22. ᴀs ɪᴛ ᴡᴀs
"... Você sabe que não é a mesmo que era..."
as it was - Harry Styles
JÚLIA PARKER
Puta merda!
Tudo podia ter acontecido, mas curtir a foto dele sem querer? Isso era o cúmulo da burrice.
Desfiz a curtida rapidamente, rezando mentalmente para que eu não fosse a única pessoa que tinha curtido algo dele.
Soltei o celular sobre o amontoado de redações, esfregando a mão no rosto.
— Caralho! — xinguei, baixo.
Não tinha a menor probabilidade de eu ter sido a única notificação de seu Instagram. Não tinha.
— Escutou alguma coisa que eu disse, Jay?
Sobressaltei rapidamente, saindo bruscamente de meus pensamentos.
Senti os olhos de Rosé nas minhas costas enquanto eu permanecia parada, com os cotovelos na escrivaninha.
— Claro! — falei.
Claro que não.
Eu estava a exatos quarenta minutos stalkeando o insta do Park Jimin, ao invés de estar terminando os simulados e redações para a prova da academia. E para melhorar, eu tinha curtido, sem querer, uma de suas publicações mais antigas.
Merda! Por que tinha que ter sido tão antiga? Por que raios eu estava vendo seu Instagram? Só podia estar enlouquecendo.
— Não precisa mentir para mim, Júlia. Sei que não ouviu — soltou a loira, arfando decepcionada.
Virei-me na cadeira, procurando algo convincente para dizer, mas a língua afiada de Jennie foi mais rápida.
— Então, por que perguntou? — Jennie baixou o livro que lia, encarando a loira. — Não está vendo que ela está estudando?
Ainda não tinha comentado nada sobre a faculdade de Jeju com elas. Sinceramente, eu não precisava dizer nada. No entanto, a cada instante que eu adiava aquela conversa, um misto de vergonha que me corroía por dentro.
Rosé fez uma careta e deitou-se ao lado de Jennie, mexendo em uma mecha loira de seu cabelo.
Jennie estava na minha cama, tentando ler, enquanto Roseanne não parava de falar sobre... Enfim — Alguma coisa sobre Taehyung. Presa em uma escrivaninha, e com a bunda dolorida, eu estava tentando decidir se pulava na cama e desistia de tudo, ou terminava aquele maldito simulado. Por deus! Essa era a parte que eu tinha esquecido, sobre entrar em uma faculdade. A parte de estudar como uma desgraçada.
Elas haviam se hospedado na minha casa desde quarta-feira à tarde, após a semana de prova. As duas estavam na porta da minha casa, com mochilas enormes e expressões de dar medo. Eu, como boa pessoa que sou, dei espaço para entender que, tudo que elas queriam, era esfriar a cabeça. Só não esperava que três dias seguidos, na minha casa, fossem necessários.
Jennie e Roseanne moravam em repúblicas — daquelas que não dava para ter nenhum tipo de sossego. Jennie disse que dividia a casa com três garotas insuportáveis, que não paravam de dar festas a todo vapor. Isso dificultava seu estudo e paz, como ser humano normal, mas ela não podia fazer nada, pois, nos primeiros anos da faculdade, fez o mesmo com suas colegas.
Já Rosé, passava por algo semelhante, bom, nem tão semelhante assim. Ela dividia a república com quatro pro-players de League of Legends, estudantes de TI. Coitada, para ela, morar com eles era como sucumbir à anti-socialidade. Rosé odiava morar com pessoas que não mantinham a casa limpa, e nem o mínimo contato possível. A única razão para não ter se mudado antes, era que seus pais não poderiam arcar com as despesas de um apartamento inteiro.
Querendo ou não, morar perto da KIU era pedir para ser falido. Os imóveis perto do local tinham o preço salgado demais. Por isso que a universidade não era considerada uma boa para estudantes de classe média baixa.
