Capítulo 21 - Interrogatório
"Você não vai me salvar?
Eu não quero ficar
Apenas vagando sem rumo neste mar da vida"
Save Me — Hanson
Por um momento não escutei nada. Comecei a ter zumbidos nos ouvidos, daquele que não me permitiam ouvir nada. Observava apenas a reação e feição de desesperos dos meus colegas. Zack tentou voar entre os policiais, gritando para que me soltassem ― mesmo sem ouvir direito eu sabia que estava gritando ― e sendo segurado pelos outros policiais e os meninos.
Fui sendo levada e quando dei por mim estava dentro do carro da polícia, no banco de trás. Acordei do devaneio quando Zack começou a bater na janela, que estava com os vidros fechados.
― Meghan! Vou te tirar de daí! Aguente um pouco, ok?
Então o desespero bateu.
Comecei a sentir meu coração acelerar, minha respiração descompassar e as mãos suarem. Me aproximei da janela, desesperada.
― Abra a porta! ― Gritei, querendo chorar.
― Não posso! Eu estou indo logo atrás!
― Zack! ― Continuei gritando.
― Você vai sair!
Ele continuou acompanhando o carro quando ele começou a dar partida, correndo quando foi preciso, até que não alcançou. Eu me encolhi no banco, assustada, sem saber o que dizer ou fazer, querendo realmente acreditar que ele me tiraria do lugar imundo que estaria em poucas horas.
Depois de tudo o que vinha fazendo, aquele poderia ser mesmo o meu lugar, pensei.
Mas ainda assim não fazia sentido. Por que eu? Como aquilo havia ido parar na minha bolsa?
Paramos na delegacia e fui tirada pela policial, sendo levada direto para o local que era uma espécie de check in para presos. Perguntaram diversas informações, se eu tinha antecedentes criminais, e toda essa merda. Até uma foto humilhante, segurando uma placa com meu nome, fui obrigada a tirar. Depois fui levada para uma sala pequena, com uma mesa e duas cadeiras, uma em cada lado.
Fui colocada sentada e não demorou muito até um homem alto, latino, moreno ― com alguns cabelos brancos aparecendo ― e com uma feição amigável, sentou na cadeira ficando bem de frente a mim. Aquele era o maldito que havia me prendido.
― Como vai, Meghan?
Lancei um olhar mortal para ele.
― Jesus, se olhares pudessem matar... ― Ele riu, então abriu uma pasta, analisando alguma coisa. ― Você parece ser a garota perfeita. O que uma garota como você faria com drogas?
― Não eram minhas!
― Não? Como pode provar?
Abri e fechei a boca.
― Eu... olhe, eu não coloquei elas lá. Alguém sabotou.
― As suas drogas, e sim são suas até que possa ser provada o contrário, estão em análise. Muito provável que vá precisar de um advogado.
― Advogado? Que palhaçada é essa? Eu estava... saindo com os meus amigos e agora preciso da porra de um advogado?
― Olhe a boca. ― Disse, ríspido. ― Desde quando faz parte de fraternidade Athena's?
Me remexi na cadeira.
O momento em que seríamos interrogados por um policial havia sido cogitado e estudado por nós. Lembro dos ensaios, de Logan fingir ser um detetive carrasco, daqueles que te deixam sem saída. Então pensei ser ele ali, em uma encenação.
― Quase cinco meses.
― E o que vocês fazem lá?
― Festas, grupos de estudos...
― Vamos lá, fale a verdade, garota. O que vocês ganham?
Suspirei, tentando fazer minha melhor feição de boa moça.
― A coisa mais suja que já fizemos, o que eu me arrependo muito, foi a venda de gabaritos.
― Vocês vendem gabaritos de provas? ― Assenti e ele fez anotações. ― E o que mais?
― As nossas festas contam com a venda de ingressos, então boa parte fica para nós.
Mentira. Nunca cobrávamos por festa.
― E drogas? Aposto que isso rola solto.
― Com certeza. ― Ele ergueu as sobrancelhas. ― Cansei de ver garotos e garotas tomarem pílulas, usarem o que quer que seja, mas jamais perguntei onde comprariam. É como se me jogasse em uma jaula de leões.
