Capítulo 16
O silêncio da sala se arrastava como um fardo pesado sobre mim. Manu ainda me segurava em seus braços, seu carinho era um bálsamo para minha alma ferida, mas mesmo assim, a sensação de vulnerabilidade persistia. O peso das palavras de papai ainda ressoava em minha mente, trazendo consigo um turbilhão de emoções conflitantes. — Vergonha, arrependimento, medo.
— Vamos para casa? — Manu sugeriu suavemente, alisando meus cabelos em um gesto reconfortante. — Acho que um banho quente e um pouco de descanso podem te fazer bem.
Eu apenas assenti, sem forças para discutir. Peguei minha mochila enquanto Manu organizava algumas coisas na mesa antes de sairmos. Caminhamos pelo corredor silencioso da escola, e senti o olhar de alguns colegas sobre mim, mas ignorei. Minha cabeça estava cheia demais para me importar com qualquer coisa além do que havia acontecido.
O caminho de volta para casa foi tranquilo, Manu dirigia em silêncio, respeitando meu espaço. Apenas o som do motor e a leve melodia do rádio preenchiam o ambiente. Meus olhos vagavam pela janela, observando as ruas passarem como um borrão, enquanto minha mente voltava ao momento do telefonema com papai. Ele chegaria na sexta-feira. Isso significava que tinha três dias para lidar com toda essa situação antes de enfrentá-lo cara a cara.
— Sobe, toma um banho e descansa um pouco. — Quando chegamos em casa, Manu foi direta. — Eu vou preparar um tetêzinho para você. — Seu tom era gentil, mas firme.
Eu sabia que não tinha escolha, então apenas murmurei um "tá bom" antes de subir as escadas e ir direto para o banheiro. Liguei o chuveiro e me permiti ficar ali por um tempo, deixando a água quente escorrer pelo meu corpo, levando embora, ao menos temporariamente, a tensão acumulada do dia.
Depois do banho, vesti um pijama largo, confortável e desci para encontrar Manu na cozinha. Ela havia preparado meu tetê do jeitinho que eu gostava, com muito chocolate. Me sentei à mesa sem dizer nada, apenas aceitei a mamadeira que ela me entregou e comecei a mamar devagar.
— Obrigada... — Murmurei, sem levantar os olhos.
Manu sorriu de leve e assentiu. Ela havia saído mais cedo do trabalho para ficar comigo e eu não sabia se me sentia amada ou desconfortável com isso por estar a atrapalhando.
Era um momento de trégua, uma pausa para respirar em meio ao caos interno. Quando terminei, Manu pegou o recipiente vazio e me conduziu para o sofá da sala.
— Podemos conversar um pouco? — Ela questionou, e eu sabia que não era realmente uma pergunta.
Suspirei e assenti, abraçando uma almofada contra o peito. Manu se sentou ao meu lado e me olhou com aquele olhar firme e cheio de ternura que me fazia sentir segura e ao mesmo tempo exposta.
— Vitória, eu sei que você está lutando contra muitas coisas dentro de você. E eu também sei que às vezes parece impossível sair desse buraco. Mas você não precisa fazer isso sozinha. Eu estou aqui. Seu pai está aqui. Você não está sozinha, meu amor.
Eu queria dizer que entendia, que estava melhorando, que tentaria, mas as palavras ficaram presas na minha garganta. Apenas assenti de novo, sentindo meus olhos arderem com lágrimas que eu já estava cansada de derramar.
Manu suspirou e passou o braço ao redor dos meus ombros, me puxando para um abraço. Fiquei ali, sentindo o calor e o conforto do seu toque, até que o cansaço finalmente me venceu.
— Vamos para cama? — Ela sugeriu.
— Vou poder ver desenho no celular? — Questionei, sabendo que a mesma detestava e restringia meu acesso à internet.
— Não. — Ela negou, sem surpresa. — Você vai dormir um pouquinho.
Franzi o cenho e cruzei os braços.
— Então não quero. — Resmunguei, afundando-me no sofá.
