02| Terá que se acostumar
Capítulo dois
Quando chego na BMW, bato a porta com tanta força que me arrependo de machucar meu bebê. Mas a preocupação com o meu carro não dura nem por um milésimo de segundo, minha cabeça está ocupada demais digerindo as informações de mais cedo. A primeira coisa que faço quando sento no banco do motorista e apertar o volante com ambas as mãos, usando toda a força que tenho. Grito o mais alto que eu consigo, e não me importo muito com o fato de que eu possa ser ouvida do outro lado, já não têm muitas pessoas pela escola, são cinco horas e quem resta pela Colen High são apenas aqueles que ficaram até uns minutos mais tarde por alguma necessidade que o seu clube exigiu. Estou no meio de uma crise quando a porta do carro se abre. Imaginei ser meu irmão, mas é Mason.
Ele faz uma careta repuxando a boca para o lado ao me ver estressada.
— Fiquei sabendo sobre o teste e imaginei que estaria uma pilha. — diz, sentando no banco ao lado
Respiro fundo, controlando minha respiração e afrouxando o aperto no volante.
— Estou. Muito. Por isso eu preciso de toda a distração que você tiver disposto a me dar — falo, me virando pra ele.
Ele não me responde, só abre um largo sorriso e engancha a mão na minha nuca, puxando minha boca na direção da sua. Minhas mãos puxam os seus cabelos e me impulsiono para sentar no seu colo, um dos seus braços passa a rodear minha cintura e seus beijos descem, passando pela minha clavícula e segundos depois para o meu pescoço, onde Mason chupa a minha pele. Deixo os olhos entreabertos, mas logo volto a fechá-los. Quando levo minha mão para seu ombro e seu pescoço volto a abrir os olhos e noto uma vermelhidão na região, meus dedos passam pelo arranhão quase como uma carícia.
— Vem cá, você estava se agarrando era com uma garota da Colen High ou com a mulher-gato que não sabia controlar as garras? — perguntei, olhando a vermelhidão na pele dele
Mason gargalhou e levou ambas as mãos ao meu quadril.
— Tá tão ruim assim? Porque tá ardendo pra caralho
— Tá péssimo
— Então eu não quero nem ver as minhas costas — disse, o que despertou a curiosidade em mim, afasto um pouco meu corpo do dele, puxando sua camisa para cima, jogo o tecido no banco do lado e puxo o seu ombro com a mão, dando a mim uma visão das suas costas
— Minha nossa! Vocês são animais ou o que? Estou vendo mais vermelho que a própria cor da sua pele! Você tá horrível.
— Adoro sua sinceridade — fala com deboche, acabo rindo
Mas o momento descontração acaba assim que desço meu olhar para o seu peito nu, é óbvio que ele percebe a intensidade que a situação está tomando e me agarra outra vez. Com uma das mão na minha nuca, a outra vai subindo pelas minhas costas, por debaixo da blusa. Ambas as minhas mãos estão espalmadas no seu peitoral, mas uma delas vai até a sua costela, marcada pro arranhões e, propositalmente, passo as minhas unhas por lá, ele contrai o abdome.
— Isso é crueldade, gata — Mason resmunga contra a minha boca
A porta do carro se abre outra vez antes que continuássemos nossos beijos. Agora quem chega é o meu irmão, mas a garota atrás dele o empurra para trás e chama nossa atenção.
Ela, fulminando-nos com o olhar, fica alternando sua atenção entre eu e Mason, mas nós se quer nos incomodamos de mudarmos de posição.
— Você está me traindo? — ela pergunta indignada
— Quem é a maluca? — indago, encarando meu irmão
— Eu sei lá. Estava vindo pro carro quando ela apareceu do meu lado — responde, dando de ombros e sacando o celular do bolso, ele se encosta no carro ao lado ignorando a cena a sua frente
— Achei que estávamos juntos — diz de novo
— O que te fez achar isso? — Mason diz, franzino cenho, o tom já um pouco mais irritado, se tem algo que Mason Shaw odeia é esse lenga-lenga depois que fica com alguma garota
— Estamos nos saindo tem mais de uma semana — fala, como se isso explicasse o motivo de achar que eles estariam juntos
— Essa é a mulher-gato? — pergunto, olhando o anseio por sair logo dessa situação brilhando nos olhos de Mason
— Não, é outra
— Como é? — a ruiva pergunta com raiva
— Quando começamos um relacionamento, uhm? Não vem falar como se eu fosse o errado, posso ficar com quem eu quiser, Kira — Mason diz
— Eu... Eu tinha sentimentos por você e, — em três, dois, um e... — achei que sentisse o mesmo por mim — o drama sobe para um novo patamar, a um ponto no qual estou perdendo a paciência
Resolvo me meter na conversa, aliás, isso já está me cansando.
