Capítulo 25
ISABELLA MARTINS
Fingir namorar o Noah, por mais divertido que fosse às vezes, tinha o seu lado ruim. Eu estava em uma lanchonete, rodeada por caras bonitos e vamos dizer que... da minha idade, mas não poderia ficar com nenhum na presença de Kaylin, pois não poderia correr o risco de arruinar tudo para Noah.
Connie's era um lugar muito movimentado, principalmente na sexta-feira à noite. Vários alunos haviam vindo pra cá assim que largaram e todas as mesas do lado de dentro estavam ocupadas. Kaylin e eu tivemos que ficar do lado de fora, na lateral do lugar, sentadas na traseira do seu carro. Outros alunos também estavam aqui fora, um deles inclusive tinha o som do carro ligado e uma música de trap estava tocando. Eu pensei que ficaria nervosa, fazer novas amizades nunca foi fácil, mas depois que a conversa começou, foi até normal de socializar com todos ali. É claro que, eu ter entrado para as líderes de torcida ajudava bastante, assim como o sobrenome "Flint", todos pareciam querer me agradar agora, era até um pouco incômodo, mas pelo menos eu não seria a garota sem amigos dessa vez.
Não demorou para que Noah chegasse de carona com Dean, estacionaram ao lado do carro de Kaylin e vieram até nós, Dean beijou de forma empolgante a namorada, enquanto eu apenas abracei o Noah.
— Preciso falar com você. — Ele sussurrou em meu ouvido.
— A gente volta já. — Avisei a Kaylin e Dean.
Noah me levou para um beco que ficava na parte de trás da lanchonete, e assim que teve certeza de que não havia ninguém por perto, começou a falar.
— Eu fiz o que você falou, estou ignorando completamente a Kaylin há uns três dias. — Contou, animado.
— O que? Completamente? Eu não disse isso! — Olhei pra ele desesperada.
— Como não? Você disse que garotas gostam do que não podem ter. — Me olhou confuso.
— Do que não podem ter, não do que é inacessível, Noah! Não era pra você ignorar ela completamente, apenas no caso de ela querer ficar junto. — Tentei explicar melhor. — Nós não gostamos de idiotas, Noah, se você ignorar ela, ela só vai te ignorar de volta!
— É... eu meio que percebi, pois ela parou de falar comigo. — Ele coçou a cabeça e eu balancei a minha, desacreditada.
— Você precisa agir gentil como sempre foi com ela, mas negar qualquer avanço que vá além da amizade.
— Ok. Acho que agora eu entendi. Mas o que faço em relação a essa burrada toda?
— Quando for falar com ela essa noite, diz que andou ocupado e por isso acabou se afastando.
— Boa ideia. Obrigado, você é um anjo! — Ele sorriu, me dando um abraço apertado.
— Não é pra tanto... — O empurrei, rindo.
Voltamos para o carro. Dean estava sentado ao lado de Kaylin, onde originalmente eu estava, então, eu e Noah ficamos em pé de frente para eles.
— Não precisavam sair só pra se pegarem um pouco, ninguém aqui é tímido ou se incomoda. — Dean provocou.
— Deixa eles! — Kaylin o cutucou com o cotovelo.
Um garoto, amigo de Dean e também jogador do time de futebol americano, se aproximou. Ele tinha um pacote daqueles six-pack de latinhas de cerveja e ofereceu para nós. Eu e Noah pegamos uma cada, enquanto Kaylin e Dean concordaram em dividir uma latinha, já que ambos estavam dirigindo.
— Eu estava pensando em ir pedir alguma comida, vocês não querem nada? — Perguntei.
A última vez que eu comi foi no almoço do colégio, e já havia anoitecido.
— Mia me colocou de dieta, não posso nem sonhar com carboidratos ou ela me mata! — Kaylin negou.
— Eu também não quero nada por enquanto. — Noah falou.
— Eu vou com você, estou morto de fome. — Dean concordou, descendo da traseira do carro e entregando a latinha que segurava para Kaylin.
— Não precisa...
Antes que eu pudesse reclamar, ele pegou a latinha que eu segurava, a entregou para Noah, e passou o seu braço pelos meus ombros, me guiando para dentro da lanchonete. Paramos na pequena fila em frente ao balcão e eu me afastei, fazendo o seu braço cair.
