Capítulo 7 - How to be a heartbreaker
"Eu me encontro em uma situação de merda
O homem que amo me deixou esperando ontem à noite
E ele me disse que acabou, uma decisão burra
E não quero sentir como se meu coração estivesse sendo rasgado"
Escapism ― RAYE (feat. 070 Shake)
ANTES
Filho da puta.
Escroto.
Babaca.
Idiota.
Alex merecia todos os piores adjetivos do mundo e eu os gritava com todo meu ódio dentro da minha cabeça. A vontade que senti ao vê-lo agarrado com Madison, capitã das líderes de torcida do basquete, vulgo uma das maiores vadias que eu conhecia e que me odiava, era batê-lo até que ele desmaiasse.
Não bastasse a humilhação que ele havia me feito passar na festa, a traição e o coração quebrado, ele ainda tinha coragem de fazer aquilo.
As palavras de minha mãe ainda ecoavam em minha mente. Realmente, era tudo minha culpa. Eu sabia que para ela a culpa era minha, porque não segurei Alex, porque não fui mulher o suficiente e joguei o melhor relacionamento que pude no lixo. Mas para mim, bem no fundo da minha mente, a culpa era minha por ter achado que aquele babaca seria diferente comigo.
Tentei manter a pose durante a manhã inteira, ignorando os olhares preocupados de minhas amigas ― que não ousaram falar mais sobre isso, respeitando meu espaço ― e das pessoas curiosas. Mas ver aquela cena no refeitório foi o fim. Saí de lá as pressas, sem conseguir disfarçar, chorando. Entrei no primeiro banheiro feminino que vi e me permiti chorar tudo o que estava engasgado. Por sorte estava vazio.
Me apoiei em uma das pias, apertando a cerâmica com tanta força que achei ser possível quebrar. No reflexo do espelho, minha feição era de pura dor e raiva.
― Calma, Meg. ― Audrey disse, tentando me tocar. Eu me afastei dela, explodindo.
― Calma? Como posso ficar calma? Ele tava naquela porra de refeitório agarrando a Madison! Aquela puta sempre quis ele. ― Falei, sem conseguir segurar as lágrimas. ― Esse babaca não esperou nem dois dias! Eu o odeio tanto!
Dei um soco forte na pia, assustando Audrey. Alisha continuava a me olhar, cética, entendendo bem como as minhas raivas funcionavam.
Aquela, no entanto, era diferente. Jamais odiei tanto alguém. Queria ele morto.
― Eu disse que as coisas não precisam ficar assim. Ele merece pagar pelo que te fez.
Olhei para ela, puta da vida. No final de semana, a única vez que retomou ao assunto Alex foi para se referir a um plano de vingança. Para Alisha a justiça tinha que ser feita por nós mesmos. Eu também acreditava naquilo, mas usar o manual seria em vão, principalmente com Alex, o maior comedor de mulheres dessa cidade.
― E como espera que eu faça isso, Alisha? Não tem uma garota nessa cidade que esse nojento, fodido, desgraçado tenha conhecido.
― Eu acho que a melhor coisa a se fazer agora é ir ao spa. Você precisa relaxar, amiga. ― Audrey disse.
― Para o inferno com esse spa, Audrey! ― Gritei, andando de um lado para o outro. ― Eu quero mesmo é que Alex sinta uma dor mil vezes pior do que eu senti, que ele seja humilhado e se sinta ofendido assim como eu.
― Não há outra saída, Meg. Vamos usar o manual. ― Alisha insistiu.
Me virei para ela, pronta para dizer que aquela ideia fodida nunca daria certo, mas fui interrompida por um barulho vindo de uma das cabines. Nós três viramos para olhar de onde tinha vindo.
Nós nos entreolhamos, confusas. Alguém estava ali ouvindo a conversa, sorrateiramente. Aquilo só aumentou a raiva que eu sentia.
― Quem está aí? ― Gritei, me aproximando da cabine.
― Tem alguém nos escutando?
― Fica quieta, Audrey. ― Alisha rosnou atrás de mim, fazendo nossa amiga se calar.
Esperamos a pessoa responder, mas quando nada veio, gritei novamente:
― Abra a porra da porta! Já sabemos que você está aí!
E então abriu. Minha expressão de raiva se suavizou na mesma hora e se tornou de confusão ao ver quem era.
― Camila? ― Alisha perguntou.
A porra da Camila Hayes, a nerdzinha do jornal da escola.
― Era só o que me faltava mesmo. ― Resmunguei, lançando-a um olhar ameaçador. ― O que você ouviu, merda?
