Capítulo 38.2
HARRISON FLINT
Fui jogado para fora do carro, posto de joelhos no chão e então, o saco preto foi retirado da minha cabeça. Olhei em volta, tentando me situar, e percebi que estava em algum tipo de galpão. Minhas mãos estavam algemadas nas minhas costas.
— Que honra estar na presença do famoso Harrison Flint. — A mesma voz feminina de antes falou, e logo, uma mulher entrou no meu campo de visão, caminhando até a minha frente.
— Que pena eu não poder dizer o mesmo, já que não tenho a menor ideia de quem você é.
Ela sorriu, se abaixando à minha frente. Ela tinha a pele branca e olhos azuis profundos. Deveria ter uns trinta anos, e tinha o cabelo preto preso em um rabo de cavalo alto. Minha mente me dizia que eu já havia visto essa mulher em algum lugar, mas eu não conseguia lembrar de onde.
— Vamos continuar assim. É mais seguro para você. — Ela segurou o meu rosto, apertando as minhas bochechas. — Não queremos estragar esse rostinho. — Puxei o rosto para o lado para escapar do seu toque e ela riu, se afastando. — Aposto que está morrendo de curiosidade para saber quem somos. Nós também sentimos o mesmo quando descobrimos você.
— Se importa de esclarecer o que está acontecendo? — Bufei, cansado dos seus joguinhos com palavras. Não eram meramente mais divertidos que os com a Isabella. — Quem é você, porra?
— CIA.... "porra!". Está bom para você? — Debochou, enquanto eu precisei de alguns segundos para que a minha alma voltasse para o meu corpo.
Polícia, FBI, e agora... inferno, a CIA? Ou eu iria morrer ou eu estava fodido. Tudo de ruim que havia no mundo esses caras eram capazes de fazer... ou no caso, essa mulher. Engoli em seco. A minha situação só piorava.
— Ainda não está claro o que querem comigo.
— Queríamos o Brad Crawford. Na verdade, nós já tínhamos o Brad Crawford, estávamos com ele na nossa mão naquele baile, mas aí... boom! Ele aparece morto. Incendiamos aquele local e cobrimos a nossa presença o quanto pudemos, mas definitivamente... não gostamos de quem rouba os nossos trabalhos.
E então eu finalmente me lembrei de onde a conhecia. Era ela. A mulher que estava se esfregando no Brad durante o baile. A mesma que eu pedi para que Isabella afastasse para que eu pudesse sair do salão com ele e matá-lo. A CIA estava presente naquela desastrosa noite... era como se uma a peça perdida de um enorme quebra-cabeças estivesse se encaixando.
— Vocês iriam prender o Brad?
Ela fez uma careta.
— Prender, torturar... na nossa linha de trabalho, isso se torna uma linha tênue. O negócio é, Brad era peixe pequeno em todo esse lance. Queremos os cabeças por trás de tudo, e temos certeza de que teríamos conseguido se não fosse por você.
— E por isso estou aqui? Vocês vão me matar por vingança ou algo assim?
— Vingança é superestimada. Trabalhamos com fatos e informações, Harrison. Conseguimos a informação de que Charles Crawford está atrás de você, e para conseguir chegar até ele, chegamos até você primeiro. Se Bradley era peixe pequeno, o seu pai já é um baita tubarão. Mas não se preocupe, não vamos te machucar ou deixar que Charles te machuque. Não somos selvagens. Assim que conseguirmos o que queremos, a gente te solta... ou algo do tipo.
— Algo do tipo? — Eu ri, sem humor.
— Quero dizer, você ainda é um assassino de aluguel bastante ocupado. Seria burrice não fazer essa prisão, não acha?
— É claro. — Assenti e respirei fundo para não deixar transparecer toda a minha raiva.
— Que bom que entende.
E então o saco preto estava de volta sobre a minha cabeça. No entanto, não me deixei abalar. Eu não morreria hoje. Não enquanto Isabella estava à minha espera no apartamento. Era nela e em voltar para ela no que eu mais pensava.
Quando voltei a ouvir barulhos de pegadas ao meu redor, me concentrei para escutar quantas pessoas era. Três, se contei certo. O eco dos passos pesados preencheu o galpão abandonado, enquanto eu permanecia ajoelhado no centro, algemado, e logo, cercado pelos agentes. Eu sentia o frio do metal contra os meus pulsos, me lembrando das minhas limitações, mas mantive minha expressão impassível quando o saco preto foi novamente retirado da minha cabeça. Um dos agentes se aproximou, sua arma atrelada ao coldre em sua cintura brilhava como um diamante demandando minha atenção, mas eu ainda precisava de um plano.
O homem me lançou um sorriso de desprezo e caminhou até uma mesa com computadores. Então, a mesma mulher de antes apareceu na minha frente.
— Poderia retirar as algemas, por favor? Minhas mãos estão dormentes. — Pedi, usando o máximo de inocência que eu tinha presente em meu corpo, o que já não era muito.
— Harrison... qual é? — Ela sorriu.
— Não estou mentindo ou tentando nada... pode me algemar novamente com as mãos pra frente, se assim preferir.
