jaden hossler • point of view
𝑙𝑜𝑠 𝑎𝑛𝑔𝑒𝑙𝑒𝑠, 𝑐𝑎𝑙𝑖𝑓𝑜́𝑟𝑛𝑖𝑎.

Meu pai não dava ponto sem nó. E ele também odiava essas merdas de eventos beneficentes; eu podia contar nos dedos o número de vezes que ele compareceu em algum.

Mas, dessa vez, ele brigou comigo para que eu fosse. Tinha medo do motivo, porém, só descobriria se o obedecesse. Então, me arrumei, usando um terno Armani e sapatos Di Pollini, e fui.

No meio do caminho, dentro da SUV que ele confia ao seu motorista particular, ele faz uma ligação. No começo, não tenho nenhum interesse, realmente achando que fosse algo insignificante, mas...

⸻ Sim, ele está comigo. ⸺ Ele soa feliz, tão feliz que me assusta, na verdade. ⸻ Estamos chegando, na verdade... Sim, no trânsito... Entendo... Tudo bem, nos vemos daqui à pouco.

Eu me viro pra ele.

⸻ Quem era?

⸻ Apenas um colega de trabalho. Você vai conhecê-lo quando chegarmos.

Sim, aposto que vou.

O local do evento era, sem surpresas, uma casa enorme. Quase uma mansão. O foco da noite era doações de qualquer valor para a nova área especializada em câncer de mama no hospital geral da cidade; uma iniciativa muito boa, mas menos da metade dessas pessoas estão aqui por isso.

Descemos do carro, eu e meu pai, e o motorista seguiu para sabe-se lá onde. Meu pai me puxou para perto, enquanto entramos na casa.

⸻ Você vai ser educado. E vai sorrir. ⸺ Meu pai murmura. ⸻ Se você me envergonhar, Jaden Isaiah Hossler, eu vou fazer questão de transformar o resto da sua vidinha medíocre em um verdadeiro inferno.

Como se ela estivesse muito boa agora.

Calado, segui meu pai até o salão de festas.
Enxerguei muitos pontos azuis, a cor dos ternos da maioria dos homens reunidos aqui. Suas esposas ou acompanhantes estavam ao seu lado, ou perto da mesa de bebidas e aperitivos, conversando umas com as outras.

Continuei seguindo meu pai.

⸻ Martin! ⸺ Meu pai chama, com um humor diferente de qualquer um que já foi usado comigo. Os dois homens se cumprimentam, e meu pai se vira para mim. ⸻ Filho, esse é Martin Devora, o anfitrião.

⸻ Boa noite, senhor. ⸺ O cumprimento com um aperto de mão e um aceno de cabeça.

Não falo mais nada por um bom tempo.

Consigo pegar uma taça de vinho da bandeja de um dos garçons em certo momento, e esse foi o único movimento que eu fiz por uma hora inteira.

Peço licença para ir ao banheiro, mesmo que eu não saiba onde fica, e saio do salão. Um pouco mais aliviado por estar longe daquele ambiente grosseiramente educado, me encosto na parede do lado de fora, com uma nova taça na mão, e puxo o celular do bolso do paletó nara ter alguma distração.

Sorrio, antes mesmo de ouvir a voz de Avani.

⸻ Timing perfeito, morena.

⸻ Não sabia se ligava, ou mandava mensagem... ⸺ Ela diz, meio preocupada. ⸻ E aí, já se apaixonou pela vida de herdeiro?

⸻ Continuo tentando. ⸺ Retruco. ⸻ O dinheiro é uma motivação forte, mas todo o resto... Um porre de chato.

⸻ Ah, sim, coitadinho do garoto riquinho. ⸺ Ela afina a voz.

⸻ Você ama zoar com a minha cara, não é?!

⸻ Não sei como você demorou tanto pra perceber. ⸺ Ela suspira. ⸻ Enquanto você tá brincando de ser empresário... ⸺ Meu celular vibra com o pedido de face-time. Quando atendo, vejo o rosto dela.

Não só o rosto, aliás.

⸻ Esquece o que eu disse sobre o timing. É uma péssima hora, linda. ⸺ Forcei-me a ignorar seu corpo perfeito coberto apenas por uma lingerie, e encaro seu rosto bonito.

Avani faz um biquinho triste e desliga o face-time, voltando a ligação de voz.

⸻ Riley foi para uma festa hoje.

⸻ E você não quis ir?

⸻ Quis, muito. Mas, quero mais que você venha aqui, depois dessa chatice de evento.

Sorrio mais largo.

⸻ Você vem?

⸻ É claro que vou. ⸺ Respondo. ⸻ Eu te aviso quando estiver indo, ok? Preciso voltar agora. Eles acham que eu estou no banheiro.

Avani gargalha, mas concorda. Se despede e desliga.

Quando dou dois passos para a direção de onde vim, ouço uma voz.

⸻ Banheiro, hein? ⸺ A pessoa ri. ⸻ Eu usei a mesma desculpa.

