(02) i don't deserve so much shit, do i?
raven.na boyd !¡
point of view.
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EU ESTAVA NA FASE DA LIBERTAÇÃO
antes do desespero. Sim, saí daquele restaurante de merda, que maravilha; mas onde é que eu vou arrumar dinheiro agora?
Eu cresci em uma casa onde as regras prevaleciam acima de tudo, e meu relacionamento com meu pai e meus irmãos – tanto Iona e Isla, as gêmeas cinco anos mais velhas que eu, quanto Alec e Andreas, os gêmeos três anos mais novos que eu – era básico e extremamente superficial. Eu não os considero família, além da definição mais literal da palavra. Compartilhamos sangue, e só.
Mas eu aprendi muita coisa com eles. Aprendi que, em situações de merda como essas, preciso pensar adiante sem afobação e desespero. Beleza, eu perdi o meu emprego, mas não é tão difícil encontrar outro, certo?
Eu tinha uma pasta cheia de currículos na minha gaveta, no dormitório, exatamente para esse caso. A menos que Riley tenha jogado isso fora também – assim como ela jogou minhas coisas que, segundo ela, eu não usava e apenas ocupava espaço.
Ela é invasiva, muito extrovertida e às vezes fala muita merda, mas eu amo aquela garota.
Apesar de estarmos entrando em setembro – ou seja: ainda calor –, o dia estava nublado e frio hoje. Eu não ficaria surpresa se começasse a chover daqui a pouco.
Decidi encarar o dia com olhos mais otimistas. Ao invés de passar as horas me chafurdando em frustação, apertei a alça da bolsa nas costas e comecei a andar até o bairro de prédios universitários que cruzam o limite do campus – é lá que as crianças ricas de Los Angeles moram quando fazem faculdade e querem sair da casa dos pais.
Um dos meus melhores amigos mora lá, Aaron Liebregts. Liebregts é um sobrenome holandês – assim como ele também é –, e fiquei muito feliz em saber que eu não era a única pessoa na classe de economia com um sobrenome e sotaque diferentes. Nós viramos amigos cerca de trinta segundos depois de nos apresentarmos um ao outro.
Andei por cerca de meia hora, sob os raios solares fracos e muito cobertos pelas nuvens escuras, até chegar no prédio cinza. Sem portaria, apenas um portão de ferro de entrada automática. Segurança zero, mas quem liga?
Apertei o botão do elevador, no mínimo, quinze vezes. Mas nada. Nem uma luz, nenhum barulhinho, nadica de nada.
─ Quem foi que mandou você morar no nono andar, seu filho da puta?! ─ resmungo sozinha, começando a subir os degraus sem nenhum pingo de empolgação ou disposição.
Nove degraus em cada lance, oitenta e um degraus ao todo. É bom ele ter um lanche bem gorduroso me esperando lá em cima, pra repor todas as mil calorias que eu perdi subindo a droga da escada.
Paro uma última vez para recuperar o fôlego, e empurro a porta, entrando no andar de Aaron. São três apartamentos em cada andar nesse bloco do prédio, o número do apartamento dele é o vinte e nove.
Toco a campainha, bato algumas vezes, o chamo pelo nome, mas nenhum sinal de Aaron.
Eu não acredito que subi isso atoa.
─ Aaron, seu pedaço de merda! Se você estiver aí, é melhor abrir essa porta em trinta segundos! ─ grito, pouco me fodendo para os outros dois moradores do andar. Eles provavelmente estão em alguma aula, ou se drogando em algum lugar.
Quando eu estava prestes a sair e enfrentar as escadas mais uma vez, ouvi um clique e a porta abriu. Suspirei.
─ Graças a Deusa. ─ murmuro, vendo Aaron parado na porta, sem camisa, a cara inchada e o cabelo desarrumado.
─ Você não devia estar no trabalho? ─ ele pergunta, cruzando os braços.
─ Fui demitida por quebrar o nariz de um cara que passou a mão em mim. ─ dou de ombros. ─ Posso entrar? Tive que subir de escada e minhas pernas estão a ponto de desmontar.
Ele torce os lábios.