— Você anda me ignorando, não é?
Ele começou a brincar com uma mexa do meu cabelo, mas eu dei um tapa em sua mão, o fazendo parar.
— Impressão sua.
— É pelo o que rolou? — Me olhou curioso.
— Podemos não falar sobre isso? — Olhei pra ele um pouco frustrada.
— Claro. Podemos manter o que rolou em segredo se quiser, é mais divertido! — Sorriu de forma maliciosa.
— O que não rolou, você quer dizer? — Resmunguei, e ele franziu o cenho.
— Você não gostou?
— Esquece, Dean, vamos só ficar em silêncio.
Cruzei os braços e virei para a frente. Estávamos em um local público e eu não queria falar sobre isso, era melhor esquecer aquela noite.
— Não, agora eu quero saber. Eu insisto!
Expirei, frustrada. Como ele não sabia? Ele era tão egoísta assim? Fazia isso sempre? Será que era por isso que a Kaylin tinha aceitado essa ideia de namoro aberto? Dean não conseguia satisfazê-la? Eu já estava cheia dessa situação e dele, frustrada e até um pouco irritada, por isso, decidi responder.
— Você acabou em uns 20 segundos, Dean, não teve do que eu gostar!
Duas garotas que estavam na nossa frente olharam para trás chocadas, e eu quis morrer. Dean olhou em volta, incomodado, finalmente se ligando de que essa não era a hora nem o lugar para falar sobre isso. Quando seus olhos voltaram para mim, ele parecia irado.
— Não é como se você tivesse reclamado na hora! — Argumentou.
— Eu não tive reação alguma, estava bêbada e em choque! E o que eu poderia ter falado? Você simplesmente saiu andando como um idiota, não fez esforço algum para me fazer gozar!
Ele soltou uma curta e debochada risada.
— Você foi tão fácil que eu não achei que precisasse de qualquer esforço!
O olhei incrédula, sem conseguir acreditar que ele havia mesmo me dito uma merda dessas. Mas era o que eu ganhava, Dean tinha todas as características daqueles típicos idiotas de colégio, e ainda assim, eu escolhi ficar com ele. Bêbada ou não, foi a decisão mais estúpida que já tomei. Qual era o meu problema? E principalmente, qual era o problema dele?
— Você é um merda, Dean.
Balancei a cabeça, decepcionada comigo mesma por um dia ter me sentido atraída por esse lixo, e saí da fila, perdendo completamente a fome.
Do lado de fora da lanchonete, eu só queria gritar de raiva, chorar até, mas não iria derramar uma lágrima por esse ser. Dean que se foda! "Fácil"? Como ele ousa? Eu deveria ter jogado na sua cara o seu problema com ejaculação precoce aos dezoito anos, mas como sempre, os melhores argumentos só surgem em nossa mente depois que a discussão acaba e nunca durante. Se eu voltasse e falasse isso todos na lanchonete me chamariam de doida, ou pior, mentirosa. Já que nessas situações, a balança sempre pesa para o lado feminino.
Meu celular vibrou no bolso da minha calça jeans, e eu o peguei. Assim que vi que era uma mensagem de Harrison, senti o meu temperamento se acalmar um pouco.
Aconteceu algo?
Humf, se ele apenas soubesse! Mas não era sobre isso que ele estava perguntando. Eu não tinha lhe contado que iria sair depois da aula, normalmente eu chegava em casa às quatro da tarde, como já era noite, ele provavelmente estava preocupado.
Saí com uns amigos, chego em breve.
Não houve resposta, mas ele visualizou a minha mensagem. Mandei uma mensagem para Zach pedindo para que ele viesse me buscar, e então, voltei para onde Kaylin e Noah estavam. Eles estavam conversando com sorrisos nos rostos, no que parecia ser uma conversa bem íntima, e eu me senti mal de ir interromper aquele momento.
— E os lanches? — Kaylin estranhou eu ter voltado de mãos vazias.
— A fila estava grande, perdi a fome. Dean ficou lá.
Noah me entregou a minha latinha de cerveja e piscou agradecido, e se a cena de antes já não fosse clara o suficiente, agora estava mais óbvio ainda que ele havia conseguido resolver tudo com a Kaylin. Pisquei de volta, e nós sorrimos.