Finalmente encontro a dona da voz. É uma garota, morena, traços hispânicos e aparentemente da minha idade. Ela está sentada no canto de um muro pequeno, também com uma taça na mão.

⸻ Uma casa grande como essa deve ter, pelo menos, cinco banheiros. ⸺ Falo.

⸻ Sete. ⸺ Ergo as sobrancelhas. ⸻ Incluindo o meu.

Ela mora aqui, então. A questão é, se ela é filha ou esposa do anfitrião. Que, sendo amigo do meu pai, não me deixaria surpreso se fosse a segunda opção.

⸻ Nailea. ⸺ Ela diz. ⸻ Filha do anfitrião.

Ah, ok. Menos mal.

⸻ Eu odeio essas festas, por mais que meu vestido maravilhoso fale o contrário. ⸺ Ela suspira.

⸻ Não acho que vestidos falam, mas entendi o que você quis dizer. ⸺ Brinco, parado no batente da porta. ⸻ Você não acha que vai pegar mal, ficar aqui escondida?

⸻ Você não estava fazendo exatamente o mesmo?

⸻ Touché. ⸺ Sorri.

Nailea pula no chão, sobre os saltos, e começa a andar ao meu lado até o salão.

Nossos pais nos encontram antes de nos separarmos.

⸻ Ah, perfeito! Vejo que vocês já se conheceram. ⸺ Martin sorri.

⸻ Nos encontramos no corredor. ⸺ Minto. ⸻ Vocês tinham alguma intenção de nos apresentar?

De repente, me lembro de que não disse o meu nome à ela.

⸻ Sim, claro. ⸺ Meu pai diz, sorridente demais. ⸻ Vocês vão ser... parceiros. E bom que tenham uma boa relação.

Franzo o cenho.

⸻ Parceiros? ⸺ Questiono.

⸻ Essa é uma questão a ser discutida na segunda-feira, criança. Hoje, nós queremos que vocês dois se conheçam e, acima de tudo, se dêem bem.

Maravilha.

Meu pai me encara com aquele olhar severo, no qual eu estou muito mais que acostumado.

Nossos pais nos deixam sozinhos, em uma espécie de sala de estar.

⸻ Sozinhos, mais uma vez. ⸺ Nailea diz, se jogando atravessada em uma poltrona. ⸻ Qual é o seu nome mesmo?

⸻ Eu não te disse o meu nome. ⸺ Retruco.

Ela sorri.

⸻ Jaden Hossler ⸺ O sotaque levemente latino em sua voz deixa o meu nome diferente. ⸻ Filho de John Hossler e herdeiro da JH Enterprise.

Reviro os olhos.

⸻ Alguém fez o dever de casa. ⸺ Murmuro. ⸻ Enquanto eu, fui mandado para a guerra desarmado, como sempre.

Nailea ri.

⸻ Nailea Devora, dezenove anos, herdeira da DO Export, filha prodígio, inteligente e solteira. ⸺ O sorriso dela parece calculado. ⸻ Ah, e não virgem, só pra deixar claro.

Levo cinco segundos para me recuperar do choque e me levantar do sofá, indo para a saída da sala.

⸻ Ei! Onde você vai?

Não a respondo.

Encontro meu pai perto da saída, sem Martin, dessa vez.

⸻ Eu quero ir embora. Por favor.

Surpreendentemente, ele não contesta.

Quando saímos, a SUV já está a nossa espera.
Entramos no banco de trás, um em cada janela, e assisto a casa ficar para trás conforme saímos de lá.

⸻ Qualquer que seja o seu plano, não quero fazer parte dele.

Meu pai dá risada. Ele não me responde, apenas ri.

Quinze minutos mais tarde, estou dentro do meu próprio carro, dirigindo até o complexo de dormitórios.

É tarde da noite, então não me surpreendo ao encontrar Avani dormindo em sua cama, com o cobertor até o pescoço. Sorrio com a imagem, e começo a me despir.

Quando estou apenas de cueca, puxo o edredom para o lado e me coloco atrás dela, abraçando o seu corpo com o meu. Ela acorda na hora.

⸻ Você veio. ⸺ Ela sussurra, a voz rouca pelo sono. ⸻ Eu peguei no sono, foi mal. ⸺ ela joga uma perna sobre o meu quadril.

⸻ Está tudo bem. ⸺ Sussurro de volta, encaixando meu rosto em seu pescoço. Ela arranha a minha nuca de leve. ⸻ Linda, eu prometo que amanhã eu te fodo em todas as posições que você quiser, mas podemos ficar assim hoje? Eu só preciso de uma boa noite de sono, e dormir agarradinho com você é meu jeito favorito.

Ouço ela rir baixinho.

⸻ Tudo bem. Mas, eu vou cobrar amanhã.

⸻ Eu sei que vai. ⸺ Beijo seu ombro. ⸻ Boa noite, morena.

Ela devolve o boa noite, mas já estou imerso em seu perfume e calor para dar importância a qualquer outra coisa.