Capítulo 15
HARRISON FLINT
Com os olhos arregalados e a respiração desregulada, Isabella parecia estar em choque olhando para o corpo de Brad no chão à sua frente. Ela não estava bem. Quem estaria depois de ter matado pela primeira vez? Era uma experiência única e pesada, algo que suja a sua alma profundamente, se tornando impossível de superar ou esquecer.
Eu matei pela primeira vez quando tinha apenas quatorze anos. Eu era apenas uma criança na época, mas segundo o meu pai, já tinha idade o suficiente para me tornar um homem, e isso, na mente dele, significava matar. Mesmo depois de anos, eu ainda não conseguia esquecer aquela noite, ou o rosto do homem implorando pela sua vida ajoelhado à minha frente. Eu tive pesadelos quase todos os dias da minha vida, e apesar de já ter vinte e sete anos, algumas noites eu ainda os tinha. Eu, mais do que ninguém, entendia bem a sensação que ela deveria estar sentindo agora. E por isso, precisava agir rápido antes que toda essa noite fosse pelo ralo.
— Isabella, calma. Respire fundo..., e abaixe a arma.
Seus olhos finalmente desviaram do corpo de Brad e me alcançaram, e ela fez o que eu pedi, respirou fundo, no entanto, ao invés de continuar e abaixar a arma, ela apenas a direcionou para mim.
— O que foi que eu fiz...?
— Nada. — Me apressei a dizer.
— Não..., eu o matei! Ele iria te matar e eu... eu... — Ela parou de falar, olhando para o corpo de Brad fixamente. — Isso não deveria estar acontecendo. — Lamentou.
— Vai ficar tudo bem, não tem problema! Apenas abaixe a arma. — Reforcei.
— Por que ele queria te matar? — Perguntou de repente, voltando seus olhos para mim. Pensei em alguma mentira, e como se previsse isso, ela acrescentou: — Não minta ou eu atiro em você! Juro que atiro, estou falando sério! — Ela segurou a arma com mais firmeza, mostrando fúria em seus olhos, apesar de suas mãos trêmulas revelarem o seu nervosismo.
— Eu iria matá-lo. — Decidi revelar, sendo honesto.
Eu nunca havia dito isso para ninguém antes. As únicas pessoas em todo o mundo que sabiam, e ainda estavam vivas para contar a história, eram Kai e minha família. Revelar isso mudava tudo. Principalmente em relação ao futuro de Isabella.
Ela abriu a boca, como se não acreditasse e fosse protestar, mas ao ver o quão sério eu estava, aos poucos, foi entendendo que eu não estava mentindo.
— Ok... por que?
— É o que eu faço. Me pagam para isso.
Ela balançou a cabeça desacreditada.
— Isso não faz sentido! Por que fariam isso?
— Não precisa fazer sentido se é a verdade. Pessoas matam umas às outras todos os dias. Não há explicação. A única diferença é que eu recebo para isso.
— Então, o que está me dizendo? Que... que você é um assassino de aluguel? É isso? — Questionou. E eu apenas assenti, já um pouco impaciente e incomodado com aquela situação. Definitivamente não estava acostumado a me sentir tão impotente em uma situação crítica como essa. Já bastou antes com o Brad, e agora a mesma coisa com a Isabela? Puta que pariu, viu? Em um cenário normal, nossas posições estariam invertidas. E o fato de não estarem me enfurecia. — Se isso é mesmo verdade... então... então, o que me impede de apertar esse gatilho agora? Eu estaria matando um assassino, certo?
Essa definitivamente não era a reação que eu estava esperando dela.
Lágrimas, choro, tristeza ou horror. Essas eram as emoções que eu queria. Com essas reações eu poderia contornar a situação, assumir o controle. Mas o choque aos poucos ia se dissipando, e ela não parecia nenhum pouco afetada por ter acabado de matar alguém como eu pensei que ficaria.
O dedo no gatilho e seu olhar concentrado demonstravam que ela realmente acreditava no que estava falando. Realmente considerava me matar ali e agora. E pela segunda vez nessa terrível noite, eu estava à mercê da morte. Que piada! Senti a raiva crescer dentro de mim por Isabella sequer considerar esse plano ridículo, mas não deixei que o sentimento visse a luz do dia. Raiva não me ajudaria em nada agora.