― Então alguém vende?
― Claro. Sempre vendem.
― E quem me garante que vocês não são as vendedoras?
― Detetive, se quiséssemos vender drogas, acha que venderíamos na nossa própria festa? Com todos os olhos, inclusive da reitoria, virados para nós? Eles sabem quando fazemos festas, o que os alunos passam depois. Se um deles tem overdose, todas estamos fodidas e somos responsabilizadas. Tudo é controlado lá. Kat, nossa líder, sabe disso. ― Falei. ― Além do mais, se fosse para ter escândalo com drogas já teríamos sido presas antes.
― Você fez a lição de casa. Mas ainda não me convenceu. O que estava fazendo naquela fraternidade de Fordham e ainda mais com membros de outra fraternidade, de outra instituição?
Suspirei.
― Eu estava acompanhando o meu namorado. Zack, aquele que ficou gritando. ― Gelei só de falar aquelas palavras. Nunca achei que mentiras fossem pesar tanto. ― Ele me chamou para dar uma volta depois de irmos lá, mas isso aconteceu.
― Então você ia usar a droga com o namorado?
― Não! Essa droga não é minha! Olhe, pode fazer a bosta de um exame de sangue ou sei lá o que em mim. Isso vai provar que não uso drogas, que não é meu.
Ele semicerrou os olhos, me analisando, então sorriu de lado.
― Nem sempre o vendedor das drogas usa elas, Meghan.
― Não uso, muito menos vendo. Já disse: não são minhas.
― Então tudo bem. Vamos supor que alguém quis te sabotar mesmo. Por que uma pessoa faria isso?
Dei de ombros.
― Não sei. Como poderia saber?
― Você é filha de advogados ricos, tem uma vida boa, estuda em uma das melhores faculdades do mundo... ― Ajeitei minha postura, tentando não parecer intimidade. Ele, no entanto, apoiou os cotovelos na mesa e aproximou-se. ― O que você esconde, Srta. Prescott?
― Estou escondendo a vontade de socar sua cara.
Ele deu uma risada.
― Sinto em dizer que se fizer isso irá direto para uma conversinha com o juiz. Você estaria agredindo uma autoridade.
― Sei bem.
― Vamos lá, menina. Apenas fale o que sabe. As coisas podem ser bem mais fáceis assim.
Dessa vez eu apoiei os cotovelos na mesa e me aproximei.
― A verdade, detetive, é que vocês estão correndo atrás das pessoas erradas. Eu sei que existem esses caras maus que procuram, posso até saber onde eles estão, mas garanto que aqui, presa, você não vai conseguir nada de mim. Fui sabotada, essa é a mais pura verdade.
― Desconfia de alguém? Se ao menos der um nome, as coisas podem ser facilitadas.
Por um breve segundo pensei em dar nomes. Pensei em falar de Knox Pollard, de suas ameaças e narrar tudo o que havíamos sido "forçados" a fazer. Seria um tanto quanto esquisito. Um detetive jamais acreditaria que a nossa venda de drogas era em prol de um bem maior, se assim podia dizer.
Até eu cair na real e saber que aquela era a mais estúpida das ideias.
― A partir de agora só falarei na presença do meu advogado.
Ele fechou a pasta e deu de ombros.
― Realmente tentei deixar as coisas melhores pra você, menina. Uma pena. Gonzalo! ― Exclamou e um policial entrou na sala. ― Pode leva-la para a cela de presos provisórios.
― O QUE? ― Gritei. ― Eu vou para uma cela?
― É lá onde garotinhas mentirosas, maiores de idade ficam.
Rosnei e fui movida pelo ódio quando o policial segurou meu braço e foi me levando para tal cela. Apesar da raiva, eu estava assustada. Já fazia um bom tempo que eu estava naquele lugar e nada de Zack.
Só esperava não ter que ligar para os únicos advogados que conhecia.
Me agarrei as grandes quando fui trancada lá, sozinha. O lugar era escuro, fedia a xixi e bem no canto da parede havia um banco de pedra.