Contei para eles que Zach iria me buscar em breve, e eles ficaram decepcionados, mas entenderam. Dean voltou com um balde de batatas fritas e deixou a disposição de todos. Ele nem olhou na minha cara e eu fiz o mesmo, ignorando totalmente a sua presença e as suas batatas fritas extremamente apetitosas, não comi sequer uma! Dele eu só queria distância agora.
— Noite ruim? — Zach me perguntou, assim que entrei no carro. Olhei para ele pelo espelho retrovisor e apenas assenti concordando. — Então... provavelmente vai me odiar por isso, mas posso passar em um lugar antes de irmos?
— Contanto que não passe no inferno, não tem como a minha noite piorar, logo... fique à vontade.
— Fique tranquila, então.
Ele sorriu, bem humorado, e deu partida do carro. No caminho, pensei em mil e uma possibilidades de lugares para onde ele poderia estar indo, mas a possibilidade mais óbvia, eu sequer considerei. Por isso, me senti um pouco estúpida quando Zach estacionou o carro no estacionamento do hospital.
— Vamos visitar a sua irmã? — Ele olhou para trás, surpreso, e eu rapidamente percebi o meu erro, sentindo o meu rosto esquentar. — Oh, meu Deus, desculpa, eu não, você vai... não sei por que eu me convidei.
— Você pode vir se quiser... na verdade, eu pensei que não fosse querer. Ir ao hospital não é nenhum passeio ao parque.
— Posso mesmo? Não quero me intrometer.
Eu precisava ter certeza, não queria passar dos limites. Sua irmã estava com câncer, isso era um assunto bem íntimo e sério. Não queria ser um incômodo, afinal, não nos conhecíamos tão bem assim.
— Minha irmã adora visitas. Tenho certeza de que ela vai adorar você.
— Tudo bem, então. — Sorri e desci do carro com ele.
Por causa da hora, o hospital não estava muito movimentado, e apesar de não estar em horário de visitação, eu consegui entrar, já que Zach era o único responsável pela irmã. No entanto, chegamos tarde demais, pois ela já estava dormindo. Aisha era bastante parecida com o irmão, tinha os mesmos traços, principalmente as sobrancelhas e o nariz, a semelhança familiar era incontestável. Ela usava uma toca rosa na cabeça e estava abraçada a um urso de pelúcia da mesma cor. Zach foi até ela e lhe deu um beijo na testa, com cuidado para não lhe acordar, então, pegou um pequeno caderno na gaveta ao lado da cama e começou a escrever algo.
— Por causa do trabalho, às vezes não dá tempo de eu chegar cedo. Então, combinamos de que eu deixaria um recado todas as vezes que eu passasse por aqui e ela já estivesse dormindo. — Ele explicou, terminando de escrever. — Quer deixar um?
Ele me ofereceu o caderno. Pensei por um breve momento, mas acabei aceitando. Sua irmã me lembrou bastante as garotas no Sun Valley, e apesar de ter o Zach, assim como elas e eu, a Aisha também era órfã, então eu sabia que quanto mais amor e carinho ela ganhasse, mais feliz ficaria, principalmente em uma situação como essa, lutando contra uma doença e morando em um hospital.
Peguei o caderno e a caneta e li a mensagem de Zach.
Hey, ursinha! Passei aqui a noite (na sexta!) mas você já estava dormindo. Trouxe uma amiga linda que aposto que você adoraria conhecer, Isabella, mas fica para a próxima. Te amo muito, muito, muito! — Zach.
Sorri com o belo recado e pensei no que deveria escrever.
Oi, Aisha! Que pena nós não termos nos conhecermos hoje, mas eu voltarei muito em breve e espero que você goste de mim. Seu irmão me falou muito sobre você e tenho certeza de que vamos nos dar incrivelmente bem. P.S. ursinha é um apelido incrivelmente fofo! — Isabella.
Desenhei alguns corações e flores perto do recado e devolvi o caderno para Zach, que leu e sorriu.
— Ela que escolheu.