Manu arqueou a sobrancelha, mantendo a expressão paciente, mas firme.
— Vitória...
— Não! — Exclamei, sentindo a frustração transbordar. — Você só quer que eu durma e fique quieta!
— Você precisa descansar. — Manu respondeu, cruzando os braços também.
Bufei e me joguei contra as almofadas, de cara virada, me recusando a sair do sofá.
— Não quero!
— Vitória...
— Não quero! — Insisti, testando seus limites.
— Você quer ganhar uns tapas? — Seu questionamento me fez paralisar, e a vergonha subir para o topo de minhas bochechas.
— Não.
— Então o que vamos fazer agora?
Fiquei em silêncio por alguns instantes, sentindo a respiração pesada devido ao constrangimento e nervosismo.
— Dormir. — Tive que ceder.
— Então levanta. — Era uma ordem e eu sabia.
Ainda travada pela vergonha, me coloquei de pé, com os braços cruzados deixando claro que estava emburrada — e sem esperá-la — caminhei rumo ao quarto dela e do papai, ouvindo seu suspiro logo atrás de mim.
— Pode fazer nada. — Reclamo baixinho, contrariada.
— Pode pegar sua chupeta, seu ursinho, me abraçar e tirar um cochilo. — Manu repreendeu em tom não muito sério.
— Sem o seu tetê? — Fiquei ofendida, me virando para encará-la ao praticamente me jogar na grande cama de casal dela.
— Você acabou de mamar. — Ela revirou os olhos, me implicando.
— Mas eu quero o seu... — Fiz bico. Ela sabia exatamente o que eu queria.
— Tá bom mocinha. Não faz esse beicinho que eu não aguento... — Ela cedeu aos meus encantos e se deitou ao meu lado. A essa altura do campeonato, tínhamos muita intimidade, então, sem reservas, a vi sacar o seio farto para fora e dar espaço para eu me aproximar.
Manu havia perdido seu primeiro filho a pouco tempo, havia sofrido um aborto e nossa dinâmica a ajudava a preencher esse vazio, de alguma forma. Eu sabia disso, mesmo que nunca tivéssemos falado abertamente sobre o assunto. O jeito que ela cuidava de mim, sua paciência quando eu fazia birra, a forma como me oferecia conforto sem hesitar... tudo isso deixava claro que, para ela, eu era mais do que um problema – eu era filha dela.
Me aconcheguei em seus braços, vendo o quão cheios estavam, pois, chegavam a pingar. Sem receio algum, encaixei os lábios em um de seus e comecei a sugar, com calma, carinho. Senti suas mãos acariciando meu cabelo, e me senti relaxada de imediato. — Era impressionante o quão aquilo me fazia bem. Ela me encarava, sorrindo, presa a nosso momento juntas.
Com as mãos livres, segurei seu seio restante e em como um reflexo de travessura, apertei, fazendo o leite espirrar longe. — Recebi um tapa sonoro nas costas da mão — em reflexo da mesma.
— Aiai mamãe! — Repreendo irritada, falando embolado por não soltar o que estava em minha boca.
— Fica quietinha. — Pede me abraçando, de forma que consegue dar tapinhas suaves em meu traseiro, para facilitar a vinda do sono.
Obedeço, sentindo que realmente preciso descansar. O calor do abraço de Manu e o ritmo dos tapinhas suaves criavam uma sensação de segurança que eu não queria admitir em voz alta. Meu orgulho ainda pesava, mas o cansaço era mais forte.
Fechei os olhos, sentindo meu corpo relaxar aos poucos contra o dela. Sua respiração tranquila, o cheiro familiar e o toque gentil me envolveram, afastando o desconforto da teimosia anterior.
— Eu só quero o seu bem, meu amor. — Manu murmurou contra meus cabelos, a voz carregada de carinho e cansaço.
Eu quis responder, mas as palavras não saíram. Apenas me aconcheguei mais em seus braços, permitindo que o sono fosse o vencedor de nossa batalha.
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