Um bebê, três damas e um preguiçoso
UMA DAS LEIS MAIS ABSOLUTAS do universo, a lei de Murphy, diz que “tudo que tiver que dar errado, dará” e creio firmemente que estávamos experimentando um gostinho da “causalidade” naquele exato momento. Não é que o relacionamento com Dante fosse um segredo absoluto que ninguém poderia tomar conhecimento tampouco um tabu para nunca ser mencionado, contudo, em um âmbito privado e embaraçoso chegamos até “certa página” do namoro. Então não tínhamos como produzir um bebê em um prazo tão curtíssimo, exceto se Dante detesse a capacidade de superfecundar e eu a magia necessária para uma gravidez de três meses.
Lady franziu o cenho, tirando os óculos por uns minutos para compor uma melhor opinião ao visualizar melhor a bebêzinha alheia a inspeção minuciosa. Agarrei Beatrice dos braços de Dante e as duas caçadoras se aproximaram com semblantes que iam desde deboche contido a assombro real. Sentei no sofá e embalei Beatrice que se encontrava calmíssima, plena. Mecanicamente, mirei o calendário e me dei conta que fazia um bom tempo de estádia nesse mundo e também faltava pouco para o dia das mães.
Meus lábios se curvaram em um sorriso tamanha ironia.
— Isso é inédito. — Trish zombou se sentou na beirada da mesa. — Nunca pensei que veria Dante dar uma de papai. — Devo parabenizá-los pela família?
— Ela não é nossa. — esclareci. — Alguém malvado a deixou aqui.
— Estranho. — Lady comentou. — Deve ser alguém que não conhece a fama desse lugar.
— Não dá pra acreditar que tiveram coragem de deixar uma pobre criança aqui. — Trish fitou Beatrice.
— Infelizmente tem muita gente cruel nesse mundo. — abracei Beatrice com cuidado para não magoá-la com o aperto.
— O mais engraçado disso é que você é praticamente uma criança cuidando de outra.
Fuzilei Trish com o olhar e ela riu da minha reação.
— Criança que faz criança, não é tão criança assim. — encarei Dante mortificada, atirando nele à primeira coisa a vista; um livro de historia infantil. Dante apenas se inclinou despreocupadamente para o lado, desviando facilmente do objeto.
— Ainda assim, esse bebê é a coisinha mais fofa do mundo — Trish acariciou o rostinho de Beatrice, que começara a rir. Ela parou e olhou inquisitória para a pequena, as sobrancelhas arqueadas. — Hm, ela é parecida com você, Dante, tirando o cabelo que é mais parecido o seu, Diva... Mas mesmo assim é a sua cara.
— Sério? Para mim, bebê são todos iguais; tem tudo cara de joelho — Dante rebateu.
Trish revirou os olhos.
— Concordo com Trish. — Lady afirmou, também encarando Beatrice. Ela parecia contente com tanta atenção, até batia palminhas e se agitava querendo alcançar Lady.
Para variar, como as demais vezes, Beatrice se empertigou e, para surpresa de ninguém, tateou minha blusa em um claro aviso de estar faminta... De novo. Permiti, em parte meio contragosto, que a neném ficasse sob os cuidados de Trish que, embora sem nenhum domínio com a situação, não recusou.
Ponderei sobre os comentários a respeito da aparência da bebê e as comparações me questionando se teria como acontecer uma coincidência tão aleatória.
Será?
Era de se esperar que nessa história rolasse uma ou duas piadinhas sobre maternidade e a dinâmica que construiria com Beatrice entorno de Dante. Igual um condenado que está seguro de sua condenação e o que resultará disso, ignorei as brincadeiras e tentei não corar com as alfinetadas que se dirigiam a mais “filhos”.
— O que devo dizer agora? “Feliz dia das mães”? — Trish repetiu pela centésima vez, um sorriso desdenhoso ostentado em seus lábios vermelhos.
