Capítulo 15 - O acordo II
"Você nunca esteve ao meu lado
Me engana uma vez, me engana duas vezes
Você é a morte ou o paraíso?
Agora você nunca me verá chorar"
No Time To Die ― Billie Eilish
Viver com as Athenas foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Achei que as coisas seriam difíceis, que não conseguiria me adaptar a mais um novo ambiente, mas fui tão bem recebida pelas meninas que foi como me sentir em casa.
Kat fez uma grande festa quando fui me mudei. Todas as garotas colaboraram com minha mudança, até as que não estavam muito satisfeitas ajudaram. Fiquei em um quarto confortável, dividindo-o com Casey e Amber, e passei a ter uma rotina diferente, mas muito legal.
As Athena's eram grandes envolvidas nas causas políticas, principalmente as feministas, e constantemente participavam e promoviam eventos voltados para isso. Ao contrário do que era fofocado, não havia envolvimento com coisas ilícitas, a não ser a venda de respostas para algumas provas, a qual eu não me envolvi durante o primeiro mês ― e planejava não me envolver.
Kat no entanto se mostrava uma líder forte e corajosa. Ela sim era uma líder de verdade, uma abelha rainha dos tempos modernos, se assim podia dizer, sabia como lidar com os problemas e ainda ter tempo de nos ensinar o que fazer. Como no caso de um dos estudantes, ex namorado de uma das meninas da fraternidade, que estava a ameaçando. Ela cuidou dele, sem precisar de agressão, apenas ameaças ditas em tons calmos.
Todas participamos. Fomos até o dormitório do garoto, pela noite, e o forçamos a nos ouvir. Ela mudava de personalidade, chegando causar medo até em mim.
Consegui manter tudo em ordem, equilibrar as aulas e meus deveres dentro da fraternidade, além de sempre rever Camila e meus outros amigos fora da universidade. Isso seguiu indo bem até um idiota chamado Logan aparecer para conversar com Kat.
Eu quem o recebi a primeira vez que apareceu na fraternidade, todo casual e com um sorriso idiota.
― Posso ajudar? ― Perguntei. Ele apenas entrou, nem me deixou convidar.
― Oi, Meg. Sua líder se encontra?
― É falta de educação entrar nos lugares sem ser convidado! ― Fechei a porta com força.
― Sei, gatinha. O problema é que estou apressado, sem tempo para cerimônias, sabe?
― Não sei, não. Kat está ocupada.
― Duvido. Eu disse a ela que viria.
― Acha mesmo que ela pararia os compromissos que tem para receber o líder de outra fraternidade que vem em cima da hora? E ainda mais de uma fraternidade que nem é da NYU?
― Kat é mais bondosa do que pensa. ― Ironizou, sorrindo de lado.
― Seu irmão não parecia tão animado. ― Comentei, tentando parecer despreocupada, mas querendo saber mais sobre Zack.
― Ah, isso. Bem, na verdade eles está se adaptando bem.
Mentiroso.
― Por que ele entrou para o Sinners afinal?
― Porque tem uma vaga-herança. Acho que não sabe o que é isso, afinal entrou aqui por causa de Kat, não é?
Semicerrei os olhos para ele, cruzando os braços.
― Pode sentar e esperar se quiser.
― Não será preciso. ― Ele disse, olhando nos meus olhos.
Nós ficamos nos encarando, mas logo ouvi passos de botas que com certeza era Kat. Ela parou ao meu lado, olhando também para Logan. Eles nem se cumprimentaram, tudo muito estranho.
― O que tem aí? ― Perguntou, referindo-se a pasta que ele carregava embaixo do braço. Só então percebi.
― Muita coisa. ― Respondeu, sorrindo leve.
Ela acenou apontando na direção da sua sala e me deu uma olhada como quem dissesse "está tudo bem", então entrou com ele. O idiota também me olhou e soltou uma piscadela.
O resultado daquela reunião foi uma das piores coisas que achei que poderia acontecer em uma fraternidade. Kat contou parte do acordo para nós um dia antes de nos reunirmos com os Sinners, com todas as garotas reunidas. Elas a ouviam atentamente, mesmo depois de ela falar várias merdas, e eu fui a única a me levantar no final de sua fala, puta da vida.
― Vender drogas? Você só pode estar de brincadeira, Kat.
Ela me olhou, nada feliz com a situação.
― É o que é, Meghan. Infelizmente é tudo o que posso dizer agora. Nós estamos nessa.
― Não precisamos! Eles quem devem dinheiro, não nós.
― O fato é que eles não conseguirão fazer isso sozinhos, precisam de mais pessoas.
― E então eles estalam os dedos e nós vamos arriscar nossas vidas?
Ela respirou fundo.
― Tem certas coisas que você não entende, Meghan, e eu não a culpo. Só precisa saber que nós, a Athena's, iremos fazer isso. Cabe a você querer fazer ou não.
Abri a boca para falar, mas ela me interrompeu.
― Mas antes que diga não, lembre-se que fez um juramento. Lembra que conversamos sobre os perigos que tudo isso envolvia, somente eu e você.
Não consegui falar nada. Sim, ela havia me contado sobre o submundo das fraternidades, mas também me garantiu que não nos afetaria.
― Quando precisa de uma família, você faz tudo para mantê-la. ― Lily, a minha maior odiadora, disse, sem nem sequer olhar para mim. Ela estava sentada no sofá, reflexiva.