─ Foi mal, Ren, não vai dar. ─ ergo as sobrancelhas. ─ Uma garota vai passar aqui em quinze minutos.
Eu poderia questionar o porquê de ele acordar quinze minutos antes de receber alguém, mas foi até atencioso ele acordar antes dela chegar.
─ E o elevador do bloco B tá funcionando, era só você atravessar o corredor. Teef.
─ Não me xingue em uma língua que eu não possa me defender. Amadan. ─ retruco, e ele ri.
─ Volta mais tarde, ok? Ou amanhã. E você terá toda a minha atenção, prometo. ─ bufando, assinto. Dou um beijo em sua bochecha antes de empurrar a porta para o bloco B e pegar o elevador de lá.
Quando saí do prédio, estava chovendo.
Peguei o meu celular apenas para mandar uma mensagem para Aaron: "Eu te odeio, e se eu pegar uma gripe por andar na chuva, vou mandar a conta do hospital pra sua casa."
Ele não me respondeu. Idiota.
Me protegendo da chuva com a bolsa, e parecendo a pessoa mais idiota de Los Angeles, praticamente corri pelas ruas cada vez mais molhadas até algum lugar onde eu poderia ficar até esse dilúvio diminuir.
Parei em uma lanchonete, e aproveitei para comprar um lanche pequeno, já que não tinha comido nada desde às nove e meia da manhã, e agora são quase cinco e quarenta.
Em pouco menos uma hora o dia viraria noite, e se essa chuva não passasse logo, eu teria que voltar para o alojamento assim mesmo, molhada e no escuro.
Mas se passaram dez minutos, vinte minutos... Quarenta minutos, uma hora, e nenhum sinal de que a água cairia menos pesada do céu.
É, o jeito é ir assim mesmo.
Colocando a bolsa sobre a cabeça mais uma vez, saí da lanchonete e só não corri pela calçada por medo de escorregar. Andei o mais rápido que pude, no entanto. Em um cruzamento, meu celular começou a vibrar no meu bolso, e soltei a bolsa nas costas para atender.
─ Riley? ─ atendo.
─ Garota, você é maluca? O mundo tá desabando em água e você na rua?! ─ reviro os olhos.
─ Chego em quinze minutos, mamãe. ─ respondo, olhando para os dois lados antes de atravessar. ─ Falo com você depois, tchau.
Encerro a chamada ainda no meio da rua, e é quando um carro passa – mesmo me vendo, tenho certeza – e tomo um susto tão grande que o aparelho escapa da minha mão.
E segue o fluxo de água até o bueiro mais próximo.
─ Porra! ─ grito, subindo na calçada. Xingo aquele motorista o máximo que posso – em inglês e em gaélico também.
Eu não mereço tanta merda, mereço?
Agora, desempregada e sem celular. Com que dinheiro eu vou comprar outro celular, se eu não tenho um emprego em primeiro lugar?
Que. Dia. De merda.
Meu sangue estava fervendo sob minha pele. A raiva do meu ex chefe me atingiu mais uma vez, e agora juntou com a agonia de sentir minhas roupas colando na minha pele molhada e o ódio fervente daquele babaca no carro que me fez derrubar o meu celular.
─ Sai do caminho, garota! ─ uma mulher de idade me contorna, xingando, e reviro os olhos.
Só não a mando se foder por respeito. Se eu xingasse uma pessoa mais velha do que cinquenta anos na Escócia, provavelmente perderia alguns dentes.
Olhando à esquerda, vi um letreiro colorido e chamativo. Eu quase não podia enxergar direito por conta da água escorrendo pelo meu rosto e desfocando meus olhos, mas sabia que era um pub. E se não fosse, pelo menos teria bebida.
Álcool. É o que normalmente conserta essas situações, certo? Esquecer um dia de merda tendo uma noite maravilhosa guiada por um bom e velho scotch – porque todos sabem que o melhor uísque é o escocês.
Normalmente, eu não sou muito de beber. Mas depois das últimas horas, acho que é mais uma necessidade do que um lazer.
Sem pensar muito, entrei no pub, pedindo a quaisquer entidades divinas que o resto da minha noite não seja arruinada como a maior parte do dia.
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02. . .eita q a noite vai ser boa hein
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