— Já entendi na primeira vez.
Lady, por sua vez, estava com Bia nos braços. Me impressionava como um bando de adultos não tinha nem ideia de como lidar com um bebê. Seria por serem disfuncionais?
Trish observou com cautela, ocasionalmente, zoando minha “pré-disposição para maternidade”.
— E o que farão com o bebê? — Lady indagou.
— Ainda não sabemos.
— Precisam ver o que farão, porque não tem como esse ser um lugar seguro para ela crescer. — a mudança de tom de Trish, que foi de diversão travessa à seriedade sóbria, me desconcertou.
— Por enquanto farei o possível para que ela não tenha que passar perigo algum. — assegurei. Meu olhar vagou até Dante reclinado na cadeira, aparentemente dormindo com a revista no rosto como sempre. Lady caminhou até mim e me entregou Beatrice para que pudesse me encarregar dela como sua responsável temporária. Bia se aquietou e mordeu a fralda de pano que usava para limpar a baba.
Ao assimilar as ocorrências no curto intervalo entre o alerta e a calmaria de Dante, uma ideia maléfica surgiu na minha mente.
— Beatrice, vamos brincar de pular na cabeça do Dante. — sussurrei para a criança que se animou.
Aproximei-me sorrateiramente da mesa dele, fingindo inocência, e coloquei Beatrice acima de Dante. Quando os pequenos pés tocaram a cabeça dele, a criança começou a pular usando minhas mãos como suporte. A revista caiu e mesmo assim, Beatrice continuou pulando alegremente.
— Mas que mer... — antes que Dante terminasse a frase os pés de Beatrice tamparam a boca dele.
Nem precisa dizer que Dante ficou um pouco bravo, mas não durou muito tempo.
Já estava tarde, então decidi que faria a comida, obriguei Dante a ficar com a bebêzinha que parecia adorar ficar com ele, mesmo que no começo tenha sido desastroso.
Com fraldas voadoras e vômito.
Lady saíra para comprar mais fórmulas para dar de comer para Bia e Trish me ajudava a preparar uma comida decente que não fosse pizza ou sundae. Com tudo quase pronto, deixei Trish cuidar do resto.
Quando voltei para sala, me deparei com a cena mais linda que já vi. Dante dormindo tranquilamente com Beatrice enroscada em seus braços. Mesmo inconsciente, dava para perceber o cuidado de Dante ao pegar a criança, que se mantinha quieta. Sorrindo, caminhei até os dois anjinhos e depositei um beijo em cada um.
Dante nunca admitiria em voz alta: ele tem jeito com crianças.
A tarde fora sossegada. E depois de três mamadeiras, Beatrice estava satisfeita. Pensei na possibilidade de fazer Dante colocar Bia para arrotar, mas após o trágico momento que a menina vomitou em Dante, ele nem quis chegar perto dela enquanto estava tomando leite ou quando estava para arrotar. Fiquei feliz que Lady e Trish se mostram dispostas a ajudar a cuidar de Beatrice. Realmente, se Beatrice fosse nossa filha... Coitada de menina. De repente, senti uma forte dor no abdômen, mal conseguia ficar em pé. Entreguei a bebê para Trish que me encarou confusa, consegui dar um sorriso amarelo. Eu já tinha uma plena ideia do significado da dor, só não queria admitir ou aceitar.
Corri para o banheiro.
Não pode estar acontecendo!
Um grito irrompeu o silencio da loja. Trish e Lady encararam Dante, confusas. Elas tinham total certeza que quem gritara era Diva.
— O que foi isso? — elas perguntaram ao mesmo tempo. O mestiço se remexeu na cadeira e olhou para as duas mulheres e meia — com Beatrice.
— Digamos que seja duas noticias; a boa é que Diva não esta grávida e a ruim é que será uma longa semana com a fera.
Ambas as mulheres piscaram perplexas, porém entenderam perfeitamente o que Dante quis dizer.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro