Segura
Oi meus pudinzinhos 🍮
Mais um capítulo para vocês. Esse capítulo é dividido entre primeira e terceira pessoa, então quando virem ♥️ é porque mudou o tipo de narração.
Esse capítulo é longo.
Por favor ouçam "Wild Heart" by SPELLES, lá em cima ☝️
Espero que gostem.
Boa leitura 🍮 ❤️
A sala é escura, tão escura que não enxergo nada mesmo com os olhos abertos, mas não preciso ver meus arredores para saber exatamente onde estou.
Sei que a dez passos a minha frente há uma mesa de madeira tão velha que já cai aos pedaços. Sei que atrás da mesa há uma cadeira com estrutura de metal e quase sem estofado. Sei que as paredes são tão encardidas que chegam a serem pretas. Sei que a janela a minha sequerda está coberta por tábuas de madeira que impedem que a lua ilumine qualquer coisa. Sei que o tapete está cheio de buracos e que o piso de madeira possui lascas tão afiadas que podem cortar os pés dos desavisados.
Congelo. Completamente aterrorizada. O que estou fazendo aqui? Eu não devia estar aqui. Não devia. Não devia. Não devia. Não devia. Esse lugar - esse pesadelo - deveria ter desaparecido há muito tempo.
Fecho os olhos mesmo sem ser capaz de enxergar nada. Tento engolir o nó em minha garganta, mas falho. 'Eu não estou aqui'. Digo a mim mesma. 'Eu estou no meu quarto, estou deitada em uma cama macia e meu marido está dormindo ao meu lado. Estou segura'.
Repito as mesmas palavras.
De novo e,
de novo e,
de novo e,
de novo e,
de novo.
Um milhão de vezes pelo o que parece uma eternidade.
Os passos pesados que se aproximam de mim fazem com que eu me arrepie em antecipação. 'Corra daí!'. Minha mente grita, mas estou imóvel, incapaz de mover sequer um músculo. Nem sei se estou respirando.
Suas mãos são frias e pegajosas quando encostam em minha pele. Sua respiração é quente e pesada em meu ouvido e ele está dizendo alguma coisa que não entendo mas que sei que me aterrorozaria por meses e vou morrer. Sei que vou morrer. Sinto em cada músculo, em cada osso do meu corpo, hoje é o dia.
Hoje é o dia que esperei por muito tempo. É o dia em que ele finalmente - finalmente - vai apertar meu pescoço com força por tempo o suficiente para que a escuridão na qual estou submersa seja eterna. Mas de alguma maneira estúpida e estranha não quero morrer. Hoje não. Por favor, por favor, não.
Um dos braços dele envolve meu pescoço e sinto quando o ar lentamente é roubado de mim e não quero morrer, mas ao menos a asfixia me distrai das coisas que a outra mão dele faz por debaixo da minha camisola, subindo lentamente por minhas pernas e quero gritar, mas não sai som nenhum e me pergunto, em vão, por que estou aqui? Por quê? Por quê? Por quê?
Eu quero gritar. Quero ir pra casa. Quero acordar. Quero morrer. Por favor, me deixa morrer.
Estou gritando. Tão alto que minha garganta dói e meus ouvidos estão irritados. Estou sem ar e tento respirar, mas não consigo parar de gritar e sinto meu rosto encharcado por lágrimas e meus olhos estão fechados com tanta força que tenho medo de não conseguir abri-los mais.
Em um sobressalto, tudo muda. Abro os olhos de uma vez e puxo com força uma respiração. Não ouço mais meus gritos, mas sou incapaz de controlar as lágrimas que continuam a escorrer. Escorrendo. Escorrendo. Escorrendo. Como uma cascata.
Sinto a cama macia e mãos quentes me segurando pelos ombros. Minha visão entra e sai de foco um milhão de vezes antes que eu seja capaz de ver o rosto de meu irmão. Engulo a seco e me sento na cama, ele não me solta, não diz nada e ficamos em silêncio.
Estou tremendo, de frio, de medo, de raiva ao perceber a cama vazia ao meu lado. Afasto as mãos dele dos meus ombros e empurro as cobertas para longe, saio do quarto com passos duros sem olhar para meu irmão uma segunda vez, não sei se ele está me seguindo ou se está me chamando porque sou incapaz de perceber qualquer coisa ao meu redor.
Estou brava. Furiosa e aterrorizada enquanto sigo pelo corredor, por um momento penso se devo seguir até o escritório ou se ele continua dentro do apartamento e decido pelo escritório.
