20. ғᴀᴋᴇ ᴅᴀᴛɪɴɢ
"...Você não significa nada para mim, mas você tem o que é necessário para me libertar..."
Say it righ - Nelly Furtado
JÚLIA PARKER
Tudo estava um completo caos!
Pus a mão no rosto, debatendo-me no colchão, irritada. Como eu havia feito aquilo? Eu simplesmente tinha feito uma das piores burradas da minha vida — depois de ter entrado pra faculdade. Afoguei a cara no colchão para abafar mais um grito desesperado. Puta merda!
Deitei-me de bruços e deixei toda minha decepção se esvair, com o peso do meu corpo. Eu não precisava ir, era só dar uma desculpa esfarrapada, eles não iriam ligar.
— Se eu for, provavelmente aquele idiota também tem que ir... — Mordi meu lábio, pensando em voz alta. — E isto seria outra coisa para me preocupar.
Respirei fundo. Uma, duas, três vezes... certo, daria tudo certo, era só fazer de conta que esqueci.
Meu celular tocou na mesma hora e eu dei um pulo, olhando pela tela de bloqueio: era uma mensagem de Lisa, com o endereço. Ótimo. Outra mensagem chegou, e também era dela.
Lisa:
| Às 15:30 estaremos lá, certo?
Não. Não estava nada certo. Voltei a inspirar fundo, repetindo três vezes cada sequência de respiração. Céus! Eu nunca quis tanto na minha vida ter negado algo.
Eu:
Claro. Vamos chegar só um pouco atrasados. |
Adivinhe que horas eram? Dez para às três. Levantei-me um pouco atordoada das ideias, abri as gavetas procurando algo visualmente arrumado e fresco para um encontro duplo. Puxei um macacãozinho jeans claro, de alças, e uma camisa de tule branco de manga longa para usar por baixo. Para mim, aquilo parecia digno de um encontro à tarde, leve e fresco.
Com maquiagem, roupa e cabelo prontos, só faltava o mais importante e difícil: Park Jimin.
"Vai dar tudo certo" — ditei a mim mesma a caminho da república. Minhas mãos estavam suando frio e a minha cara nunca tinha ficado tão quente. Eu queria me tapear, no entanto, eu teria que chegar lá pelo menos com a cara boa, então não. Não era uma boa ideia.
Quando cheguei, Taehyung recebeu-me gentilmente com um abraço, cheirando a batata frita e milkshake.
— O Jimin está por aí? — perguntei e percebi o olhar de Taehyung me analisar, de cima a baixo, limpando o canto da boca, suja de farelo.
— Tá bonitona! — elogiou e eu sorri em agradecimento. — Ele está no quarto, tocando. Vai lá! — O moreno piscou, voltando a comer.
Sem desdenhar, fui em direção ao quarto do guitarrista, escancarando a porta acidentalmente.
— Precisamos... Ah!
Cobri os olhos imediatamente, vendo Jimin, a poucos centímetros de distância, com apenas uma toalha em volta do quadril. Como alguém podia ser tão insuportavelmente gostoso?
Um nó se formou na minha e senti a minha cara esquentar.
— Acho que esqueceu a educação em casa — falou e eu permaneci com os olhos cobertos. — O que veio fazer aqui?
Retirei as mãos do rosto e olhei para qualquer outro ponto que não fosse o abdômen à minha frente.
Pigarreei.
— Vim te buscar para o encontro.
A frase soou tão estranha que estremeci. Fez-se um silêncio constrangedor e eu voltei a encará-lo.
O guitarrista estava com os braços cruzados e de cenho franzido. E merda! Seus fios loiros estavam levados para trás e algumas mechas caíam sobre sua testa, respingando em seu rosto. Soltei o ar, como se estivesse preso por todo aquele tempo.
Pela sua cara, não parecia que estava disposto a fazer esse bem maior. E de coração, se ele negasse, eu sairia dali pulando de alegria.
Jimin levantou as sobrancelhas rapidamente e arrumou a toalha no quadril.
— Eu já disse. Não vou arriscar nada por você, ao menos que valha a pena.
"Ao menos que valha a pena"? Esse cara só podia ser doido. Segurei-me para não discutir, sabendo que isso aconteceria a qualquer momento.
— Então, temos um trato?
— Um trato? — Ele deu um passo à frente, mais perto.
E por que eu ainda estava olhando para ele daquele jeito? O espaço que nos separava parecia se comprimir a cada respiração. Queria me mover, mas eu estava estranhamente confortável.
Ele riu e inclinou a cabeça para o lado, juntando as mãos na frente do seu... você sabe o quê. Limpei a garganta e cruzei os braços, encarando-o. Jimin parecia estar lendo todos os meus pensamentos devassos e os jogando na minha cara, com aquele sorriso prepotente.
