avani gregg • point of view
𝑙𝑜𝑠 𝑎𝑛𝑔𝑒𝑙𝑒𝑠, 𝑐𝑎𝑙𝑖𝑓𝑜́𝑟𝑛𝑖𝑎.

Eu estava perigosamente perto demais de Jaden. Ao ponto de me esquecer que o meu colchão é uma merda, porque passei a última semana dormindo na casa dele, na cama dele, com ele. De conchinha.

Eu até fui a conchinha maior algumas vezes.

Na quarta-feira, eu pensei em voltar para o dormitório. Eu estou tendo aulas teóricas, mas quase não estou acompanhando elas ― tenho planos de trancar o curso assim que tiver uma renda suficiente para bancar um aluguel ― em todo caso.

A questão é, que Jaden está fazendo todos os meus gostos, e eu estou sentindo aquela agonia de quando você avança rápido demais em algo. Não porque não quero isso, mais porque não quero que acabe logo.

⸻ Ah, olha só quem resolveu aparecer! ⸺ Riley diz, assim que entro no nosso quarto. ⸻ Eu não te vi a semana toda, sua vagabunda! Onde você estava?

O meu sorrisinho já diz tudo.

⸻ Sério?! ⸺ Faço que sim com a cabeça. ⸻ Vocês estão quase morando juntos.

⸻ Não estamos, não. ⸺ Contesto. ⸻ Eu só passei seis noites lá. ⸺ Dou de ombros. ⸻ Não é nada demais.

⸻ Nada demais? Avani! Você está aqui há dois anos e nunca passou uma noite na casa de homem nenhum. ⸺ Riley continua. ⸻ Eu acho que você gosta dele.

⸻ É claro que eu gosto dele, Ri.

⸻ Eu quero dizer gosta gosta dele. ⸺ Ela sorri. ⸻ E também, acho que ele gosta gosta de você. Ele aceitou uma proposta que vinha recusando há anos, só pela chance de você realizar seu sonho como modelo. Pelo amor de Deus!

Vendo por esse lado....

Não.

⸻ É cedo demais pra isso, Riley. Não viaja.

⸻ Não é nada cedo. Vocês se conhecem há mais de um mês. Eu me apaixonei pelo meu ex-namorado em menos de uma hora. ⸺ Ela dá de ombros e revira os olhos. ⸻ Só estou dizendo pra você ter certeza das coisas, antes de se jogar de cabeça, ok? Você pode gostar dele e ele de você, ou você pode gostar dele e ele não gostar da mesma maneira. Ou, você pode curtir ele como pau amigo, mas ele gosta de você. Vocês não podem se deixar no escuro.

Quero dizer à ela que isso é ridículo. Que eu conheço Jaden há pouco mais de um mês, e que não é possível alguém gostar de outra pessoa tão rápido. Quero dizer que ela está sendo boba e que eu não gosto gosto dele coisa nenhuma.

Porém, acho que não posso.

Tenho certeza que não posso, aliás. Porque, mesmo que eu negue, eu sinto. Eu posso não gostar gostar dele, mas estou começando.

E passar a semana na casa dele, certamente acelerou o processo.

Ele foi tão carinhoso comigo. Tomamos banho juntos todos os dias, e todos os dias ele lavou o meu cabelo, e depois me levou para a cama. Às vezes, a gente nem transava ― não de noite, pelo menos ―, mas ele me abraçava, colocava a cabeça no meu pescoço, ou a minha cabeça no pescoço dele e fazia carinho até eu dormir.

Sinto meu coração acelerar, de repente.

⸻ Eu estou certa, não estou? Você gosta dele. ⸺ Riley diz, sorrindo pequeno.

⸻ Eu gosto. ⸺ Assumo, baixinho. ⸻ E não sei o que fazer à respeito.

Riley pula para a minha cama e me abraça até nós duas cairmos no colchão duro, em comparação ao de Jaden.

⸻ Onde ele está agora? ⸺ Ela pergunta.

⸻ Na empresa. ⸺ Respondo. ⸻ E depois que sair, ele vai pra uma festa beneficente com o pai dele. ⸺ Suspiro. ⸻ Ele disse que eu poderia ficar no apartamento esperando por ele, mas acho que eu precisava pegar um ar fresco, não sei.

Riley começa a acariciar meu cabelo.

⸻ É normal entrar em pânico quando você começa a perceber. ⸺ Ela diz. ⸻ Quando você não sabe se a outra pessoa sente o mesmo que você. É completamente normal, vani.

⸻ E assustador. ⸺ Sussurro.

Embora, eu não tenha tanta dúvida de que ele também gosta de mim.

⸻ Vai passar. ⸺ Ela sussurra de volta. ⸻ E, se vale de alguma coisa, eu acho que ele sente.

Sorrio, mas não respondo.

Riley se senta em um pulo.

⸻ Tenho uma festa para ir em uma hora, você quer ir comigo? ⸺ Cerro os olhos para ela. você Não estou te pedindo para transar com ninguém, boba. Faz tempo que não saímos juntas, pra beber e dançar.

