1. ᴏʟᴀ?
Sinceramente, depois de passar quase três horas na frente do computador vendo uma vídeo-aula, tudo que eu merecia era um livro e uma xícara de café. Ou uma bela caneca de férias.
Minha mãe estava andando de um lado para o outro a horas, como uma doida, resolvendo coisas do trabalho pelo celular. Sentei-me no sofá, abraçando meus joelhos, enquanto a mulher berrava no celular, e quando terminou, sentou-se do meu lado com aquela cara de preocupação.
— Yuna, não é saudável mulheres da sua idade passarem tanto tempo estudando assim, minha filha. Precisa respirar, beijar, namor... — Naquele momento eu já não conseguia escutar mais nada do que ela tinha a dizer.
Talvez eu realmente precisasse sair e fazer coisas de mulheres da minha idade, ou talvez eu devesse estudar para passar no concurso para a minha pós.
— Eu discordo totalmente! — encarei a pilha de livros na escrivaninha. — E, eu não quero jogar todos os quatro anos que estudei Arquitetura no lixo.
— Mas não tem férias para isso? — Respira fundo, preparando-se para um discurso. Aquele era o momento que eu revirava os olhos e ela abria a matraca... — Me lembro como se fosse ontem, minha Yuna não parava em casa. Vivia na rua com as amigas e o namorado... Onde estão as meninas?
— Perdi o contato, mãe. Falo isso tem dois anos! — resmunguei, encostando a cabeça no sofá.
Não era tão difícil de entender que eu não era mais a Yuna da faculdade, mas pra minha mãe, o tempo parecia que não passava. Eu já fui fugitiva — escapava pela janela de madrugada só para ir para festas —, fui a amiga louca, que no final da noite acabava no banheiro vomitando as tripas, e o mais inusitado de todos, Já fui namorada — uma vez só para ser mais exata — é me arrependo profundamente.
Quando saí da faculdade, a dois anos atrás, fui tomada pela solidão de uma ex-universitária. Eu estudava na universidade de Jeju, então, todas as minhas amigas e eu acabamos perdendo o contato assim que voltei para Seol. Foi terrível. Mas podia piorar.
No ano mesmo ano em que voltei da faculdade, comecei sair com as filhas das amigas da minha mãe, e nossa, nunca vi tantas garotas mimadas na minha vida. Infelizmente, foi por elas que conheci minha maior paixão, e decepção da vida.
Depois do caos começar na minha vida, fui "obrigada" a nunca mais sair com aquelas garotas. A melhor coisa que eu poderia ter feito. Eu até tinha uma vida social com elas e tinha que ficar feliz, isso na visão da Dona Dora Lee, minha mãe. Mas a única coisa que eu pensava era em qual desculpa eu usaria para não ter que sair com elas novamente.
— Yuna, temos que conversar. — Começou ela novamente, cruzando os braços. — Você anda muito perdida, minha filha.
— Perdida?
— Sim, nesse monte de livro. — Dona Dora respirou pesadamente, olhando-me com atenção. — Você sabe que vou viajar, e que você é terrível em praticamente tudo que faz fora estuda.
— Isso não é verdade. — mentira.
Eu me perguntava como podia uma pessoa ser tão ruim cozinhando, limpando ou fazendo qualquer outra coisa doméstica. Culpei minha mãe por isso, ela e meu pai faziam de tudo para que eu nunca precisasse pegar em uma vassoura, até chegar na vida adulta. Da última vez que ela tinha viajado, fiquei três dias direto me alimentando só de ramen, sem nenhuma interação social, já que a única pessoa com quem interagia cara a cara era minha mãe.
Nossa, isso pareceu tão triste.
— Nós sabemos que é verdade, meu amor. E para piorar tudo você não sai, não namora, não bebe. Que merda, Yuna! Todos os jovens da sua idade bebem, namoram, transam e você? Você só fica na teoria. Lendo esses negócios...
Se ela era sempre assim? Sim, minha mãe era sempre assim. Acho que nunca seria capaz de decifrar meu constrangimento enquanto a isso, mas digo, ela era constantemente ela, até em momentos inapropriados como tentar ajudar a sua filha a ter uma vida social ativa.
— Quando foi a última vez que transou? — perguntou, arrumando seus fios loiros para trás das orelhas. — Como sexóloga, acho inapropriada uma moça da sua idade não trepar com ninguém.
A pior parte de ter uma mãe sexologa famosa é ouvir ela falar que a filha dela não transa a um ano em uma palestra online, no maior evento da vida dela — a segunda pior parte, com certeza, é ouvir ela falando trepar como se fosse uma palavra cool para a minha geração.
— Mãe!
Não diria isso a minha mãe, nem que ela fosse um padre no confessionário.
— O último foi aquele idiota, não foi? Como é o nome dele mesmo?
— Mãe, isso não vem ao caso.
Meu deus! Minha cara esquentou pela décima vez em míseros 5 minutos de conversa.
— Jimin, o nome dele. — Ela olhou para o nada. — Nunca ouvi algo como aquela noite. — Cubri meu rosto, envergonhada.