— Quer me ver peladinho?
— Você quer morrer?!
Empurrei-o para trás e ele riu, debochando.
❉
Depois que Jimin saiu do quarto, quase caí para trás. Era a primeira vez que o via tão bem vestido, depois do baile. Uma camisa estampada com dois botões abertos, por dentro de sua calça preta justa. As mangas de sua camisa exibiam suas tatuagens, que pareciam se multiplicar cada vez mais do que da última vez que havia visto. Fiquei presa em seu cabelo para trás, mostrando seu undercut recém-cortado.
Sequei as mãos suadas na jeans, levantando-me.
— Vamos.
Aquela foi a única coisa que ele disse, depois de montarmos na sua moto — que eu mal sabia que tinha. Nem ousei perguntar nada sobre, apenas agarrei sua cintura, durante o percurso.
— É aqui — eu disse, pondo os pés na entrada.
Jimin não parecia nem um pouco contente, saiu empurrando a porta, sem se importar comigo, logo atrás dele.
Que grosseiro!
Assim que avistamos os dois, Jimin segurou a minha mão, entrelaçando nossos dedos. Engoli em seco na hora, vendo-o se inclinar até a lateral do meu rosto.
— Se não souber o que dizer, não diga.
Eu até lhe daria um soco na cara se não estivéssemos num restaurante e várias pessoas não estivessem nos encarando — encarando ele, na verdade.
Era impossível passar por Park Jimin sem prender os olhos no seu estilo pop rock, saído diretamente do Pinterest, com as tags "bad boy hot e tatuado". É, isso foi bem específico.
Estava começando a ficar constrangida, pois lá estava eu de novo, pensando em como Jimin era estranhamente atraente. Era uma merda achá-lo tão gato e, também, tão babaca.
Nos aproximamos da mesa e os cumprimentamos. Não fiz questão de abraçá-los, estive mais ocupada pensando em como agiria dali para frente, sem parecer patética e profundamente arrependida.
Sentei-me de frente para Lalisa enquanto Jimin sentou-se ao meu lado, de frente a Jungkook. Notei pelas figuras espalhadas e a coloração azul e verde que se tratava de um restaurante especialmente de frutos do mar.
Bom, eu não tive boas experiências com frutos do mar, e eu até gostava, mas se tratando de mim, tudo que não fosse camarão, eu mandava para dentro.
— Chegaram bem? — perguntou Jungkook, quebrando o silêncio.
Virei para ele e senti meu estômago dar um pulo. Não era como vê-lo pela primeira vez, porque Jeon continuava bonito como sempre, mas algo — bem estranho — estava acontecendo com ele. Sua voz tênue e suas roupas claras, pela primeira vez, dava-me a impressão de que Jungkook estava tentando ser passível.
Concordei com a cabeça à sua pergunta. Eu mal conseguia falar nada, minha garganta estava com um nó impossível de engolir.
— Chegamos bem, só atrasamos um pouco — disse Jimin e logo em seguida chamou o garçom com o dedo. O garçom veio e ele pediu água para nós dois.
Olhando rapidamente para Lisa, tive a sensação de que estava desconfortável, com o olhar baixo e os ombros encolhidos. Passei meu olhar para o lado, vendo Jeon me olhar rapidamente, desviando.
Agoniada, meu pé batia repetidas vezes no piso de madeira. Eu não deveria estar ali, o olhar de Lisa dizia tudo. Senti a mão de Jimin tocar meu joelho, acalmando minha perna. Sobressaltei. Ele não falou nada, apenas iniciou uma conversa aleatória com o amigo.
Dei um tapa em sua mão por baixo da mesa. Não era tão burra assim para não perceber que ele tinha feito aquilo para me acalmar. Mas eu não ia baixar a guarda.
— Pedimos um especial da casa — disse minha ex-amiga, pondo uma mecha para trás da orelha. Ela olhou para Jeon, e seus olhos pareciam diamantes. Senti um leve incômodo ao perceber isso. — O Jungkook adora camarão, então nada mais justo que um prato especial.
Espera aí... ela disse camarão?
Meus olhos abriram-se rapidamente e um garçom surgiu do nada, pondo entre nós uma bandeja enorme. Puta que pariu! O cheiro de camarão estava tão forte que só pelo olfato, eu sentia minha cara inchar.
— Jimin... — o chamei, e ele me olhou.
Naquele momento, eu queria que ele usasse sua habilidade de adivinhação para supor que eu era alérgica a camarão, antes que minha cara virasse um mochi grande e vermelho.
— O que foi, Jay? — questionou Jimin, e ele estava fazendo aquilo de novo. Aquilo de fazer um apelido soar como uma ofensa.
