1- O Site
Bom, eu me recordo de ter 5 anos quando minha vó Zita me deu uma boneca, na época eu morava em uma casa na Vila Aliança, um bairro da zona oeste do Rio. Tínhamos uma casa boa, dois andares, quando dava tiro, usávamos só o primeiro, fazíamos isso com frequência. Minha família morou nessa casa até os meu 16 anos. Morávamos eu, minha mãe, vó Zita e meu pai. Éramos muito felizes e eu podia dizer que era uma criança realizada.
A boneca era muito bonita, era daquelas estilo bebê, a boneca tinha um vestido rosa e uma chupeta de pino branca além de olhos azuis, pele branca e um tufo de cabelo loiro, eu estava feliz, muito feliz por ter algo que eu queria tanto. Se passariam 11 anos até eu entender que aquele dia, seria a minha única lembrança boa daquela casa, daquela vida.
Quando completei 16 anos, tive que sair da casa que morava, meu pai tinha sido assassinado, ele estava devendo a boca e ia perder a casa e tomar uma surra, só que ele não era um homem que ficaria quieto, ele apanhou tanto e mesmo assim fez merda na favela novamente. Eu me lembro do som dos tiros que levaram a vida do meu pai.
Depois disso, eu, minha mãe e vó Zita fomos embora, minha mãe alugou uma casa na rua da fiação em Bangu, além disso ela teve que comprar móveis novos, pois os bandidos deixaram que saíssemos apenas com nossas roupas.
Eu tinha 16 anos, eu via a minha mãe acordar às 5 da manhã para ir trabalhar em um restaurante em Botafogo enquanto minha avó saía às 6 para fazer faxina na Barra. Enquanto isso eu estudava e me lembrava de quando eu tinha 5 anos e tinha tudo que eu poderia querer.
Hoje tenho 23 anos, fiz o Enem por cinco vezes, por cinco vezes me ferrei, mesmo com uma nota alta, não conseguia passar para direito. Ano passado tentei passar para gastronomia, tentei pela cota e depois pela modalidade normal, consegui passar, mas o valor da mensalidade era alto demais. A faculdade era um sonho meu, mas na minha atual situação, ficaria como um sonho muito distante.
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Estou no calçadão de Bangu com a banca de Chips, eu sou responsável por anotar as vendas e cuidar do dinheiro recebido, minha amiga Luana fica gritando a icônica frase que quem mora na zona oeste da cidade já conhece e até mesmo já decorou.
— Chip da Claro, da Tim e da Oi, vem crédito e vem bônus.— Luana respira e continua.— Aqui paga 10, só paga 10, vem com a moça do chip vem.
— Luana você vai comprar quentinha hoje? — Pergunto olhando minha amiga .
— Hoje não, nem você vai sua vaca, hoje vamos comer bem.— Luana diz parando em frente a banca.
— Com 10 reais comemos só no geleia e olhe lá.— Digo sorrindo.— Fala logo que o Marquinhos daqui a pouco aparece aqui.
— Porra nega, já falei que hoje vai ser sem miserinha de quentinha, guarda os vinte do almoço e vamos ir comer no shopping, porque hoje tô pagando.— Olho Luana bem e penso na possibilidade dela está enlouquecendo totalmente, mas fico quieta.
— Ok, então hoje é por sua conta lá no shopping.— Digo olhando minha amiga sem acreditar muito.
— Jana, você já ouviu falar de um novo site que tá rolando por aí? O nome é Baby.— Minha amiga fala me olhando com um sorrisinho no rosto.
— Não tenho absoluta certeza, mas acho que já, não é aquele de acompanhantes? — O Site era conhecido como prostitutas online, era muito mal visto desde que foi lançado. — O que tem ele?
— Não é de acompanhante, lá você se cadastra e encontra homem dispostos a bancar seus gastos, o nome que dão é sugar daddy, são velhos carentes que tem dinheiro e não tem esposa, namorada, não tem nada. — Luana fala parada ao meu lado.— Eu me cadastrei e conseguir um Daddy, me encontrei com ele uma vez e ele me deu 5 mil.
— Luana você transou com um cara por 5 mil? — Questiono minha amiga que sorri me olhando.
— Você acha que eu iria transar com um cara por 5 mil?— ela me pergunta e sei que ela pode ver a resposta nos meus olhos.— Não, eu não transei só fiquei no apartamento dele, fazendo carinho dele enquanto assistimos tv, ele comprou roupas para mim, me deu dinheiro e disse que se nossa relação for adiante, ele não me dar uma mesada mensal.