Mas, as coisas podiam piorar para as duas. Elas estavam arrumando os últimos preparativos da formatura e terminando o teste de conclusão de curso — o famoso TCC.
Na semana passada, mal pude encontrar com elas. Estava atolada de provas, trabalhos, livros, e tudo que um estudante não iria querer. Quando elas apareceram, jurei que parecia uma espécie de canto de liberdade. O único fio de socialidade que eu tinha havia me puxado dos amontoados livros de Freud.
— Tanto faz. Vocês precisam saber de tudo com detalhes... — a loira começou a falar, e para que minha mente não colapsasse, encarei um ponto fixo atrás da garota, perdendo-me em meus devaneios.
Nos primeiros dois dias, eu quase não ouvi um pio. Jennie se excluiu na minha varanda, lendo uma pilha de livros e fazendo um monte de anotações e esboços de moda. Rosé resolveu adotar o chão na minha cozinha como escritório, arrumando um monte de papelada e fazendo um monte de ligações, com um tom irreconhecível.
Eu nunca tinha visto elas daquele jeito, e sério, foi assustador.
Nas poucas vezes que saí do quarto, eu acabava esbarrando com uma delas em algum canto, na cozinha, na sala ou no corredor. Comíamos juntas, mas não falávamos nada. Depois que retornamos para os afazeres, a casa parecia vazia.
Isso até Rosé decidir que hoje seria o dia para falar.
— ...Ele me levou naquele museu e eu fiquei tão perto das pinturas — ela suspirou alto, fazendo-me voltar para a conversa, num susto. — Deve ser uns dos privilégios de ser rico.
— Claro que é, Rosé — disse, voltando novamente para a minha escrivaninha.
Fórmulas e mais fórmulas. "Justifique", marque F ou V para... QUE DROGA! Eu queria amassar aquela merda!
— ...Então, nós quase transamos.
A voz de Rosé pareceu soar pelos quatro cantos do quarto e, quando me virei para trás, Jennie já estava com a cara paralisada.
— O quê? — eu e Jennie dissemos em um uníssono.
Houve um silêncio ensurdecedor enquanto eu alternava o olhar entre Rosé e Jennie. A loira deu um sorriso tímido enquanto nós duas nos aproximávamos mais dela, para saber.
— Eu e o Taehyung... quase rolou...
Não sei o porquê de ter ficado tão impressionada. Era algo tão normal que, ao mesmo tempo, causava-me tanta estranheza. Eu parecia uma adolescente, esperando a amiga contar sobre suas primeiras aventuras sexuais.
Os lábios de Jennie se curvaram em um sorriso malicioso. Eu podia imaginar que algo bem pervertido sairia de sua boca. Jennie abriu a boca, pronta para dizer algo, mas pareceu engolir as palavras, trocando-as por algo mais ameno.
— E por que quase aconteceu? — questionou a morena, sem pudor algum. — Se assustou com algo?
Rosé empertigou-se, com um sorriso meio falho no rosto. Quase ri, com a maturidade de quinto ano. Ela poderia ter medo, e era normal. Pesquisas afirmam que as mulheres são mais inseguras na cama do que os homens. Então, tudo normal.
— Parei no meio do caminho — confessou ela, mas logo tentou se defender do olhar voraz de Jennie, que tentava entender o porquê da atitude da garota. — Não era apropriado transar com ele em um provador. Ainda mais com algo tão... grande, entre as pernas.
Estava explicado. Se ela estava com medo, tinha uma razão — uma bem grande. Jennie Kim gargalhou, com os olhos arregalados, e logo em seguida fui eu.
— Gente, eu não sei o que fazer! — Roseanne deu um gritinho, sorrindo boba. — Como vou colocar aquilo na minha...
Rimos alto.
— Se deus fez, é porque cabe — soltou Jennie, ainda rindo.
Rosé estava gostando de Taehyung, e era um sentimento que ela nutria desde que dirigiu a palavra a ele pela primeira vez. Eu honestamente achava que eles fariam um ótimo casal.