Fiz uma breve mímica por baixo da mesa e ele não pareceu entender. Jimin deu de ombros, pegando o celular. Que idiota! Revirei os olhos e bati com o pé na sua perna, por baixo da mesa.
— Para de ser irritante! — soltou ele, baixo, encarando-me feio. — E doida. Você com certeza é doida... — murmurou ele, voltando-se para frente.
— Vocês estão bem? — perguntou Lisa, pegando os hashis e dando uma risadinha. — Discussão de casal?
Arrepiei até a espinha.
— Não! digo... Sim, está tudo bem — pigarreei, sorrindo. — E não, não discutimos.
Na verdade, discutir era tudo que eu e Jimin fazíamos. Não como um casal, e muito menos como amigos. Não éramos amigos, e me dava calafrios só de cogitar isso.
Peguei meu celular, abri o bloco de notas, digitando: Eu sou alérgica a camarão, seu idiota. Cutuquei-o com o ombro e ele viu.
— Faz sentido! — murmurou baixo, pegando o cardápio. — Deve ter alguma coisa diferente de peixe, não é possível... — Seu tom de voz foi diminuindo.
Ah, claro, não ia ter nada de peixe num restaurante de frutos do mar!
O loiro passou o olhar por todo o cardápio, parando em uma lista no canto superior direito. Quando bati o olho nos preços, quase tive um ataque cardíaco. O que vinha nesses peixes? Ouro? O peixe estava submerso no titanic?
Pisquei cada vez que desci o olhar pelo cardápio, era uma facada no coração. Nunca fui de ser mão de vaca, mas puta merda! Eu já tinha concluído ali que o melhor a se fazer era beber água e comer camarão até morrer.
— Jeogiyo! — chamou Jimin e o garçom veio rápido. Eles cochicharam e, quando o garçom se foi, Jimin nem sequer me dirigiu uma resposta.
— Mas e aí? Vocês ainda não disseram o que é isso entre vocês. — Lalisa apontou o hashi para mim e para Jimin.
Nós deveríamos dar algum tipo de satisfação?
— E vocês deram? Nem eu sei o que vocês são? — indagou Jimin, com um sorriso mortal. Uma leve vontade de rir me tomou, mas permaneci quieta.
Jungkook limpou a garganta, encarando Lisa nos olhos. Não sabia o que significava, só que talvez estivessem se comunicando com os olhos.
Quando os nossos pratos chegaram à mesa, eu tentei não pensar em que órgão eu venderia para pagar aquele restaurante. Olhei para o prato confusa e o garçom falou:
— Esse prato é muito pedido por aqui. Atum branco com salada de papaia verde. — O homem de aparência madura fez uma reverência e saiu.
O casal nos encarou estranhos.
— Eu disse que você era alérgica e eles prepararam isso aí. — Jimin indicou com o queixo. — Tem atum, mas eu não faço ideia de onde vem a papaia verde.
Falando assim nem pareceu que foi obrigado a ser fofo comigo, para que eu não virasse um negócio feio.
— Espera. Você é alérgica? — indagou Jungkook, soltando os hashis. Ele balançou a cabeça, indignado. — Merda! Se eu soubesse teríamos ido numa churrascaria.
O olhar de Lisa, que estava sobre Jungkook, caiu. Senti uma pontada de pena.
Peguei os talheres, caindo de boca na salada rim — o órgão que eu venderia para pagar a conta.
— Há quanto tempo estão juntos? — dessa vez a pergunta veio de Jeon.
— Faz pouco tempo — falei.
— "Pouco tempo" quanto? — perguntou Lisa.
— Acho que desde o dia que pegamos vocês na cama — falou Jimin e eu o chutei por baixo da mesa, encarando-o feio. Lisa engasgou-se no exato momento e seu namorado a ajudou.
O casal ao lado da nossa mesa estava com os olhos fincados em nós, provavelmente depois de escutar a confissão mentirosa de Jimin.
— Estamos ficando — menti, convicta. A confissão repentina fez até Jimin virar-se para mim, surpreso. — Estamos naquele lance de se conhecer e tal.
Lance? Eu tinha tirado isso de um filme, eu acho. E pelo rosto de Jungkook, ele pareceu incomodado, diferente de Jimin, que parecia... orgulhoso?
— Não sei como consegue ficar com ele — Jeon falou rindo, e se era para soar como uma brincadeira, não pareceu. — Jimin é tão oposto de você.
Minha ex-amiga olhou feio para Jeon e ele deu de ombros. Jimin fez que não escutou, terminando de comer.
Sério? Ele não ia falar nada?
Não acreditei quando fui tomada por uma vontade enorme de defendê-lo, só para ter o gosto de ver a cara de Jungkook.