— Olha, amor, eu não tenho o dia todo! Beijos e até mesmo sexo não são pedidos de namoro. Supera! Vocês nunca aconteceram, se você se iludiu sozinha ou não, isso não é problema meu, o que eu sei é desde essas duas semanas que você se considerou em um novo relacionamento eu e Mason não paramos de nos encontrar, e eu garanto a você que não ficamos apenas conversando. Aceita, segue com sua vida e seja feliz — digo, não dando a mínima a situação
— Vocês se merecem — sua voz falha, antes de virar as costas a nós, a ruiva deixa uma única e solitária lágrima escapar
— Te devo uma — Mason se volta a mim assim que estamos a sós uma outra vez, considerando que meu irmão está em todos os lugares dentro dessa tela de celular menos aqui com a gente.
— Considere uma dívida paga pela distração que você me deu — digo, ele me dá um último beijo e saio do seu colo, jogando sua blusa em cima dele.
— Até amanhã! — diz, já saindo do carro
Lucas continua enfurnado no celular, até que eu buzino e chamo sua atenção.
— Não podia continuar com o seu drama por mais cinco minutos? Estava quase chegando na fase trinta e sete. Tudo está perdido por sua causa agora. Lide com essa culpa — diz, entrando no carro e me arrancando outro riso
— Acho que posso conviver com esse peso
— Você é um ser humano horrível — brinca, se esticado para me dar um beijo na bochecha — Como foi o treino?
Então, toda a raiva de antes volta e me acerta em cheio, meus dedos ficam cada vez mais brancos a medida que aperto com mais força do que devia o volante, e uma outra vez, mordo a bochecha
— Pergunta errada? — indaga inseguro. Não respondo — Nath, para com isso, por favor — Lucas fala de maneira mais suave, como se tivesse medo de que a qualquer momento eu fosse explodir e jogar fora tudo o que eu to sentindo, ele põe a mão na minha bochecha, acariciando ela em um pedido silencioso para parar de fazer isso, acabo sedendo e logo sinto o gosto metálico de sangue na boca
O caminho até minha casa foi o mais silencioso possível, nem mesmo o rádio estava ligado, eu não fazia questão de abrir a boca para dizer uma palavra sequer, e meu irmão, como sempre, respeitou o meu espaço, dando-me o tempo que preciso para enfim desabafar com ele. Quando estacionei, não desci imediatamente do carro, e sendo uma das poucas pessoas que sabem me ler com tremenda facilidade, Lucas ficou comigo, não moveu um músculo sequer, deixou que eu levasse o tempo que precisava para conseguir responder sua pergunta silenciosa.
Eu respirei fundo e me preparei para jogar fora tudo o que havia acontecido no treino de hoje e, admitir para a única pessoa que eu teria coragem, que eu estava tremendo de medo do resultado.
No geral, sou uma pessoa bem confiante, porque no fim das contas eu tenho todos os motivos para ser, mas, de qualquer forma, saber que a liderança de algo que eu me jogo de cabeça está ameaçada me deixa insegura de certo modo, principalmente por envolver Chelsi Parker, devo admitir que tenho sérios problema quando se trata dessa garota, e saber que ela é uma das minhas concorrentes contribui em cinquenta por cento do que eu estou sentindo agora.
Não quero perder a liderança, de modo algum, mas acima de tudo, não quero perder absolutamente nada para Parker, nem um mísero concurso.