A empurrei contra a porta da cabine, querendo a garantia que ela não saísse por aí dizendo que eu estava chorando por causa de Alex. Ela tremia tanto que achei que poderia cair dura ali mesmo.
― N-nada, eu...
― Não minta! Você ouviu sim, sua vadia!
Tentei puxá-la novamente, mas Alisha se colocou entre nós, me impedindo de fazer besteira.
― Calma, ok? Não vê que Camila pode ser muito útil para nós? Ela apareceu no momento certo.
Olhei para ela, chocada com aquilo. Alisha pensava mesmo que aquela garota, aquela que se tremia como se estivesse dentro de um iglu, iria fazer parte do plano de vingança?
Entendo minha expressão de confusão, ela continuou a falar:
― Você disse que Alex conhece todas as garotas dessa cidade, mas Camila? Ele sequer deve saber o nome dela. Ela é invisível aos olhos dele, ele a despreza assim como qualquer garota que passa mais tempo na biblioteca do que em casa. Quem melhor do que Camila, a garota que Alex jamais desejaria, para quebra-lo em pedaços?
E então minha mente explodiu.
Alex a desprezava, sim. Era aquilo. Eu precisava de uma garota a qual ele jamais colocaria os olhos, que nunca sequer havia o atraído.
Minha raiva desapareceu rapidamente quando soube de sua utilidade. Ela parecia ainda mais confusa, com os olhos marejados. Pobrezinha. Dei um sorriso, que não dava a dias, a surpreendendo.
― Escuta, Camila ― Passei o braço ao redor do seu pescoço, trazendo-a mais para perto. ― Você vai perder as últimas aulas.
― Não, eu não...
― Venha com a gente. Temos uma proposta para você.
― Que proposta? ― Perguntou. Seu nervosismo seria uma das primeiras coisas que eu trabalharia.
― Uma proposta que você não vai se arrepender de aceitar. ― Falei, por fim, levando-a conosco para minha casa.
O momento em que falamos sobre o plano para Camila e seu olhar de desespero pareciam que ficariam para sempre em minha mente. Seria cômico se não fosse trágico. Odiava saber que precisava chegar àquele ponto, quebrando o coração do garoto que tinha tudo menos um. Mas ele merecia. Não só por mim, mas por todas as meninas que um dia haviam sido usadas por ele.
Nossas palavras, as minhas especialmente, deixaram Camila confusa, mas prometendo que pensaria sobre. Minhas propostas eram boas, e eu sabia que além disso não demoraria muito até que ela visse o quanto Alex era um idiota.
Depois que Camila foi embora, pude olhar o manual novamente. Sentei na cama, folheando as páginas e dando risadas sem humor.
― Qual a graça? ― Alisha perguntou, atraindo minha atenção. As duas sentaram, ficando de frente para mim.
― Isso aqui. Meu Deus, é a maior baboseira.
― Ei, é importante. ― Brincou Alisha.
― Cala a boca. Fizemos isso aqui quando éramos crianças praticamente.
― Eu inclui coisas legais. Adoro moda. ― Audrey disse. Eu sorri leve para ela, assentindo.
― Tem razão, Drey. Mas nós sabemos que no fim das contas ter o cabelo mais liso do mundo, o mais belo corpo e usar as melhores roupas não seguram um garoto. ― Falei, fechando o manual e jogando-o na cama.
― Não são pelos garotos, Meghan. Nós fingimos que sim, sabe disso. ― Olhei para Alisha. ― É fácil assim, especialmente para garotas como nós. Nós podemos mudar isso agora, com Camila. Chega de se humilhar por garotos, por nos moldarmos por eles. E se precisarmos fazer isso, que seja para acabar com eles.
Sorri de lado.
Alisha e eu nos gostamos de cara, quando nossos pais se conheceram em um evento e se tornaram amigas. Eles acharam uma boa ideia as filhas da mesma idade brincarem juntas, e assim aconteceu. No nono ano, depois de assistirmos a um filme em que as garotas tinham um livro para contar o podre dos outros, eu falei "e se nós fizéssemos um em que ensinássemos as garotas a como serem irresistíveis e ácidas?". Alisha riu e então fizemos em uma brincadeira. Chamávamos atenção de meninos, desde muito novas, sexualizadas e limitadas apenas por nossos corpos.
Quando conhecemos Audrey, no ensino médio, ela amou o manual e acrescentou coisas. Era algo nosso, um segredo sujo, e que se tornou boato apenas porque Alisha, venenosamente, resolveu falar algo para uma das nossas colegas de time. Era divertido verem as garotas curiosas.
