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Parte 02 - O Desmoronamento

No dia seguinte estamos no mesmo lugar de novo. Che fica me contando todos os detalhes sórdidos (que eu desejaria não saber) de quando ele deixou Margarida em casa e ela o convidou para entrar, porque não tinha ninguém em casa...

— Provavelmente agora ela vai querer que você peça para namorar com ela —palpito.

— Provavelmente. Mas e daí? — Responde, num sorriso sarcástico.

— Você gosta dela, seu idiota. — Dou uma cotovelada nele. — Qual é o problema de namorar?

— Se eu namorar com ela, não vou poder mais pegar a Carmem da rua de baixo, nem na Kika da rua de cima — diz, num tom obvio. — Por que eu vou querer ficar com uma só, quando eu posso ter várias?

Eu desisto de explicar antes mesmo de começar. Às vezes eu me pergunto por que mesmo eu sou amigo de Che. Mas então me lembro que é uma amizade de longa data. Desde que me mudei para cá, pouco depois de minha mãe ter ido embora, Che se tornou meu melhor amigo, porque ele foi o único que me acolheu, mesmo que tenha sido com piadinhas sarcásticas. Mas é assim que ele é, não tem jeito. Talvez seja sua linguagem do amor. Ou sua forma de proteção.

A lembrança da mudança me dá uma estranha saudade de minha casa antiga. Da minha rua, onde eu cresci, onde eu andava de skate e até mesmo onde eu dei meu primeiro beijo. As escadas da minha casa, onde eu comecei a dar meus primeiros acordes num violão velho. Parecia que aquilo tudo tinha acontecido em outra vida. Em uma vida na qual eu tinha uma mãe.

— Lá vem elas, lá vem elas! — Che me diz, cutucando minhas costelas, como sempre.

— Dá para você parar com essas bostas de cutucadas? — Digo entre dentes.

— Ah, larga de ser fresco! — Ri consigo mesmo, antes de subir os olhos para Margarida.

— Olá, Humberto — diz ela sorridente. – E aí, Garibaldi?

Sorrio para ela, um sorriso pequeno, meio desanimado, que nem ao menos revela meus dentes. Che, obviamente, se levanta quase que num salto.

— Já disse que odeio que me chamem de Humberto. Meu nome é Che, Margarida, Che! –— Diz, ríspido.

— Não é não. Seu nome é Humberto — continua ela, com um sorriso no rosto. Tenho certeza de que ele ia acabar deixando aquilo para lá, hipnotizado pela forma como ela ria. — Problema seu se você não gosta dele, mas é assim que eu vou te chamar

— Vou levar Margarida em casa de novo — diz Che para mim. –— Você não quer vir? A gente pode passar no bar do Ronaldo na volta.

— Não, valeu — respondo rapidamente. Não queria estar no mesmo ambiente que aqueles dois depois do que ele tinha me contado sobre ontem, vai que acontecia de novo? — Tem umas coisas que eu quero resolver.

Che me olha de uma forma estranha, mas então dá de ombros. A futura namoradinha dele se despede de Isabela e os dois vão embora: ele segurando os livros dela e ela agarrando seu braço, como uma noiva em um casamento. Contenho uma risada e levanto-me do banco. Desta vez não tem cigarro para apagar, nem guitarra para pendurar nas costas. Vim sozinho, cantarolando Janis Joplin na minha cabeça, e vou voltar sozinho, cantarolando Janis Joplin na minha cabeça.

Sei que é ridículo, mas sinto o coração quase saindo da boca quando dou um abano de cabeça de despedida displicente para Isabela e enfio as mãos nos bolsos da calça para ir embora. Me pergunto se um dia terei coragem de dizer para ela tudo que eu penso sobre ela, mas meio que sei que a resposta é não.

— Garibaldi?

Eu freio. Meu coração freia junto.

— Posso falar com você um instante? — sua mão toca meu ombro.

Viro-me vagarosamente, enquanto ela puxa a mão de volta, como se de repente eu tivesse começado a pegar fogo. Eu me sentia dessa forma. Em ebulição por dentro. Mas não sabia que era perceptível.

— É claro — respondo, com os olhos nervosos, sem saber direito para onde olhar ou o que fazer com minhas mãos. — Quer que eu te acompanhe até em casa?

— Pode ser — responde ela com um sorrisinho. — Eu só queria conversar com você.