— E o que exatamente você faria depois, hum? — Perguntei com deboche, para ganhar a sua total atenção. — Este lugar está rodeado de seguranças e você teria acabado de matar duas pessoas. — Dei alguns passos em sua direção, me aproximando. Ela pareceu não notar, concentrada em minhas palavras. — Você não tem ideia de como sair desse prédio sem mim. Seria presa em um piscar de olhos, e quem sabe até condenada a uma cadeira elétrica! E esse seria o fim de Isabella Martins... Quer mesmo perder sua vida assim?
Ela balançou a cabeça, um pouco atordoada com as novas informações e confusa sobre o que fazer. Aproveitei o momento e me aproximei ainda mais, ficando a poucos passos dela.
— Você tem outro jeito?
A indecisão em sua voz era tudo o que eu precisava, pois confirmava que minhas palavras haviam atingindo-a em cheio. Isabella definitivamente não queria ser presa. Isto era claro.
— Sim. Esse é o meu trabalho, lembra? — Cortei totalmente o espaço que sobrava. E o cano do silenciador da arma encostou em meu peito. Ela olhou para a arma, percebendo o quão próximo eu estava, e depois subiu os olhos de volta para mim. — Você ter matado o Brad não estava nos planos, mas eu consigo nos tirar daqui em segurança. A escolha é sua. Você só precisa confiar em mim.
Seus olhos me fitaram profundamente, enquanto suas mãos tremiam na tentativa de manter a arma erguida e firme contra mim. E demorou um pouco, mais do que eu pensei que demoraria, mas depois de pensar e considerar o que eu havia dito, ela me deu a resposta que eu precisava ao tirar o seu dedo do gatilho.
— Tudo b...
Em um movimento rápido eu a desarmei, pegando a arma com uma mão enquanto a segurava pelo pulso com a outra, e girei o seu corpo, virando-a de costas para mim. Isabella tentou se desfazer de mim, mas puxei o seu corpo contra o meu com mais força e encostei o cano da arma em sua bochecha, fazendo-a desistir de se soltar ou de fazer qualquer outro movimento brusco.
— Essa foi a única e última vez que você me ameaçou, está me ouvindo? — Deixei claro, falhando em controlar toda aquela raiva acumulada dentro de mim. O corpo de Isabella estava completamente tenso, e sua respiração descompassada, mas não houve resposta. Empurrei a arma contra a sua pele com um pouco mais de força e perguntei novamente. — Entendeu?
— Sim... — Respondeu em um fraco suspiro.
E pela primeira vez naquela noite, eu senti medo em sua voz. Puro e simples medo. Algo em sua voz soou quebrado e aterrorizado. O que em primeiro momento, me foi um pouco preocupante. Mas pelo menos mostrava que ela havia entendido. Abaixei a arma e soltei o seu pulso, deixando-a se afastar. Eu precisava nos tirar daqui, depois iria decidir o que de fato fazer com ela.
— Você escondeu o seu rosto das câmeras no começo do corredor? — Perguntei, tirando o silenciador da arma para guardá-lo no bolso do terno e a arma nas costas.
— Eu não sei...
— Perfeito! — Soltei, já perdendo a paciência. — Eu falei que era para ficar lá embaixo e socializar! — Resmunguei, olhando envolta pelo escritório.
— Você me deixou lá sozinha! — Ela esbravejou de volta, apesar de claramente estar tentando se conter. Fui até o canto em que havia derrubado a faca e a peguei do chão, limpando-a com um lenço para remover minhas digitais, então cuidadosamente, a posicionei de volta junto aos limões no bar. — O que está fazendo? — Ela me olhou agoniada. — Você disse que tinha um plano! Você disse que...
— Cala a boca, Isabella! — A interrompi, completamente irritado. Olhei em volta, tentando pensar em algo, até que finalmente um plano surgiu em minha mente. — Procura um isqueiro! — Ordenei.
Olhei pelo bar e pela mesa, mas nada, me virei para ir procurar nas poltronas, quando notei que Isabella estava sobre o corpo de Brad, procurando por um isqueiro em suas roupas. Mas que porra?
— Achei um.
Ela tirou o isqueiro do bolso interno do terno de Brad e trouxe até mim, que continuei olhando-a sem entender como diabos ela estava tão tranquila diante do corpo de alguém que havia acabado de matar. Até mesmo o desespero que ela demonstrava era por não querer ir presa, e não, por ter acabado de tirar a vida de alguém.