Aproximei-me de Jimin, negando as minhas restrições corporais, sendo capaz de sentir seu perfume refrescante penetrar minhas narinas.
— Ele nem é tão oposto assim... — Passei minha mão na nuca raspada de Jimin e ele estremeceu, estranhando minha aproximação repentina. — Jimin não é tão irritante assim.
Ele era sim. Muito, na verdade.
Nossos olhares se cruzaram por alguns segundos, mas quebrei o contato visual assim que retirei a mão de seus fios macios, desviando o olhar para o casal boquiaberto. Desejei ter algo inteligente para dizer depois disso, mas Jimin era melhor do que eu, quebrando os climas tensos.
Os dois amigos iniciaram uma conversa e, como quem não queria nada, permaneci escutando enquanto brincava com o resto da salada no prato.
— Meu pai continua enchendo o saco, com a empresa. E a Nay, puta que pariu, vive se metendo nos meus assuntos — exclamou Jimin, batendo com o punho levemente na mesa.
Jungkook soltou uma risada debochada.
— Você já é assunto o suficiente para ela não se meter. — Jimin riu baixo e bebeu seu refrigerante. — Melhor dar um jeito logo. — Subi o olhar para eles, e Jungkook encarou-me, dizendo: — Você pode ter grandes problemas com ela, se isso não parar.
Eu não sabia se Jeon estava falando comigo, ou com o amigo. Limpei a garganta e voltei a comer o resto de salada do prato.
Pelo olhar tenso dos dois rapazes, seja lá o que a garota estivesse fazendo, eu não ia querer estar perto para ver o estrago. Parecia algo sério, já que Jimin mencionou a empresa. Se eu não me enganava, o pai do guitarrista era um empresário famoso, do tipo chefão.
— Eu me odeio por fazer certas coisas com ela — confessou Jimin e eu imediatamente o olhei. Ele se encostou na cadeira, e passou o olhar pelo restaurante. — A Nay não tem culpa por seu pai ser um fodido.
Meu celular tocou e, para minha felicidade, era Rosé. Atendi, ainda na mesa, sentindo o olhar de todos em mim.
— Fala. — Olhei para os três, que pararam de conversar.
— Você está em casa?
— Não. Estou com o Jimin — falei e ouvi um grito do outro lado.
— Você está.... PORRA! Como não me contou isso, Júlia Parker?!
Senti meu corpo congelar enquanto o casal me sugava com os olhos.
— TÁ BOM, APPA! — menti e senti-me uma merda fazendo isso, mas o que era uma mentirinha para o caos que eu havia me metido com Jimin? — Ele vai me levar pra casa.
Rosé indagou algo, antes de eu desligar na sua cara e sorrir amarelo. Ela ia me perdoar por isso.
— Gente, obrigada por tudo... — levantei-me. — Era o meu pai. Ele apareceu de surpresa lá em casa e a chave está comigo.
Nossa, eu sou muito mentirosa!
— Ah, sendo assim... — O loiro levanta-se. — Estamos indo.
O olhar de decepção de Lisa deixou-me comovida. Já seu parceiro não expressou nenhuma emoção aparente com a minha confissão.
Puxei minha carteira para pagar a conta, e Jeon negou com a mão.
— Não se preocupe, é por minha conta. — O moreno sorriu, e que droga! Que sorriso bonito.
Depois que saímos do local, não trocamos nenhuma palavra. Se eu não o conhecesse diria que estava irritado, mas não havia motivos aparentes para ele estar irritado. Durante aquele tempo, eu realmente tinha esquecido do seu temperamento.
— Me lembre de nunca fazer isso na vida — falei, retirando o capacete e entregando-o. Jimin não falou nada, deixando-me envergonhada. — Sua moto é bem legal.
Ele demorou para responder, girando a chave da moto, preparando-se para sair.
— É, eu sei.
❉
— Espera aí! Deixe-me ver se eu entendi. — Ela deu uma pausa e jogou-se no meu sofá. — Você saiu com o Jimin. Com o JK e com a... — Concordei em cada pausa que fez. — VOCÊ SAIU COM JIMIN?
Pela sua cara, a única coisa com que Rosé se importava era entender o fato de eu ter saído com Jimin. Seu susto fez um pouco de sentido, julgando que eu não contei a ela o que aconteceu entre nós no baile.
— Ela tem razão. Isso é bem estranho.
Virei meu rosto em direção ao corpo esbelto de Jennie encostado bem na bancada da minha cozinha.
Eu nem consegui entender por que raios Rosé tinha chamado Jennie Kim para minha casa, mas eu não ia expulsá-la, não depois do apoio emocional que havia me dado a um tempo atrás. E aliás, ela também era bem legal. Eu não expulso pessoas legais.
— Não tem nada de estranho nisso. Vocês querem comer alguma coisa?