— Chelsi consegui. — não estava olhando para o meu irmão, continuei encarando a vista a minha frente, pedindo aos céus silenciosamente que me acalmasse e voltasse a ter o controle das minhas emoções, afinal, eu sou muito melhor que qualquer uma das minhas concorrentes, só que no momento, parece que isso não importa, porque o sentimento de insegurança, pouco conhecido por mim, ainda está presente — Vão fazer um novo teste a capitã das líderes de torcida. Eu, a víbora e Cora Adams
— Tá legal, e por que você está preocupada?
— Não sei, acho que estou com medo de alguma forma perder o que eu conquistei, sabe com aquilo é importante pra mim
— Eu sei, assim como sei que você é a melhor de todas ali. — ele puxa meu rosto para que possa olhá-lo nos olhos — E não falo isso por que sou seu irmão, estou falando porque já vi todas vocês. Esse teste só vai confirmar o que eu disse
Sorrio.
— Obrigada — murmuro e o abraço de mal jeito
Assim que chego, procuro não pensar no que aconteceu pela tarde, e tento de todas as formas focar num exercício de inglês, é extremamente fácil, mas pela cabeça cheia levo mais tempo que o necessário para responder. Na hora da janta comemos mais tarde que o normal porque esperamos meus pais chegarem, na maioria das noites jantamos juntos, uma forma de compensar o dia atarefado que nos tivemos e mal olhamos uns aos outros.
— Precisa de alguma coisa para o treino a capitã? — meu pai pergunta, levando o garfo a boca, acabei de contar a eles sobre o treino estressante de hoje
— Não, quero fazer tudo, os ensaios, coreografia. Quero todos os créditos quando tiver ganho essa porcaria de teste — respondo convicta
— Cadê a semelhança com o seu pai? — minha mãe diz com sarcasmo e revira os olhos, eu rio fraco
— Ah, na verdade, preciso de algo sim. Quero um espaço para treinar. Aqui em casa fica apertado e prefiro usar a rua que a quadra da escola — digo, terminando de comer e passando o guardanapo pela boca, voltando a deixá-lo no meu colo
— Procure um lugar, pode deixar que eu pago — meu pai fala e começo uma lista na minha cabeça dos lugares que posso alugar temporariamente
— Hm, mas não abuse da nossa boa vontade — minha mãe reforça, mas abre um sorriso em concordância com papai
— Tudo bem, valeu mesmo! Amo vocês — digo me levantando com um sorriso nos lábios — Dia longo, eu estou meio cansada, vou subir logo, tudo bem? — com acenos de cabeça, dou um beijo na bochecha em cada um dos meus pais e em Lucas, subindo as escadas com pouca pressa
No quarto, a primeira coisa que faço é abrir o notebook para começar a minha pesquisa de alguns locais. Meia hora depois, Lucas dá duas batidas na minha porta já aberta e se deita ao meu lado antes que eu dê a permissão de entrar no quarto.
— Por que não treina na academia?
— Lá não tem espaço livre, Lucas — digo o óbvio, ainda focada na tela de pesquisa que não me mostrou um resultado satisfatório até agora
— Tem sim. Lá tem um sótão, só que ninguém usa, já fui lá uma vez. É espaçoso, ventilado e bem iluminado, a única coisa que tem lá é um pequeno armário e um saco de bater
— Sério? Eu malho lá a mais de um ano e não sabia disso, como descobriu o lugar? — indago, sentando-me com o notebook no colo, Luca continua deitado, mas tira o aparelho de mim e põe apoiado nas suas pernas, usando as minhas como travesseiro para a sua cabeça.
— As vezes eu fico pra fechar a academia. Acabei me aproximando do dono um pouco, assim a gente ainda economizava, acho que a mamãe até soltaria fogos de artifício por isso
Eu rio, não duvidando disso. Minha família ganha muito, o suficiente para manter os luxos de cada um nessa casa, que não são poucos, e ainda sobrar. Mas acho que o fato de mamãe ter uma infância difícil principalmente em questões financeiras faz com que ela sempre queira economizar o máximo possível e, as vezes, até desnecessariamente, sendo completamente oposto de papai, que faz questão de ter ou nos dar qualquer coisa, não importa o preço, sempre que pode.