— Ela é louca por ursinhos de pelúcia, certo? Eu lembro que você mencionou uma vez. — Ele assentiu. — Acho que é meu dever trazer um de presente para ela da próxima vez que eu vir.
— Sério, não precisa se incomodar, ela já tem tantos.
Ele apontou para o quarto, e eu olhei em volta. Haviam ursos de pelúcia espalhados por todos os lugares, prateleiras, em cima do armário, mesa, sofá, inclusive um pendurado na TV.
— Ainda assim, não posso voltar de mãos vazias. — Expliquei, ele apenas balançou a cabeça, decidindo aceitar.
Zach guardou o caderno de volta na gaveta e deu mais um beijo na testa da irmã antes de irmos. Ver esse lado dele tão... carinhoso e cuidador, foi algo que mudou totalmente a minha visão sobre ele. Ele já tinha me mostrado um pouco desse seu lado, mas não o bastante para eu formar uma opinião como agora. Além do seu lado profissional, é claro, eu pensei que Zachary fosse apenas um daqueles homens confiantes que gostavam de provocar, até mesmo seduzir, mas ele a cada dia mais me provava ser muito mais do que isso, e isso me fazia querer saber mais e mais sobre ele.
Ao invés de me deixar na porta principal da mansão, como sempre fazia, ele dirigiu o carro direto para a garagem, e desligou tudo. Saiu primeiro do veículo, e então, abriu a porta e ofereceu a sua mão para me ajudar a sair. Aceitei o ato, e desci do carro. Zach fechou a porta atrás de mim, mas não se afastou para me dar espaço, o que nos deixou a centímetros um do outro.
— Espero que tenha melhorado a sua noite, mesmo que um pouco. — Sussurrou.
Seus olhos castanhos focados nos meus me deixaram sem palavras por alguns segundos. Sua proximidade não ajudou nenhum pouco o meu raciocínio, e eu não sabia se ele estava fazendo isso de propósito, mas se sim... estava funcionando.
— Melhorou, acho que... uns dez por cento? — Entrei na onda.
— Só isso?
— Sim.... Mas você pode melhorar mais se quiser.
Um sorriso malicioso nasceu em seus lábios e eu mordi o meu lábio inferior, ansiosa para ver o que ele faria.
— Posso mesmo?
Ele deu um passo na minha direção, eliminando o espaço que restava entre nós, e automaticamente, despertando aquela sede implacável que eu recentemente havia descoberto dentro de mim.
— Só se quiser...
Ele terminou de juntar o seu corpo ao meu e me beijou, empurrando o meu corpo contra o carro atrás de nós. O beijei de volta, e sem perder tempo apoiei os meus braços em seus ombros, pegando impulso para pular. Zach segurou minhas coxas e eu prendi minhas pernas ao redor da sua cintura.
— De quanto estamos falando agora? — Perguntou entre o beijo.
— Não sei... — Suspirei ofegante. — Quarenta por cento?
— Eu posso fazer melhor!
Suas mãos subiram das minhas coxas para a minha bunda e eu desejei ter trocado o uniforme do Saint Angels por um vestido hoje mais cedo, ao invés de ter colocado uma calça jeans. Ele apertou com vontade, e eu interrompi o beijo para gemer em sua boca. Sem perder tempo, Zach desceu os beijos para o meu pescoço e sussurrou um "e agora?" perto do meu ouvido.
— Setenta por cento...
Eu conseguia sentir ele sorrindo em meu pescoço, como se dissesse que ainda poderia aumentar muito mais. E eu sabia que sim. Se estivesse sendo completamente honesta, ele já havia me feito esquecer todas as coisas ruins que aconteceram mais cedo. Amanhã quando eu acordar, não lembrarei de nada a não ser esse seu delicioso beijo.
Coloquei minha mão em sua nuca e o puxei para cima, trazendo sua boca de volta para a minha. Foi quando a luz da garagem foi acesa de repente e ouvimos alguém limpar a garganta. Zach me colocou no chão de imediato e olhamos para a porta que dava acesso à mansão, Gwen estava parada ali nos olhando surpresa.
— Olá... boa noite.