Isso era novidade. De todos esses meses duas andando na nossa calçada, de todas essas semanas de nossos amigos pseudo-namorando, se trocamos seis palavras era muito. Culpa minha, com certeza, incapaz de formular frases coerentes em sua presença.

— Sobre? — pergunto.

— É delicado — responde ela. — Gostaria de não precisar falar sobre isso, mas Margarida me disse que Che disse a ela que você entenderia.

Eu subo as sobrancelhas, intrigado. Pelo jeito havia tido toda uma rede de fofocas sobre aquele assunto, seja qual fosse. Desconfortável, tento suavizar o clima.

— Quer que eu carregue seus livros?

— Não precisa — diz baixinho, me olhando entre seus fios ruivos.

Mesmo assim eu pego os três livros enormes de suas mãos. Só fazia um ano que eu tinha saído do colégio, mas parecia que os livros tinham triplicado de tamanho naquele período.

— Obrigada — dá um sorriso tímido.

— Então? — retomo a conversa, depois de termos atravessado a rua. – O que foi?

— Eu sinto muito ter que tocar nesse assunto. Sinto muito de verdade — suspira. — Mas me parece que é só com você que posso falar isso para valer. Apesar de nós nem mesmo sermos amigos.

— A não ser que você considere acenos de cabeça e sorrisinhos sem graça como amizade — giro um pouco a cabeça para encará-la melhor.

— Não exatamente — diz, sem graça. — Se eu soubesse que você sabia falar alguma coisa além de "tanto faz" ou "deixa de ser idiota, Che" eu teria falado com você antes.

— Se eu soubesse que você sabia falar alguma coisa além de "até amanhã, Margarida", também teria falado com você antes — respondo, apesar de isso não ser totalmente verdade.

Mas que se dane, eu mal consigo ouvir minha voz por conta da bateria de escola de samba dentro do meu peito. O que é ridículo. Mas eu não consigo impedir. Eu era uma vergonha para toda uma raça de bad boys, mas parecia que eu estava apaixonado por uma garota com quem nunca conversei de verdade antes.

— Então — diz, quando giramos na esquina. — Vou direto ao assunto.

Eu assinto com a cabeça, ansioso para aquilo acabar. Ou começar. Ou sei lá.

— Eu sei que você se mudou para cá há uns três anos e eu sei o motivo — sua voz cai alguns tons. Eu encolho os ombros, mas seu tom de voz não parece de ameaça. — Sinto muito por ter que tocar nesse assunto, Garibaldi, mas eu preciso.

Eu assinto com a cabeça de novo, engolindo em seco.

— Meu pai foi embora de casa semana passada — ela para no meio da calçada, de olhos baixos, colados ao chão. — Ele mal nos deixou um bilhete.

Não tenho certeza do que fazer. Quero abraçá-la, mas não parece certo. Sinto um nó se formar na minha garganta. Engulo em seco.

— Eu nunca pensei que ele fosse capaz de fazer isso — diz, mais baixo ainda. É quase um sussurro. — Sempre achei que amasse nossa família, que amasse minha mãe!

Ela subiu seus olhos azuis, repletos de lágrimas na minha direção. Meu coração se parte em diversos pedacinhos, compadecido não só pela história, mas pela forma como ela está.

— Meu irmão só tem oito anos! — diz, amargurada. — Essa é a pior parte.

Eu penso em comentar alguma coisa, mas ela continua. Não conseguia achar palavras para falar com ela nem numa situação normal. Numa situação destas, parecia impossível.

— Que ele não me queira, não queira minha mãe, ótimo. A gente supera — Diz ela, cheia de si. — Mas o meu irmão? Como eu vou explicar para ele que nosso pai foi embora e que ele nunca mais vai voltar? Ele amava aquele velho! Imitava-o em cada detalhe e agora o que?

Ela puxa uma mecha do cabelo ainda mais ruivo por conta dos poucos raios solares que apareceram de repente, deixando os olhos azuis ainda mais de fora, junto com todas suas lágrimas.

— Como você conseguiu passar por isso tudo? — me encara com lábios trêmulos. — Como você conseguiu superar ver sua mãe ir embora?

Sorrio fracamente. As fachadas. O que Isabela via era um cara descolado, que parecia não ter nenhuma preocupação na vida e que só queria curtir seus dias. O que Isabela não via era o coração dilacerado dentro do meu peito, com um buraco causado pela ausência da minha mãe que jamais seria remendado.