— É uma boa, acha que consegue? Arrumar aquele canto pra mim? É só até terça-feira, no máximo até quarta de manhã, caso eu decida faltar aula pra treinar mais um pouco antes do teste — penso sobre essa última hipótese, é bem provável que faça mesmo isso, ou não, quero provar a qualquer um, principalmente a Chelsi e Cora, que estou mais que preparada para qualquer concorrência que aparecer
— Acho sim, ele está me devendo pelas vezes que salvei a pele dele quando fechei a academia. Posso falar com ele amanhã.
— Acha que posso começar logo amanhã também? Não quero perder tempo, tenho que ver a música, os passos, encaixar tudo com a batida, e a Mellissa ainda quer ver as "novidades que traremos a equipe como capitã" — faço aspas no ar ao flexionar o dedo médio e o dedo indicador juntos
Lucas acabou dormindo comigo na cama e, no outro dia, fui forçada a acordar mais cedo para deixá-lo na oficina. Passei toda a aula pensando na minha música e coreografia. Quero algo agitado, mas que deixe claro cada movimento meu, quero algo leve mas preciso. E acima de tudo, quero deixar a minha marca em cada um que irá ver minha apresentação. O dia passou se arrastando, Megan não veio a aula hoje, nem Lee, parece que ele e Cora discutiram por causa do ciúmes doentio do jogador por ela. Hoje não tenho treino, na verdade os treinos são apenas segunda, quarta e sexta. Temos dois dias livres, que são usados para aquelas que se candidataram a outros clubes e atividades extracurriculares da escola.
Na última aula, de biologia, Noah se senta ao meu lado, há um sorriso esboçado no seu rosto e por um momento penso em revirar os olhos, hoje em especial, ver a felicidade das outras pessoas está me incomodando, mas sei que o sorriso direcionado não é exatamente por está feliz, o sorriso é direcionado único e exclusivo a mim. E gosto disso, gosto de saber que ele sente algo por mim, mesmo não sentindo nada por Noah, mas saber que há pessoas que fariam de tudo por você é demais! Além, é claro, da sensação de ter alguém gostando você.
— E aí? Como está com o teste? — pergunta e, inconscientemente, acabo revirando os olhos, sendo dessa vez, inevitável controlar
— Parece que ninguém mais sabe falar de outra coisa além disso — digo já irritada por aquela ser, no mínimo, a sétima vez que ouço a mesma pergunta — Está indo tudo bem. Tenho tudo sob controle.
— Ok, você não quer falar disso, entendido! — ele diz, e parece pensar em outro assunto — Você vai à festa do Jake no sábado?
— Não sei, se não estiver muito ocupada com os treinos vou passar por lá — digo, apesar de tudo, eu realmente iria a festa, se estivesse adiantada com o teste, é claro.
A aula começou, encerrando a conversa entre nós dois. Dou graças quando enfim o horário de aula acaba, a cada passo em direção ao meu carro é um alívio no peito, que é interrompido quando Lucas me para em frente à escola.
— Tudo certo! Consegui o espaço pra você — ele ergue a chave, segurando-a entre os dedos, com um sorriso imenso no rosto eu a pego — Cuidado com isso, não vai perder. Ele disse que você pode ficar o tempo que precisar, mas se sair por último não se esquece de fechar tudo.
— Pode deixar! Obrigada. Obrigada. Obrigada. — pulo em cima dele e passo os braços ao redor do seu pescoço, tão feliz que acabo rindo, ele me abraça de volta — Amo você! — grito me afastando e, agora, quase correndo para o carro
Antes de chegar à academia, passo numa loja para comprar um copo grande de suco e umas barras de cereal, não planejo sair daquele sótão nem tão cedo e preciso de suprimentos para não acabar passando mal de fome, além do mais, se quero ir mesmo bem, preciso estar com um bom condicionamento físico e energia suficiente.
Eram três e meia quando achei a escada na ala vazia da academia, bem nos fundos. Não parecia empoeirada e nem nada como achei que seria, na verdade, quando entrei pela estreita porta de madeira e olhei ao meu redor tudo parecia limpo e organizado, a minha frente havia uma grande janela de vidro, tão grande que quase ia do chão até o teto, a única coisa que tinha por aí era um saco de pancadas. Lucas estava certo, o lugar é vazio e espaçoso.
— O que tá fazendo aqui?
Ou ao menos era.