― ME TIREM DAQUI! ― Comecei a gritar desesperadamente e bater nos ferros.
Passei quase uma hora daquele jeito, gritando, infernizando os policiais, mas recebia em troca ameaças de que continuaria ali por mais tempo. Em um momento cansei e acabei sentada no chão, com a cabeça apoiada no ferro gelado.
― Por favor. Por favor, venha. ― Sussurrei baixinho, querendo que ele viesse me tirar dali.
Quase dormindo, já sem ter noção de tempo, acordei com um pigarro e um par de coturnos bem na minha frente. Levantei um pouco mais o olhar e vi Zack.
Eu estava sonhando?
― Levanta daí, Miss Universo. Hora de ir para casa. ― Ele disse, sorrindo de lado.
― É você mesmo?
Ele se agachou, ficando da minha altura, então tocou meu rosto.
― Quem mais seria?
― Você está atrasado.
― Eu sei, amor. Olhe, estava tentando procurar formas de provar que você foi enganada. E adivinhe só? As drogas eram falsas. Era apenas uma forma de te prenderem, mas não sei porque. A pessoa que fez isso queria que você ficasse nessa cela apenas por algumas horas.
― Sorte sua, garotinha. ― Ouvi a voz do detetive babaca. ― Gonzalo, pode libera-la.
Zack me ajudou a ficar de pé, mesmo do outro lado da grade, e eu assisti ansiosamente o policial abrir a cela. Quando finalmente tirou o cadeado, empurrei a porta com tanta força que ouvi o "ai!" do homem. Não pensei duas vezes senão correr para os braços de Zack. Ele me apertou contra si, tirando meus pés do chão, e então era como se nunca mais quisesse sair daquele aperto.
― Pombinhos, bela cena. ― Nos afastamos para olharmos para o detetive. ― Por ora vocês estão livres, mas jamais estarão longe do meu radar. Estarei de olho, não importa onde estejam.
― Tenho certeza de que existe criminosos mais perigosos do que um casal apaixonado. ― Zack disse e eu o olhei. Apaixonados?
O detetive Crawford riu, assentindo.
― Tem razão. Por falar nisso, preciso voltar a esse caso agora mesmo. Liberados, crianças. Nos vemos logo.
Zack me abraçou novamente, então sussurrei:
― Por favor, me tire desse lugar.
Era meia noite e cinco quando saí do banheiro, depois de um longo e relaxante banho, pronta para dormir. Esfreguei tanto meus braços, imaginando toda a sujeira que fiquei sujeita, que até ficaram vermelhos. Pronta para dormir, suspirei ao entrar no quarto e ver Zack sentado na minha cama de solteiro, apenas me esperando. Por sorte as meninas dormiam tarde.
― Eu disse que podia ir embora. ― Falei, perto da cômoda, encarando-o de braços cruzados.
Ele se levantou e se aproximou, fazendo com que eu engolisse em seco. Por que ele tinha que chegar assim?
― E eu disse que não iria embora até ter certeza de que estava bem.
― Eu estou. Pronto?
Ele riu, negando com a cabeça.
― Sei que delegacias são bem nojentas e cansativas. ― Ergui as sobrancelhas. ― Foi meu pai, ok? Ele já se meteu em algumas brigas e eu quem salvei a bunda dele.
― Não me surpreenderia se você tivesse sido o meliante.
― Não fui eu quem foi preso hoje.
Dei um tapa leve em seu braço que o fez rir.
― Nada engraçado.
― É apenas brincadeira. ― Quando sua risada cessou, ele analisou cada feição minha, como se visse até minha alma. ― Está bem mesmo?
Não. Mais ou menos. Apenas passe a noite comigo, esqueça as meninas.
― Sim. ― Foi o que respondi.
― Sabe, eu nunca vou esquecer quando contaram na Fayron que você uma vez se preparou para concorrer aos concursos de misses e até, quem sabe, poderia ser Miss Universo um dia. ― Ele riu leve. ― Os caras eram doidos por cada passo seu.
― Para sua informação, eu ganhei alguns concursos, ok? Tenho jeito para coisa.