Ela balançou o isqueiro em frente ao meu rosto para chamar minha atenção e eu o peguei, retornando à realidade e ao plano. Deixei aquela linha de pensamentos guardada por hora, e fui até uma das poltronas, subi e acendi o isqueiro perto do detector de fumaça no teto. Segundos depois, os sprinklers foram acionados e a água começou a cair em todo o escritório. Fui até a porta, e a abri, vendo que também caía água no corredor, e com sorte, no prédio todo.
— Quando saímos, mantenha o rosto abaixado o tempo todo. Vamos pela escada de incêndio a direita, e não, a escada perto do elevador.
— Tudo bem. — Assentiu, compreendendo.
Fui até o bar, peguei uma garrafa de uísque e derramei o líquido pelo chão por onde Brad e eu havíamos brigado, precisava garantir que nenhum fio de cabelo ou DNA fosse encontrado. Derramei por cima do corpo de Brad também para me livrar de qualquer resíduo de DNA meu que ele possa ter em si, e acendi o isqueiro, o jogando em cima do líquido que rapidamente pegou fogo. Por causa dos sprinklers, o fogo não duraria muito, no entanto, seria o suficiente para destruir fios de cabelos e afins.
— Por que ativou os sprinklers se ia acender o fogo? — Isabella parou ao meu lado perto da porta, observando as chamas do fogo sendo impedidas de se alastrar muito por causa da água.
— Um incêndio chamaria muita atenção. Mas talvez, se tivermos sorte, as câmeras de segurança não sejam à prova d'água. — Expliquei. Era um tiro no escuro, mas com Brad morto, não havia tempo nenhum para tentar encontrar o sistema de segurança e apagar as gravações, seria arriscado demais. — Lembre-se de abaixar o rosto quando saímos. — Relembrei.
Então, segurei a sua mão e a tirei dali.
Ela fez tudo o que eu mandei, manteve a cabeça abaixada e me seguiu calada. A escada de incêndio levava direto para o beco lateral do prédio, não havia nenhuma outra saída por ali, então estávamos sozinhos naquele escuro. Assim que cheguei ao último degrau, pulei para o chão, e então, puxei a escada móvel mais para baixo para que Isabella conseguisse pular também. De onde estávamos dava para ver parte da rua principal, as pessoas corriam apressadas, enquanto o prédio era esvaziado. O som do carro dos bombeiros já era audível mesmo de longe, o que significava que eu precisava dar o fora dali antes que eles e os policiais chegassem.
Segurei a mão de Isabella novamente, e a puxei em direção à rua de trás. Procurei pelo meu carro em meio a toda aquela confusão, e assim que o achei, estacionando perto da esquina, corremos até lá. Zachary estava no assento de motorista e olhou para trás assustado quando entramos no carro.
— O que aconteceu lá dentro? Está tudo bem?
— Está. — Respondi prontamente. Olhei para Isabella, e ela alternava o seu olhar entre mim e Zach claramente nervosa. Senti um leve aperto em minha mão e olhei para baixo, percebendo que nós ainda estávamos de mãos dadas. Soltei sua mão e olhei para Zach. — Os sprinklers foram acionados, mas ninguém sabe o que exatamente aconteceu ainda.
— Nossa! — Exclamou surpreso, focando em seguida na pessoa ao meu lado. — Você está mesmo bem, senhorita Isabella? Parece um pouco pálida...
— Estou. — Ela respondeu, ainda sem tirar os olhos de mim.
E por algum motivo magnético, eu também não consegui desviar os meus olhos dos dela. Isso não era bom... Isso não era nada bom.
— Para casa? — Ouvi Zach perguntar.
— Não... vamos para a casa da minha família.
— Tudo bem.
O vi assentir e virar para frente pela minha visão periférica, mas continuei encarando a garota ao meu lado. Eu não tinha a menor ideia do que fazer com Isabella. Ela nunca deveria ter descoberto tudo isso, muito menos ter se envolvido e matado alguém, mesmo que para salvar a minha vida. Tudo o que ela precisava fazer era me acompanhar em eventos e viagens puramente como disfarce para que eu pudesse concluir meus trabalhos em paz sem levantar perguntas. Jenna e Camila sequer sonharam em descobrir o que eu realmente fazia quando desaparecia em todas as nossas viagens durante os anos dos seus contratos, tudo ocorreu perfeitamente normal. Já com Isabella... no primeiro maldito trabalho tudo já havia ido para a casa do caralho!