Me viro de uma vez na direção da voz, tomando um leve susto mas logo tratando de disfarçá-lo, dou de cara com um aluno da Colen High, eu não sei seu nome, mas tenho certeza que ele anda com o arrogantemente que defendeu Amy Oslen — sim, depois do incidente com a roupa de Megan, aprendi o nome dela. O cara a minha frente estava suado, sem camisa, com as mãos cheia de esparadrapo e exibindo um lindo abdome, por um momento eu me distrai, mas a realidade me deu um tapa na cara e voltei ao mundo, abandonado a visão tentadora a frente.
— Que merda está fazendo aqui em cima? — ignorei sua pergunta, e fiz a minha própria, como se aquele lugar fosse meu a anos e não emprestado por uma semana
— Perguntei primeiro. Essa parte da academia não é aberta a clientes. Vaza! — reviro os olhos diante de tamanha grosseria
— Acontece, amor, que eu tenho permissão para usar o espaço para os meus treinos até quarta feira. Se alguém precisa sair daqui é você.
Ele fecha o armário azul minúsculo com força e se aproxima a passos duros e rápidos, o som da sua grosseria com o pobre armário ainda ecoa pelo lugar, e eu assumo uma postura entediada mesmo sem querer, não estou com tempo para dramas de garotos malvados.
— Não tem permissão não. Quem disse isso a você?
— Olha, eu não sei quem você é e não me importo também. Mas meu irmão falou com o dono que cedeu o espaço pra mim, e estou precisando muito dele para ficar perdendo tempo discutindo com você
Ele não me respondeu, pegou a mochila que estava em cima de um largo banco de madeira, ao lado do armário, e sacou o celular de lá, demorou alguns minutos até ele conseguir falar com quem quer seja.
— Pai? — teve uma pequena pausa até ele continuar — É, já descobri — então ele olha rapidamente para mim e volta sua atenção para a parede sem graça do lugar, mas, ainda assim, como um conjunto da obra, o lugar é bem bonito, claro, se tirasse as coisas babaca ao lado — Não podia ter me avisado antes? — então entre longas pausas, palavras sistemáticas e suspiros frustrados, ele finalmente parece aceitar — Tá. Tudo bem, uma semana! — ele joga o celular sobre a mochila e me encara outra vez. — Nem pense em atrapalhar minha série.
— Nem pense em atrapalhar os meus ensaios — digo, e começo a ignorá-lo por completo. Ignorar sua presença, sua beleza e, acima de tudo, o barulho irritante que as correntinhas que penduram o saco de bater fazem toda vez que se movimenta por um soco ou chute que ele acerta
Ainda estou sentada no chão, as pernas meio esticadas meio flexionadas e um pé quase encostando no outro, com os fones de ouvido e a bolsa da equipe de torcida ao lado, procuro por uma música que me agrade, que possa chamar atenção, combinar com os passos em que tenho maior talento e que passe o que eu quero. Antes de subir, havia passado no banheiro e trocado a roupa por um short e cropedd com mangas longas, e claro, tênis confortáveis para que possa começar com, pelo menos, alguns passos.
Solto um grunhido alto e frustrado quando estou a mais de vinte minutos perdendo tempo ao tentar achar uma música que se encaixe nas minhas exigências. De relance, vejo o carinha olhar para mim, um sorriso brinca nos seus lábios. Ele está mesmo se divertindo com o meu sofrimento?
Então, como se o universo quisesse que eu mostrasse a ele que ninguém se divertia as minhas custas, a próxima música a tocar entrou em exatamente tudo o que eu queria, eu podia ver a coreografia na minha cabeça passando como um clipe de música. Aquela era o som perfeito para eu arrasar naquele teste, em todos os sentidos da palavra. Exibo um largo sorriso e me levanto de uma vez só do chão. Tiro a caixa de som da minha bolsa, conectando com meu celular, e deixo ambos ao lado da parede em que há a enorme janela.