O sorriso em seu rosto desapareceu e ela continuou me olhando séria, pensativa, então, finalmente tomou uma decisão.
— Só para você não sair espalhando por aí que a CIA é desumana. Fale bem de nós durante o seu julgamento.
Ela se abaixou atrás de mim e abriu as algemas, ficando de pé para vir se abaixar na minha frente. Estiquei meus braços para estimular a circulação, e então pus minhas mãos juntas novamente na frente do meu corpo para que ela voltasse a me algemar.
— Viu? Não sou tão doido. — Ironizei, vendo-a se levantar.
— Bom garoto. — Ela sorriu e fez um carinho "de cachorro" no meu cabelo.
Ignorei o ato, e assim que ela me deu as costas, agarrei suas pernas e a puxei com tudo para trás, derrubando-a em cima de mim, e assim, conseguindo escapar dos eventuais tiros que logo preencheram o galpão. Tateei o seu corpo em busca da sua arma, enquanto ela gritava.
— NÃO ATIREM EM MIM SEUS IDIOTAS!
Ela lutava com todas as suas forças para se soltar de mim, me acertando com golpes que doíam pra caralho, mas assim que consegui retirar a sua arma do coldre, pus o meu dedo no gatilho e atirei na sua cintura. Os golpes pararam, mas eu sabia que ela não estava morta, e me aproveitei disso, apontando a arma para a sua cabeça quando os outros agentes eventualmente se aproximaram.
— Abaixem as armas ou eu atiro nela.
— Atire nele. — Ela rosnou. — Diego, atire nele!
— Não! — Um dos agentes gritou. — Você não vai arriscar a vida da minha esposa, caramba!
— Larguem a porra das suas armas no chão e todo mundo saí daqui vivo, eu prometo! — Falei, autoritário.
E mesmo relutantes, principalmente o tal de Diego, os dois agentes foram lentamente abaixando as suas armas.
— Não, não, não, caralho! — A mulher rosnava, irritada.
E assim que as armas deles alcançaram o chão, e eles deram um passo para trás, mirei a arma na direção de cada um deles e atirei. Dois headshots certeiros. O corpo deles caíram no chão com milésimos de segundos de diferença, e logo, eu empurrei o corpo da agente para o lado para que ela saísse de cima de mim e eu pudesse levantar.
— Você prometeu... — Ela tentou argumentar enquanto agonizava de dor por causa do tiro em sua cintura.
— Eu menti. — Ergui a arma na direção dela para que ela não tentasse nada.
— Pensei que não fosse doido. — Ela tentou rir, mas acabou tossindo sangue. — Acha mesmo que vai conseguir viver normalmente depois de matar três agentes da CIA?
Fui até onde os outros agentes haviam largado suas armas e peguei uma delas, checando se ainda estava devidamente carregada.
— Acho que posso tentar. — Dei de ombros. Eu não tinha muita escolha.
— Então você de fato não é doido, mas sim, burro. Nossa agência não vai deixar isso passar, Harrison!
— A CIA que entre na porra da fila, então! — Respondi friamente, puxando o gatilho.
Respirei fundo, ofegante, mas triunfante, e observei todo esse caos à minha volta. Eu estava vivo, era isso o que importava por enquanto. Fui até o corpo da agente, e a virei de lado, enfiando os meus dedos na ferida em sua cintura para retirar de lá de dentro a bala que eu havia usado. Não senti nada, e ao virar o corpo para o outro lado, percebi o porquê: a bala havia saído. Usei a arma do outro agente para dar um tiro no mesmo local da primeira ferida, e então, fui procurar pela bala perdida pelo galpão.
Fui até onde nós estávamos caídos, e calculei algumas opções de direção de onde essa bala havia ido após passar por dentro dela. Fui até uma das colunas do galpão para onde um dos ângulos estava apontando e encontrei a bendita bala alojada lá. Tirei ela dali com certa dificuldade, e depois me afastei alguns metros e usei a arma do agente para alojar uma bala no exato mesmo local que a anterior. Minha mira estava boa, então não tive qualquer dificuldade.
Com sorte, toda essa merda seria lida como um tiroteio entre eles mesmos, sem interferência externa, e sem sorte, bem.... muito em breve eu estaria fodido. Mas eu não tinha tempo nem disposição para pensar sobre isso agora. Fui até o corpo de um dos agentes, tirei as luvas que ele estava usando e as coloquei. Apaguei o meu nome de todos os computadores, já que se eu quisesse que esse plano funcionasse, eu não poderia simplesmente me livrar deles. Limpei as digitais das armas, e então, fui até os corpos para colocar as digitais deles de volta em cada pistola e posicioná-las em suas mãos como um toque final. Por fim, eu dei o fora dali.
O galpão estava no meio de um campo na porra do fim do mundo. Para todos os lados que eu olhava eu não encontrava nada além de terra e árvores, no entanto, o clima congelante e o céu nublado característico me disseram, ou melhor, garantiram que eu ainda estava na Inglaterra. Com sorte, eu ainda estava em Londres. Sem sorte... bem...
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