Penso um pouco, mas balanço a cabeça. Riley ri.

⸻ Tudo bem. ⸺ Ela sorri. ⸻ Qualquer coisa você me liga, ok? Eu volto na hora.

⸻ Ok.

Riley sai com sua bolsinha de banho e um roupão pendurado no ombro. Não vejo ela voltar, porque acabei cochilando.

Só acordo quando o meu celular apita, bem ao meu lado. É uma mensagem. Da minha irmã mais velha.

Isla: Você acabou de aparecer na televisão aqui em casa. Parabéns, vani! 👏🏻

Meus olhos se enchem automaticamente.

Isla sempre foi a menos cruel comigo. Na verdade, ela era a única que tentava me incluir nas coisas, me chamava para brincar quando éramos pequenas. E sempre levava bronca de Lorna por ser amigável comigo. Ela me mandou uma mensagem quando soube que eu estava em Los Angeles, me desejando boa sorte.

Isla nunca me chamou de Avani. Os apelidos favoritos dela eram vani ou vavani.

Eu sempre gostei mais dela, que dos outros.

Eu: Obrigada, Isla! Saudades < 3

Isla tem vinte e cinco anos agora, e ouvi de Lorna que ela teve uma filha um tempo antes de eu ir embora de Port William. Eu gostaria de tê-la conhecido antes de vir, mas não deu certo.

Pra falar a verdade, eu sempre achei que Isla fosse lésbica ― embora, eu saiba que ela definitivamente gosta de mulher. Ela sempre foi diferente de Iona, no quesito relacionamento ― enquanto Iona estava no quarto relacionamento aos dezoito anos, Isla só teve o primeiro namoro oficial com vinte.

Acho que Isla é a única que me entenderia, nesse momento. E não sei o que me dá, mas ligo para ela.

⸻ Vani, oi! ⸺ Ela atende, e pego a surpresa e animação em sua voz. ⸻ Você quer que eu coloque meu inglês pra jogo, ou ainda sabe falar na nossa língua? ⸺ Brincou.

⸻ Uma vez aprendida, jamais esquecida. ⸺ Brinco de volta, na nossa língua materna. ⸻ Eu preciso de ajuda, Isla.

⸻ Uh-uh, soa como um problema de cupido.

⸻ É exatamente o que é.

Conto para ela sobre o que passei no último um mês e meio. As duas demissões, minha transa no banheiro com um desconhecido, que acabou se tornando meu chefe uma semana depois, e depois acabou se tornando meu amigo, e depois amigo com benefícios, e agora... isso, o que quer que ele seja para mim agora.

⸻ Você está em pânico. ⸺ Ela constata. ⸻ Se eu não estiver enganada, é a sua primeira experiência envolvendo amor, certo?

⸻ Por favor, não diga essa palavra de novo. ⸺ Resmungo, e ela ri. ⸻ Eu só... Não sei o que fazer, Isla.

⸻ Ninguém sabe o que fazer na primeira vez., vavani. ⸺ Ela responde. ⸻ A única coisa que você pode fazer, é analisar os riscos e as possibilidades. Você pode acabar quebrando a cara feio, ou pode acabar namorando o cara. Tudo depende do que você vai escolher fazer com os seus sentimentos.

Aperto a o topo do nariz, sentindo uma dor de cabeça repentina.

⸻ Não posso te dizer o que fazer, ninguém pode. Mas, reprimir nunca é uma boa ideia, vani. ⸺ Continua. ⸻ Se você disser 'eu te amo' para alguém, você só pode receber duas respostas: eu também, ou obrigada.

Acabo rindo, mesmo sem querer.

⸻ A única coisa boa em ser rejeitada é saber que você esclareceu tudo. Dói? Pra cacete. Mas, pelo menos, você vai saber. ⸺ Aceno com a cabeça, esquecendo por um segundo que ela não pode me ver. ⸻ E, se a resposta dele for 'eu também', você vai sentir um alívio imenso de saber que é recíproco. A dúvida vai te comendo aos poucos; a rejeição é uma dor passageira. E amar é tão bom, vavani. Espero sentir isso de novo algum dia.

Consigo sentir a dor em sua voz. Sei que ela ficou casada com Travis, seu primeiro namorado, por dois anos ― e mais dois namorando ― antes que ele, infelizmente, morresse em um acidente de trabalho.

⸻ Não vou viver na dúvida, Isla. ⸺ Digo. ⸻ E, se amar não for tudo isso que você diz, então você me deve uma. ⸺ Brinquei.

⸻ Não estou preocupada. Você vai saber que eu estou totalmente certa.

Sorrio um pouco.

⸻ Obrigada, Isla.

O tom dela aparenta ser cauteloso quando ela diz, pela primeira vez em anos:

⸻ Eu te amo, vavani.

Paro de respirar por um tempo. Mas, estou sorrindo quando a respondo:

⸻ Eu também te amo, Isla.