Os primeiros acordes da música começam a tocar, balanço levemente a cabeça e bato o pé no chão repetidas vezes para me encontrar no ritmo. Repentinamente, de modo automático, meu corpo assume os movimento por si próprio. Eu dou passos largos para frente, quase como as tivesse desfilando, mas também novo a cabeça para o lado segundo o ritmo da música, no segundo seguinte, ponho o meu braço na frente do corpo e o puxo, como se tivesse carregando algo, faço isso com ambos antes de começar uma série de movimentos rápidos, ainda com os braços para depois virar de lado, mexer o corpo, e levar a cabeça aos pés, aproveitando-me da elasticidade que possuo. Eu amo essa sensação que a dança traz, por um segundo, há só eu no mundo. Eu, uma música, e um espaço no qual eu sou totalmente eu, Natasha Moore sem filtros, camadas ou que quer que seja.
Em algum momento da música estou no chão e, ao me levantar, mexo brevemente os braços e imito armas com as mãos, tendo precisos movimentos assim como pede a melodia, ainda de frente para meu público, curvo a minha coluna para trás e ponho a mão no chão, entregando-me a ele outra vez, apesar de logo estar de pé de novo. A música muda a batida e eu paro, sabendo que não posso mais continuar com os movimentos naquele mesmo ritmo, meu cérebro busca por passos que se encaixem nesse momento da música, então, como antes, eu curvo a coluna e ponho a mão no chão, só que agora ambas me apoiam enquanto eu levo as minha pernas para o outro lado numa espécie de estrelinha, deixo a música correr por estar pensando no que fazer a seguir, e no fim dela, consigo encaixar vários giros seguidos de um mortal, o que é extremamente típico de apresentações de torcida, saltos em geral.
Não é muito a minha praia, mas por uma questão de gosto, afinal sou ótima realizando acrobacias. A questão é que desde pequena, bem pequena, frequentava aulas de dança contemporânea, sai apenas por conta da instituição ter fechado, foi quando realmente foquei na torcida, desde então, saltos não são problemas para mim, mas prefiro mil vezes quando temos coreografias voltadas para a minha área.
Só que não posso esquecer que preciso por uma coisa ou outra de acrobacia nessa coreografia, afinal, o teste é sobre ser capitã das animadoras. Rebobino a música e refaço o salto de segundos atrás, para ver se farei alguma mudança ou não, eu mal pouso no chão e começo a desenvolver outro passo, nem chego ao final e já sou interrompida.
— Vai mesmo ficar com essa música tempo todo?
Paro a dança na mesma hora.
— Se não deu para notar estou ensaiando uma coreografia, e a música é um elemento crucial para isso
— Estou treinando. Sua música me atrapalha — reclama, me controlo para não demonstrar o desgosto nas minhas feições, mas não sou tão boa atriz assim
— Acho que terá que se acostumar. — digo e ligo a música outra vez. Pondo do início, decidindo e refazer tudo o que já tenho
Ao longo do ensaio, paro apenas uma vez para comer as barrinhas que comprei e beber meu suco antes que fique ainda mais quente, se é que possível.
Algum tempo depois que anoitece, o garoto emburrado com quem estou dividindo o sótão vai embora, fico por mais um tempo, indo embora perto das nove e meia.
No sábado à noite eu já tinha toda a coreografia pronta, terminei de montá-la de manhã, quando a primeira coisa que eu fiz ao acordar foi ir treinar, então decidi dar a mim mesma um descanso e fazer a famosa média social ao ir à festa do maior babaca da que a Colen High já viu.
Estou pondo um par dos meus saltos louboutin quando minha mãe aparece ao meu lado, ela põe as mãos nos meus braços e apoia o queixo no meu ombro, analisando-me no espelho.
— Você está linda, meu amor!
— Obrigada, mãe
— Mas — ela começa com o tom afiado e já sei o que esperar —, não a vejo a tanto tempo que estava quase me esquecendo que dei à luz a gêmeos — repreende eu estar tão sumida em tom de brincadeira, mas eu sei que, no fundo, no fundo, aquela brincadeira é bem seria
— Desculpa. De verdade. — Sorrio, virando para ela, com o movimento, ela arruma uma mecha do meu cabelo — É só que estou muito focada no teste, e...
— Eu sei, pode ficar tranquila, vou deixar passar. Dessa vez. — ela dá ênfase na última frase — Por causa do teste, mas na quarta feira eu quero você jantando com a gente na mesa
— Pode deixar! — dou um beijo na sua bochecha, afastando-me para já sair de casa outra vez — Vou a festa do Jake, tudo bem?
