobre o JK. Isso nunca havia acontecido, ninguém nunca nem moveu muitas coisas por mim em relação a amizade. O que Lisa e Rosé estavam fazendo por mim era... Bom. Eu nunca havia me sentido tão acolhida.
Eu não era a menina que tinha muitas amigas na escola, isso veio a mudar durante o Ensino Médio que, por alguma razão do universo, eu namorei, mas nunca tive amigas. As pessoas não se aproximavam muito de mim, talvez porque eu não deixava e uma única companhia me bastava. Cheguei a ter, no total, quatro amigas. Duas no Ensino Fundamental, onde eu fazia parte de um trio, mas sempre acabava sobrando. E tive duas amigas durante o Ensino Médio, mas acabamos nos afastando depois que as duas começaram a namorar e só tinham tempo para encontros e beijos. Mas era bom tê-las como amigas, mesmo que eu tivesse que ficar mendigando atenção.
— Amigas fazem assim! — Rosé berrou alegremente, deixando escapar a risada mais fofa que escutei.
Elas me fazem querer fazer parte de algo...
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