Jennie levantou a sobrancelha e riu de soslaio. As duas se entreolharam e depois voltaram-se a mim.
— O que foi?
— Você está mudando de assunto. — Rosé interviu. — Você foi à casa do Jimin hoje e saíram num encontro com ninguém mais, ninguém menos que, os... Aish! Aqueles safados! — xingou a loira, virando o rosto.
— Nada disso faz sentido. A não ser que vocês já tivessem marcado esse encontro... — sugeriu Jennie e meu corpo enrijeceu-se na hora. Puta merda! A mulher exibiu um sorriso maroto e olhou para a loira. — Tá vendo. É assim que se pega alguém no pulo.
Cruzei os braços, indignada.
— Eles tinham me chamado antes, e como eu não consegui negar... — Eu não menti. — Como Jimin estava comigo quando fizeram o convite, ele também foi chamado. — Dessa vez, eu menti.
— E então, vocês foram juntos? — Jennie gargalhou irônica. Céus! Estava começando a achar que ela era uma versão feminina do Park. — Tem coisa nessa história.
Voltei à cozinha, indo lavar o resto de louça que restava na pia, sentindo ainda seus olhares sobre mim.
Depois do ocorrido na ligação, Rosé decidiu aparecer na minha casa com a surpresa ilustre de Jennie Kim e sua beleza arrebatadora. Toda vez que eu a encarava, dava-me um misto de inveja e vontade de beijá-la, de tão bonita que era.
As duas começaram um assunto da sala e logo vi se aproximarem da ilha da cozinha.
— A gente estava pensando aqui, e cogitamos que talvez... você e o Jimin possam tentar... — a voz suave de Rosé sumiu, assim que parei com as mãos no mármore da pia, levantando a sobrancelha para ela. — Ah, não me olha assim!
— O que você está sugerindo? — perguntei, sentindo um desconforto na boca do estômago.
— Você e o Jimin. Já rolou alguma coisinha? Uns amaços? Olhares? — questionou Jennie e rapidamente Rosé a encarou.
Franzi o cenho, rindo.
— Claro que não. Isso nunca vai acontecer! — Meu tom de voz se elevou um pouco e as duas encararam-me, estranho. Nem ousei perguntar o porquê da pergunta, jurei que a justificativa seria pior, então preferi ficar quieta.
— Assim, foi uma dúvida repentina. Nada de mais — justificou a loira, um pouco envergonhada.
Balancei a cabeça, cruzando os braços e encostando na pia.
— Eu não gosto dele. Se querem saber — confessei e Jennie olhou-me como se me analisasse minuciosamente. — Não que ele tenha feito algo ruim. É só minha personalidade que não bate com a dele.
Não dá nem para dialogar com o Jimin sem que uma discussão aconteça.
As duas se entreolharam e deram uma risadinha. Senti-me envergonhada, mas dei de ombros, voltando a lavar a louça. Elas começaram a cochichar, e confesso, comecei a me sentir enciumada por Rosé.
Até aquele momento, Roseanne era a única amiga que me sobrara, eu não estava nem um pouco interessada em perdê-la para uma morena bonita e incrivelmente boa de papo.
Rosé havia dito que as duas faziam a mesma aula de tecelagem e que, em algumas das suas aulas, Jennie começou a aproximar-se e conversar com ela. Isso desde o lance todo que rolou com a Lisa e o Jeon na república — e já fazia um mês desde o ocorrido.
Estávamos no verão coreano e tudo passava rapidamente aos meus olhos. Comecei a pensar em trocar de curso ou me mudar, mas me mudar não era bem uma opção, já que eu tinha uma casa que saciava todas as minhas necessidades e me dava conforto.
Eu preferia o conforto.
Mas em relação ao curso, eu realmente estava pensando em trocá-lo. Queria tentar uma bolsa na faculdade de Jeju novamente, depois da minha reprovação no ano passado.
A instituição é muito integrada, tem foco em cursos artísticos, como nenhuma outra universidade. Não passava da KIU, era considerada muito menor na verdade, mas meu sonho sempre foi entrar no programa.
O maior medo do meu pai era que eu me arrependesse de fazer Psicologia porque eu havia decidido isso cedo, comparado aos outros jovens. Sinceramente, eu também achei cedo, mas passou tão batido que foi a minha primeira opção de curso.
Meu pai se ofereceu para pagar qualquer curso que fosse na KIU, e em qualquer outra instituição, mas eu cismei que queria bolsa em Jeju. O que não deu muito certo, porque não atingi o necessário para o curso. Fiquei bem mal e vi que a única alternativa seria ir para a tão sonhada KIU, antes que meu avô materno descobrisse que, beirando os 20 anos, eu ainda não tinha me formado.