— Dói até hoje — é tudo que consigo dizer.

— Eu sei, mas você está aí inteiro.

Sorrio fracamente de novo, porque para mim era muito claro que de inteiro eu não tinha nada.

— Vocês também vão continuar inteiros – murmuro, querendo dar força. – Mas eu não estou totalmente inteiro. Eu desandei depois que minha mãe foi embora, eu nunca fui assim. – Aponto para mim mesmo. – Eu não sou assim.

— Assim como? – ela não entende.

Eu não esperava que ela entendesse também. Nem eu entendo.

— Eu tinha quinze anos quando ela foi embora. Era um garoto que gostava de andar de skate e tocar violão. Um dia queria virar um músico famoso, e por isso escrevia algumas letras sem sentido...

Para quem nunca tinha conseguido se dirigir a palavra para Isabela, agora eu estou em estado de verborragia. Falando tudo. Que loucura. Nunca tinha falado nada disso para ninguém, nem mesmo para Che, mas as palavras iam simplesmente saindo da minha boca e contando toda minha vida para uma quase desconhecida.

— Só que tudo isso foi embora com ela — encolhi os ombros. — Os anos passaram e agora eu sou só um idiota que fica se matando aos poucos com seus cigarros e bebidas, mas que se dane... Não tenho muito a perder.

Isabela estende a mão. Seus dedos fininhos envolvem meu braço, queimando mesmo com todo o tecido da minha jaqueta entre nós dois. Eu não levanto os olhos para ela. Não posso levantar os olhos para ela. Ela verá as lágrimas neles.

— Eu sei que no fundo continuo sendo o mesmo garoto, que sonha em tocar suas músicas e namorar a menina de seus sonhos — engulo em seco. — Só que a vida me fez mudar um pouco o rumo.

— Um pouco? — Isabela esboça um sorriso.

Desço ainda mais meus olhos, da sua mão em minha jaqueta para seus all stars, azuis e limpos. No maior contraste com meus tênis, que acho que um dia já foram brancos.

— Eu não sei nada sobre você, e mesmo assim parece que eu sei tudo — diz, esticando a outra mão e levantando meu queixo. — Por trás dessa coisa toda essa fachada, você só é alguém machucado. Machucado como eu.

É embaraçoso demais dizer que quando eu a fito nos olhos, meus olhos parecem não ser mais capazes de segurar as lágrimas.

— Achei que você não ligasse para vida, mas agora eu vejo que tudo isso tem valor para você e que é por isso que você se fecha na sua bolha — sacode a cabeça, parecendo descrente. — Porque você não quer sofrer com suas lembranças antigas —sentencia. — Eu achei que seu único amor fosse seu maço de cigarros. Mas você tem sonhos.

— Eu tinha.

— Você tem! — interrompe. — Você quer fazer música.

— Utopia.

— Ora, mas por quê? — Grita ela, me soltando e jogando os braços para cima. — Se tudo de ruim pode acontecer nesse mundo, por que as coisas boas não podem acontecer também? Destino! Predestinação! Caminhos cruzados! Lugar certo, na hora certa! Essas coisas também têm que existir.

Inocência. Para mim, aquilo era inocência. Mas Isabela estava mostrando que também tinha suas dores. E, apesar de mais jovem que eu, não era tão mais jovem assim. Tínhamos idades parecidas e, ao que tudo indica, vivências parecidas. Eu só tinha mais tempo nesse caminho tortuoso do abandono.

— Quer dizer que era destino nossos pais nos deixarem? — pergunto descrente.

— Se não fosse por esses fatos dolorosos não estaríamos aqui agora — dá de ombros, deixando uma lágrima correr pelo rosto. As minhas correm também. — Cheios de lágrimas nos olhos e corações acelerados. Se não fosse por meu pai ter ido embora, eu nunca teria falado com você e eu nunca teria visto que você é mais do que esse exterior bonito. — ri Isabela, mas é um riso amargurado. — Eu nem sei seu nome.

Sorrio. Não dá para não sorrir quando ela ri, mesmo que seja cheia de dor. Seco minhas bochechas com o verso da minha mão, ainda envergonhado por ter transbordado meu coração desta forma. E no meio disso tudo, bem no fundo do meu cérebro, uma vozinha repetia: "ela te chamou de bonito?".