Eu não queria pensar que Tae era como Jungkook, até porque eu o conhecia, ele era um homem bom. Mas, avaliando pelos quatro meses que o conhecia, eu ainda insistia em compará-lo com os outros — mesmo que eu não quisesse fazer isso.
Jurei a mim mesma que nunca mais julgaria alguém com base no que diziam, ou no que eu pensava que era. Eu não queria arriscar novamente. Não depois de Jennie.
Rodopiei na cadeira, um pouco pensativa.
— Queria pelo menos ter chegado perto do ato. — Pensei alto. Alto demais para que as duas ouvissem claramente.
— Foi quase lá — disse ela. A minha nova amiga se jogou para trás novamente, puxando o travesseiro até sua nuca. Será que ela tinha se esquecido que eu queria foder com seu ex? — Mas isso ainda pode acontecer com outro.
Abri minha boca em um "o" perfeito, tocando no peito, fazendo cena.
— Não me diga mentirinhas... — fingi choramingar, mas a cara de Jennie quebrou meu clima. — É sério. Não tem a menor possibilidade de eu perder a minha virgindade esse ano. Claro, a não ser que eu a venda para um árabe ou sei lá, arrumar um dos pervertidos que veem hentai nos fundos da biblioteca.
Rosé soltou um grunhido de nojo, apoiando-se no cotovelo.
— Você pode tentar algo com alguns dos meninos — sugeriu a loirinha, sorrindo.
Fora de cogitação.
Eu teria que ser doida para tentar alguma coisa com eles. Não deu muito certo da última vez. Seria muito mais fácil se eles não fossem um pedaço grande de mal caminho. Yoongi, por exemplo, é tão lindo que minha cara fica dormente toda vez que passo ou falo com ele. E o Hoseok, misericórdia, que homem mais carismático. Não posso deixar de lado o fato de Park Jimin ser...
Balancei minha cabeça, tentando afastar o suposto pensamento sobre o guitarrista.
— Não, meninas. Eles são demais. Não tem uma opção mais fácil? — falei, mas pelas expressões das duas, parecia que eu tinha falado um absurdo.
— Você é linda. — Jennie cruzou as pernas e levou os braços para trás da cabeça, encostando na cabeceira acolchoada. — Seu cabelo é bonito. Seus olhos são bonitos, seu corpo, seu sorriso, sua voz. Não há nada em você que eles não achariam atraente. Eu a acho atraente.
Meu estômago embrulhou-se de uma forma estranha, ao seu comentário.
— É verdade. Você é muito bonita. Acredite. Não estamos falando só de sua aparência, e nem porque somos as suas amigas. Sua personalidade também é incrível. Mas — Rosé olha para Jennie, depois retorna o olhar para mim —, sabemos que não se vê como nós a vemos. Não sabemos por que não se sente incrível como verdadeiramente você é.
Baixei meu olhar até os pés da cama, com uma sensação estranha no peito. Não sabia se elas eram capazes de entender.
Existiam segredos que precisavam permanecer guardados.
— Espero que não me mate por dizer isso. — Jennie respirou fundo, encarando-me. — Às vezes acho que você finge ser outra pessoa. Vimos o jeito que fala cheia de confiança com Jimin, e nem parece que é você.
— Isso se chama raiva — respondi na hora.
— Será? — indagou ela, cruzando os braços. — Você vive escondendo da gente muitas outras coisas. Tipo, que você saiu com Jimin para encontrar o casal, em um convite marcado. — Minha respiração falhou. Como ela podia saber? — Tipo, o jeito estranho que age quando está determinada a socar a cara do Jimin, e não faz. Por que anda com o Jimin, sem suportar ele?
— O que quer dizer com isso?
— Só quero entender por que você não acha que consegue ficar com um deles. O Jungkook claramente te acha uma puta gostosa, e os outros...
Revirei os olhos, soltando ar com desdém.