Não era minha culpa se por acaso minha mãe havia aparecido em casa justo no dia que eu estava com meu ex. Já era muito estranho falar isso, imagina saber que ela ouviu?
— Mãe, eu não sabia que estava em casa, já disse. — Arrumei minha postura, virando-me para ela. — E a sua entrevista? Vamos falar como a melhor sexóloga da Coréia do sul vai se apresentar?
Dora sorriu e juntou as sobrancelhas, percebendo minha troca de assunto.
— Não mude de assunto Yuna Lee. Garota! faz parte. — Poderia fazer parte sem a senhora sempre falar desse dia. — Mas eu tenho uma notícia para te dar minha filha. Você vai amar. — Ela bateu palminhas.
O que aconteceu agora, senhor? Da última vez que ela aprontou uma dessa, eu fiquei três semanas presa com as mimadas de Seul. Minha mãe me olhou, com um brilho estranho no olhar. Merda!
A nossa campainha tocou bem na hora que ela sorriu, e pelo olhar suspeito, ela tinha tramando outra comigo.
— Deve ser a nossa visita. Vá atender, Yuna.
Agora eu estava ferrada, mais ferrada do que da vez que ela trouxe um britânico estranho, que levou ela para passar a semana em Nova York. Céus! Minha mãe me mandou fotos de pintos de plásticos exóticos o dia todo, como se eu fosse querer algum. Foi péssimo.
— Mãe, o que você aprontou dessa vez? — perguntei, mas logo recebi um olhar feio.
Levantei-me e andei vagarosamente até a porta, com medo do que poderia estar do outro lado. Eu tinha algumas alternativas para o que seria:
1. Poderia ser um novo namorado dela — porque ela faz isso direto — apostava que esse era diferentão, ela gosta de mudar os gostos.
2. Poderia ser o britânico, já que o relacionamento deles é mal resolvido, e volta e meia eles aparecem juntos de novo.
Encarei a maçaneta, e a girei, sentindo todos os meus músculos tensionarem. Estava bem claro que eu tinha medo do que minha mãe sem noção pudesse fazer.
Puta que pariu. Definitivamente, ela gostava de mudar os gostos.
Encostado na soleira da porta, um homem alto, de cabelos escuros, e com um piercing na sobrancelha e na boca. O gosto mais variado possível. O estranho na minha porta, aparentava ter a minha idade, e isso me dá uma leve ânsia de vômito.
— Olá? — cumprimentou o cara, enquanto eu permanecia com a cara de bunda. Ele arrumou a postura, subiu as mangas de sua jaqueta preta, exibiu suas tatuagens, com um sorriso orgulhoso. Onde ela havia achado esse? Numa revista new adult?
— Oi? — pigarreei. — Desculpa, que é você?
Comecei a cogitar que o rapaz está perdido, porque, com certeza o bonitão não estaria procurando uma velha alternativa e sua filha antissocial.
O cara me olhou de cima a baixo, com uma expressão parecida com "que merda é essa?", ergui o óculos para amenizar a minha cara.
— Eu sou Jeon Jungkook.
— Legal... — soltei.
— Eu posso entrar?
— Você é o novo namorado da minha mãe? — Indaguei, e ele fez uma careta e depois vejo riu.
— Nada disso — Negou e com a cabeça
— Então, acho que errou o apartamento. O da Alice está ali. — Apontei para o apê vizinho. Sempre acontecia isso.
Alice era a estrangeira que sempre tinha problemas com caras como esses: alto, tatuado, bonitão. E eu tinha a teoria de que ela sempre dava o nosso endereço de propósito, ou mudava o nome, para nós parecermos doidas tentando descobrir quem era a tal de Paola Bratio, para um cara totalmente aleatório. Eu fazia questão de entergar essa mulher.
— Não acredito que ela usou meu apartamento! — Voltei-me para o rapaz, envergonhada. — Me desculpe, ela faz isso com frequência. Alice dá os endereços errados para os caras de propósito. Não entendo por que ela faz isso, mas...
O bonitão franziu o cenho.
— Perdão. Mas eu estou aqui porque fui convidado. — Ele pegou o celular, e leu algo. — A Senhora Lee, me convidou aqui. Ela não falou nada?
— Falou o que? — Meu coração disparou como um carro de velozes e furiosos. Pelo menos a pior parte já foi, minha mãe não está namorando com ele...
Tentei manter a respiração equilibrada, mas quando o moreno sorriu de canto, meu corpo congelou na hora.
— Estranho ela não ter dito, porquê... — Jeon Jungkook fez suspense, passado seus dedos na tela do celular.
— Fala logo, merda! — O cara se assustou, mas logo sorriu. Guardou o celular no bolso de sua calça e apoiou a mão na parede, num contato visual quase que inquebrável.
— Eu sou o babá da filhinha dela. — Jungkook exibiu um sorriso largo e piscou, numa pose orgulhosa.
Puta que pariu!
Playlist do dia:
Butterfly - Smile
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