— Me chamo Hugo, mas faz muito tempo que alguém além do meu pai me chama assim.

— Hugo. É um bom nome para um garoto que compõe músicas, tira acordes e derrete garotas — ela continua sorrindo. — Precisamos tirar esse garoto daí de dentro.

— E precisamos te ajudar a lidar com a dor da ausência — digo, timidamente. — Ou você vai se tornar uma pessoa como eu. — A possibilidade me entristece. — E seu irmão. Não deixe seu irmão se tornar como eu.

— Se meu irmão se tornar como o garoto Hugo, vou ficar feliz com isso... — ela sorri.

— Você mal me conhece, Isabela — respondo, na defensiva. — Como pode desejar algo assim?

— Eu só sei que você tem um bom coração — ela arruma a mecha do cabelo para trás. — Eu e você podemos ter mais em comum do que só a problemática dos pais.

Tento ler nas entrelinhas. Quero entender se aquilo é um convite. O clima pesado vai ficando mais suave quando eu mexo no cabelo dela, rearrumando a mecha que ela tinha acabado de ajeitar, mas já tinha caído de novo.

— Talvez — respondo. — Só arriscando para saber...

Ela gira o rosto na direção da minha mão e eu abro minha palma para acariciar sua bochecha ainda molhada pelas lágrimas. O toque incendeia minha alma. Subitamente eu me sinto grato. Me sinto vivo. Me sinto capaz.

— Hugo, você quer entrar? — pergunta ela, secando as lágrimas dos olhos, com um sorrisinho no rosto. — Acho que meu irmão adoraria te conhecer.

Só então reparo que estamos na frente de um prédio, prédio dela, ao que parece.

— Eu adoraria — respondo, dando um passo para trás. — Dá para você esperar alguns minutos? Vou pegar a Joplin.

Antes dela responder, já estou correndo na direção da minha casa. Não é longe, se eu me esforçar volto em cinco minutos. Tenho certeza de que o irmão dela vai gostar da Joplin. Se ele estiver interessado, posso até ensinar uns acordes pro moleque.

— Quem? — Pergunta Isabela com um grito.

— Meu violão! — Respondo, olhando para ela por cima do ombro.

— Hugo! — grita ela.

Eu freio. Meu coração freia junto.

Viro na direção dela, sem conseguir respirar. E não tinha nada a ver com a corrida.

— Nada não — grita ela, com um sorriso estupendo no rosto, quando vê que estou a encarando. — Só gosto do seu nome.

Então eu resolvo que Joplin pode esperar um pouquinho e retorno alguns passos até chegar bem perto dela, laçá-la pela cintura e colar nossas testas.

— Eu devia ter feito isso seis meses atrás – digo, antes de beijá-la.

Meu coração batendo feito um doido contra meu peito, numa sensação que só pode ser comparada a como eu me senti quando aprendi meus primeiros acordes no violão velho.

— Vai dar tudo certo no final, não vai? — Pergunta ela, com meu rosto entre suas duas mãos aveludadas.

— É nisso que a gente tem que acreditar – respondo, antes de beijá-la de novo.

Tenho uma vontade maluca crescendo dentro de mim. Uma vontade maluca de mudar tudo. Chutar os alicerces e me reconstruir. Uma vontade de amanhã mesmo trancar a faculdade direito e seguir meu coração, meu pai teria que entender. Quero amanhã mesmo jogar aquela caixa de cigarros fora. Amanhã mesmo eu arrumo aquela casa bagunçada. Amanhã mesmo procuro minhas letras antigas. Talvez amanhã mesmo até rascunhe uma nova. Amanhã mesmo, ao som do cd de Janis Joplin.

Bad Boys definitivamente não ouvem Janis Joplin.

Mas tanto faz, bad boys também não amam.

Então talvez eu não tenha nascido para ser o vilão.

Talvez, no final das contas, eu sempre tenha sido predestinado a ser o mocinho.

ØØØ

Nota da autora:

Oie! Espero que vocês tenham gostado dessa surpresa de dia dos namorados. Eu estou adorando reviver essas histórias com vocês. A mensagem edificante da tia Clara do dia é: lembre-se de ser completo antes de querer se somar a alguém! Um beijo e até a próxima.

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