Eu voltei a olhar para Kat e vi em seus olhos que ela precisava fazer aquilo. Não sabia o motivo e talvez nunca soubesse, mas realmente havia feito uma promessa. E também precisava daquela família, assim como todas elas. Então aceitei, mesmo sabendo que me arrependeria pelo resto da minha vida.
Fiquei ainda mais enfurecida quando Kat anunciou que teríamos a primeira "reunião" com os Sinners na formatura da Columbia. Segundo Kat, seria a melhor oportunidade de estarmos em um mesmo ambiente sem causar desconfiança. Era normal sermos convidadas para esses eventos. E apesar das meninas aceitarem tudo o que Kat dizia, eu ainda discordava.
Não gostava daquela ideia, não gostava daquela aliança e sabia que coisas ruins poderiam acontecer se entrássemos mesmo naquilo.
Mas apesar da minha discordância, eu não tinha poder sobre o grupo. Terminamos em uma festa de formatura, vestidas de gala, prestes a nos encontrarmos com os Sinners em uma sala privada. Quando entramos na tal sala e vi Zack, senti meu estômago embrulhar.
Eu sabia que ele pôs os olhos em mim e assim ficou a partir do momento que entrei. A rápida troca de olhares que tivemos foi o suficiente para eu entender o que passava em sua cabeça: eu sabia de tudo, eu estava dentro daquele plano perigoso e sem sentido e nem sequer disse a ele.
Ouvi calada Logan falar sobre seu plano, quanto devia e o que tinha em mente para todos nós, me segurando para não gritar com todos eles o quanto aquilo tudo era um grande absurdo. Me segurei, fechando as mãos em punhos, ainda me sentindo pressionada com o olhar de Zack sobre mim. Quando Logan estava prestes a falar sobre as divisões de grupos que venderiam suas drogas, eu não me segurei.
― Foda-se isso. ― Gritei e saí da sala, batendo a porta com força, querendo mais do que tudo ir embora dali.
Passei por entre as pessoas, empurrando algumas, até conseguir chegar na parte de trás do local que era uma espécie de jardim. Apoiei as mãos nos joelhos, sentindo dificuldade em respirar e o coração bater forte.
O que era aquilo? O que eu estava fazendo?
― Meghan, espera.
Me ergui, ouvindo a voz de Zack bem atrás de mim. Eu rapidamente virei para olhá-lo. Ele estava sem terno, só com a camisa social, me olhando assustado.
― Por favor, não. ― Falei, arfando.
Ele se aproximou, tocando meu ombro.
― O que você tem?
― O que eu tenho? ― Tirei sua mão de mim. ― Você não vê o que está acontecendo?
― Vejo tanto quanto você.
― Você realmente está nessa, né?
― Tanto quanto você. ― Disse novamente, rindo. ― Você, na verdade, sabia mais do que eu.
― O que?
― Eu sou novo nisso, Meghan. Você e suas garotas já sabiam dos planos de Logan.
― Eu não... não assim. Kat nos contou, mas eu discordei desde o começo.
― Ótimo, é bom saber que alguém também discordou.
Franzi a testa.
― Se se sente assim, por que apoia o seu irmão?
― Não apoio.
― Você estava sentado lá, então claramente apoia.
Ele suspirou e passou a mão pelos cabelos.
― Eu não queria nada disso, Meghan, assim como você. Isso é errado, é perigoso e sei quantas coisas estamos arriscando por isso. Mas ele é o meu irmão, sempre esteve lá por mim, me protegeu quando mais precisei e quando tenho a oportunidade de fazer o mesmo por ele, simplesmente não posso dar para trás. Ele corre risco de morte. ― Franzi a testa. ― Sei que Kat não te falou isso, mas é verdade. O tal Knox traficante o ameaçou, por isso a pressa de conseguir o dinheiro. Se quiser cair fora, vou entender, porém eu não posso, por mais que queira.
― Não posso fazer isso com as meninas também. Elas me acolheram, Kat disse que precisava de mim e... ― Achei que ia ficar sem ar novamente, porém ele rapidamente se aproximou e segurou meu rosto com as duas mãos.
― Respire, calmamente. ― Ele fez o modo certo de respirar e eu repeti, sentindo meu coração ir desacelerando aos poucos. ― Isso mesmo.
Ele pôs minha mão em seu peito, me ajudando a respirar e sentir as batidas do seu coração. Abri os olhos vagamente, encarando-o, me sentindo menos nervosa.
Nem sei por quanto tempo ficamos daquela forma, tão próximos, com ele me ajudando a segurar uma crise de ansiedade. Porém encarar seus olhos e ver conforto, havia me deixado um pouco mais tranquila.
Ele voltou a segurar meu rosto, ainda mais próximo de mim.
― Eu prometo que nada de ruim vai acontecer com você enquanto estivermos nessa.
Não deveria, mas confiei nele. Algo mais forte do que eu gritava para confiar nele, porque, mais do que nunca, e em uma situação como aquela, eu iria precisar.
― Só tenho medo. ― Falei em sussurro.
― Eu sei, mas não terá o que temer.
Olhei para trás dele, bem em uma das janelas Kat nos olhava, cética. Na verdade, haviagelidez em seu olhar e eu entendi o que significava na mesma hora: era hora decomeçar com o trabalho sujo, sem tempo para emoções.
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