Essa maldita garota sabia a verdade e isso colocava em perigo não apenas a mim, mas a minha família. Ela ter me salvado essa noite não significaria porra nenhuma se a polícia conseguisse descobrir o que houve e eu fosse preso!
Eu queria gritar com ela, queria poder descarregar toda a minha raiva, e acredite, era muita! Mas ali, no silêncio daquele carro e com os seus olhos sobre mim, eu simplesmente não conseguia alcançar mais tal sentimento. Eu sabia que estava lá, uma raiva fora do comum que eu carregava sempre comigo como a porra de uma sombra, mas era como se agora... ela estivesse adormecida.
De fato, eu não entendia o que caralhos estava acontecendo.
Será que eu também estava em choque?
***
A cobertura de dois andares em um luxuoso prédio do Upper East Side foi onde eu passei boa parte da minha vida, eu me lembro de muitos momentos divertidos nela, a maioria com a minha mãe e irmã, porém, eu também lembrava dos péssimos momentos que me marcaram como uma tremenda tatuagem, pois muitos desses momentos, eu já havia tentado esquecer, mas não conseguia, estavam profundos demais, e agora, eles já faziam parte de mim, de quem eu era. Eram os meus demônios pessoais.
Eu não queria ter que voltar para casa tão cedo, não depois da última briga que tivemos, mas agora era inevitável. Deverell saberia o que fazer em uma situação como essa. Ele sempre sabia.
— Harrison? — Meu pai falou seriamente ao abrir a porta e me ver.
Ele vestia um longo roupão preto, possuía olheiras embaixo dos olhos, e seu cabelo grisalho estava bagunçado. Eu o tinha acordado. Ótimo!
— Olá, Deverell. — O cumprimentei de volta.
Ele lançou um rápido olhar para Isabella parada em silêncio atrás de mim, e então, com certa relutância, abriu mais a porta e nos deu espaço para entrar. Gwendolen, que estava no topo da escada ainda de pijama de bolinhas e com o seu cabelo loiro bagunçado, desceu correndo assim que me viu entrar.
— Fez alguma merda, não foi? Só assim para voltar tão cedo. — Comentou sarcasticamente. Eu iria lhe responder no mesmo tom, mas seus braços rodearam o meu pescoço quando ela se jogou em cima de mim. — Você voltou! — Comemorou. — Estava com saudades!
— Eu também. — Revelei, abraçando-a.
Se tinha uma pessoa que eu realmente sentia falta era a minha irmã. Sempre fomos muito ligados quando criança, mas depois de vários desentendimentos que culminaram na minha decisão de sair de casa, a nossa relação acabou esfriando. Eu fui me afastando cada vez mais desta casa, do meu pai, e consequentemente, dela. Irmãos brigam, e definitivamente havia muita mágoa presente entre nós, no entanto, isso não mudava o fato de que eu a amava.
— Quem é essa? — Seus olhos curiosos encararam Isabella. — Namorada?
— Não. Isabella é a minha nova acompanhante. — Esclareci.
— Você nunca trouxe uma acompanhante aqui em casa antes. — Comentou sugestivamente, e mais uma vez, eu iria responder, mas Deverell falou na frente.
— Deve estar precisando de algo. — Desdenhou. — Vamos conversar no meu escritório.
Eu queria socar a cara dele. A raiva acumulada em meu peito havia despertado novamente e só faltava explodir de tão grande. Mas me controlando o máximo possível, eu apenas assenti, vendo-o se retirar em direção ao seu escritório no final do corredor.
— Isabella, essa é a minha irmã, Gwen, e Gwen, essa é a Isabella... Poderia levar ela até um dos quartos para que ela possa descansar e dormir um pouco? — Pedi, lançando um olhar de "cuidado" a ela para que ela entendesse que Isabella precisava ser assistida.
— Claro. — Ela assentiu, claramente me entendendo. — Prazer em conhecê-la, Isabella...
Deixei a sala e encontrei com o meu pai em seu escritório. Ele estava sério, sentado atrás da sua mesa com um semblante pesado e um copo de bebida na mão.
— O que aconteceu?
Era quase que uma dor física ter que precisar da sua ajuda novamente. Destruía completamente o orgulho que eu me esforcei para construir durante os últimos anos, mas eu não tinha opção agora.
— Ela sabe.