— Não chegue tarde — pede, dando-me a deixa de sair logo
— Tá legal — respondo da porta
— Estou falando sério — grita para que eu possa ouvir, e das escadas, eu respondo, em outro grito:
— Eu sei
Estaciono a algumas casas atrás da quase mansão de Jake, a rua está cheia de carros e as calçadas lotadas de pessoas que eu conhecia a maioria apenas de vista. A medida que as pessoas me cumprimentam, eu retribuo com mínimos sorrisos, puxo um pouco a saia para baixo e enfim entro na casa, o barulho é quase insuportável, uma mistura do falatório de cada um e a música de péssimo gosto do jogador. Rachel me encontra no assim que chego.
— Ei, achei que não vinha — fala, me dando um abraço rápido
— Não perderia uma festa, você sabe, Chel!— digo e analiso rapidamente o ambiente — Onde está Megan? — pergunto por estranhar ver as duas separadas, normalmente, vivem grudadas uma na outras
— Não sei, disse que ia pegar mais bebida e sumiu — ela grita, bem próxima do meu ouvido
Rachel me puxa para o canto onde quase todos do grupo estavam. Noah em pé, sorrindo para mim como sempre, Jake e Mason no sofá com uma garota, ambos praticamente a comiam ali mesmo, sinto a necessidade de revirar os olhos quando vejo que um estava beijando-a na boca e o outro se concentrava em explorar o corpo da morena. Cora e Lee também estavam por ali, abraçados, seja qualquer que fosse a confusão, desde sexta eles pareciam estar em paz um com o outro, ou só queriam manter as aparências e fingir que estavam bem. Chel já estava bem bêbada e aposto que isso tem a ver com Megan, a garota é viciada em bebida e não seria a primeira vez que arrastaria a amiga junto quando fosse encher a cara.
— Ei, você veio! — Noah me abraça, seu olhar desceu para o meu corpo e quando subiu outra vez para o meu rosto, ele estava sem jeito, meio desconfortável eu acho
Sinto vontade de perguntar a ele como é a sensação de ter a garota que você gosta tão gata quanto estou agora, mas não falo nada, Noah sempre fez tudo o que queria, e talvez ele se sinta constrangido com a pergunta direta.
Passo alguns minutos conversando com eles, estava até conseguindo relaxar e ficar com bom humor em falta nessa semana cansativa, mas meio que tudo evaporou rápido demais quando Cora me perguntou se quero dançar. Sinto vontade de rir, a garota que está competindo comigo querendo a minha companhia para dançar? Fala sério.
— Não, eu passo — falo, tentando ao máximo manter a faixada de boa amiga, a mesma que ela está usando agora — Não danço essas músicas ruins do JJ
JJ era como chamávamos Jake as vezes, por causa do seu nome e sobrenome, Jake Joseph.
— Desculpa não agradar você, majestade — e como se soubesse que eu falará dele, JJ aparece bem a minha frente, fazendo uma reverência estúpida, até que causou um burburinho entre as pessoas em volta que riram da cena, mas o fato de ser Jake ali me tirou completamente do sério
Quando percebi que ele ficaria com a gente, automaticamente mudei de ideia sobre a dança, eu preferia engolir a companhia de Cora Adams do que ficar com o cara que tentou me agarrar enquanto estava bêbado. Sorte a dele que não conseguiu nada, porque eu juro que se Joseph tivesse roubado ao menos um mísero beijo de mim, ele estaria muito fodido.
— Quer saber, estou precisando mesmo de uma dança. Vamos? — indago, olhando para Cora e Rachel.
As duas me seguem, mas não vamos direto para o meio da sala, onde há a improvisada pista. Como estou liderando o caminho, direciono-me para as caixas de som e elas param logo atrás, eu desligo o celular de Jake, que está ligado ao fio do som, e não conto nem dois segundos para os murmúrios de reclamação que começam.
— Senhoras e senhores, preparem-se para a música de verdade — grito, chamando a atenção de muitos ali, que pararam de reclamar no mesmo instante que me viram, comprovando o que disse, plugo o cabo no meu celular e ponho minha playlist de música
— É muito abusada mesmo — ouço a voz de Jake, isso provoca algumas risadas, mas logo o ambiente é preenchido pelas novas batidas e meu corpo vai se movimentando automaticamente
Nós três nos aproximamos do centro da sala e as pessoas abriram espaço para que possamos dançar. De relance, olhei para Cora, que se movimentava com graciosidade e leveza. Foi então que decidir acabar com ela não só no teste a capitã, mas na pista de dança também, porque alguns dos olhares que eram para ser meus, estavam indo a ela.
Levo minhas mãos aos meus pés, fazendo meu cabelo se movimentar, e subo lentamente, a maioria dos olhares já estavam em mim de novo, movimentando todo o corpo ao passo da música, mantive esse ritmo até cansar e parar de dançar.
Acabei me sentando no sofá para recuperar o fôlego, e no exato momento Noah apareceu ao meu lado, sentando no braço do estofado. Ele estende um copo pra mim, que eu pego e levo a boca sem nem mesmo saber o que é, estou com tanta sede que nem me importei, só depois descobri que era cerveja, quando bebi quase todo o copo.
— Você quer que eu pegue mais? — pergunta
— Ah, não! Estou dirigindo, não posso passar disso
— Você foi incrível! — entrego o copo vermelho a ele, que passa a segurar para mim, ele leva o dedo indicador na duração da pista para contextualizar o que disse — Dançando, quero dizer. Você tem muito talento
Sorrio.
— Obrigada, Noah!
Ele sorri, como se o fato de agradecer um elogio e chamá-lo pelo nome fossem grandes coisas que mudassem o seu dia, por um pequeno momento eu acho mais fofo do que irritante. Eu analiso o half-back dos wild wolves e me pergunto o que poderia acontecer que faria eu me arrepender de dormir com Russel essa noite.
— Se pudesse fazer qualquer coisa comigo, o que seria?
Eu quase rio da surpresa explicita no seu rosto e dos olhos arregalados.
— Eu, é... Eu provavelmente... — Noah ri envergonhado consigo mesmo e cora, é inevitável sorrir ao ver suas bochechas rosadas — Qual é, Nath, não me faz responder a essa pergunta
Concordo com a cabeça, dispensando qualquer explicação sua, mas me aproximo dele e ponho a mão na sua nuca, puxando-o para um beijo. Antes de retribuir, ele parece surpreso de novo, apenas quando parece entender o que está acontecendo é que me beija de volta.
Ele era, além de Jake Joseph, um dos únicos jogadores do futebol que ainda não tinha ficado nenhuma vez, e eu me pergunto o porquê disso.
No meio do beijo consigo sentir seu sorriso e o aperto na minha cintura. Seu beijo é bom. Muito bom, principalmente agora que ele está saindo do estado de choque e se soltando mais.
Só que eu apostaria mil dólares como, para ele, o beijo está sendo melhor, porque eu sei que envolve seus sentimentos enquanto da minha parte há apenas a pura atração. Por um momento me sinto mal por estar me aproveitando do que ele sente por mim para beijá-lo e dar a ele alguma esperança, mas então sua mão desce mais um pouco e ele que puxa meu lábio inferior com os dentes, fazendo meus pensamentos pararem aonde quer que estavam e, sem me importar com ele ou mais ninguém, foco apenas no que eu quero.
E, no momento, eu quero Noah Russel.
> 1° responsabilidade emocional é importante, tá amores? Procurem sempre ter ela com os coleguinhas. 2° se valorizem meninas. Não deixem um cara babaca pisar em vocês ou não tratá-las como merecem, porque vcs merecem o melhor!
> Apesar de ser só mais uma postagem esporádica por simples vontade de publicar o capítulo dois eu já posso afirmar com certeza que BG estreia entre o início e o meio de 2020!!!
> Comentem sobre tuuuuudo o que vocês acharam do capítulo, da apresentação dos novos personagens e o aprofundamento dos que já apareceram antes
> E por fim, não esqueçam de me seguir no Instagram, onde tem vaaaarios edits, spoilers e eventualmente as coreografias de dança da Natasha e uma amostra de cada capítulo, seja um vídeo engraçado comentado na história ou uma foto publicada por alguém, além das notícias que podem encontrar sobre BG.
Beijoooss!!
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