— Júlia, não queremos te pressionar a nada, pelo amor de deus! — disse Rosé, após lançar um olhar raivoso para Jennie. — Só queremos saber como podemos te ajudar. É só dizer.
Não era fácil dizer. Não era como apertar um botão e minha boca começasse a tagarelar os meus sentimentos. Não era assim tão fácil;
Talvez elas estivessem certas sobre mim. Eu tinha mesmo essas dificuldades de expressar os meus sentimentos e de me ver com tanta beleza, como elas me viam.
Eu não fui muito estimulada a falar sobre meus sentimentos quando pequena, até porque eu não tinha muitas amizades. Sempre fui bem sozinha e gostava de dizer que era independente — soava melhor do que solitária.
— O Jimin não tem nada a ver com isso, e nem eles. Eu nunca vou me envolver com algum deles por causa do que aconteceu antes — confessei, sentindo minha voz embargar. — Eu sou sincera com vocês.
— Não. — Jennie riu com escárnio, puxando o livro novamente e pousando-o sobre a bancada do lado da cama. — Você não é sincera nem consigo mesma, quem dirá com a gente.
Um silêncio ensurdecedor percorreu o quarto.
Não contei sobre a faculdade, não contei sobre o meu plano com Jimin, não contei que estava confusa sobre meu curso, nem sobre minha vida. Eu não estava nem ao menos sendo sincera comigo mesma.
Sabia bem o rumo que as coisas estavam tomando e, mesmo assim, eu voltava a esconder mais coisas sobre mim. Seria difícil dizer a elas tudo, com todas as palavras, mas eu não queria perdê-las. Elas eram as únicas pessoas até ali, que eu podia chamar de amigas de verdade.
— Estão certas sobre isso. Eu realmente não estou sendo sincera com muita coisa. Mas tenho alguns motivos para isso. Motivos esses que juro que estou tentando passar para trás. — Respirei fundo com o tom de voz soando um pouco irritado. — Não é fácil para mim dividir muitas coisas sobre minha vida, então, desculpe. Tem coisas que não falei porque realmente não vi necessidade em contar.
Nunca fui uma criança muito enturmada. Quando pequena, tive problemas para me aproximar das crianças, pois eu não era muito parecida com elas, visualmente. De cabelos cacheados e olhos grandes e claros, para as outras crianças, não era muito normal ver tamanha diferença — dos olhinhos puxadinhos e cabelos lisos.
Minha mãe era estrangeira e meu pai, um esbelto coreano de traços fortes, o "problema" era que, estranhamente, eu não tinha nada a ver com meu pai. Havia puxado todos os traços possíveis de minha mãe, e quando crescida meus parentes paternos apostaram entre si que, houve uma traição da parte da minha mãe — até parecia mentira —, por esse motivo, meu pai acabou se afastando bastante de seus parentes.
A pior coisa que eles poderiam fazer, era julgar o amor e a devoção que meus pais tinham um com o outro.
Por volta dos dez anos de idade, eu comecei a ser muito bem vista, como a filha do Dr. Kim, mas claro que acharam que eu fosse adotada. Os pais das crianças não faziam questão de disfarçar quando cochichavam isso na hora da saída e nem quando eu estava perto, como se eu fosse um absurdo.
Comecei a ouvir muitas ofensas sobre mim nos recreios, de vários tipos: que eu era adotada de uma família pobre, que eu era feia, e a outra, mais horripilante que as primeiras, que meus olhos pareciam bolas de gude verde. Eu era uma criança, não deveria ouvir aquelas coisas.
Uma criança não deveria odiar a si mesma e nem os traços mais belos de sua mãe por causa de boatos mentirosos.
— Júlia, me desculpa pela forma que falei, eu....
— Não sabia que estava falando merda? — Soltei sem perceber o quão rude parecia. — Tudo bem.
Ouvi coisas quando minha mãe foi diagnosticada, e até depois de sua morte. E vai por mim, podia piorar. De "a filha da pobre" agora eu era chamada de "a coitadinha". Nossa... podia com certeza, ser muito pior.