Nunca havíamos usado com ― ou contra ― ninguém... até agora.
― Ele vai pagar por isso, Meg. Eu garanto. ― Ela disse, tocando meu joelho. Eu assenti, confiando em suas palavras.
― Karma is a bitch. ― Audrey brincou.
― E nós somos mais três, prontas para acabar com ele. ― Falei, por fim.
Nós três rimos, a primeira risada sincera que eu dava desde o dia em que fui traída e humilhada, principalmente, por minha mãe.
As piores partes eram os jantares em que eu era completamente ignorada e humilhada em silêncio por Claire.
Tudo era culpa minha afinal.
― Como andam as coisas na escola, Meggie? ― Meu pai perguntou me causando surpresas.
Nem lembrava a última vez que ele havia me perguntado aquilo ou qualquer outra coisa.
― Foi... tudo bem. ― Respondi, dando uma olhada rápida em minha mãe que ainda me ignorava.
― Você está bem? Soube que você e Alex terminaram, sinto muito. Ele era um bom garoto.
Eu lancei um olhar para minha mãe e brevemente nos olhamos. Claro que ela não havia dito ao meu pai que eu havia sido traída, era humilhante demais. Não que ele fosse fazer algo contra Alex, eles não me defenderiam a esse ponto, mas era simplesmente vergonhoso ela dizer em voz alta que sua filha, a princesa, a mais linda havia sido enganada pelo namorado.
― Sim, terminamos. Mas ele não é tão bonzinho assim como você pensa, pai. ― Falei.
― Relacionamentos são assim, querida. Ou você aprende a lidar ou acaba sozinha. ― Minha mãe disse, as primeiras palavras que havia dirigido para mim desde o fatídico dia.
Estava sendo um dia de muitas primeiras vezes.
― Como acha que eu poderia ter lidado com isso, mãe? Deveria ter o amarrado? ― Perguntei, revoltada, me arrependendo em seguida quando ela me lançou um olhar assassino.
― Se você quer ser feliz do jeito certo, Meghan, se quer validar sua vida e suas escolhas, alguns sacrifícios precisam ser feitos. Seu relacionamento fracassou, o que será a próxima coisa?
Engoli o nó que cresceu em minha garganta. Como ela conseguia ser tão cruel?
― Podemos mudar de assunto? ― Meu pai interviu. ― Estou indo para Nova York amanhã, reunião. Quer que eu traga algo para você, querida?
Neguei com a cabeça, pronta para responder, mas minha mãe interrompeu:
― Por que Nova York?
― O que? ― Ele perguntou, confuso.
― Por que vai para Nova York, John?
― Já disse, tenho reunião.
― Justo lá?
― Por que odeia Nova York? Vocês se conheceram lá. ― Falei. Os dois me olharam ao mesmo tempo.
Era a verdade.
Minha mãe veio da França para estudar, tenta uma nova vida nos Estados Unidos, e conheceu meu pai no curso de direito da NYU. Depois que terminaram vieram para Jacksonville, cidade natal de meu pai. As vezes ele conta o quanto os dois eram apaixonados, mas nunca consegui enxergar isso. E também jamais tive coragem de perguntar o que aconteceu entre eles.
― É só uma reunião, Claire. Depois de amanhã estarei de volta.
― Posso ir? ― Ela perguntou, olhando para ele novamente.
― Por que?
― Se tem a ver com o nosso escritório, querido, então é da minha conta.
― Meggie, por que não pega Candy e vai para o quarto? ― Meu pai disse.
― Mas eu nem terminei de comer.
― Olga levará mais comida.
― Mas...
― Apenas vá, Meghan. ― Ele disse, um pouco mais ríspido.
Peguei Candy, que estava perto da cadeira em que eu estava sentada, implorando por comida, e a levei para o meu quarto. Alguns minutos depois Olga trouxe um pouco mais de comida ― pouco mesmo, provavelmente a pedido de minha mãe.
Felizmente trancada em meu quarto eu não precisaria escutar mais uma discussão entre os dois. Depois de comer, adormeci com Candy na cama.
Ultimamente, após todas aquelas merdas, somente a notícia de que Camila me ajudaria com a vingança melhoraria as coisas um pouco mais. E foi o que aconteceu no dia seguinte. Ela me mandou uma mensagem dizendo que estava dentro e perguntando quando começaríamos.
A partir dali eu criei a maior e melhor destruidora de corações.
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