Ela acenou brevemente para mim, e sem falar mais nada, foi andando em direção ao seu carro que também estava guardado ali. Assim que ela saiu da frente da porta, Harrison apareceu. Ele estava segurando a pequena mala que Gwen havia trazido consigo quando chegou, o que indicava que agora ela estava partindo. Ele lançou um olhar rápido para mim e para Zach, e eu quis morrer! Eu não sabia se, assim como a Gwen, ele também tinha nos visto, mas estava bem claro que ele havia entendido a situação. Ao contrário da irmã, no entanto, ele não parecia surpreso. Na verdade, não parecia nada, ele apenas olhou e seguiu em frente para onde o carro e Gwen estavam. Eu não sabia se me sentia feliz ou incomodada com a sua reação... na verdade, nenhuma das opções, eu estava envergonhada. Minha noite, que havia sido salva, estava arruinada novamente.
— Isso ficou estranho. — Zach sussurrou. — Eu já vou. Nós nos falamos depois, boa noite.
Ele segurou a minha cintura, e me deu um rápido beijo na bochecha.
— Tchau... — Falei apenas, ainda um pouco em choque com toda a situação.
Zach saiu pela entrada e saída dos carros mesmo, e seguiu na direção da casa de hóspedes onde ele morava. Enquanto eu, tomei coragem e fui na direção de Harrison e Gwen, que conversavam baixinho perto do carro dela. Assim que eles me olharam, eu percebi o quão idiota foi essa ideia, sentindo a vergonha dentro de mim dobrar de tamanho. Eu deveria apenas ter entrado na mansão e esquecido isso, mas queria me despedir da Gwen, afinal, ela tinha sido tão legal comigo.
— Você já vai? — Tentei sorrir.
— Sim. Tomei a decisão de ir antes que meu irmão me expulse. — Brincou, e Harrison virou o rosto para lado, não levando ela a sério. — Como pedidos de despedida, Harrison, por favor... seja menos ranzinza? — Ele sequer respondeu, Gwen apenas suspirou e virou para mim. — E Isabella, cuide bem desse meu irmão chato, pode ser?
— Pode deixar. — Respondi, olhando para Harrison para ver se ele não teria alguma reação negativa com isso. Mas ele pareceu não se importar com a minha resposta. — Até mais, Gwen. Diria para voltar sempre, mas tenho certeza de que o seu irmão me mataria por isso.
— É, tem razão, não vamos abusar da sorte. — Ela riu.
Abracei ela, e em seguida, ela abraçou Harrison. Um abraço apertado e longo, digno de uma despedida de irmãos.
— Obrigado por ter vindo, mesmo sem convite. — Ele falou, sem qualquer ironia ou deboche.
— Sempre que precisar, estou aqui. Não deixaria você ferido nunca! Você sabe que eu me preocupo.
— É, eu sei... e eu te aprecio por isso, maninha. Boa viagem de volta.
Eles se afastaram e eu vi o mais brilhante e honesto sorriso surgir no rosto de Gwen, e foi impossível não sorrir também. Eu estava começando a achar linda essa relação de implicância que eles tinham, brigavam e se provocavam muitas vezes, mas era claro o laço de amor que existia entre eles. Admirável, até.
— Eu também te amo, "manão"! — Ela respondeu, finalmente tirando um pequeno sorriso de Harry. — Porra de "eu te aprecio". — Resmungou, em seguida nós três rimos. — Mas é isso, até mais!
Gwen entrou em seu carro, e Harrison abriu a porta de trás para colocar a mala dela no banco traseiro, assim que fechou a porta e se afastou do veículo, ela deu partida, saindo da garagem.
Ele foi até o painel de controle na parede ao lado e fechou a grande porta de saída de carros. Havia um monitor ali também com câmeras de vários pontos diferentes do exterior da mansão, e ele abriu o grande portão de ferro assim que viu o carro de Gwen se aproximando, o fechando era automático logo depois. Ele se afastou do painel e foi em direção a porta que dava para o interior da mansão, mas parou a alguns passos dela e olhou para trás, para mim.
— Esperando alguém? — Como se estivesse estalando os dedos na frente dos meus olhos, eu me toquei de que estava parada apenas o observando em silêncio. Voltei a mim, e neguei com a cabeça, apressando os passos para o acompanhar. Ele me deixou sair primeiro, então, apagou a luz e saiu, fechando a porta atrás de si. Fez menção de continuar o seu caminho sozinho, mas parou de repente, olhando pra mim. — Prepare uma mala pequena antes de dormir, amanhã iremos viajar.