— Luana isso é arriscado demais, se envolver com um homem que você não conheci.— Falo no momento que uma senhorinha vem comprar um chip, Luana atende a mulher enquanto eu recebo o dinheiro e anoto as informações da mulher.
— Arriscado é comer quentinha de 10 reais todo dia.— Minha amiga diz com revolta antes de gritar oferecendo os chips.— Se você tivesse a oportunidade de nunca mais precisar mendigar por 800 reais, você não entraria?
— De jeito nenhum, não quero perder minha virgindade com um estranho, Deus me livre.
— Você não precisa transar, e se o fizer, você vai ganhar com isso Jana.— Luana me olha e sorri antes de lançar a sua última cartada.— É sobre dar e receber, se você dar, você vai receber, talvez até consiga comprar uma casa e pagar sua faculdade, vai me dizer que não valeria a pena? Ter alguém para te dar aquilo que nem a sua mãe, se matando de trabalhar consegui, não seria bom?
— Séria, mas minha mãe me mataria.— Falo ouvindo as engrenagens da minha cabeça ganhando vida com o pensamento.
Duas semanas depois...
Estou a meia hora fazendo um perfil no site, ele já virou uma verdadeira febre, Luana estava com seu Daddy firme e forte, ele havia pedido para ela largar o emprego e ficar a disposição dele durante toda a semana. Ela havia me dito que ele estava dando a ela uma mesada de quase 12 mil por mês, além de roupas, sapatos e ela já tinha viajado duas vezes com ele.
Antes de finalizar meu perfil, penso em minha mãe e o sacrifício dela para pagar o aluguel, comprar comida e ainda pagar a dívida do enterro da minha avó. Meu salário tanto como vendedora, como atendente em uma lanchonete a noite, não davam para ajudar, afinal eu era a responsável por pagar a internet e guardar dinheiro para faculdade, minha mãe fazia questão disso.
Finalizo meu cadastro e o site avisa que meu cadastro será feito em algumas horas, mas que poderia ver como meu perfil ficaria. Olho a foto que coloquei no perfil, é uma foto em que estou em Guaratiba com um biquíni rosa, um short jeans e o cabelo cacheado solto, penso que uma jovem negra não terá muitas chances contra as patricinhas brancas que estão no site também. Jogo o pensamento bobo fora e confirmo meu cadastro por e-mail antes de desligar o computador e ir para o meu trabalho.
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Já passa das uma da manhã quando volto para casa e ligo o computador, deixo o PC ligando enquanto vou tomar um banho para tirar a gordura do corpo, assim que faço, vou para o computador e coloco a senha e espero até poder abrir o site, assim que abro faço o login e vejo meu perfil online, meu perfil já está disponível para encontros. Sinto um pânico crescer em mim, e penso em minha mãe, ela me mataria se descobrisse que estou em um site como esse.
A voz dela me falando sobre um site de prostitutas, me vem à cabeça, mas me lembro de vó Zita, ela me mandava ir atrás do que eu quisesse, e eu queria um meio para chegar ao meu objetivo, e esse meio era ser uma sugar baby.
Se passaria uma semana sem nenhuma proposta de um Daddy, nada no meu perfil estava chamando a atenção, isso até uma sexta a noite.
Julian, 42 anos, estava buscando uma moça educada e sincera que quisesse ser mimada e tivesse ambições. Ele era um homem bonito, pela sua foto podia ver o pragmático sorriso e os cabelos cor de chumbo. Ele havia me escolhido, ele havia me feito um convite para o dia seguinte, eu respondi e logo depois ele me respondeu. Perguntei sobre o endereço e ele o mandou, ele morava em um prédio em frente a praia da reserva na barra. Julian seria o meu primeiro sugar daddy Antes de dormir eu, eu rezei pedindo proteção e quando o dia chegou e minha mãe saiu, eu me preparei, eu deveria me encontrar com ele às dez. Eu coloquei minha melhor roupa e me arrumei da melhor forma possível, estava com um vestido branco e amarelo e sapatos plataforma que tinham a sola vermelha. Senti que a minha história começava ali, no trajeto de Bangu a Barra, indo ao encontro do homem que iria mudar a minha vida para sempre.
Julian Lecrox era o número um.
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