No meio do caminho, passando pela cozinha, é quando o vejo ainda de pijama, com os cotovelos apoiados na ilha de mármore branco e o celular em um dos ouvidos. Ele ergue os olhos e me encontra e posso ver o exato momento em que ele congela, nenhuma palavra foi dita ainda e tenho certeza de que ele sabe exatamente o que está acontecendo e o que está por vir, ele se despede de quem quer que seja do outro lado da ligação e eu não consigo segurar as palavras por muito mais tempo.
-Você não estava lá. - Meu tom é acusador e minha voz falha. Me aproximo dele. Ele não se move. - Você devia estar lá. - Digo respirando com dificuldade, mais lágrimas queimam meus olhos e não consigo engolir o maldito nó em minha garganta. - Por que não estava lá? Por que me deixou sozinha? - Pergunto, mas não sei se quero ouvir a resposta e talvez eu esteja batendo nele, com tapas e socos no peito e no abdômen, mas ele não se mexe nem diz nada. - Ele não teria aparecido se - minha voz falha mais uma vez e não sei se estou respirando. - Ele não teria me pegado! - Acho que estou gritando outra vez.
Ele me toca. Suas mãos seguram meus pulsos com a delicadeza de alguém que segura uma joia rara e não tenho mais forças para gritar, duvido que ainda sequer tenha lágrimas para derramar, mesmo assim sou tomada por uma nova enxurrada de lágrimas quando ele me envolve em seus braços e me abraça. "Foi só um pesadelo, amor", ele está sussurrando no meu ouvido e quero acreditar nele, desesperadamente quero acreditar que foi apenas um pesadelo e que estou segura.
-O que estava fazendo? - Pergunto incapaz de reconhecer minha própria voz. - Trabalho? - Não consigo esconder o desdém ao dizer a palavra. Ele beija minha cabeça e respira fundo.
-Não. - Responde. - A polícia ligou. - Ergo o olhar para me encontrar com o dele e franzo a testa, ele não demora para esclarecer as coisas. - Mataram o Ryker, amor.
♥️
Era três da manhã. Soluço e Astrid ainda estavam no hospital, esperando por respostas que não vinham, quando finalmente uma enfermeira apareceu para dar notícias Soluço já tinha tomado mais copos de café do que podia contar e Astrid não tinha mais unhas para roer.
-Ela está instável, - disse a enfermeira - perdeu muito sangue e precisamos monitorá-la nas próximas horas. As primeiras setenta e duas horas são as mais importantes para sabermos como ela vai reagir.
Astrid olhou para o lado, encontrando Soluço perdido em pensamentos e ela quase conseguia ouvir as engrenagens da cabeça dele funcionando para arranjar uma solução.
-E as outras pessoas que estavam com ela no carro? - Astrid perguntou e a enfermeira permaneceu em silêncio, tentando arranjar uma maneira de responder à pergunta.
-Os paramédicos fizeram todo o possível, mas infelizmente o senhor e a senhora DunBroch chegaram sem vida. - Em meio ao caos da emergência do hospital, silêncio se formou entre os três, mas não durou muito e a enfermeira voltou a falar. - Não se preocupem, - disse ela - o hospital irá informar ao Ministério Público e o Estado vai se encarregar de tudo.
Soluço deu uma breve risada irônica, debochada.
-Jogá-la num abrigo e esquecer que ela existe não é se "encarregar", é ser negligente.
Dessa vez o silêncio se prolongou até que Astrid o quebrasse, agradecendo à enfermeira e obrigando Soluço a sair do hospital. Nenhuma palavra foi dita durante o caminho até os Vales de Odin. As luzes da casa estavam acesas e Astrid já esperava encontrar Camicazi em uma espiral de desespero, nenhum dos dois se surpreendeu quando mal tinham aberto a porta e a pequena loira apareceu correndo, com os cabelos mais bagunçados do que o normal, os olhos vermelhos e inchados e disparando um milhão de perguntas de uma vez, sem realmente dar tempo para que um dos dois respondesse.
Quando Camicazi parou para respirar, Soluço começou a responder à tonelada de perguntas. "Merida sofreu um acidente. Está no hospital e os médicos estão cuidando dela. Sim, é claro que pode visitá-la amanhã.", mas Astrid estava alheia à interação que acontecia bem ao seu lado, ao invés disso, estranhou a quietude do resto da casa.
-Cami, - a chamou, atraindo atenção da mais nova, que tentava secar o rosto com as mãos - onde está o Michael?
-Ele foi dormir já tem um tempo. - Respondeu com a voz embargada e falhando e esfregando os olhos com os punhos fechados.
