Capítulo 07
Entro em desespero ao me ver encurralada, tanto pelos policiais sem paciência que invadem a residência, quanto pelo celular vibrante em minhas mãos, com várias chamadas perdidas de Mommy. Ela ficará uma pilha se descobrir que menti. Vai me deixar de castigo, proibir de sair e pior... Ela vai querer me bater, talvez como nunca bateu antes, pois sei que é extremamente proibido mentir em nossa relação. Tudo que temos é constituído a base de confiança, e ao deixar de falar a verdade, eu quebrei o que ela mais presa. Bia deixará de acreditar em mim, não irá mais querer falar comigo e muito menos me ter como baby.
Como você é burra Vitória!
Sinto meus olhos arderem, e ainda tendo o corpo sustentado pelos braços de Vitor, tento me recompor para sair logo dessa enrascada. Reparo que a multidão que cercava a casa a alguns minutos se dispersa aos poucos, com o consentimento dos policiais, após serem revistados. Mika que está afastada de todos, perto dos oficiais, chora encolhida contra o chão, se sentindo um tanto mais ferrada que todos aqui, pois, a casa é dela e seus pais estão fora.
Cambaleio em passos rápidos, indo na direção de minha amiga na esperança de lhe oferecer conforto ao que me solto de Vitor. Quando me encontro perto o suficiente, sento sem jeito a seu lado e apoio a cabeça contra parede, me sentindo zonza e bêbada de mais para tomar qualquer atitude no momento.
- Isso que é saber dar uma festa.- Falo com sarcasmo mal disfarçado, mas ao menos tiro um sorriso da mesma.
- Queria ser igual você as vezes.- Diz em tom arrastado, talvez por também se encontrar bêbada no momento.
Não entendo seu comentário e enrugo a testa para isso, pois, nunca ninguém quis ficar no meu lugar.
- Como assim?- Sinto sua cabeça cair de encontro a meu ombro, e abraço seu corpo grande de maneira desajeitada. Mika é uma de minhas melhores amigas, sempre estudou comigo e sei que posso contar com ela para tudo. Desde uma social a coisas mais pessoais. Ainda não fui capaz de lhe contar sobre meu lado baby, ou até mesmo sobre Beatrice... Mas, se fosse para falar sobre isso com alguém aqui da "vida real", Mikaella seria essa pessoa.
- Você sempre faz o que quer, não tem que justificar nada a ninguém e sua mãe é super de boa. Queria ser assim também.- Reclama em tom chateado.- Minha mãe vai surtar, e meu pai vai me deixar de castigo para o resto da vida, se não me internar em um colégio interno.- Seu tom é brincalhão, mesmo que sua fala esteja parcialmente certa.
- Vai ficar tudo bem, você vai ver.- Ofereço um sorriso confortável para a mesma, não deixando de me chatear por ela pensar que sou livre e desimpedida.
Se você soubesse Mika...
O celular volta a vibrar insistentemente em minhas mãos, e vendo que não irei conseguir escapar por muito mais tempo de meu triste e doloroso fim, atendo. Com os olhos atentos de minha amiga sobre mim.
- Baby... Que barulho é esse?- Questiona do outro lado da linha, e já sinto meu corpo tencionar com sua pergunta.- Estou preocupada, te liguei mais de dez vezes e você não atendia. Mandei mensagens, mas você não visualizou nenhuma. Então rastreei seu celular e de acordo com o App, você está do outro lado da cidade. Onde você está Vitória?- Seu tom é mais preocupante que odioso, e tal fato me deixa ainda mais para baixo.
Respiro fundo, me preparando para contar a verdade, ainda bêbada e drogada de mais para pensar com clareza.
- Eu menti Mommy.- Digo sentindo minhas bochechas queimarem, pois, Mikaela me encara com as sobrancelhas erguidas.- Estou na social que lhe pedi para vir e a senhora não deixou... Me desculpa Mommy.- Peço sentindo a culpa bater.- Eu sinto muito...
Zonza e nenhum pouco satisfeita com meu fim de noite, sinto meus olhos arderem ao querer chorar, mas, prendo as lágrimas para não passar vergonha em público. O silêncio do outro lado da linha é a melhor resposta possível da decepção que acabo de causar a Bia.
Com os braços em torno do corpo de Mika, vejo os movimentos desastrosos de minha amiga e logo mudamos de posição. Se antes eu a abraçava, agora sou acolhida contra seu corpo, de maneira carinhosa e silenciosa, enquanto a mesma me consola ao perceber minha situação.
- Vá para casa.- Manda Bia em tom frio e o medo que se instala em mim é indescritível.- Aparentemente você está bêbada, e precisa ir para casa, conversamos mais tarde sobre o ocorrido. Peça um táxi ou um Uber e por favor me obedeça Vitória.- Pede, e percebo em sua voz que a mesma faz força para não gritar.
- Sim senhora...- Minha voz transmite exatamente o que sinto. Culpa e medo.
Sem dar mais uma palavra, Mommy desliga a chamada me deixando ali, nos braços conhecidos e confortáveis de Mika, me sentindo a pior das criminosas existente.
Eu tinha que fazer merda, como sempre... Eu tinha que fazer merda!
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