No mesmo ano que perdemos a mamãe, eu pedi para sair da escola, depois que contei sobre tudo que havia passado e meu pai entendeu, era a hora de dar um ponto final naquilo. Mudamos para um apartamento no centro de Busan e comecei a fazer terapia infantil — ajudou por um longo período.
Rosé e Jennie pareciam chateadas pelo modo que falei, então, respirei fundo, e continuei, gentilmente:
— Não tenho boas experiências me expressando e sei que querem que eu aja de uma maneira que seja bom para vocês entenderem. Mas eu não seria eu, se fingisse. — Elas assentiram, e meu estômago revirou-se. Eu queria contar a elas. — Quando pequena, eu ouvi muitas ofensas sobre mim. Fiz terapia para tratar o dano que fizeram, mas ainda é difícil. Minha aparência, por exemplo, hoje eu gosto dela. Mas antes...
No ensino médio tudo era muito bonito, os garotos, as garotas, os jogos escolares. E céus! Como eu amava as líderes de torcidas, principalmente quando estavam ofegantes e suadas. Eram os hormônios da adolescência...
Tudo estava sob controle, ninguém mais falava de mim e eu era invisível — invisível até espalharem fotos minhas com roupa de banho. O burburinho não era exatamente por causa do meu corpo, era o que eu escondia por baixo dos casacos e calças de banho. Eu nunca, nunca usava biquínis. E mais uma vez, o assunto do colégio era eu e o maior mistério dos punheteiros: como era o verdadeiro corpo da Parker? O boato não foi longe, meu pai entrou na justiça e alguns pais tiveram que pagar caro.
Achei muito bem feito. Mas nada compraria minha saúde mental depois do ensino médio.
— Me desculpe, Júlia. — Jennie estava com os olhos vermelhos, parecia que ia chorar. Jennie não era definitivamente uma pessoa de chorar e vê-la daquele jeito deixou-me de coração partido.
— Não se desculpem mais, vocês não tinham como saber. — Sorri para elas. — Agora sabem e podem me ajudar se quiserem.
As duas se olharam confusas e Rosé perguntou:
— Como podemos te ajudar com isso? É uma coisa muito íntima, acredito que tenha sido difícil falar sobre isso, não é?
Concordei com um sorriso.
— Eu não posso falar muita coisa. Também fiz besteira julgando a Jennie antes. — Olhei para a morena. — Eu não gostava de você por causa dos boatos, sabia?
— Traidora! — ela brincou, e rimos.
No fundo, eu sabia que era errado ter julgando-a mal, e finalmente queria dar um fim a todo aquele peso na consciência.
— Desculpe por ter te julgado mal. — Ela assente na hora com um sorriso divertido. — Em sua honra, quero um codinome para meu alter ego.
Jennie fingiu pensar, com a mão no queixo.
— Acho que Lilith fica bem com a Bad Jay — disse Jennie. — E você, qual vai ser o seu codinome?
Olhei para Rosé, que estava com uma expressão pensativa tão fofa que dava vontade de abraçá-la.
— Nunca tinha parado para pensar nisso, mas... — A loira parou e respirou fundo. — Trix! É perfeito!
Eu e Jennie rimos, sem entender. Não era bem um nome que eu esperava que ela fosse escolher. Inventar uma personalidade não parecia algo que Rosé faria.
— Por que Trix? — perguntei.
— Porque parece algo sexy. Igual ao de vocês.
As nossas risadas preencheram o quarto, e senti todo meu corpo pular de alegria.
Realmente era sexy, e eu gostava. Ter companhia fazia-me ficar mais confiante. Isso era muito, muito bom.
❉
Apoiei minhas duas mãos entre as pernas, sentada em cima da mesa, tentando desviar o olhar para qualquer outro canto que não fosse o deles, encarando-me. A sala estava arrumada e cheirava a pinho e outros cinco cheiros diferentes de perfumes e produtos de limpeza.