Infelizmente, eu ainda tinha que enfrentar minha família materna, extremamente controladora. Minha sorte era que meu pai sabia lidar bem com meu avô, a ponto de eu quase não precisar entrar em uma conversa constrangedora com ele.
Minha cabeça estava no ar quando Jennie quase berrou, puxando-me para fora dos meus pensamentos:
— Garota, que transe foi esse? — Eu ri com suas palavras, secando a mão no pano de prato. — Venha assistir, antes que Rosé comece a colocar filme dramático.
— AH, NÃO! Drama não, Rosé! — Pulei entre elas no sofá, roubando o controle.
Passamos o resto da sexta-feira curtindo e maratonando O senhor dos anéis. Foi sugestão de Jennie, mas, no segundo filme, Roseanne quase chorou para que colocássemos Como eu era antes de você. Eu e Jennie não tivemos opção, colocamos o bendito do filme e acabamos cochilando.
Na manhã seguinte, elas ainda estavam lá. O tempo estava nublado e chuvoso, a porta da minha varanda cantava quando o vento batia e isso me dava arrepios. Parecia que eu estava em um filme de terror.
Levantei-me vagarosamente entre as meninas, pegando meu celular que vibrava no móvel.
— Oi, pai — falei, indo ao corredor.
— Oi, filha. Eu vi suas mensagens. — Meu estômago embrulhou-se.
Eu havia mandado mensagens sobre a mudança de curso e lá, mencionei a faculdade de Jeju — claro, pulando a parte de querer fazer Música.
Meu pai não era preconceituoso, nem nada do tipo, é só que, com o histórico de bioquímicos, médicos e advogados na família, eu me sentia um pouco estranha em dizer.
— Tenho uma amiga aqui no laboratório que me disse que estarão fazendo uma prova de admissão em Jeju. Daqui a algumas semanas. É a sua chance.
Abri um sorriso, quase pulando.
— Se eu tentar... — pausei, olhando para as meninas estiradas no sofá. — Tem chance de entrar nesse ano, no meio do primeiro período?
Ele pensou do outro lado, e ouvi barulho de teclas.
— A chance é mínima. É para o ano que vem. Se você conseguir... — Ele parou e, dessa vez, seu tom veio sério. — Filha, se quiser trocar de curso, eu resolvo isso. A KIU é ótima. — Meu coração apertou-se, droga, eu queria falar, mas não consegui. — Meu amor, o ano começou agora. Não quer ficar mais um tempo para ver se se acostuma?
Por mais que me doesse, concordei, sentindo minha língua pesar. Nunca seria capaz de dizer a verdade, se fosse covarde.
— Se mudar de ideia, me liga. Eu te amo.
— Eu também te amo.
Desliguei o telefone, caminhei até o sofá e sentei-me cuidadosamente entre elas. Seria tão mais fácil com a minha mãe. Aylla Parker saberia me dizer exatamente o que eu precisava. Ela era ótima em me decifrar — de um jeito até assustador —, talvez era o que chamavam de dom de mãe.
Encostei-me no acolchoado e Jennie mexeu-se um pouco, pegando minha mão, aninhando-a para si, como se fosse uma espécie de urso de pelúcia. Sorri, pois, aquilo só poderia acontecer mesmo com ela dormindo.
Minha mãe estaria feliz por eu estar me aproximando de Jennie, ela ia gostar da personalidade da baterista, ainda mais por ser tão decidida. Mamãe era decidida e muito, muito teimosa — puxei isso dela, a parte da teimosia.
Lembrar da mamãe acabava comigo. Meu pai sempre tentava suprir tudo com muito carinho, presentes e companhia, mas era impossível. Culpei-me por muito tempo por causar nele esse sentimento de insuficiência. Papai não merecia, tinha um enorme coração.
Passei minha mão esquerda pelos fios loiros e macios de Rosé, sentindo algumas lágrimas rolarem no meu rosto.
Queria contar para mamãe como havia feito amigos, como estava começando a odiar os livros da faculdade e as burradas — certeza que é a parte que ela mais gostaria de saber. Queria que Aylla Parker soubesse que eu adorava, secretamente, toda a confusão que eu havia me metido, porque tudo me tirava da monotonia em que eu me colocava o tempo todo.
Inspirei, tentando afastar o resto das lágrimas. E Jennie mexeu-se bruscamente ao meu lado, assustando-me .
— Júlia... — sua voz saiu mansa e eu a encarei. Ela coçou os olhos e arrumou-se no sofá. — Aconteceu alguma coisa? — Apertou delicadamente a minha mão.
Sua voz estava suave e sua cara dava a entender que não estava nem um pouco disposta a ouvir mais uma desculpa.
— Eu só estava pensando na minha mãe...