— Viajar? Para onde nós vamos?
— Carolina do Norte. É a trabalho, então escolha roupas discretas.
— Não é muito cedo? As coisas com Brad ainda nem esfriaram...
Ele me lançou um olhar sério e eu me calei. Apesar de eu só estar tentando ser racional e o ajudar ali, era como se ele me dissesse: eu é que mando aqui, e não, você!
— Isabella...
— Tá bem. — O interrompi, sem a mínima vontade de ouvir sermão. — Mas eu tenho treino pela manhã, então terá que ser à tarde.
Ele não pareceu ficar nenhum pouco feliz com essa notícia.
— Treino em um sábado?
— Sim, eu... entrei para as líderes de torcida.
Compartilhei a notícia pela primeira vez, já que ao contrário de Zach, ele ainda não tinha me visto com o uniforme. Novamente, nenhuma reação da sua parte. Nem para ficar feliz por mim. Mas bem, eu estava atrapalhando os seus planos, de fato não tinha o porquê de ele ficar feliz por mim. Harrison apenas suspirou, parecia cansado. Com sono, talvez. Ele passava uma imagem tão séria e... forte, que eu até me esquecia de que há apenas alguns dias atrás ele havia levado um tiro.
— Tudo bem, partiremos à tarde então.
— Perfeito.
Assenti, em um misto de ansiedade e nervosismo, afinal, eu não sabia o que esperar dessa viagem. Seria o primeiro trabalho que eu iria, se desconsiderasse o fiasco que foi com o Brad, e juntando esse fato ao fato de que essa seria a uma viagem para outro estado sozinha com ele, o nervosismo chegava a triplicar! Principalmente depois da cena de agora a pouco. Eu deveria falar algo? Explicar algo? Ele parecia não ligar, mas algo parecia martelar na minha mente para que eu falasse algo.
— Era só isso. Boa noite, Isabella. — Ele se despediu, voltando a andar.
— Boa noite, Harr... Harrison? — Ele parou, olhando para trás. — Podemos falar sobre o que houve?
Controlei uma careta, me arrependendo imediatamente de ter trazido isso à tona.
— Não precisamos.
Ele respondeu calmamente, colocando as mãos nos bolsos da calça. Mesmo sem eu ter especificado, ele sabia exatamente sobre o que eu estava falando. E controlando o nervosismo, tentei formar uma sentença com o mínimo de sentido
— É só que, o que você viu... eu e o Zach...
— Você não precisa me explicar ou me dar qualquer satisfação sobre isso, Isabella. — Me cortou. — Com quem você... enfim, não me interessa.
— Sério?
Eu não esperava isso dele. Na verdade, eu não sabia nem o que esperar dele. Mesmo tendo o conhecido melhor nos últimos dias, ele ainda era uma incógnita na minha cabeça. Talvez eu não devesse esperar nada.
— Contanto que não atrapalhe o meu trabalho, eu realmente não ligo.
— Ok... eu acho.
Concordei, sem saber mais o que falar ou perguntar. Ele voltou a andar no corredor, mas parou há alguns passos na frente, olhando para trás novamente.
— Você não vai tentar fugir com o meu chofer, vai? — Ele cerrou os olhos, em uma falsa desconfiança, e eu sorri, relaxando.
— Eu nem mesmo tentaria. — Dei de ombros. — Você me acharia em qualquer lugar do mundo.
— Que bom que já sabe. — Ele sorriu de lado.
Então, se virou e voltou a andar, desaparecendo no corredor da mansão. Levei minha mão direita até o meu peito, sentindo o meu coração bater acelerado ali dentro, e fechei os olhos, passando a outra mão pela testa e depois pelo cabelo, enquanto tentava encontrar sentido na bagunça que havia se tornado a minha vida.
Alguns longos segundos depois, ainda parada ali, cheguei à conclusão de que, a única coisa da qual eu tinha plena certeza nesse exato momento era a de que: eu estava morrendo de fome. Deixei todos aqueles pensamentos de lado e fui para a cozinha procurar algo para comer.
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