Depois da longa conversa com as meninas, Namjoon nos solicitou em uma reunião de emergência, então fizemos o possível para chegar a tempo.
Para a nossa sorte, pudemos nos arrumar um pouco, depois da semana inteira com cara de zumbi.
Tudo que sabíamos era que a A.P estaria toda reunida, e ir desarrumada não era bem uma opção.
Jeon estava na minha frente, uns dois metros de distância, conversando com um amigo e olhando para mim.
Empertiguei-me na mesa, olhando para minhas amigas, sem prestar a atenção na conversa.
— Vai a algum lugar? — disse ele, com um tom meio inocente.
Reconheci a voz, virando-me em sua direção. Jungkook pôs as mãos nos bolsos, olhando-me de cima a baixo, como se eu fosse uma espécie de bolo de chocolate.
— Até agora não — confessei, sentindo vontade de revirar os olhos.
Era difícil não pegar a ideia do baterista. Jungkook queria voltar a falar comigo, como se nada tivesse acontecido, agindo daquela maneira estranha, mas eu não faria isso ser fácil, até ouvir um pedido de desculpas honesto. E isso ainda não havia acontecido.
Movi meus olhos para a porta da sala, onde outros membros do projeto entravam. "Vergonha" não era bem a palavra certa para descrever o sentimento que fervia em mim. Era repúdio de olhar para Jungkook. Um ranço que eu nem sei se podia medir.
— Você deveria. — Meu estômago embrulhou-se assim que escutei a voz de Jimin. Forcei-me a encará-lo, depois de vinte minutos desviando o olhar de seu rosto, desde que tinha chegado. Por algum motivo, eu não sabia explicar o porquê. — Seria um desperdício de beleza.
Como ele podia falar aquilo? Como ele... Jimin me achou bonita? Minha cara enrubesceu, e então virei meu rosto na esperança que não fosse visto, a reação de seu comentário em mim. Céus! A curtida! Será que ele tinha visto? Minha testa começou a esquentar.
— Você está diferente — disse Taehyung, e logo depois Jin soltou um grunhido. — O que foi?
— Ela está arrumada, seu animal! Você é cego? — berrou o ruivo.
Eu ri, olhando para eles. Abanando meu rosto automaticamente. Que calor! Respirei fundo.
Tae estava ao lado de Hoseok, e Jin, numa discussão engraçada sobre mim. Yoongi mexia numas folhas, ajeitando os óculos, enquanto Jungkook — que era para estar ajudando-o —, estava me comendo com os olhos. Cheguei a pensar que tinha algo na minha cara, mas nem me dei o trabalho de ver o que era, e logo me meti na conversa das minhas amigas.
Ouvi os cochichos de Jennie e Rosé, do meu lado, e pelas palavras "linda", "Jimin" e "encarando", supus que eu poderia estar na conversa.
— De quem estão falando? — questionei, em um tom sério. Jennie sorriu e inclinou-se até perto da minha orelha.
— Ele estava te encarando.
Havia muitas pessoas me encarando, desde que pisara os pés lá. Inclusive, uma garota que parecia que queria me bater.
— Ele quem? — indaguei, levantando o rosto para procurar, mas meus olhos foram guiados até Park Jimin, com a guitarra presa nos ombros, com os olhos em mim, de um jeito estranho. Um jeito tão estranho que não pude evitar o tanto de sentimentos desconhecidos.
Arrepiei-me por inteiro, ao me dar conta de que estávamos nos encarando fixamente, um no outro. Algo me dizia que era para desviar, para agir diferente, mas não consegui fazer nada. Meus lábios secaram e minha garganta fechou por alguns segundos.
Sua boca ergueu-se em um leve sorriso orgulhoso, o mesmo que usava para me irritar. Aquele maldito sorriso!
Fora mais ou menos dois minutos, até a porta da sala bater, fazendo-me desviar. Como míseros dois minutos poderiam me deixar daquele jeito?