― Não duvido. Apenas amo o termo: Miss Universo. É como se você fosse o centro de tudo.
― Está viajando. Vai dormir, Reed.
― Posso estar, não sei. Foi só uma lembrança. Enquanto todos os garotos te babavam, eu só me questionava quem era a patricinha de que falavam. Quando te vi, entendi tudo. Hoje eles não te veneram, mas eu sim. Não importa quanto tempo passe, Meg, eu sempre vou te venerar.
Suspirei quando ele tocou em minha mão com a sua. Era um simples contato, mas eu já estava completamente arrepiada.
― Zack...
― Você é minha namorada agora.
― O QUE?
Ele deu risada.
― Você disse que aceitaria meu pedido de namoro se um dia te tirasse da cadeira, lembra? Bem, meio que aconteceu. Tudo em um único dia, quem diria.
― Isso... olhe... aquilo não foi você, tecnicamente. As drogas eram falsas.
― Eu te tirei de lá. Se soubesse de como fiz ameaças para que acelerassem todo o processo, ficaria surpresa.
Neguei com a cabeça, tentando não rir, mas foi inevitável. Simplesmente não conseguia ficar séria perto dele.
― Brincadeiras à parte, quero apenas que saiba que uma hora precisaremos conversar. Eu realmente gosto de você, Meghan. Sempre gostei.
Juntei as sobrancelhas, triste, querendo poder dar àquele garoto tudo o que ele merecia, todo amor, toda dedicação. E agora, com ele se aproximando de mim, só sabia que o poder que tinha sobre meu corpo era inexplicável.
Com nossas bocas pairando uma na outra, não pude evitar o desejo de beijá-lo, e já conseguia sentir seu gosto no meu.
No entanto um estrondo forte de algo caindo no quarto ao lado nos fez parar.
― Kat. ― Falei. Eu e ele nos entreolhamos então corremos até o quarto.
A porta, que estava meio aberta, foi empurrada por mim e então vimos Kat com uma mala no chão, terminando de organizar algumas coisas. Ela ergueu as sobrancelhas ao nos ver e sorriu.
― Oi, pessoal. Não sabiam que estavam por aí. Na verdade, ia te ligar logo, Meghan.
― O que aconteceu? Que mala é essa?
― Sobre isso... ― Ela olhou para a própria bagunça. ― Eu vou precisar ir até Nova Jersey. Minha mãe mora lá e vou fazer uma visita, a saúde dela não está das melhores. Além de que preciso olhar algumas coisas pela cidade.
― Mas como assim? Por que não avisou antes?
― Não é nada. Na verdade, preciso apenas saber se você poderia... segurar as pontas por aqui na minha ausência.
― O que? O que quer dizer?
― Quero que assuma a liderança enquanto estou fora, Meg. Não é difícil. E você é a sucessora certa para o meu lugar.
― Mas eu não... não sei como se faz. Kat, como pode ir assim de repente?
― As coisas foram assim, mas não porque eu quis. Serão poucos dias, ok? ― Ela se aproximou e me deu um abraço apertado. ― Quando eu voltar, essa guerra já vai ter acabado.
Quando Kat se afastou, nos olhamos olhos nos olhos. Ela estava assustada, conseguia ver, mas não sabia se era medo ou insegurança. Havia também um quê de familiaridade, algo que jamais tinha reparado antes. E, claro, tinha a súplica. Em seu olhar havia um pedido velado de que eu aceitasse sua proposta, mesmo sabendo que não tinha escolha.
― Por favor... ― Sussurrou, apertando as minhas mãos que segurava.
― Estaremos todos juntos, Kat. ― Zack disse. Ela sorriu para ele, assentindo.
― Vai ficar tudo bem. Eu sinto. ― Kat disse.
Nos despedimos e então ela fez o mesmo com as ourtas meninas. Logo estávamos todas na entrada, acenando para Kat que já estava no táxi.
E eu só sabia, de alguma forma, que as coisas não pareciam tão seguras assim. Quando o carro que levava Kat sumiu de vista, eu e Zack nos entreolhamos, lado a lado, sabíamos que o alerta vermelho havia sido acionado.
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