Confessei.
— Ela mora longe? — perguntou ela, inocentemente.
Por um minuto, eu não quis respondê-la, mas senti-me obrigada, enxugando as lágrimas.
Algumas pessoas sabiam disso, acho que podia contar nos dedos. Eu não gostava de contar essa parte da minha vida, era desconfortável ver as pessoas sentirem muito.
— Ela morreu. Há oito anos.
Um silêncio se instalou e foi possível escutar de novo o vidro cantar com o vento lá fora. Seu olhar caiu sobre a minha mão, a qual acariciou.
— Deve sentir muita saudade dela.
Concordei, sentindo meu coração apertar e mais uma lágrima cair.
Jennie aproximou-se, agarrando meu braço e pondo sua cabeça em meu ombro. Meus olhos arderam em lágrimas e eu não tinha mais nada a dizer. Queria controlar meus sentimentos, queria que as lágrimas parassem de cair, mas era impossível negar que, aquele simples gesto da moça, confortou-me imensamente.
Como eu pude julgá-la tão mal antes? Será que eu merecia a chance de ser sua amiga, depois de tudo que achei sobre ela?
— Me desculpe por isso — murmurei baixo o suficiente para que só ela ouvisse. Mas a mulher permaneceu quieta. — Sinceramente, eu só queria minha mãe...
Deixei as lágrimas escaparem, encostando minha cabeça na de Jennie.
Ela não disse mais nada.
E isso foi o suficiente.
❉
Dedilhei a guitarra mais uma vez e anotei no meu bloco de notas outra frase: "Eu não sei, eu não sei por quê. Eu também não me conheço."
— Eu simplesmente sei, eu simplesmente sei porque... — cantei anotando. — Porque tudo é amor falso.
Escutei um barulho vindo da porta atrás de mim. Estremeci ao notar o som pesado de um coturno, na sala pouco iluminada.
— "Porque tudo é amor falso"? Que melancolia! — soltou Park Jimin e eu revirei os olhos.
Soltando o ar pesadamente, forcei-me a encará-lo. Jimin estava como sempre, calça preta justa na canela, uma camisa do dobro do tamanho e um coturno.
— Agora vai se meter nas minhas coisas?
Ele arrumou seus fios para trás e andou até a minha frente, fitando o caderno. Antes que eu pudesse pegá-lo, ele puxou.
— Deixe-me ver...
— Para de ser idiota! Me dê isso!
Eu estava impossibilitada de levantar, a guitarra em meu colo era pesada demais. Que merda, ele estava lendo! Não podia ter algo mais constrangedor que aquilo.
Jimin inclinou a cabeça rapidamente, e franziu o cenho.
— Eu trocaria essa frase. — O intrometido puxou minha caneta da mesa, rabiscando na folha. — Bem melhor — Continuou a ler. — Nossa, isso tá muito bom.
Desconsiderei o elogio repentino. Pus a guitarra no apoio e puxei o caderno de sua mão, lendo o que havia escrito: "Eu queria que o amor fosse perfeito por si só. Queria que todas as minhas fraquezas pudessem ser escondidas." Jimin me deu uma frase inteira, em segundos. Que talento!
— Isso é para Jungkook? — perguntou ele, pegando a sua guitarra.
Revirei os olhos, respirando fundo.
— Olha só, a minha vida não gira em torno dele.
— Que bom. Se serve de consolo.... — Ele sorriu, debochando. — Seria horrível.
Mais envergonhada que eu, só duas de mim. Eu havia tomado uma proximidade estranha com ele desde o baile e meu raciocínio estava começando a quebrar, ao ponto de achar que Park Jimin, o idiota, seria estranhamente atraente.
Depois de sexta-feira, passei metade da semana fugindo dele, tipo, evitando todo e qualquer lugar onde ele estava ou passava. Com certeza isso foi incrível para ele, e acredite, também foi para mim. Até agora.
Ainda em silêncio, virei-me, guardando meu caderno na bolsa, até ele abrir a boca novamente.
— O Jungkook contou para Taehyung. — Minha cara congelou. Na verdade, meu corpo todo congelou. Dava para fingir com Jungkook, mas com Taehyung? Seria impossível! — Juro que se mais alguém saber, eu não vou desmentir.
— A ideia foi sua, seu idiota.
Puxei o caderno de volta da bolsa.
— E você aceitou. Eu não esperava que fosse aceitar.
Ele começou a afinar a guitarra.
Apoiei-me novamente na mesa onde estava, assustadoramente perto do guitarrista. No topo da folha, escrevi bem grande "Contrato", ouvindo o guitarrista soltar uma risada fraca do meu lado.