Namjoon tinha chegado, carregando uma pasta e um notebook. Meu coração ainda palpitava forte, como se eu fosse morrer. Jennie olhou para mim, com certa preocupação.
— Está tudo bem? — perguntou a morena, e eu assenti. — Parece que viu uma assombração.
Melhor se tivesse sido, pensei.
Namjoon pôs suas coisas numa mesa e andou até o centro do salão, com as mãos para trás.
— Creio que a semana de prova tenha sido difícil. Estou terminando a minha Pós, com alguns membros, e arrumando uma porrada de coisas também. Não foi fácil para ninguém. No entanto, esse não é o assunto central. O motivo para eu estar vindo aqui, é porque recebemos um convite de última hora. — Yoongi caminhou até ele e lhe entregou um envelope. — A Jeju Academy nos convidou para um evento beneficente na próxima semana. Uma campanha para arrecadar fundos para orfanatos.
Eu iria para Jeju na mesma semana da prova. Que coincidência! Senti minhas bochechas corarem de animação.
Namjoon continuou:
— Eles solicitaram duas bandas musicais, sendo elas de pop e rapper. Isso é com o Jungkook e o Yoongi. — O alto deu uma pausa, virando a folha. — Três equipes de dança. Hoseok, essa vai dar trabalho! — brincou ele, com Hoseok, que riu com os outros. — E eles deixaram dois lugares em aberto, para qualquer outra apresentação. Jin sugeriu que fizéssemos um dueto e apresentassem o Bangtan. O que acham?
As pessoas começaram a falar e a sala virou uma feira, até Jennie chamar a atenção para ela com uma palma.
— Tanto Hoseok quanto os outros administradores vão estar com uma porrada de coisas para resolver. E isso quer dizer que podemos apresentar coisas novas. Pessoas novas. — Jennie desceu da mesa, ao meu lado. — Eu sugiro que a Júlia cante com o Bangtan.
Paralisei na hora, franzindo o cenho.
— Você está doida? — sussurrei, mas a sala estava tão silenciosa, que deu para escutar por toda ela.
— Vocês viram ela cantando no baile do mês passado. Ela e o Jimin foram feitos um para o outro. — Olhei Jennie com tanta vergonha, que minha cara suplicava para que parasse de falar. — No dueto, tá legal! — ela falou alto, olhando diretamente para mim. Do outro canto da sala, deu para escutar a risada de Jimin, provavelmente, zombando da minha cara.
Meu pai do céu! Queria cavar um buraco e enterrar minha própria cabeça.
— Concordo plenamente! — Jimin andou em minha direção, e meus órgãos pareceram está mudando de lugar. O guitarrista sorriu, sentou-se ao meu lado, pousando sua mão tatuada em meu joelho. — Fomos feitos um para o outro.
Tapeei sua mão com força, e ele riu.
— Engraçado! Também quero fazer o dueto com ela. — Dessa vez foi Jungkook, com um sorriso presunçoso. Ele respirou fundo e virei o rosto, revirando os olhos.
Não sabia quem era pior...
— Agora você quer? — indagou Jimin, passando sua perna por cima da minha, casualmente, como se tivéssemos a maior intimidade do mundo. Olhei-o na hora e ele piscou, passando a língua no lábio inferior. — Pois bem! Eu quis ela primeiro.
O pessoal começou a rir da situação, e minha cara ferveu. A sala estava um caos, apostas foram lançadas sobre qual deles ficariam comigo, no dueto, claro. Então, Namjoon espalmou a mesa, chamando toda a atenção para si.
— Jay, isso é com você. Quem será o seu parceiro?
Movi meu olhar para Jennie, que impetuosamente sorriu e cruzou os braços, sibilando um "depois você me agradece".
Lembrei-me que Jimin ainda estava ao meu lado, quando senti seu cotovelo encostar no meu.
— Isso, vai ser interessante — riu o guitarrista, de um jeito sarcástico.
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