Astrid apenas balançou a cabeça, saindo sem sequer uma palavra e Camicazi voltou a atenção para Soluço.
-A Merida vai ficar bem? - Camicazi perguntou, parecendo ainda menor do que já era com a voz abafada e o rosto pressionado ao peito de Soluço em um abraço apertado.
-É claro que vai. - Soluço respondeu tentando convencer Camicazi de algo que nem mesmo ele sabia se acreditava. Camicazi ergueu os olhos para se encontrar com os dele e o coração de Soluço se despedaçou ao encarar aqueles enormes olhos azuis cheios de lágrimas que não paravam de escorrer.
-Promete?
Soluço engoliu a seco, completamente desarmado, e não foi capaz de encontrar forças para responder.
Astrid abriu a porta sem se importar com o barulho que fazia. Ligou as luzes e revirou os olhos ao ver a silhueta do pai debaixo das cobertas. Se aproximou da mesinha de cabeceira onde tinha uma jarra com água e dois copos de vidro, pegou a jarra e se aproximou da cama, despejando todo o conteúdo sobre o pai que acordou assustado em um salto.
-Astrid! - Ele exclamou ao perceber a filha no quarto, tentando secar o rosto molhado com as mãos. - Pra quê tudo isso?
-"Pra quê"? - O tom de Astrid era indignado, quase ofendido. - Sua filha de treze anos está tendo um ataque no andar de baixo e você a deixa sozinha? Pra ir dormir? O que você tem na cabeça? - Michael abriu a boca, tentando arranjar desculpas e explicações, mas Astrid balançou a cabeça. - Guarde as suas desculpas, você já fez o sufiente. - Astrid caminhou novamente até a porta, mas parou logo antes de chegar ao batente para se virar novamente para o pai. - Sabe, eu estou começando a perceber que não faz muita diferença te ter ou não nas nossas vidas. - Ela disse e, sem se importar com a expressão surpresa e magoada adquira por Michael, saiu do quarto sem mais nenhuma palavra.
Logo antes de chegar às escadas, Astrid viu perfeitamente Soluço e Camicazi sentados no sofá, abraçados enquanto Soluço sussurrava tentando acalmar Camicazi. Desceu as escadas com o mais leve dos sorrisos no rosto, já se arrependendo de ter que destruir mais um dos doces momentos entre os dois.
-Cami, - ela chamou, dessa vez conseguindo a atenção dos dois - vamos, você precisa dormir.
-Eu não quero dormir, eu quero ver a Merida. - Camicazi protestou, limpando o nariz na manga do moletom.
Astrid se aproximou do sofá, se ajoelhando em frente à irmã.
-Prometo que vai poder ver a Merida, mas agora você precisa descansar.
Camicazi olhou para a irmã, depois para Soluço, se encolheu mais ainda no sofá e abaixou a cabeça, encarando as próprias meias.
-Eu não quero ficar sozinha. - Disse abraçando os joelhos.
Astrid olhou para a irmã, encolhida e assustada, pedindo para não dormir sozinha como quando era apenas uma garotinha com medo do escuro, dos monstros no armário e dos trovões em tempestades. Olhou para Soluço por um breve momento e o sorriso que ele esboçou foi o suficiente e Astrid voltou a olhar a irmã.
-Pode dormir no meu quarto. - Ofereceu. Camicazi ergueu o olhar, ainda incerta.
-Mesmo? - Astrid apenas assentiu e só então Camicazi concordou em ir vestir o pijama.
Soluço e Astrid foram para o quarto para fazerem o mesmo e o silêncio que até então reinava entre os dois, foi quebrado por Soluço.
-O que vamos fazer, Ast? - Ele perguntou parecendo cansado, perdido e completamente derrotado. Astrid se aproximou para segurar o rosto dele entre as mãos e Soluço suspirou com o toque.
-Nós vamos dormir, - respondeu - vamos ligar para o Throk pela manhã e vamos fazer até o impossível para termos a Merida nessa casa porque nós somos a família dela. Parece um bom plano? - Ela perguntou e Soluço sorriu, segurando gentilmente os pulsos dela e virando o rosto para beijar-lhe a palma da mão.
-É um ótimo plano. - Ele respondeu. - Eu te amo. - Ele sussurrou e um leve sorriso apareceu no rosto dela.
-Eu também te amo. - Ela sussurrou de volta e os dois saíram do closet de mãos dadas, encontrando Camicazi já debaixo das cobertas no meio da cama.
Os três acabaram adormecendo não muito tempo depois, completamente exaustos, mas juntos e abraçados como a família que eram.
Entao gostaram?
Comentem expectativas.
See ya 😘
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