— Eu começo. — Escrevi, sentindo os olhos escuros seguirem o meu traço. — "Não podemos de maneira nenhuma contar a ninguém sobre esse acordo." — Ele tocou alguma nota na guitarra e eu continuei a escrever, ditando: — "Não podemos desmentir, caso perguntem." — Encarei-o e o loiro revirou os olhos.
Minha intenção era sair imune do que quer que fosse acontecer.
— "Você não pode ficar com o Jeon Jungkook, durante esse acordo." Põe aí.
O guitarrista aumentou o volume da guitarra, tocando um solo irritante enquanto eu o olhava feio, pronta para debater.
— Por que eu ficaria com ele, seu idiota?
— Sei lá, é você que muda muito rápido de opinião.
Deixei quieto, respirei fundo, e escrevi sendo justa. Eu o odiaria se não tivesse nem um adendo naquela merda. Lembrei-me rapidamente do encontro, quando ele e Jungkook falaram sobre uma moça, uma que dava a entender pela conversa, que era bem assustadora.
— "Nenhuma ex deve ficar sabendo desse acordo." — O guitarrista olhou-me, franzindo o cenho. — Ué, não quero a sua Nay na minha cola. Sabe se lá deus o que essa garota faz...
Ele semicerrou os olhos e riu, dando de ombros.
Fez-se um silêncio constrangedor na sala. A iluminação, sua proximidade e todos os outros motivos do mundo davam a entender que, se alguém abrisse a porta no momento, acharia qualquer outra coisa, menos que estaríamos fazendo uma espécie de acordo de paz.
Balancei minha cabeça e pigarreei, afastando o pensamento. Preparei-me para escrever mais uma frase.
— "Nunca, em hipótese nenhuma, vamos nos pegar, transar ou qualquer coisa sexual ou amorosa."
Eu não sabia dizer o que senti no momento, parecia raiva e, de certa forma, vergonha. Jimin só podia ser maluco em pensar que eu, Júlia Parker, iria querer alguma coisa com ele. Na verdade, eu preferiria rolar na lama, do que transar com ele.
— Isso nunca vai acontecer, Park Jimin.
Jimin riu.
— Claro. Mas escreve aí, só por desencargo de consciência. — Ele piscou, e eu fiquei sem graça, mas cheia de vontade de dar com a mão na sua cara.
O loiro parou de brincar com sua guitarra e cruzou os braços, me olhando de soslaio.
— "Ninguém pode saber que ficamos com outras pessoas." — falei e ele umidificou seus lábios, prestes a me xingar. — Por desencargo de consciência, gatinho... — repeti o que ele disse, dando-lhe uma piscadela.
Como já diziam, vingança era um prato que se comia frio.
E mais um silêncio instalou-se entre nós e, após eu escrever, ele arrumou sua postura, tocando.
Abri a boca diversas vezes para falar e ele tocava mais alto, a melodia suave e repetitiva. Jimin só podia estar brincando com a minha cara.
— Tem como parar de tocar? — elevei meu tom, reverberando em toda a sala, fazendo-o me olhar. Minha cara esquentou. — Estou tentando falar, e você não para.
Ele sorriu, ainda com os dedos posicionados nos acordes da música.
— A parte mais importante para mim é quando isso acabar — confessei.
O loiro levantou as sobrancelhas e voltou a tocar, como se eu não tivesse dito nada demais. Pelos deuses! Que cara presunçoso!
Comecei a guardar as coisas na minha bolsa, forçando-me a não olhá-lo novamente. Eu tinha me esquecido de que era um babaca.
— Se algum de nós quebrar alguma regra, o acordo está anulado — disse ele, parando de tocar. Virei meu corpo em sua direção, pronta para xingá-lo. — Aliás, gostou dos acordes novos que fiz pra sua música? — Engoli em seco, sentindo um nó se formar na garganta. — Se não tivesse saído da aula de violão, teria feito acordes bons, como esses. De nada.
Xinguei-o mentalmente e em todas as línguas que eu sabia, retirando-me de lá.
NOTA DA AUTORA:
Oi, meus amores!!! Como foi o capítulo de hoje? gostaram? Já deram estrelinha?
Esse capítulo foi grande, como vocês amam skskksksks
Eu estou tão grata a tudo que está acontecendo, que não acredito que hoje, Bad idea chegou aos 90k. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA EU NÃO TENHO PALAVRAS PARA AGRADECER A ISSOOO. Vou preparar um textinho, pra postar no insta, lá eu tenho o mesmo user. Facinho de achar.
E para quem não sabe, o grupo de Bad Idea está na minha bio, já rolou muita fofoca e spoilers, não deixe de entrar lá, tem muito audio meu skskksksks
Vota e comenta, viu? skskkssksk AMO VOCÊ
COM TODO AMOR DO MUNDOOOOOO
EUU
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