Seus olhos se encheram de surpresa. E chegou a ser impressionante o tanto de emoção que passou por eles em tão pouco tempo, pois até então, eu não pensei que o homem à minha frente fosse capaz de ter tantas emoções humanas assim. Apesar da meia idade, ele sempre foi e sempre será uma máquina.
Então, após um suspiro, a decepção se alojou em seu rosto.
— Sobre nós?
— Não. Sobre mim. — Me sentei à sua frente.
Como eu já havia percebido no decorrer desses dias juntos, Isabella não era estúpida. Depois de presenciar a nossa conversa na sala, não demoraria muito até que ela começasse a juntar as peças de que a minha família sabia o que eu fazia. Era apenas uma questão de tempo até ela perceber que eu não era o único.
— Desde quando?
— Hoje à noite. — Alívio cruzou seu rosto. — Mas tem mais uma coisa... ela matou alguém.
— Não me diga que aquela bagunça no baile do filho do Crawford era para ser um trabalho seu? — A pergunta me pegou de surpresa.
— Você já sabe?
— Está em todos os canais! — Ele pegou o controle em cima da mesa e ligou a TV que ficava na parede ao nosso lado. — Eu estava me perguntando quem foi o amador que fez um trabalho porco como esse. Me dói o coração saber que foi você.
— Como se você tivesse um. — Resmunguei, encarando a televisão.
Os canais de notícias, assim como os de fofocas, estavam fazendo cobertura ao vivo sobre o baile. Aparentemente, o incêndio que eu comecei, e que deveria ter sido apagado rapidamente, se alastrou pelo andar inteiro, queimando boa parte da estrutura do prédio, o que era estranho, já que eu pensei que os sprinklers dariam conta do trabalho um piscar de olhos.
— Quem foi?
Voltei os olhos para o meu querido pai.
— O próprio Brad.
— Caralho, não acredito que você escolheu um lugar público como aquele! E ainda chama atenção com um incêndio? Como pode fazer algo tão estúpido? — Ele me olhou indignado.
— Esse não era o plano original, ok? Eu precisei improvisar!
Ele balançou a cabeça negativamente e inspirou fundo, soltando toda a sua indignação na sua expiração antes de me olhar com indiferença.
— Você sabe o que precisa fazer agora, não sabe? — A pergunta me atingiu em cheio.
E algo em sua voz, ou no trágico brilho do seu olhar, me levou de volta para os meus recém completados quatorze anos.
Minhas mãos tremiam, enquanto eu tentava segurar aquela arma firmemente, era uma pistola grande e pesada, ficava enorme na minha mão. E apesar de já ter treinado tiro antes, agora era uma pessoa ajoelhada à minha frente, um homem, um pai de família, ou o filho de alguém, e não, garrafas de bebida vazias. Ele era parte desse mundo. No entanto, isso não importava para o meu pai. Ele estava parado atrás de mim, e eu conseguia ouvir sua respiração completamente calma e profunda, em contraste com o desespero do homem à minha frente.
— Por favor, menino! Não me mate! Por favor...
Meu pai apoiou sua mão em meu ombro e lentamente se inclinou até o meu ouvido.
— Você sabe o que precisa fazer agora, não sabe, filho?
— Sim, pai...
— Você precisa matar a garota. — Deverell falou, me trazendo de volta a realidade. — E depois torcer para que não encontrem nada naquela bagunça! — Ele apontou para a TV.
Matar Isabella. Matar Isabella. Matar Isabella... Eu poderia repetir isso mil vezes em minha mente e ainda assim, algo em mim não conseguia aceitar tal fato. Apesar de esta ser claramente a minha única opção, algo em mim simplesmente não conseguia estar de acordo com isso. Ela não precisava morrer, precisava? "Sim" era a resposta mais óbvia. Mas eu não queria matá-la.
Porra, eu não queria matá-la!
Houveram batidas na porta do escritório, e logo, Gwen adentrou com um olhar de preocupação pairando em seu rosto.
— O que foi, filha?
— Isabella me contou o que aconteceu. E talvez tenhamos um pequeno problema pela frente.
— O que foi? — Perguntei, estranhando o seu tom.
— Ela matou alguém.
— Sim, o Brad. É exatamente sobre isso que... — Ela me interrompeu.
— Não, H, o Brad não, eu quis dizer antes. Eu quis dizer que o Brad não foi a primeira pessoa que Isabella matou.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro